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DAS CACIMBAS, A IMORTALIDADE DE JOAQUIM PRATA*
29 de abril de 2017 - 23:26, por Claudefranklin Monteiro
Numa dessas situações inusitadas da vida, em que nos deparamos com a certeza da perenidade das coisas, foi que descobri que as pessoas podem ser imortais, mesmo que não possamos mais gozar de suas presenças físicas.
Eu acompanhava meu irmão, o saudoso Professor Cláudio Monteiro, nas dependências do Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Lagarto, numa noite de muita agonia, mas de experiências que levarei para todo o sempre.
Naquele tempo, eu estava as voltas devorando um livro da historiografia clássica universal, de autoria de Fustel de Coulanges. A Cidade Antiga, publicada em 1864, aponta elementos significativos da cultura greco-romana, numa perspectiva cultural.
De Coulanges, fiquei inquieto com a ideia sobre a morte, cultivada pelos antigos ocidentais. Para eles, se morre duas vezes: quando a materialidade perece e cessam suas atividades vitais; e quando do esquecimento. Esta última, mais cruel e definitiva que a primeira.
Alguns anos depois, no leito derradeiro de meu sogro, Ranulfo José da Silva, numa lágrima de despedida, sentida e grata, aprendi também que o verbo e ação de cuidar de é tão importante quanto amar quem.
A estada de Joaquim Prata Souza conosco, na Academia Lagartense de Letras, foi, relativamente curta. Mas o suficiente para aprendermos, com ele, o sentido da imortalidade. Nele, em meio a nós, inclusive nos momentos mais tensos, também a essência do cuidar. E como tinha cuidado conosco! Sempre atento, mesmo diante da convalescência, a dar conselhos e a apontar caminhos de concórdia e confraternidade.
Nele, a fúria e a serenidade conseguiam conviver juntas, em harmonia. O senso de justiça, de amor ao próximo e de lealdade foram algumas de suas últimas lições, como exímio professor que foi durante anos.
Estas lições foram fincadas, para sempre, não somente nos anais de nosso sodalício, mas também, e de modo especial, em nossas memórias, nas memórias da gente lagartense e nos seus escritos.
Foi nessa toada, que novamente o reencontrei, atormentado pela necessidade de dar um fim para a história de Naun Lira. Curiosamente o significado de Naun é pendente de revisão, inacabado. Também e do mesmo modo, o reencontrei nas letras, nos contos, nas crônicas e em minhas lembranças particulares, algumas das quais ainda muito vivas em meu coração e em minha mente, como no último conselho que me deu: seja seguindo você e no que se tornou. Faça a sua parte.
Nos corredores do Colégio Abelardo Romero Dantas, eu ainda consigo revê-lo a arrancar gargalhadas de seus colegas, funcionários e alunos. Um piadista por excelência, fincado sobre princípios sólidos de alegria e amizade.
Nos bailes, geralmente entoados pela Banda Los Guaranis, a conduzir sua amada Ângela, com galhardia e paixão, aproximando-a ao seu peito, como a proteger e cuidar.
Em cada um de seus três filhos: Ana Carolina, Ana Rita e Thiago Emanuel. Ah, os filhos, esse constante e renovado sarcasmo da vida para com a morte.
Por fim, no Fórum, a receber pobres e ricos, sobretudo pobres, no afã de resolver seus dilemas existenciais, doando-se sem medida, pois a medida do amor é amar sem medida.
Joaquim Prata Souza, o primeiro dos imortais da Academia Lagartense de Letras a se imortalizar com a sua própria vida, doravante Patrono da Cadeira de número 20. Ocupante que foi da Cadeira Aníbal Freire da Fonseca, número 3.
Sim, as pessoas realmente podem ser e são imortais. Vivem em nós sob diversas formas, em diversos momentos e circunstâncias. Renascem e ressuscitam a cada dia. E sob a monumentalidade de seu nome, Joaquim Prata Souza, hoje, se eterniza num céu chamado Cacimbas.
* Por ocasião do IV Aniversário de Fundação da Academia Lagartense de Letras e da instalação da Cadeira de No 20, cujo Patrono passou a ser Joaquim Prata Souza.