- PUBLICIDADE:
- Minas Telecom
- Hábyto
- Consultoria em Marketing
- OX
- VIDAM
AS PELEJAS DE VALMIR MONTEIRO
14 de maio de 2022 - 14:53, por Claudefranklin Monteiro
Acho que não foi à toa lembrar dele nas últimas semanas. Às voltas com um levantamento de fontes para a biografia de Dom Mário Rino Sivieri, um de seus amigos, deparei-me com algumas notícias dos anos 1970. Ao me ver diante de algumas fotografias do Governador de Sergipe, Paulo Barreto de Menezes (1925-2016), me peguei pensando: “esse camarada me lembra alguém que eu conheço”. Apurando as vistas, com dizia minha saudosa mãe, me veio à mente a lembrança de José Valmir Monteiro, de modo particular de há dez anos, quando com ele, então prefeito de Lagarto, firmamos uma parceria entre a Prefeitura e o Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, sobretudo, em torno dos eventos que recordavam os 100 anos de falecimento de João Batista de Carvalho Daltro (1828-1910).
Na última sexta-feira, 13 de maio do corrente ano, anunciou-se que ele foi diagnóstico com um câncer no estômago e que iniciava um tratamento com quimioterapia. Não deu noutra, por alguns instantes passou um filme em minha cabeça, fazendo-me lembrar de um dos momentos mais significativos da História Cultural de Lagarto, que tento descrever e sintetizar adiante. Não como “mea culpa”, mas como um flerte necessário com um passado histórico recente e a missão de dar a “César o que é de César”. E nesse caso, independentemente de qualquer revés de saúde, a Valmir o que é de Valmir.
Antes, permitam-me dizer como eu o conheci. Eu namorava escondido com minha esposa, a professora Patrícia Monteiro. Seu pai, duro na criação e de coração bom, não permitia nossa relação. Até o dia que tivemos a missão de saber onde andava uma das suas três filhas, durante uma das Exposições Agropecuárias da cidade. Ao chegar em sua casa, estava lá o então empresário Valmir Monteiro, promissor comerciante de madeira, natural do povoado Água Fria, em Salgado-SE, aos 16 de julho de 1962, prestes a completar 60 anos e idade. Minha primeira impressão foi muito positiva. Ele era compadre de meu sogro e de minha sogra, padrinho de batismo da filha mais nova.
Passados os anos, eis que aquele sujeito baixinho, risonho, de conversa franca e bonachão se tornou prefeito de Lagarto em janeiro de 2009 até 2012, pelo Partido Socialista Cristão (PSC). Naquele ano, votei pela última vez no grupo Saramandaia. Fiquei profundamente contrariado como o grupo e a forma como havia tratado Lila Fraga, que depois veio a ser eleito em 2012. Dali em diante, rompi meus laços familiares com o grupo do saudoso Artur Reis e passei a adotar uma postura livre e independente.
Mesmo sabendo que não havia votado nele, Valmir Monteiro me convocou para uma reunião, onde estavam também o poeta Assuero Cardoso Barbosa e a professora Mariana Emanuelle. Ele desligou o celular e me deu toda a atenção possível, propondo uma parceria no campo cultural. Topei de imediato e os resultados se fazem sentir até hoje: Comenda Daltro e livro em homenagem ao pároco da Piedade por muitos anos (1874-1910), Encontro Cultural de Lagarto (mérito também para Jorge da Colosso e André Barbosa) e o Festival da Mandioca (Charles Brício).
Aliás, nunca votei em Valmir Monteiro. Tornei-me seu amigo, mas nunca caminhei com o grupo. Incomoda-me, em particular, essa coisa de ser “gado marcado”. E nesse sentido, não faltaram conselhos: “Valmir, você não precisa dos Ribeiros e tão pouco dos Reis”. Mas ele era muito fiel e grato ao “Velho Guerreiro”, Rosendo Ribeiro Filho, o Ribeirinho. Profeticamente, deu no que deu, “né, amigo”, como gosta de se referir a gente. E olha eu “pagando minha língua” votando nos “Ribeiros” na última eleição para prefeito de Lagarto. Diria ele: “tá vendo, amigo?!”.
Segundo mandato de prefeito (2017-2019) e os reveses da vida se fizeram sentir. Agora? Agora o tempo é de torcer. Torcer e rezar para que ele tenha paciência e fortaleza para enfrentar mais essa provação em sua vida, que no cômputo geral foi mais promissora do que qualquer outro contratempo: que o digam os professores e os agentes culturais de Lagarto.
Força, Valmir Monteiro! Você sabe o que é perder, mas também sabe muito bem o que é ganhar. Saúde e paz!