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Alunos do campus do IFS de São Cristóvão participam de pesquisa Perímetro Piauí em Lagarto
1 de junho de 2018 - 09:37, por Marcos Peris
Retornaram ao Perímetro Irrigado Piauí em Lagarto, os alunos da disciplina Extensão Rural do curso Tecnológico de Agroecologia do Instituto Federal de Sergipe (IFS) – Campus São Cristóvão. Desta vez, para a apresentação de seus trabalhos de pesquisa realizados a partir das análises do solo coletado lá, em 6 março, somente em lotes de agricultores orgânicos. Os mesmos produtores são o foco da atividade acadêmica que ocorreu dia 18 de maio, recebendo as orientações de como proceder com a correção de solos baseada na metodologia agroecológica, ou seja, sem o uso de agroquímicos.
O perímetro Piauí, há 75 km de Aracaju, é uma das seis unidades de irrigação pública estaduais administradas pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), a qual fornece água bruta para irrigação dos cultivos nos lotes e também assistência técnica rural. Nesse trabalho de orientar o produtor, segundo o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da empresa, João Quintiliano da Fonseca Neto, já se passaram 18 anos desde que os técnicos e engenheiros agrônomos da Cohidro começaram a influenciar a conversão à agricultura orgânica.
“Hoje temos um grupo consolidado de 10 produtores orgânicos, assistidos pela Cohidro em Lagarto, que fazem parte de uma Organização de Controle Social (OCS) e outros cerca de cinco que querem entrar. São inscritos no Ministério da Agricultura (MAPA), que os autorizam a venda desses alimentos sob a denominação de orgânicos. Isso para eles é um diferencial de mercado, pois o orgânico vale cerca de 40% a mais do que o produto convencional. São mais difíceis de produzir, requerem bem mais mão de obra e ainda existe pouca concorrência, é o que torna o orgânico mais valorizado ”, argumenta João Fonseca.
Após estes mesmos estudantes terem feito a coleta nos lotes dos agricultores do perímetro Piauí, as amostras de solo foram encaminhadas ao Laboratório de Solos do IFS, onde a professora e doutora em Solos, Liamara Perin, fez a análise da composição e a orientação correta de como proceder com a correção. Ela estabelece que a coleta, a análise laboratorial e a interpretação dos resultados, sempre será a mesma, se tratando da agricultura orgânica ou convencional. O que realmente muda é a orientação a ser feita para a adubação.
“O objetivo da análise dos solos é avaliar o teor dos nutrientes que tem no solo, a avaliação de pH (acidez/alcalinidade), de teor de matéria orgânica e dos nutrientes em geral que tem naquele solo. Baseado nisso será feita a interpretação. Nós avaliamos e sempre perguntamos ao produtor o que ele tem na sua propriedade para fazer a adubação. Geralmente são compostos de estercos, torta de mamona, e baseado no que tem disponível, nós fizemos os cálculos para recomendar a quantidade daquele adubo para atender as necessidades da cultura que ele tá plantando”, orienta a Drª. Liamara.
Marcio Erick Figueira dos Santos é estudante do sétimo período de Agroecologia no IFS. Neste trabalho, ele teve como interesse o maior à interação entre os saberes, da teoria e da prática. “Ver esse conhecimento que os produtores têm nas produções de hortaliças e levando um pouquinho da academia do IFS, sempre vai ter essa troca, justamente ter essa ponte e suporte da Cohidro, essa parceria. Fizemos a primeira parte na demonstração de como coletar o solo e levamos para o laboratório de solos. E com todo suporte da professora, nós trabalhamos a interpretação e análise de solo, já para trazer de acordo com as culturas que eles desejariam plantar, e a partir daí ter toda essa recomendação de adubo. E é bem particular, pois cada solo é diferente, e cada produtor é diferente”, analisa.
Na mesma linha pensa Gleise Prado da Rocha Passos, que é a professora e doutora em Ciências Sociais que leciona disciplina de Extensão Rural e que levou os alunos até o perímetro irrigado. “Nós temos essa preocupação de, pegar aquele conhecimento que nós recebemos e que aprendemos em pesquisas e estudos científicos e poder trocar experiência com os produtores e agricultores também, ter o conhecimento prático deles. Pensar como eles e pensar como nós, a partir do estudo, que eles também necessitam e podem estar usufruindo do conhecimento que é produzido nesse instituto. Então, fizemos umas coletas dos solos daqueles que estão aqui hoje, e nós fizemos uma análise gratuita no IFS para eles. E agora o instituto retorna trazendo resultados de como melhorar o solo e sugestões para que a produção deles sejam mais eficaz”.
Do outro lado está o produtor rural, como João Pacheco da Silva, agricultor orgânico há bastante tempo no perímetro Piauí, que acredita só ter a ganhar com mais conhecimento, aprendendo coisas diferentes. “A gente sempre aprende coisa melhor, como no caso do bórax. É obrigatório a gente usar nesse solo que a gente fez análise, diziam até ser proibido. Então, já que é recomendado, já não tem mais perigo. Muita coisa na agricultura se aprende na prática mesmo, mas tinha coisas que você fazia e que não era adequado. Mas que através das palestras, você pôde corrigir, evitar desperdícios e má produção. Aprende a conviver com o solo sem judiar muito”, acredita ele, que abrigou em seu lote a apresentação dos alunos do IFS.
“O objetivo da adubação orgânica é sempre melhorar o solo, é para ter um solo vivo, um solo com vida, um solo com matéria orgânica que aí vai ter retenção de nutrientes e a partir disso, produzir plantas saudáveis e bonitas. A partir do momento que melhora o solo, consegue produzir bem. É diferente do objetivo da agricultura convencional, onde o foco é a planta,” justifica Liamara Perin. Para ela, a produção agroecológica abandona a visão de que o solo é somente um suporte para as plantas. “Nós adubamos com produtos orgânicos de lenta disponibilidade, para melhorar o solo a longo prazo e com o passar do tempo, a quantidade de adubo usada é menor, porque ele vai conservando esses nutrientes e aí nós teremos plantas se desenvolvendo bem”.
Agricultura sem solo
O ex-aluno do IFS, o hoje agroecólogo Denisson Rozendo atua na produção orgânica no perímetro da Cohidro da forma tradicional, em canteiros e usando o solo para plantar. Mas também aprendeu na academia e hoje desenvolve comercialmente um modelo que dispensa o solo para a agricultura: a Hidroponia. A tecnologia se baseia em plantar os alimentos dentro de calhas, onde correm água e fertilizantes para alimentar as plantas. Mesmo tendo concluído os estudos acadêmicos, ele ainda pesquisa meios de tornar esse sistema de plantio, longe do chão, totalmente orgânico, sem os hoje indispensáveis nutrientes industrializados.
Denisson considerou bastante válida a atividade dos ex-colegas e conta que aliar prática e teoria só tende a beneficiar tanto o aluno quanto o agricultor. “Muita coisa, tudo que a gente vê no campo, é o que a gente aprende no curso. Mas só que a gente aprende a teoria né, aqui a gente tem a prática e alguns erros cometidos pela gente, por nós agricultores. Então, com a ajuda da teoria, a gente vai corrigir esses erros. Eu como aluno e agricultor, corrigi meus erros através da teoria, porque a prática já sabia de algumas coisas, só vêm a complementar”.
Presenças
Estiveram presentes, na atividade que ocorreu no lote de João Pacheco, o gerente do perímetro Piauí, Gildo Almeida Lima e os também servidores e técnicos agrícolas da Cohidro Willian Domingos e José Américo. Além do produtor-agroecólogo Denisson, compareceram os agricultores orgânicos de longa data e integrantes da OCS como Delfino Batista, José Edmilson dos Santos (Tal), Raimundo Batista do Nascimento e Josevan Lisboa Batista.