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CONTE SUA HISTÓRIA, EUCLIDES OLIVEIRA (in memoriam)
23 de abril de 2021 - 19:44, por Claudefranklin Monteiro
Eu o conheci antes mesmo da instalação da Academia Lagartense de Letras. Creio que foi no início dos anos 2000, por intermédio da professora Luzia Pires, esposa do jornalista Emerson Carvalho. Ela chegou pra mim: “tenho um amigo lagartense, que mora em Aracaju há muitos anos, que gostaria de conhecê-lo. Ele admira seu trabalho e gostaria colaborar com informações do nosso Lagarto de outras épocas”.
Nos falamos pela primeira vez por telefone. Ele, muito solícito, fala da terra natal e das pessoas com muito gosto e me convidou para ir a sua casa, na capital sergipana, na rua São Cristóvão, para conhecer seu acervo. Não levou muitos dias e lá eu estava. Me recebeu como se já fosse meu amigo de muito tempo. Fiquei encantado e surpreso com aquela recepção e desandou a falar, inclusive de suas lembranças de meu saudoso e amado pai, José Almeida Monteiro.
Saí daquele encontro, que levou uma manhã inteira, quase fico para o almoço, com a certeza de que havia feito uma grande e fraternal amizade, daquelas que jamais nos esquecemos. Além disso, alguns presentes, fontes valiosas da história de Lagarto, mas também de Sergipe: textos de sua autoria, cópias de alguns jornais e um livro que foi muito importante para a minha tese de doutorado: As estradas corriam para o sul, de autoria de Jorge Calmon (1998).
Pois bem. Meu amigo nos deixou de ontem para hoje, depois de lutar contra as complicações da COVID-19, no Hospital Cirurgia. Ele tinha diabetes, também, e isso acabou complicando seu quadro de saúde. Fazia algumas semanas, vínhamos nos comunicando por ZAP. Ele me orientava sobre a compreensão da evolução arquitetônica e urbanística de Lagarto nos últimos sessenta anos. Estava com 74 anos e faria aniversário no próximo dia 14 de julho.
Natural de Lagarto, em 1946, era filho da professora Hulda de Oliveira Santos e do senhor Euclides José dos Santos. Foi aluno da professora Maria Teles Cerqueira, com passagens também pelo antigo Grupo Escolar Sílvio Romero. Entre seus parentes de origens lagartenses, era primo de Junot e Jenner Augusto. Seu irmão, Osvaldo foi um notável artista plástico. Euclides me presenteou com uma de suas telas, dois meninos de rua jogando futebol, que eu trago em destaque na biblioteca de nossa casa.
Notabilizou-se como pedagogo e, sobretudo, como jornalista, atuando em jornais importantes: A Tarde (Bahia), Gazeta de Sergipe, Jornal da Cidade, O Dia e Jornal de Sergipe. Escreveu inúmeras crônicas, até recentemente, inclusive para a Revista da Academia Lagartense de Letras e livros organizados por esta instituição, da qual era membro-fundador.
Foi, por anos seguidos (1967-1987), oficial de gabinete de alguns dos mais importantes governadores de Sergipe dos últimos anos: Lourival Batista, João Garcez, Paulo Barreto, José Rollemberg, Augusto Franco, Djenal Queiroz e João Alves. Nas rodas intelectuais e culturais que frequentava e circulo até hoje, seu nome era bastante referenciado. Para Fernando Soutelo, da Academia Sergipana de Letras, que foi seu colega de pelos menos três desses governadores, Euclides era uma pessoa muito dedicada e ativa.
Em 2013, foi convidado para ser o primeiro ocupante da cadeira de número 17 da Academia Lagartense de Letras, cujo patrono é Onofre Silva Santos. Quatro anos depois, no dia 4 de novembro de 2017, no auditório da Filarmônica Lira Popular de Lagarto, publicou seu livro “Garimpando Lembranças”, que reúne valiosas crônicas memoriais de suas vivências na cidade de Lagarto.
Logo na introdução do livro, demonstra todo seu apreço papa-jaca:
Quando falo ou escrevo sobre Lagarto, sou até suspeito de tão irremediavelmente perdido de amor por essa cidade que me viu nascer. Tenho com ela uma doce cumplicidade amorosa e vou continuar cantando-a em verso e prosa por onde andar. Aqui tenho amigos e histórias para contar
Toda a minha obra está impregnada do espírito da minha terra e do meu povo. Estou me dando ao “deleitoso esforço” de reviver os cenários e as figuras que povoaram minha meninice (pp. 15-16).
Esse amor incondicional por Lagarto foi evidenciado em nota de pesar pelo presidente da Academia Lagartense de Letras, Dr. Paulo Andrade Prata:
Um ser humano extraordinário, um “papa-jaca” apaixonado por sua terra. Era, aliás, “irremediavelmente perdido de amor” por Lagarto, como ele mesmo dizia. Sempre declarou esse amor nos seus escritos.
Ao longo dos seus 74 anos, Euclides viveu uma intensa história de amor com sua terra natal. Nos últimos 08 anos, convivendo conosco na Academia Lagartense de Letras, deixou evidente sua “doce cumplicidade amorosa”, com a terra que lhe serviu de berço.
Entre nós, fica o seu exemplo de vida, marcado pela cordialidade, pela generosidade e pela humildade.
O seu legado de amor a Lagarto nos motivará na caminhada.
Que Deus o acolha entre os santos e eleitos! (23.04.2021)
Certa feita me confidenciou que estava preparando um novo livro e que gostaria de me mostrar assim que tivesse pronto o primeiro esboço. Com a pandemia, não pudemos seguir adiante com o projeto. Espero que tenha deixado algo encaminhado nesse sentido para que nós, seus confrades da Academia Lagartense de Letras, possamos homenageá-lo postumamente, como o faço agora, com o coração contrito, mas preenchido de amor, de saudade e de muita gratidão.