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CRÔNICAS DE MEIO SÉCULO (TERCEIRA DÉCADA)
24 de fevereiro de 2024 - 10:33, por Claudefranklin Monteiro
Minha passagem como professor pelo Colégio Cenecista Laudelino Freire me projetou profissional, social e culturalmente. Em pouco menos de cinco anos, eu já tinha uma vida bastante preenchida com atividades e realizações. Para quem almejou ter apenas o suficiente possuir uma casa própria, Deus me proporcionou mais do que pedi.
Além disso, não trabalhei para ser uma pessoa pública, como sou hoje. Sempre fui tímido e reservado, em tudo. Queria, tão somente, ir de casa para a escola, da escola para casa. Um anônimo. Mas, no Colégio Cenecista Laudelino Freire fui sendo instado a fazer coisas maiores e melhores. E com isso, precisei logo cedo trabalhar com sentimentos como vaidade e orgulho, me esforçando por manter o foco naquilo que aprendi com meus pais e familiares e na Igreja Católica. Nem sempre fui exitoso, posto que sou humano, mas sinto hoje que aprendi e melhorei muito enquanto ser humano.
No Laudelino Freire, com parcerias importantes, realizei gincanas culturais de repercussão municipal e atividades que em instituição de nível superior chamamos de extensão. Entre as pessoas que me estimularam, além de padinho Cláudio, o poeta Assuero Cardoso Barbosa, o jornalista e também professor Emerson da Silva Carvalho e o jornalista Raimundinho. Estes me encorajaram a iniciar algo que também passou a fazer parte de minha vida: a atividade de pesquisador e de escritor. Primeiro como articulista do jornal Folha de Lagarto, onde estreei no dia 27 de junho de 1996, com o artigo “História Consciente, Geração Consciente”; depois, publicando livros, como veremos adiante e colaborando para outros jornais e portais digitais, como faço regularmente até hoje.
Os primeiros artigos tinham como tema tópicos da História de Lagarto, colaborando com a pesquisa pioneira de Adalberto Fonseca, mas também acrescentando algo novo e até ajustando aquilo que não estava bem posto do ponto de vista da Ciência Histórica. Isto me rendeu notoriedade e respeito, mas também inveja e inimizades, muitas das quais não tinha a menor disposição, e nem tenho, de brigar. Até porque, se estabelece aquele e aquilo cujo tempo sedimenta.
Em 1997, fui convidado para trabalhar no Colégio Municipal Frei Cristóvão de Santo Hilário, como contratado. Ali, passei a ensinar História pela primeira vez e finalmente. Depois, via concurso público, me tornei efetivo até 2006. Aprovado em concurso público na rede estadual, fui escalado para trabalhar numa escola da cidade de Riachão do Dantas, mas antes de assumir fui designado para o Colégio Estadual Luiz Alves de Oliveira (Colônia Treze). Ali, fiquei entre março de 1998 e janeiro de 1999. Embora gostasse da instituição, dos alunos e de alguns colegas de trabalho, vivi naquele lugar os piores momentos de minha carreira docente. Era uma época de perseguição política. Como eu era ligado ao grupo Saramandaia, passei maus bocados por conta disso, dado que quem estava na gestão era do grupo Bole-Bole. Andei desistindo da carreira, mas persisti.
Meu sonho era trabalhar no Colégio Estadual Abelardo Romero. Voltar, como aconteceu no Laudelino Freire, para um dos lugares que eu estudei e que foi muito importante para mim. Com a aposentadoria do professor Joaquim Prata, surgiu a oportunidade. Ético no mais alto grau, meu irmão, professor Cláudio Monteiro, que era diretor da escola não queria interferir e nem me ajudar. Assim, procurei a Diretoria Regional de Educação 02, na pessoa da professora Selma Siqueira, a quem sou muito grato, e consegui a transferência depois de sofrer mais uma perseguição política, dado que a direção do Luiz Alves de Oliveira se opunha a minha saída.
Em janeiro de 1999, retornava para o Colégio Abelardo Romero Dantas, agora como professor. Ali permaneci até março de 2009. O acúmulo de aulas e de atividades me obrigaram a pedir demissão, em março de 1999, do Colégio Cenecista Laudelino Freire, onde pretendo encerrar a carreira, nem que seja de forma simbólica. Naquela ocasião, ouvi de algumas pessoas mais chegadas da instituição: “Claudefranklin está trocando o primo pobre, pelo primo rico”.
Àquela altura da minha vida, além de professor e escritor, também atuava nas demandas culturais da cidade. No dia 29 de agosto de 1996, fiz parte de um grupo que reativou a Associação Cultural de Lagarto (fundada em 1970). Fui primeiro secretário da nova diretoria, cujo presidente eleito foi o poeta Assuero Cardoso Barbosa. Foi uma época muito boa para a cultural lagartense, na gestão do secretário de educação e cultura, o professor João Gustavo Neto. Até 2001, conseguimos realizar três novas edições do Festival Lagartense de Música Popular (FLAMP). Durante esse período, também fui presidente da ASCLA.
Nesse ínterim, casei com a professora Patrícia dos Santos Silva, num sábado de Carnaval, dia 14 de fevereiro de 1998, na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, em Lagarto-SE, cujo celebrante foi o padre José Alves. Depois de anos de namoro não tão bem sucedidos, com idas e vindas, obstáculos diversos, noivado fracassado, enfim, a mulher da minha vida, como dizia minha mãe. Lembro até hoje de quando ela me disse isso, sobretudo quando eu ouço a canção “No dia em que eu saí de casa”, de Zezé di Camargo e Luciano. Detalhe: até nos mudarmos para a nossa primeira casa, ainda moramos com minha mãe cerca de um ano.
Casamos sem muitas perspectivas econômicas. Ela, ainda terminando o Curso de Licenciatura em História pela UFS e eu, apenas com os contratos no Laudelino e na Frei Cristóvão. Bom, vale então aquele ditado que diz: “quem pensa, não casa”. Ou ainda: “quem casa, quer casa”. E assim, começou nossa vida juntos: com muita humildade, mas com muita esperança e amor. Logo, logo, ela também estava trabalhando na rede particular e nós dois, enfim, debaixo de nosso teto, numa cada financiada pela Caixa Econômica, na rua José Antônio da Costa (Maninho de Zilá), número 66, em Lagarto-SE. Não fui feliz neste endereço, pelo menos de casa para fora. Eu e Patrícia, com raríssimas exceções, sofremos muito com a vizinhança. Tanto que, em 2006, nos mudamos para a rua Tobias Barreto, 509, onde residimos até a presenta data.
Em 1999, depois que Assuero Cardoso Barbosa enxergou em mim não só potencial para escrever, mas também para a poesia, publiquei meu primeiro livro: “Centrifugação”, graças ao professor João Gustavo Neto. O lançamento aconteceu no pátio do Colégio Estadual Abelardo Romero Dantas, onde recebi o carinho não somente da família e dos amigos, mas também de boa parte de representações da sociedade lagartense. O poema que dá livro a obra foi classificado para as finais de uma das edições do Concurso de Poesia Falada de Lagarto, ficando em sexto lugar. Isso me encheu de entusiasmo e dali não parei mais de publicar, seja crônicas, textos de fôlego curto, artigos científicos, capítulos de livro, livros e organização de livros, entrevistas, reportagens, contos. Não apenas produzir por produzir ou para ter um currículo considerável, mas pelo prazer de ler e escrever. Passados esses anos todos, hoje tenho pela escrita uma relação natural e necessária, como respirar. E faço tudo isso de forma muita intensa, mas muito tranquila e feliz também.
Em 2003, lancei meu segundo livro, desta feita de contos: “Nove Contos”. O lançamento aconteceu no auditório da Secretaria Municipal de Educação de Lagarto, que hoje leva o nome de meu irmão, o professor José Cláudio Monteiro Santos. Na ocasião, o grupo teatral “Cobras e Lagartos” interpretou um dos contos principais da obra: “Anjo Decaído”; que virou um sucesso de público não somente em Lagarto, como em outros lugares onde a trupe se apresentava com o espetáculo. Foi uma sensação indescritível.
“Novo Contos” quase me casou um bloqueio criativo. Por razões que considero meramente humanas, fui duramente criticado por uma das pessoas que fazia parte dos círculos culturais de Lagarto em que eu e ele militávamos, a exemplo da Associação Cultural de Lagarto. Aquilo me abalou muito. Foi a primeira vez que tive que lidar com o pior do ser humano, além disso estava muito fragilizado com um problema de saúde, uma trombose na panturrilha esquerda, em razão de uma tala mal aplicada por ocasião do rompimento do ligamento cruzado do joelho.
Passei algum tempo para voltar a escrever e aquilo só me serviu de lição, mas também de entusiasmo, sobretudo quando cheguei à conclusão que pão bom é aquele cuja massa é bem mexida e batida antes de ir ao forno. Devo dizer também, que à época, recebi muita solidariedade, não somente dos familiares e amigos, mas também de importantes setores da sociedade que reconhecia meu trabalho, que se não era “essas cocadas todas”, era, de algum modo, importante, principalmente para a juventude.
Alcancei o novo século, XXI, plenamente realizado. É bem verdade que ainda não tinha filhos, pois eu e Patrícia estávamos nos curtindo e nos preparando para eles virem numa condição financeira mais favorável. Sonhava em ter pelo menos três. Ela já se contentava com dois. Profissionalmente, não tinha mais nenhum tipo de ambição, no melhor sentido da palavra. Eu era professor em duas instituições públicas e ela já também havia conquistado seu espaço profissional. Nos bastávamos e tinham uma vida confortável e feliz, apesar das dificuldades naturais do dia-a-dia.
Foi quando uma das nossas madrinhas de casamento, que havia morado numa república universitária com Patrícia e outras quatro estudantes, a hoje professora Lúcia Góis (Lucinha) me estimulou a fazer o Mestrado. Confesso que não via futuro naquilo, pelo menos trabalhando na rede pública de ensino municipal e estadual. Não planejei e nem planejava ser professor universitário ou mesmo de Instituto Federal. Aliás, até hoje ambas as redes não estimulam os colegas e nem dão as condições quando esses almejam se aprofundar nos estudos em nível de pós-graduação.
A ideia de fazer Mestrado em História fora de Sergipe não me apetecia e seria um investimento muito alto para um retorno que nem sabia se viria. Mas, Lucinha me convenceu a prestar a seleção no Mestrado em Educação da UFS, foi quando vi no edital que a professora Terezinha Alves de Oliva, que havia me orientado em meu trabalho de conclusão do Curso de História, estava no programa. E assim, com muita tranquilidade e sem criar expectativa, prestei o concurso. Inicialmente, não entraria, pois fiquei em nono lugar de mais de oitenta inscritos, posto que só havia oito vagas. Com a desistência de um dos aprovados, olha eu lá de volta à UFS depois de quatro anos.
Engraçado como pago minha língua ao longo dos anos. E naquela oportunidade foi a primeira vez. Meus últimos anos no Curso de Licenciatura em História na UFS foram muito traumáticos, muita pressão e muita desumanidade. Por um tempo, criei ojeriza da instituição. Quando apresentei o TCC, disse que jamais poria os pés ali novamente.
Tanto na graduação (1992-1995) quanto no Mestrado (1999-2003), sob a orientação de Terezinha Oliva, meu objeto de pesquisa foi o médico e educador Manoel Bomfim (1868-1932), aracajuano que se naturalizou carioca e se notabilizou nacionalmente, sobretudo na produção de livros didáticos e pela discussão sobre a formação do Brasil e da identidade nacional. Até hoje, escrevo sobre o assunto. Esse tema já me rendeu inúmeras publicações, inclusive um dos meus primeiros livros de História e de Educação, do qual tratarei em outra oportunidade.
Entre 1994 e 2004, os primeiros sinais de reconhecimento público. Em 1996, o prêmio Destaque Jovem na Educação, conferido pela Ala Jovem de Lagarto. Em 1999, duas honras ao mérito, uma pelo Banco do Estado de Sergipe e a outra pelo Colégio Municipal Frei Cristóvão de Santo Hilário (atualmente, Artur de Oliveira Reis). Em 2001, por ocasião das comemorações do Sesquicentenário de Nascimento de Sílvio Romero, a Comenda da Ordem do Mérito Sílvio Romero no Grau de Oficial, conferida pela Prefeitura Municipal de Lagarto.
A terceira década de minha existência encerrou com alguns acontecimentos importantes. Primeiro, a minha estreia na Docência em Nível Superior, como professor contratado da Faculdade Vale do Acaraú, polo de Lagarto, onde trabalhei apenas um semestre de 2002. Em seguida, a defesa de minha dissertação de Mestrado no dia 18 de março de 2003. Depois disso, o convite para fundar o Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira, em outubro de 2004. Ali, fui coordenador e professor até 2009. Foi uma casa muito importante para mim, pois me abriu inúmeras portas para a vida profissional e foi onde, também, dei uma guinada definitiva para a maturidade pessoal, professoral e intelectual.