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CRÔNICAS DE MEIO SÉCULO (QUARTA DÉCADA)
2 de março de 2024 - 18:38, por Claudefranklin Monteiro
A quarta década de minha existência foi recheada de grandes acontecimentos, mas também de altos e baixos e de grandes provações físicas e espirituais. O ano de 2005 foi de mais uma grande virada em minha vida e de igual modo da “fase do burro”, ou seja, de trabalho intenso, seja no campo profissional, seja no campo intelectual. Ao fim e ao cabo, não posso reclamar e nem tão pouco lamentar: Deus seguiu sendo muito bom comigo e com aqueles que amo.
Depois de ter celebrado seus cinquenta anos com serenidade, o ano que se seguiu não foi dos melhores para meu irmão José Cláudio Monteiro. Vinha muito triste com uma série de coisas que lhe aconteciam de forma muito injusta no final de carreira. Com 32 anos de docência, ele ansiava se aposentar, já não suportava mais certas coisas do ambiente escolar e também social. Não deu noutra, caiu numa profunda depressão que lhe levou à morte no dia 11 de julho de 2005, isso depois de ter experimentado um curto, mas doloroso calvário: derrame cerebral, e por conta disso uma queda que lhe abriu o supercílio, além de uma dengue hemorrágica, que foi fatal para seu processo de convalescência num espaço de menos de um mês.
Sua morte me deixou muito abalado. Já não tinha comigo um amigo, um irmão, um padrinho, um colega de trabalho e um conselheiro. Estar nas festas da padroeira de Lagarto ou nos ritos da Semana Santa era muito doloroso. Por isso mesmo, em setembro daquele ano fui para Salvador com Patrícia, passar alguns dias por lá. A viagem foi importante porque trouxe a capital baiana para a minha vida e também para minha seara profissional e intelectual, como veremos mais adiante.
Por essa época, eu e Patrícia já fazíamos planos para a chegada de nossos filhos. Nesse ínterim, descobri que tinha um problema de saúde que dificultava a procriação: varicocele. Acompanhado até a presente data pelo médico urologista, Dr. Wilson Figueredo, fui submetido a uma cirurgia e no início de 2006, a notícia de que eu, enfim, seria pai. Mas, antes do nascimento de nosso primeiro rebento, um novo revés e uma nova prova: minha mãe, Maria Claudemira, sete meses depois do falecimento de padinho Cláudio, também nos deixou no dia 17 de fevereiro. Vinha de 15 anos de cadeira de roda, com sérios problemas ósseos, entre outros, além de uma tristeza que lhe tomava conta todos os dias. Antes de falecer, ela ficou sabendo da gravidez de Patrícia.
No dia 2 de outubro de 2006, nasceu Pedro Franklin Silva Monteiro, cujo nome hoje é Elli. Sua presença em nossas vidas foi um bálsamo para tanto luto em tão pouco tempo. Quando ele veio ao mundo, nossa nova casa, na rua Tobias Barreto, 509 (Lagarto-SE), já estava em ordem de morar e a partir daquele lugar passamos a viver uma nova fase na nossa história. Elli crescia saudável e inteligente, tornando um grande leitor e com um apurado senso crítico e sensibilidade.
Quando de seu nascimento, eu trabalha três turnos por semana: Colégio Estadual Abelardo Romero Dantas, Colégio Municipal Frei Cristóvão de Santo Hilário e Faculdade José Augusto Vieira. Isto me obrigou a adquirir meu primeiro carro, coisa de que até então não havia necessitado. Era uma rotina cansativa, mas como disse antes eu estava consciente de que vivia a “fase do burro” e minhas costas ainda suportavam carga e sobrecarga no lombo, afinal, era preciso sustentar a família e ampliá-la.
Minha carreira como professor de nível superior se consolidava e, cedo ou mais tarde, eu sentia que um dia meu destino profissional seria a Universidade Federal de Sergipe. Era uma intuição, mas também uma espécie de cumprimento de uma “profecia”. Explico. Em 1984, fui com padinho Cláudio e o saudoso dentista, Dr. Anselmo Andrade, para Aracaju. Como a BR 101 estava interditada, fomos por São Cristóvão. Eu tinha apenas 10 anos de idade. Ao passar pela UFS, meu irmão disse que fora ali que ele havia se formado. Ao ver aquele descampado com alguns prédios, eu disse: “um dia serei professor aqui”. Disse sem nenhuma pretensão, talvez por impulso, coisa de criança.
Logo, fui estimulado a me submeter a uma seleção para professor substituto naquela instituição em 2005 e fui aprovado para o Departamento de Educação. Era um contrato de um ano, podendo ser renovado por mais um ano. Ao tomar posse, descobri que não podia acumular três vínculos públicos, mesmo na condição de substituto. Na Prefeitura de Lagarto, já havia a licença sem remuneração, mas eu continuava a ter vínculo municipal. Assim, se eu quisesse assumir na UFS, teria que pedir demissão e assim o fiz, para surpresa de todos. Trocar o certo pelo temporário (loucura?). Mais do que um ato irresponsável, foi um ato de fé. Dr. Paulo Andrade Prata, amigo da família, e procurador do Município tentou de todas as formas me demover do contrário, mas eu estava convicto e pedi exoneração. Na minha cabeça, na melhor das hipóteses, ainda me restava o Estado, dado que a Faculdade José Augusto Vieira não era um emprego fixo.
Fui professor substituto do Departamento de Educação da UFS entre 2005 e 2007. Ali, lecionei as disciplinas Fundamentos Teórico-Metodológicos de História, Prática de Ensino de História I e II (para alunos do Curso de História) e Estrutura e Funcionamento do Ensino (para boa parte dos cursos da instituição). Foi uma experiência muito importante, pois ampliou meus relacionamentos profissionais e me amadureceu enquanto professor de nível superior.
Em 2008, prestei concurso para uma vaga no curso de Museologia, em Laranjeiras. Quase não me inscrevi, pois só tinha Mestrado e iria concorrer com doutores. Era uma época em que ainda se podia ingressar na UFS sem o Doutorado. Não tinha nada a perder, assim me submeti à seleção e fiquei em terceiro lugar, entre dezoito inscritos. A vaga foi para a Profª. Drª Janaína Mello. Poucos dias depois do resultado, o segundo colocado foi chamado para a Museologia, o Prof. Dr. Samuel Albuquerque. Ora, como o concurso tinha validade de dois anos, minhas chances só aumentaram e assim, naquele mesmo ano, fui convocado para aproveitamento de vaga no Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe (ironia do destino ou providência divina? – é claro que a segunda!). Atualmente, tanto Janaína como Samuel são meus colegas no DHI, afinal as águas do rio sempre convergem para o mar.
Tomei posse no Departamento de História da UFS no dia 6 de março de 2009, no mesmo dia de meu aniversário de 35 anos. Jamais imaginava que um dia voltasse a trabalhar, pela terceira vez, no mesmo lugar onde estudei. Lá, reencontrei, ainda, alguns de meus professores queridos, hoje meus colegas, a exemplo de Antonio Linvaldo e Eduardo Pina. Os primeiros anos, sobretudo de Estágio Probatório, não foram fáceis. Sofri muita pressão e até mesmo assédio moral, mas, bravamente, resisti a tudo e engrossei o couro, como se diz para saber conviver e lidar com todo tipo de gente. Quis sair de lá, por conta disso, muitas vezes. Mas, logo me estabeleci e passei a focar nos meus estudos, nas atividades docentes, de pesquisa e de extensão, e, principalmente dando aos meus alunos o máximo de atenção possível, tratando-os com respeito, companheirismo e humanidade. Foi durante esse tempo que fui aprovado para seleção de Doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco, tendo defendido a tese no dia 21 de novembro de 2013, sob a orientação do Prof. Dr. Severino Vicente da Silva, com o tema: “A Festa de São Benedito em Lagarto-SE (1771-1928): Limites e Contradições da Romanização”.
Quando de minha aprovação para professor efetivo da UFS, Patrícia estava grávida de José Almeida Monteiro Neto. Um mês antes de tomar posse, ela teve complicações na gravidez. Com apenas cinco meses de gestação, nosso segundo menino não resistiu a um parto prematuro e morreu no dia 5 de fevereiro de 2009. Mais uma provação muito dolorosa para nossas vidas, que deixaram traumas, mas também ensinamentos.
A vida corrida, às voltas com viagens, estudos e trabalho, me deixaram um pouco afastado das atividades como escritor, principalmente como articulista, não somente no jornal Folha de Lagarto, mas em outros órgãos de imprensa como a Revista Perfil e a Revista Realce. Tanto que só tornei a publicar um novo livro em 2010, um trabalho didático para o Curso de História à Distância da UFS: “Metodologia do Ensino de História”, pela EDUFS. Antes disso, organizei e publiquei, em 2008, o livro “Uma Cidade em Pé de Guerra – Saramandaia x Bole-Bole”, de autoria de Alailson Modesto, Patrícia Monteiro e Raylane Santos.
Esse trabalho criou em mim o gosto por trabalhar em grupo. Assim, em 2011, lancei o livro “Monsenhor João Batista de Carvalho Daltro – Apontamentos e Fragmentos Biobliográficos”, em parceria com vários escritores lagartenses, entre eles, Luiz Antônio Barreto. Em 2013, a criação da coleção “Temas de História e Educação Católica em Sergipe”, em parceria com Raylane Navarro. Com ela, organizamos e publicamos mais dois volumes. Hoje, a parceria é com a Profª Dra. Ane Mecenas.
No ano de 2013, mais dois trabalhos autorais: “Entre Versos e Insônias”, meu segundo livro de poesia; e “Através do Brasil – Uma Trajetória Centenária”, minha dissertação de Mestrado em Educação pela UFS. Daí em diante, não parei mais, graças a Deus. Não pelo desejo de melhorar o Lattes ou de ser superior a ninguém, como já disse, mas pelo prazer de pesquisar e publicar. E, claro, de colaborar não somente para o campo científico, mas também para o campo das letras e das artes.
Ainda em 2013, por iniciativa do professor Rusel Barroso, fui convidado, juntamente com Assuero Cardoso e Emerson, a fundarmos a Academia Lagartense de Letras, instalada no dia 19 de abril daquele ano. Meu contato com o mundo das lides das academias literárias iniciou-se em 2007, quando das comemorações do Centenário de Nascimento de Abelardo Romero Dantas. Na ocasião, fiz uma palestra sobre o poeta nas dependências do auditório da Biblioteca Epifânio Dórea, numa sessão conjunta da Academia Sergipana de Letras e do Conselho Estadual de Cultura. Em 2010, a convite do acadêmico Domingos Pascoal tomei posse no Movimento Cultural Antônio Garcia Filho, da Academia Sergipana de Letras, na cadeira cuja patronesse é Maria Thétis Nunes.
A quinta década ainda me reservava outras surpresas. Havia chegado aos quarenta anos em 2014 com uma sensação de dever cumprido. Mas, havia mais ainda por ser feito e por ser enfrentado e Deus me permitia viver isto, sempre nesse pêndulo de altos e baixos, alegrias e tristezas, que se por algum tempo em tiraram a vontade de viver, hoje são como energia a alimentar a minha existência rumo ao meio século.