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Paulo Prata: Minhas limitações não impedem de me sentir parte da construção de uma Lagarto mais progressista
20 de abril de 2017 - 07:00, por Marcos Peris
Portal Lagarto Notícias
Em comemoração ao aniversário de Lagarto, a especial Entrevista da Semana é com o presidente da Academia Lagartense de Letras (ALL), Dr. Paulo Prata. O imortal que durante a entrevista nos contou um pouco da sua história, ressaltou a importância da educação para a saúde da sociedade.
Além disso, baseado em suas experiências gerenciando pastas municipais e diretorias estaduais, Prata falou dos desafios de gerir a educação no âmbito público, bem como frisou a importância do desenvolvimento de políticas públicas que garantam mais qualidade aos professores. Para ele, o pagamento de um piso salarial ao magistério não suficiente para que se alcance uma educação de qualidade.
Sobre Lagarto, Paulo Prata lembrou dos seus feitos, das suas passagens por instituições de ensino e anunciou os projetos futuros da Academia Lagartense de Letras. Ele também lembrou da sua mortalidade e concluiu afirmando – como um bom admirador da cultura local – que a sua alma “anseia por ver Lagarto preservando a sua cultura e valorizando e estimulando aqueles produzem a cultura nos dias de hoje”.
Confira a Entrevista da Semana na íntegra:
PLN: Quem é o Dr. Paulo Prata? Qual a sua trajetória de vida, política, profissional e familiar?
Paulo Prata: Um eterno aprendiz. Cada dia, na vida da gente, deve ser sempre um começar de novo. Não importa a idade, é preciso viver cada dia, com a consciência de que temos sempre mais a oferecer e a aprender. Claro, que conheço minhas limitações, mas isso não impede de me sentir parte do processo de construção de uma Lagarto verdadeiramente mais progressista, a partir do resgate de suas tradições, do respeito ao nosso patrimônio, da valorização dos novos valores, que estão sendo revelados a cada dia, na poesia, na prosa, na música, nas artes.
Ao longo dos meus 65 anos de idade, sempre tive essa consciência, seja no exercício das atividades profissionais, como professor do Salete, do Laudelino Freire, do GENSP e do Abelardo Romero, como diretor do Polivalente e da Diretoria Regional de Educação – DRE’2, como assessor jurídico do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagarto, da Cooperativa Mista dos Agricultores do Treze, da Câmara de Vereadores de Lagarto e da Câmara de Vereadores de Riachão do Dantas, como Secretário Municipal de Educação e Procurador Geral do Município de Lagarto e de Riachão do Dantas.
Por outro lado, sempre sentí a necessidade de me envolver na vida da cidade, de pensar no coletivo, no bem estar de todos. Talvez aí, eu tenha encontrado a verdadeira arte de fazer política, que entendo como sendo serviço. Por isso, sempre procurei dar minha modesta contribuição, seja na fundação da Associação Cultural de Lagarto – ASCLA, seja como presidente do Rotary Club de Lagarto e da Associação Atlética de Lagarto e agora, da Academia Lagartense de Letras.
PLN: O que levou o senhor a dedicar-se as Letras e a especializar-se em Direito Educacional?
Paulo Prata: Entendo que a educação possui um papel extremamente importante em fornecer às pessoas o conhecimento, as habilidades e as competências necessárias para uma participação efetiva na sociedade e na economia. Estudos demonstram que pessoas instruídas vivem mais, participam mais ativamente da política e da comunidade onde vivem, cometem menos crimes e necessitam menos de assistência social. A partir dessa minha convicção, acho que se explica esse meu direcionamento para a educação.
PLN: Como um especialista em direito educacional, como o senhor analisa a atual situação da educação pública no âmbito local e nacional?
Paulo Prata: No Brasil, infelizmente se concebe educação pensando-se em estatísticas. Na verdade, as taxas de conclusão dos estudos pouco têm a ver com a qualidade da educação recebida. A educação de qualidade é aquela que leva o aluno a pensar, a criar, a formar espírito crítico. Neste contexto, é preocupante a atual situação da educação no Brasil, não sendo diferente no nosso Município, onde se convive com a falta de comprometimento dos gestores com a educação. Estamos bem distantes de uma educação de qualidade. Pagar somente o piso salarial não é garantia de que tenhamos uma educação de qualidade. É preciso muito mais. Falta uma política pública efetiva e educação em nosso Município.
PLN: Por alguns anos, o senhor ministrou aulas em importantes unidades escolares de Lagarto, como o Colégio Cenecista Laudelino Freire e o Colégio Estadual Prof. Abelardo Romero Dantas. Como descreveria sua passagem por essas instituições?
Paulo Prata: Em primeiro lugar, há de se considerar que a minha passagem em sala de aula, deu-se num outro contexto. O professor era a fonte primeira de informação do aluno. Hoje, o professor corre o risco de não estar atualizado e sua aula não despertar o interesse do aluno, satisfazendo o seu desejo de adquirir conhecimentos. Confesso que àquela época, ainda conseguíamos ser imprescindíveis para os nossos alunos, na tarefa de ministrar conhecimentos. Por outro lado, devo considerar que havia um maior respeito à figura do professor. E quando o professor exercia o seu ministério com dedicação, ele conseguia se impor diante dos alunos, respeitando-os e sendo respeitado como profissional. Tenho boas recordações dos meus alunos do Laudelino Freire, do Salete, do GENSP e do Abelardo Romero.
PLN: O senhor também já foi gestor da Secretaria Municipal de Educação e da Diretoria Regional de Educação 2 (DRE 2). Naquele período, quais foram as dificuldades encontradas pelo gestor e quais aprendizados retirou daquelas experiências?
Paulo Prata: Tive minha primeira experiência como gestor da educação, na administração do saudoso prefeito José Vieira Filho, no final da década de 70, cujo mandato se encerrou em 1981. Em 1982, o Prefeito era Artur de Oliveira Reis, que me convidou para ocupar o cargo de Secretário de Educação. Já em 1987, passei pela Diretoria Regional de Educação – DRE’02, como diretor. Obstáculos na educação, sempre estão presentes. Muito mais forte do que hoje, a ingerência da política na educação sempre se fez presente. A questão é como administrar essa ingerência. Um ocupante de cargo público deve se impor pelo seu trabalho. Não é o cargo pelo cargo. Mas, o cargo como oportunidade de prestar serviço a sua comunidade.
O fato de você ser indicado para um cargo público, mesmo que de livre nomeação do Prefeito ou do Governador, não lhe impede de exercê-lo com dignidade e com respeito a todos. O importante é você não abrir mão daquilo que você acredita. Já em relação às dificuldades encontradas, que não foram poucas, destaco o problema da evasão. Para combatê-la, era preciso investir mais na educação.
PLN: Mas, como assegurar a educação para todos, diante de recursos insuficientes? Como melhorar a qualidade de ensino, sem dispor de professores minimamente habilitados?
Paulo Prata: Para começar a mudar esse quadro, foi preciso sensibilizar o governante da necessidade de se investir mais na educação e isso foi se conseguindo gradativamente. É claro, que ainda há muitos desafios para alcançarmos um ensino de qualidade, dentre estes, a valorização do magistério. Mas, é importante assinalar, que parte de nós professores, deve haver mais empenho, mais dedicação, mais compromisso, mais responsabilidade, sem o que, a educação não cumprirá o seu papel, sendo não só transmissora de conhecimentos, mas, primordialmente, formadora da consciência cidadã dos nossos jovens.
PLN: O que o prêmio Lacertus, concedido em 2003 pela OACI Idiomas, e o reconhecimento dos alunos das escolas de Lagarto significou para o senhor?
Paulo Prata: O reconhecimento sempre motiva a caminhada. O que não pode, é ele alimentar a vaidade. Para mim, o reconhecimento maior reside em poder ver ex-alunos inseridos na comunidade como cidadãos dignos e exercendo suas atividades profissionais com competência. Esse é o maior galardão.
PLN: Atualmente o senhor ocupa a cadeira de n° 15 da Academia Lagartense de Letras. Para o senhor, como é substituir o lugar de José Claudio Monteiro? Como é ser um imortal?
Paulo Prata: Ir para a Academia não foi um sonho que acalentei. Fui pego de surpresa. Como me considero um eterno aprendiz, terminei achando que lá teria essa oportunidade. O fato é que, junto com os confrades e confreiras, estou tendo a oportunidade de fomentar em nossa Lagarto, o movimento literário, artístico, cultural e intelectual. Por outro lado, ocupar a cadeira que tem como patrono o Prof. José Cláudio Monteiro Santos, foi sem sombra de dúvida um forte motivo, em razão da convivência fraterna que tivemos.
PLN: Atualmente, quais os desafios enfrentados pela Academia Lagartense de Letras? E qual a importância desta para a sociedade?
Paulo Prata: Eu tenho a compreensão de que a Academia deve ser um instrumento precioso de fomentação da nossa cultura. A sua importância está, em assumindo esse papel, abrir as suas portas e sair ao encontro dos que fazem a cultura em nossa Cidade. Vivemos um momento diferente. A chegada da Universidade Federal de Sergipe trouxe novas perspectivas. O “Sarau da Caixa d’Água” e o “Som da Praça”, revelam este momento novo. A Academia precisa interagir com o que se passa cá fora. Aliás, estaremos lançando o projeto da Academia Literária Infanto-Juvenil, que visa estimular o gosto pelas artes, a partir da formação de jovens leitores, participativos e críticos e do incentivo à produção de textos e de outras formas de expressão artística.
PLN: Como o senhor tem observado o crescente número de livros históricos, jornalísticos e poéticos que foram publicados por lagartenses?
Paulo Prata: Entendo que alguns fatores têm ensejado o surgimento de novos escritores. Vejo, por exemplo, um elo entre tal fato e a criação do curso de História, da Faculdade D. Pedro II. A partir da elaboração dos trabalhos de conclusão de curso, certamente, alguns alunos se sentiram motivados a aprofundarem suas pesquisas e terminaram por produzir livros históricos e jornalísticos. Um outro fator considerável, é o trabalho abnegado de nossos professores em salas de aula, inclusive da rede pública, motivando os alunos a se sentirem atraídos pela leitura, despertando neles o interesse na produção de textos. Por fim, embora o poder público não tenha dado o valor devido, deixando, inclusive, de promovê-los, cito os nossos concursos de poesia, que são verdadeiros fomentadores da descoberta de novos talentos.
PLN: A ALL esteve em processo de eleição de novos imortais, o que o senhor tem a dizer sobre os indicados? O que a sociedade poderá esperar destes?
Paulo Prata: Acabamos de encerrar o processo de escolha de sete novos acadêmicos, são eles: Maria do Carmo Oliveira da Fonseca, Josefa Suely Rodrigues Prata, Paulo Sérgio Nunes de Oliveira, Kiko Monteiro, César de Oliveira Santos, José Uesele Oliveira Nascimento e Rodrigo Freire de Amorim. Estando já no meu segundo mandato, como presidente da nossa Academia, vinha alimentando o desejo de trazer para o nosso sodalício, poetas, escritores, agentes e entusiastas da cultura, dessa nova geração. Certamente, o vigor da juventude dos novos talentos e a experiência dos que lá já estão, farão com que a nossa Academia se torne cada vez mais expressão viva da cultura de nossa gente, abrigando a todos, numa visão mais ampla, que permita congregar uma maior diversidade de agentes, tendo como quadrantes norteadores: I – Educação e Agência Social; II- Ciência e Comunicação Social; III- Cultura e Arte; IV- Literatura.
PLN: Qual a mensagem o senhor deixaria para o povo de Lagarto
Paulo Prata: Na década de 70, participei do processo de criação da Associação Cultural de Lagarto – ASCLA, que tinha por lema “Ser culto para ser independente.” Exatamente quarenta anos depois, vi nascer a Academia Lagartense de Letras, que está a reunir entusiastas da cultura e não deixar que a chama da cultura se apague. Reencontro na Academia Lagartense de Letras, velhos amigos da ASCLA. Urge, velar pela cultura Lagartense. Sei que terei menos tempo para viver, daqui para frente, por isso, tenho consciência da minha “mortalidade”, apesar de viver numa casa de “imortais”. A minha alma tem pressa. Anseia por ver Lagarto preservando a sua cultura e valorizando e estimulando aqueles produzem a cultura nos dias de hoje. Estaremos sempre de atalaia, para que a chama da cultura não se apague.