Renato Rodrigues: “Procuro não baixar a cabeça quando as dificuldades aparecem”

21 de maio de 2017 - 15:52, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

A entrevista desta semana é com o ex-eletricista Renato Rodrigues, de 36 anos. Durante a Entrevista da Semana, ele contou como tem sido a sua vida após um acidente motociclístico que o deixou graves sequelas, como a perda do movimento das pernas.

Com seu jeito simples e brincalhão, Renato falou dos desafios diários a exemplo das dificuldades para se locomover dentro e fora de casa. Pai de duas meninas e amante do ciclismo, Renato demonstrou não se abater diante das dificuldades e apresentou muita garra para enfrentar a rotina. Além disso, ele fez críticas aos não portadores de necessidades especiais que utilizam o espaço destinado aos especiais.

Entrevistado da Semana

Entrevistado da Semana

Confira a Entrevista da Semana na íntegra:

PLN: Se um desconhecido perguntasse quem é Renato Rodrigues, o que responderia?

RR: Nesse momento responderia que sou uma pessoa feliz mesmo com as minhas limitações, mas procuro não baixar a cabeça quando as dificuldades aparecem porque sempre procuro extrair o melhor de mim.

PLN: Há alguns anos o senhor sofreu um acidente motociclístico, desde então como tem sido a sua vida? Como foram os primeiros dias em uma cadeira de rodas?

RR: Os primeiros dias foram difíceis porque minha casa não possui a estrutura adequada para a minha atual condição, mas estou tentando adapta-la. Porém ainda há muito a se fazer. Já a minha vida depois do acidente tem sido enfrentamento as limitações, pois tento fazer tudo que está ao meu alcance.

PLN: Desde então, quais dificuldades tem encontrado e como faz para superá-las?

RR: As dificuldades principais são as de locomoção, pois tudo fica mais complicado quando você esta em cima de uma cadeira de rodas. Elas já começam em casa por conta da estrutura e acabam piorando quando se sai dela, devido às ruas que não são adequadas. Além disso, as casas das outras pessoas, na maioria das vezes, também não têm a estrutura adequada para um cadeirante.

PLN: O senhor tem esperança de voltar andar? Como descreve o processo de reabilitação?

RR: Esperança é sempre a última morre né? Mas como a minha lesão foi muito grave, só um milagre para que isso aconteça. Mas, graças a Deus, a minha reabilitação está sendo muito boa. Logo no início quando cheguei ao hospital, recebi toda a assistência do Núcleo de Saúde da Família, aqui em Lagarto, onde iniciei as fisioterapias.

Logo depois recebi a assistência das alunas dos cursos de Terapia Ocupacional e Fisioterapia da Universidade Federal de Sergipe. Com elas aprendi muito, até que em 2016 comecei um processo de reabilitação do Hospital Sarah, em Salvador, onde após um mês de reabilitação fui obrigado a interromper o programa porque estava sentindo muitas dores. Então os médicos resolveram me encaminhar para outra unidade do Sarah, em Brasília DF, para ser avaliado por um neurocirurgião.

PLN: Como o acidente ocorrido mudou a sua vida? Seja na forma de pensar e agir.

RR: Comecei a observar às coisas de outra forma, principalmente, as dificuldades que um deficiente físico encontra no dia a dia. Antes do acidente, saia de casa sem saber para onde ia ou por aonde ia, mas agora é diferente porque tenho que saber quais ruas devo pegar, se para onde vou vai me caber, se a porta passa a cadeira, tudo isso muda a minha maneira de pensar e de agir.

PLN: Em 2016, um representante da Associação dos Portadores de Deficiência de Lagarto (Apdel) ingressou na justiça a fim de melhorar a acessibilidade dos portadores de necessidades especiais no município. Como descreveria, no seu caso, a acessibilidade para os cadeirantes em Lagarto? Se há problemas, como resolvê-los?

RR: Péssima. Há muitos problemas, quando na verdade a única coisa que mudou na cidade foram as rampas de acesso, rampas essas que na maioria das vezes você anda meio metro e tem um poste na calçada ou um desnível de uma calçada para outra. Sem falar que as vagas para deficiente quase sempre se encontram ocupadas por motoristas sem nenhum tipo de deficiência. Esses populares sem noção acham que não existem deficientes no mundo e nem no município, para usar aquela vaga.

PLN: Nos últimos anos, uma leva de ciclistas tem surgido no município de Lagarto, e você demonstrou interesse em adquirir uma bicicleta adaptada. Por quê? Qual a importância do esporte em sua vida?

RR: Sempre fui apaixonado por ciclismo. Antes do acidente, eu participava de passeios com os amigos, ia todos os anos pra São Cristóvão pedalando e agora, depois do acidente, pretendo voltar a fazer a mesma coisa e quem sabe até mais.

O esporte é importante, pois é uma forma de me manter saudável e de bem com a vida, além de estar perto dos amigos.

PLN: Qual a sua maior alegria?

RR: Minha família e meus amigos.

PLN: Como descreveria o Renato pai? Qual o principal ensinamento que busca passar para os seus filhos?

RR: O Renato pai (risadas) é um besta que acaba fazendo tudo que elas pedem; que morre de gosto quando estão juntas e me fazendo carinho. Elas são o motivo de eu estar vivo, de ser a pessoa que sou hoje. As meninas são as minhas psicólogas.

Filha

Filha

Já os principais ensinamentos são os básicos e mais importantes: respeito para com o próximo, discernimento e amor a próximo.

Filha

Filha

PLN: Mudando de assunto. O que dizer do município de Lagarto?

RR: Eu sou apaixonado por essa cidade, por isso não tenho muito a falar, mas acho que não conseguiria morar em outro lugar. Nossa cidade é maravilhosa, independente dos problemas, mas todas têm e tenho fé que vai melhorar, pois a cidade a cada dia está crescendo.

PLN: Qual mensagem gostaria de deixar para a população lagartense?

RR: Gostaria de agradecer a todos que me ajudaram direta ou indiretamente, pois não esperava tamanha ajuda no momento em que mais precisei. Isso mostra o quanto à população lagartense é benevolente.

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