CONTE SUA HISTÓRIA, EDILSON ARAÚJO

15 de março de 2021 - 09:43, por Claudefranklin Monteiro

Eu estava cursando terceiro ano do Ensino Médio, no Colégio Estadual Abelardo Romero Dantas. Àquela altura, em 1991, meu conhecimento de matemática era praticamente zero elevado ao quadrado. Nossa turma viveu momentos difíceis. No Governo Valadares ficamos 45 dias sem aula em razão de uma greve que poderia ser resolvida em menos de duas semanas. Os professores de exatas eram trocados de tempos em tempos e havia uma enorme dificuldade de encontrar profissionais para a área. Se as coisas se mantivessem daquele jeito, eu iria enfrentar o vestibular tendo visto apenas PA e PG e algumas operações matemáticas básicas.

Eis que a esperança surgiu em uma bela tarde, com óculos redondo, bem magrinho, camisa ensacada nas calças e extremamente sorridente. Foi apresentado pelo diretor da escola como o mais novo professor de matemática. A turma vibrou, até porque sua fama já era conhecida de todos nós. À época, sua alcunha era Professor Formiga, uma marca registrada que inspirava confiança.

Foi assim que Edilson de Araújo Santos surgiu em nossas vidas para dar uma nova guinada e ânimo nos preparativos para o vestibular. Não houve tempo para recuperar o prejuízo, mas foi muito bom sentir novamente o gosto de aprender matemática, coisa que só havia experimentado quando do ginásio no Colégio Cenecista Laudelino Freire, com o saudoso Osvaldo Andrade. Com Edilson, aprendemos muito mais do que PA e PG, mas também Matrizes e outras operações matemáticas importantes, além de lições sobre a vida que eu, em particular, levei para a minha trajetória professoral: a coisa de ser amigo do aluno e solidário com a sua aprendizagem.

Edilson de Araújo Santos nasceu na Maternidade Santa Isabel, em Aracaju, na manhã do dia 16 de fevereiro de 1968. É filho de Oliveiros Francisco dos Santos (1930) e Elia Emília de Araújo Santos (1935), ambos naturais da cidade de Lagarto-SE. É o mais novo. Seus irmãos são: Edson de Araújo Santos (1966) e Edilene de Araújo Santos (1967). É casado com Gracylenne Prata Santos há 21 anos (neta do saudoso prefeito de Lagarto, Sr. Alfredo Prata), com quem tem uma filha com 18 anos, Natália Prata Santos.

Edilson Araújo é o primeiro (da esquerda para a direita), do segundo plano.

A seguir, nosso homenageado traduz com graça e saudosismo sua infância e adolescência entre Aracaju e Lagarto:

“A minha infância foi muito boa. Morava na travessa Iguaçu nº 199, situada no bairro Siqueira Campos, conhecida também como pilão sem boca. Não tinha saneamento básico, era terra, esgoto a céu aberto. Brincava de jogar bola, queimado, garrafão, bola de gude, tudo em meio àquela sujeira.

As férias escolares eram em Lagarto, no sitio dos meus avós, tanto por parte do meu pai e da minha mãe.

Interessante que eu era uma criança arteira, deixava os meus tios e tias muito preocupados devido as minhas loucuras. Certa vez, eu tive a ideia de caminhar sob a borda de uma cisterna, ela tinha de 12 a 13 metros de profundidade. Quando os meus primos viram, correram para chamar minha tia que com cuidado me tirou do local.

Amava ir aos natais dos povoados, Curralinho, Tanque, Brasília, Jenipapo e o mais esperado de todos, o da Colônia Treze. Esse era realmente muito bom.

A festa de setembro, com a grande exposição agropecuária, a festa da Padroeira Nossa Senhora da Piedade, no domingo a procissão, foi uma infância que daria um livro. (rsrs)

As campanhas políticas também acompanhei várias, e tomei gosto pela política, não a partidária.

Frequentei vários bailes na Associação Atlética de Lagarto (AAL), quando fiquei sabendo da demolição do prédio, bateu uma grande tristeza. Deveriam ter preservado o espaço, transformado em um memorial. Ali passaram várias bandas como Los Guaranis.

Também tinha uns bailes no Colégio Estadual Abelardo Romero Dantas (Polivalente). Como não tinha dinheiro para comprar o ingresso, eu e os meus primos pulavam o alambrado em volta do colégio e não demorava muito, aparecia os vigilantes e nos colocava para fora. (rsrs) era muito divertido. tempo bom”.

Estudioso e muito dedicado, Edilson Araújo teve uma formação escolar e universitária intensa. Fez o Ensino Fundamental na Escola Municipal Sabino Ribeiro e Colégio Estadual 17 de Março. O Ensino Médio Colégio Estadual Atheneu Sergipense. É Técnico em Eletroeletrônica pela Escola Técnica Federal de Sergipe, hoje IFS. Na Universidade Federal de Sergipe fez a Licenciatura Plena em Matemática e o Curso de Especialização em Matemática Pura. Na Universidade Federal de Alagoas, chegou a começar o Mestrado em Matemática Pura.

Iniciou a sua trajetória profissional em 1988, no Colégio Orlando Dantas. Depois disso, contribuiu com diversas instituições de ensino, não somente em Aracaju, mas também em alguns outros municípios sergipanos, a saber: Colégio Visão, Colégio Amadeus; Colégio Estadual José Cardoso de Alencar; Colégio Estadual Benedito de Oliveira; Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, atual Colégio Estadual Professor João Costa (Aracaju); Colégio Estadual Abelardo Romero Dantas – Polivalente; Colégio Estadual Silvio Romero; Pré-Seed – Pré-vestibular da Secretaria de Estado da Educação de Sergipe; Colégio Municipal Frei Cristóvão de Santo Hilário; Colégio Municipal José Antônio dos Santos (Lagarto); Colégio Estadual Cleonice Soares (Boquim); Colégio Estadual Dr. Milton Dorta (Simão Dias).

Professor nos tempos de Faculdade José Augusto Vieira

Também como professor, teve atuações no Programa Avanço, pela Prefeitura Municipal de Lagarto; e no Pro infantil I e II – Regional (Lagarto, Riachão dos Dantas, Salgado, Simão Dias, Tobias Barreto, Poço Verde e São Domingos).  Além do Ensino Superior, na Universidade Federal de Sergipe (como professor substituto); na Faculdade Ages – Paripiranga – BA; na Faculdade José Augusto Vieira – FJAV e na Faculdade Dom Pedro II, ambas em Lagarto, e pelo Programa de Qualificação do Docente – PQD – UFS – Polo de Lagarto.

Sobre a alcunha de Professor Formiga, assim nos explica:

“Esse apelido surgiu quando eu estudava na Escola Técnica Federal de Sergipe. Na minha turma do curso de Eletrotécnica, tinha amigos que faziam cursinho no Sala um Visão.  E tinha um professor de Química que tinha esse apelido, e como na disciplina de química do curso eu interagia muito com a professora Lenalda, então os amigos puseram esse apelido. Vale ressaltar que esse professor Formiga do Sala Um Visão, foi meu aluno na disciplina de cálculo I na UFS, e o nome dele era Aristides. E assim o apelido pegou”.

Como vimos, Edilson Araújo passou por inúmeras instituições, mas uma, em especial ele deixou marcas profundas e positivas. Segundo ele, foi no Colégio Abelardo Romero Dantas, em Lagarto, onde a sua vida profissional começou de fato. Tudo partiu de um convite feito por seu tio, numa Sexta-Feira Santa de 1990, quando almoçava na casa de seus avós maternos. Edmundo Lisboa de Araújo era diretor da escola e precisava de alguém com experiência e formação para as exatas. Ele topou, primeiro como professor voluntário e depois remunerado por meio de um convênio com a CENEC.

No polivalente fui aprendendo a lidar com a profissão, com a ajuda da equipe de professores que faziam parte da grande família Polivalente, como Fernando Bezerra, Fernandes, Brasilina, Vitor, Gilson Alves, Paulo Prata e os saudosos Claudio Monteiro, Celso Milton e Fátima, e muitos outros que fogem a minha memória agora.

 Naquele longínquo anos 90, Lagarto vivia a mercê dos movimentos políticos dos grupos Saramandaia e Bole-Bole, a definir não somente as direções das escolas como também os contratos de professores não efetivos. Seu tio, ligado ao Bole-bole, foi substituído por meu irmão, José Cláudio Monteiro (Saramandaia), na direção do Abelardo Romero. Em razão disso, Edilson imaginava que não ficaria mais na escola, o que foi o contrário para a sua surpresa, alegria e emoção.

Assim nos narrou aquele momento:

“No sábado da mesma semana que o novo diretor tomou posse, ocorreu uma festa no Colégio Municipal Frei Cristóvão de Santo Hilário, eu estava presente. Quando recebi um recado de um aluno dizendo que o prof. Celso Milton queria conversar comigo. Fui até a mesa onde estavam os professores Paulo Prata, Cláudio Monteiro, Gilson Alves, Anselmo Andrade e Celso Milton.

O saudoso Cláudio Monteiro, olhou pra mim e disse: “você continua trabalhando no Polivalente e, Paulo Prata como diretor da DR02, irá renovar seu convenio com a CENEC”.

Foi quando percebi que fui reconhecido pelo meu trabalho desenvolvido. Confesso que chorei quando sai do local, antes agradeci a Claudio Monteiro e aos demais que estavam a mesa. Continuei a minha missão no polivalente até 1994”.

Pelos valiosos serviços prestados à cidade de Lagarto, no dia 14 de março de 2013, Edilson de Araújo Santos recebeu na Câmara Municipal de Lagarto o Título de Cidadão Lagartense, oportunidade em que eu pude me fazer presente e proferir um discurso de improviso, homenageando meu eterno professor. A propositura foi do vereador Carminho da Ambulância.

Solenidade na Câmara de Vereadores de Lagarto, ao lado de Carminho da Ambulância e sob o olhar orgulho de sua filha Natália.

Sobre a honraria, ele assim se expressa:

“O título de Cidadão Lagartense foi pra mim uma homenagem imensurável.

Quando eu lecionava na Faculdade José Augusto Vieira – FJAV, em meados do ano de 2012, um aluno da turma do curso em Licenciatura em Matemática, José Nilton, perguntou se eu era lagartense. Eu disse que havia nascido em Aracaju, porém o espírito era lagartense.  Ele sorriu e seguiu para sala de aula.

Acho que um mês depois, recebi uma mensagem de uma aluna também do curso em Licenciatura em Matemática, informando que seu irmão tinha ouvido em um programa de rádio local, que a Câmara Municipal de Lagarto concedeu o título de Cidadão Lagartense ao professor Edilson, popularmente conhecido por Prof. Formiga.

Meu amigo, eu estava dirigindo. Pense na emoção que senti quando soube da notícia!  Parei o carro e desabei em choro. Liguei para os meus pais e depois para os outros familiares”.

Edilson se define como um sujeito humilde, sincero, que gosta muito de sorrir e de ver os outros sorrir. Tinha o sonho de ser um frade, chegando a entrar para Ordem Franciscana, chegando próximo do noviciado. Ama as exatas, mas também a filosofia, a teologia e a história. É muito apegado à família, que considera ser um bem precioso e divino. Adora conversar com os amigos, sobretudo sobre política, filosofia, teologia e outros assuntos.

Edilson Araújo com esposa e filha.

Ele esperava que fosse terminar seus dias em sala de aula, mas 2016 sofreu um infarto. Foi levado para a urgência de um hospital e o médico plantonista disse que ele estava com gases e muito nervoso, prescrevendo uma medicação e o liberando sem mais. Trinta e oito dias depois, teve novamente outra dor no peito, foi ao Hospital do Coração, onde foram realizados exames e confirmado o infarto. Diante da falta de atenção do primeiro atendimento médico, perdeu cerca de 48% do músculo cardíaco e algumas artérias ficaram calcificadas.

Iniciava ali uma fase muito difícil em sua vida. A saúde se complicou e hoje ele está afastado da sala de aula, adaptado tanto pela rede estadual como municipal de ensino, com um rigoroso tratamento coronário. Ciente de sua delicada condição de saúde, não perde aquela alegria de sempre.

A última vez que nos vimos, creio que foi em 2019, numa Missa de Formatura no Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Lagarto. Ao vê-lo, não me fiz de rogado em ir ao seu encontro, abraça-lo e beijá-lo. Vestido com uma garbosa beca, ele mantinha o mesmo sorriso e humor de sempre. Com lágrimas nos olhos, somente com o olhar e umas poucas palavras demonstramos, um para com o outro, muito afeto e respeito.

Em entrevista recente, por e-mail, me revelou um desejo:

“Que fique registrado o meu desejo de ser sepultado no solo lagartense. Como sinal de meu amor incondicional a Lagarto. Cidade que me acolheu e tornou sonhos em realidades possíveis”.

Edilson Araújo (hoje)

Xingó Parque Hotel & Resort

O Xingó Parque Hotel & Resort está situado perto da usina hidrelétrica Xingó e dos famosos cânions do Velho Chico, a 77 km do Aeroporto Paulo Afonso. Tudo isso, às margens do Rio São Francisco no município sergipano de Canindé. 

 

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