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CRUZ DAS ALMAS – UM MARCO PARA UMA MARCA
19 de abril de 2022 - 17:07, por Claudefranklin Monteiro
Este ano, como acontece sempre na semana do 20 de abril (Aniversário da Cidade de Lagarto), o município se mobiliza para celebrar sua principal data cívica, criada há 50 anos. Em torno desta celebração identitária, que cada vez mais desperta o interesse das escolas e da juventude, cresce também o sentimento de pertença dos que aqui nascem e daqueles que chegam para se somar, atraindo progresso e desenvolvimento.
Entre os anos 1971 e 1973, assumiu a Prefeitura de Lagarto em sucessão a Dionízio de Araújo Machado, José Ribeiro de Souza, popularmente conhecido como Zé Coletor. Uma gestão curta, mas intensa, sobretudo no que se refere ao apoio dado à cultura lagartense, através das ações do historiador Adalberto Fonseca. Natural de Campo do Brito-SE, radicado e constituindo família em Lagarto, desde os anos 60 veio coletando dados para explicar a história do Município.
Com Zé Coletor, as ações memorialistas de Fonseca deram vazão e se concretizaram, como veremos adiante, em projetos importantes. Em seu livro, História de Lagarto (2004), o historiador reconheceu publicamente o apoio do Prefeito à época: “Na administração do Prefeito José Ribeiro de Souza, que muito valorizou minhas pesquisas, não foram medidos esforços para que Lagarto viesse a possuir seu marco de fundação. Os recursos me foram dados e hoje estamos a conhecer o local onde nasceu Lagarto” (p. 13).
Todos nós que lidamos com identidade, sabemos da importância e também como os marcos são gestados dentro de um contexto, por exemplo, de História Pública e temporal mesmo. Ao mesmo tempo, temos a obrigação de cultivar, defender e estimular a proteção e salvaguarda do patrimônio cultural, notadamente aquele que diz respeito a Lagarto. Foi com esse espírito que ano passado, fui acionado pela gestão pública municipal, por meio do Secretário de Obras, Igor Batata, e do Secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Adriano, e também pela Arquiteta Marília Gabriela, a colaborar na remodelação daquele espaço, no momento abandonado e sem função social, prestando uma assessoria histórica e patrimonial.
A ideia da Prefeita Hilda Ribeiro era construir uma praça. A grande questão era como lidar com um bem, que embora não protegido legalmente como bem cultural, tornou-se símbolo efetivo das origens de nossa gente? A solução foi unir, como deveria ser sempre, a tradição e a modernidade. E assim se fez. O resultado está aí: um lugar que pretende ser novo, na medida em que ganha com a construção da praça que leva o nome do fundador de Lagarto, Antônio Gonçalves de Santomé, e ao mesmo tempo, patrimonializado, resguardando seu histórico de gestação, enquanto símbolo de identidade, mas também de patrimonialização e de consciência patrimonial. Afora o ganho turístico e social, atraindo pessoas para curtir, entre tantas coisas, o frescor da natureza e um belo nascer e pôr do sol.
Por ocasião da inauguração da Cruz das Almas e do Marco Fundador aos 20 dias do mês de abril de 1972, constava uma placa que dizia: “Antiga Tapera de São Tomé, maloca dos índios Kiriri, catequisados pelos Jesuítas Gaspar Lorenço e João Salônio em 1575, marcando o aparecimento de Lagarto”. Com o tempo, a assertiva não se mostrou coerente com as novas pesquisas em torno da presença tardia de índios em Lagarto e da evangelização católica do lugar, iniciada por ocasião da fundação do Santo Antônio, em 1604, pelos Carmelitas. Porém, o lugar seguiu tendo a sua importância histórica, sobretudo no que pese à criação de um memorial das origens de Lagarto.
Ainda em 1972, preciso ressaltar que para além do Marco Fundador, também foram criados naquele ano, por iniciativa de Adalberto Fonseca e o aval de José Ribeiro de Souza, outros marcos indenitários: a Bandeira, o Escudo, Escudo de Armas e o Hino. Celebrar o Aniversário de Lagarto este ano de 2022 também significa celebrar o legado daqueles dois sujeitos, que souberam numa época dura, politicamente falando, ter a sensibilidade necessária para cravar, para a posteridade, os marcos e as marcas de um povo.