Lila Fraga: “Desde o primeiro ano, a minha ideia era ter renunciado”

25 de dezembro de 2016 - 17:36, por Alexandre Fontes

Portal Lagarto Notícias

O último entrevistado de 2016 é o prefeito de Lagarto, José Wilame de Fraga (Lila Fraga/DEM). O gestor deixa o executivo após disputar duas eleições, em 2008 perdendo para o então deputado estadual Valmir Monteiro (PSC) e venceu em 2012, contra  Valmir, que na oportunidade disputava a reeleição.

Prefeito de Lagarto, José Wilame de Fraga (DEM)

Prefeito de Lagarto, José Wilame de Fraga (DEM)

Lila fez um balanço da sua gestão, informou que muito provavelmente Valmir assumirá a prefeitura com as contas no azul, assumiu a culpa pela derrota do agrupamento Saramandaia, falou da sua quase renúncia, deu 10 a sua gestão, falou que o Sintese não quis acordo e que deixará a política no dia 31 de dezembro.

Portal Lagarto Notícias: Para começo de conversa, qual o balanço que o senhor faz da sua gestão à frente da Prefeitura Municipal de Lagarto?

Lila: Foi uma experiência boa, mas pensei que com seriedade e honestidade – como eu sempre tratei nas minhas empresas – poderíamos fazer uma boa administração. Diante disso, coloquei uma equipe de secretários não políticos, coisa que muita gente acha que foi meu defeito, mas para mim foi uma virtude porque eles trabalharam com dedicação e nós fizemos várias coisas pelo nosso município.

Mas a gente faz na terra e Deus vê lá no céu, então tenho certeza que o que ou fizemos em breve será de conhecimento de todos os lagartenses. Além disso, nós fizemos todo o possível diante da crise, e tenho certeza que tudo irá melhor porque Lagarto é uma cidade grande e que precisa de gestores voltados ao seu povo.

PLN: O que o prefeito gostaria de ter feito e não pôde fazer?

Lila: Muitas coisas, como o calçamento nos povoados, praças na cidade e melhorar mais alguma coisa. Porém, nós fizemos o dever de casa bem feito, pois nós pegamos a Prefeitura com sete postos de saúde e hoje estamos com 25; nós pegamos 60 poços artesianos quebrados e hoje todos funcionam; pegamos as escolas destruídas e hoje estão todas em perfeitas condições. Tanto que a equipe de transição está elogiando, porque eu trato as coisas com seriedade.

Eu não vou mandar destruir tudo, como eu recebi. Não estou dizendo que o prefeito Valmir Monteiro foi cumplice disso, mas estou fiscalizando para que isso não aconteça.

PLN: E por que não fez as coisas que queria?

Lila: O que não fiz foi porque peguei uma herança maldita de quase R$ 18 milhões de dívidas com os fornecedores e professores. Fizemos o que pôde, dentro de nossas possibilidades, mas fizemos. Se eu fizesse um calçamento ou construísse uma escola, eu não pagaria aos funcionários, então optei por pagar aos funcionários e fazer o que era necessário.

PLN: Voltando no tempo, como o Lila ingressou na política?

Lila: Eu sempre gostei de política, desde molecote, e tive a oportunidade de ser convidado para ser vice-prefeito na chapa de Zezé Rocha, fui. Depois me colocaram para prefeito, perdi e na outra ganhei. Mas a minha experiência como político acabou. Eu não tenho nenhum interesse em me envolver com política, apenas quero tomar conta do que ainda me resta, porque trabalho desde os 15 anos e tudo que consegui foi graças ao meu suor.

Tenho meu sítio e minha loja para tomar conta, e filhos que não precisam de emprego político. Também tenho uma família feliz e minha esposa a quem eu dedico toda a minha vida, pela paciência que ela tem comigo. Sem falar do povo que me apoia, pois tenho muita gente que me apoia. Agora, na vida pública, tem gente que vem nos extorquir e se você não fizer, vão sair na rua te esculhambando.

Quando me tornei prefeito vi que as coisas não eram como pensava, mas eu tinha que agradar as pessoas. Diziam que eu não fiz festa, mas como ia fazer se não tinha dinheiro para pagar os professores? Então temos de ter responsabilidade, e eu não pensei em crescer na vida pública, espero crescer dentro do que é meu. Saio da Prefeitura de cabeça erguida e sem mágoa de ninguém. Em relação àquelas pessoas que me apoiaram e fugiram durante minha administração, peço desculpas se não pude cumprir com o que eles queriam, porque eu não prometi nada a ninguém. Eu não gosto de prometer e não cumprir, por isso não fiz promessa, mas Lila ainda é o amigo de verdade!

PLN: Como foi a sensação de perder e depois vencer o mesmo adversário?

Lila: A política tem os altos e baixos. Eu fui candidato do grupo, trabalhamos, mas o outro candidato era mais conhecido e também nunca tinha sido administrador, então o povo votou nele. Agora o reelegeram com 11 mil votos, espero que ele corresponda a esse apoio que ele teve. Espero que ele seja feliz e não desejo mal a ele, pois gosto muito dele. Política para mim é durante os três meses da campanha, ai nós vamos brigar e tudo mais, mas depois que a passa a gente tem que desejar o bem, pois o bem dele será o bem da cidade. Lagarto é uma cidade grande em pleno desenvolvimento, então você tem que unir todas as forças, até a própria oposição.

E vou dizer mais, nesses três meses que me restam já assinei muitas coisas que beneficiará Lagarto nos próximos anos. Eu podia não ter assinado para ele ter dor de cabeça, mas não fiz e não faço, porque quem chegar aqui hoje mandando assinar coisas em benefício da nossa cidade, eu assino. Mas Valmir não fez isso comigo, na época nós perdemos uma verba de doutor Rogério Carvalho, corri atrás pra consegui e não tive sucesso.

PLN: O senhor falou da vantagem de Valmir Monteiro nas urnas. Para o senhor, a que se deve essa expressiva vitória?

Lila: A vitória foi devido a capacidade administrativa dele. Quando ele foi prefeito, ele mostrou que fez festa e tudo mais. Além disso, tenho certeza que ele vai continuar não só fazendo festa, como irá cumprir tudo que prometeu durante a campanha. E se o povo não gostar, o povo tira. Agora está bom por isso: O povo bota e o povo tira!

PLN: Em qual momento do seu mandato, o senhor percebeu que não queria mais ser reeleito?

Lila: Desde o primeiro ano, a minha ideia era ter renunciado. Porém, meus amigos e minha família mandaram eu ficar. Não quis ir pra reeleição porque passei por uma operação. Mas não queria ir pra reeleição de jeito nenhum, porque se eu quisesse ir para a reeleição, eu tinha de fazer tudo diferente e Lagarto hoje não estaria na posição que está. Então depois da operação, o médico aconselhou que eu levasse uma vida mais pacata, e de dois anos para cá, estou levando a vida do jeito que ele receitou. Tratei as coisas públicas com a devida responsabilidade, mas um pouco receoso por causa da minha saúde.

PLN: O que houve no primeiro ano para levar o senhor a pensar na renúncia?

Lila: Foi porque eu pensava que com seriedade as coisas iam, mas não andam. Além do mais, a crise financeira judiou demais a cidade, claro que peguei uma herança maldita com muitos nós para desatar e que eles próprios terão que desatarem, porque alguns eu não consegui. Valmir deixou bomba, que ele mesmo vai ter que desarmar. E eu estou saindo sem nenhum processo, minhas coisas são feitas com clareza.

PLN: Seria essa a marca da sua gestão?

Lila: Sim senhor. É uma grande marca e olha que fizemos muitas coisas por Lagarto, como a praça da feira, a organização do trânsito, e espero que Valmir continue com coragem e dignidade para colocar essa cidade em ordem.

PLN: Qual o momento mais marcante da sua gestão?

Lila: Foi a gente trabalhar com dignidade e respeito ao povo de Lagarto. O que mais me marcou foi o compromisso de um dever cumprido dentro das nossas possibilidades. Estamos pagando a todo mundo e vamos sair sem dever nada a ninguém, já estamos pagando o 13° salário. Então essa responsabilidade perante aos fornecedores e funcionários foi o que mais me marcou. Tivemos problema com os professores, graças a herança maldita, e o sindicato nunca quis acordo. Nós fizemos acordos com todos os sindicatos, mas o Sintese não quis acordo, por isso atrasamos os salários. Vamos terminar com as contas em dia, mas se os repasses do governo vier, terminaremos o ano com saldo positivo. Vai ficar alguma coisa ainda.

PLN: O senhor considera que tomou alguma medida impopular? Se sim, qual?

Lila: Nem sei, tomei tantas que nem sei dizer.

PLN: Qual nota o senhor dá a sua administração?

Lila: Eu dou nota 10 porque fiz o que tinha que ser feito com a devida responsabilidade. Se eu não dou nota 10, como é que Ministério Público me daria nota 10? Como é que a AGU não encontraria nada errado aqui? Então nota 10 para mim. Me considero um dos melhores prefeitos que passaram por Lagarto! Espero que o próximo prefeito olhe para o povo pobre, pois eu faço as coisas e não gosto de divulgar, eu faço para Deus ver.

PLN: Em sua avaliação, por que o Saramandaia perdeu as eleições?

Lila: Todo mundo diz que foi por causa de Lila, e eu assumo a culpa. Foi por causa de Lila. Assumo sem problema nenhum.

PLN: Como ficou a sua relação com as famílias Rocha e Reis?

Lila: Tudo boa, sou Saramandaia e voto em qualquer candidato que o grupo colocar. Não tenho rancor e nem raiva de ninguém.

PLN: Porque o senhor nomeou familiares para diversas secretarias?

Lila: Eu os nomeei devido a capacidade deles para trabalhar com seriedade, e eu só coloquei o filho, mas não coloquei mulher e ninguém mais não. Não fiz isso porque precisava de gente de confiança para gerir minhas coisas. Eu não vivo de política e pode olhar que quando entrei na prefeitura, todos os meus filhos tinham carros novos. Se você olhar agora, esses que estão entrando agora, que tinha carro velho, já estão de carro novo.

PLN: Muita gente diz que o senhor é uma pessoa bruta e ignorante. O senhor se considera bruto e ignorante?

Lila: Eu nem sou bruto e nem sou ignorante. Agora se pisar no meu pé, eu piso também. Eu sei tratar bem todo mundo, eu quero que entre um prefeito que deixe a porta aberta para atender o povo como eu faço, que trate as pessoas com a mesma dedicação, do pobre ao rico. Agora se você chega para dizer liberdade, você escuta. Para saber quem é Lila entreviste meus funcionários e ex-funcionários, se achar um que fale mal de mim, pode dizer que sou gente ruim.

PLN: Qual recado o senhor gostaria de deixar para o prefeito eleito, Valmir Monteiro?

Lila: Que Deus ilumine ele, e que ele ponha em prática tudo o que pregou na campanha. Pode ser que ele consiga devido a sua experiência. Eu acredito que Lagarto vai viver outra era.

PLN: Em 31 de dezembro o seu mandato acaba. Então qual a mensagem o senhor deixa para o povo de Lagarto?

Lila: Que Deus abençoe a todos, um feliz natal, um próspero ano novo e que Deus dê uma tranquilidade ao Saramandaia e ao Bole-bole, porque a política já acabou e os adversários apenas existem na época da campanha. Agora temos que trazer benefícios para nossa cidade.

O Portal Lagarto Notícias entrou em contato com assessoria do prefeito eleito, Valmir Monteiro (PSC) deixando o espaço aberto para conceder também entrevista.

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