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CONTE SUA HISTÓRIA, DR. ANTÔNIO ROCHA
19 de fevereiro de 2021 - 09:33, por Claudefranklin Monteiro
Antes de conhecê-lo e de privar de sua excelente companhia, eu o via sempre nas fotos antigas de meu irmão, o professor José Cláudio Monteiro, seja na convivência deles enquanto amigos de infância, seja nos eventos sociais de Lagarto, boa parte deles registrados pela câmera de Maninho de Zilá. Quando nos conhecemos, ele passou a me chamar de primo e eu a ele, afinal, nós assim somos: temos parentesco por parte de pai e de mãe. Notável ensaísta, também é uma figura de fino trato: firme nas palavras, mas também um lorde no lidar com as pessoas.
Antônio José Monteiro Rocha nasceu na Praça da Piedade, 66, em Lagarto-SE, no dia 19 de fevereiro de 1954. Filho de João Almeida Rocha (Prefeito de Lagarto – 1974-1976) e Valdomira de Carvalho Rocha. Quando criança, brincava na praça da Matriz, numa época que segundo ele havia mais amizade, quando todo mundo se conhecia e era amigo, se divertindo com cavalo de pau, com carrinho de rolimã, também viajava para a fazenda, para sítios, lugares onde passava as férias com seu avô.
Entre seus amigos de infância, o saudoso professor Cláudio Monteiro, Jorge de Seu Nozinho da Casa Oriente, Beto de Dr. Evandro, Juscelino (Lino de Tio Raimundo), Dr. Verdi (Verdinho), Sérgio de seu Zeca do Posto, Elizinho, Geraldo de Santinho Machado, Boaventura e seu irmão Paulinho, entre outros.
Sua Formação inicial se deu na Escola de Tia Flora e depois na Escola de Dona Emetéria Imaculada Conceição e também de Dona Erundina Mota. Fez o antigo ginásio no Colégio Cenecista Laudelino Freire e no Colégio Nossa Senhora da Piedade. Na época em que ele foi aluno do Laudelino, seu pai era o diretor da instituição, uma das mais conceituadas da cidade de Lagarto.
Em 1969, foi para Aracaju, onde viveu boa parte da adolescência, na Rua Propriá, 445, numa propriedade dos pais. Na capital sergipana, ele fez o secundário no Colégio Atheneu Sergipense. Eram tempos difíceis do ponto de vista político, pois o Brasil estava sob um regime ditatorial. A esse respeito, assim nos falou Dr. Antônio:
A Ditadura Militar praticamente não tinha efeito sobre a gente. A política em Lagarto era praticamente a mesma. Não havia diferença nenhuma. O que havia era uma censura de certos pensamentos do pessoal que se opunha. Quando eu morava na rua Propriá, em frente morava Dr. Basílio, que era o pai de Jonas Amaral, que era oposicionista. Então, esse pessoal, de vez em quando tinha problema com a ditadura. Eu tive um problema uma vez, mas já foi na universidade, porque eu tinha me inscrito numa ação para atendimento a pessoas ribeirinhas no Baixo São Francisco, região de Propriá, numa operação comandada pelo Exército, e o pessoal do Exército antes de liberar para a gente trabalhar, disse que o Serviço Nacional de Inteligência iria fazer um apanhado do comportamento das pessoas, uma varredura. Só que na mesma data que iriam acontecer essas ações no São Francisco, teve um Congresso de Odontologia no Rio Grande do Norte, e muita gente queria largar a primeira inscrição para ir para o Rio grande do Norte. Aí o pessoal do Exército ameaçou que se o pessoal não fosse, não comparecesse iria ser preso. Na varredura, todo mundo recebeu o aval, menos eu. Eu não recebi o comunicado. Assim, fui para o Rio Grande do Norte. Quando eu retornei para Aracaju, que fui entrado na UFS fui informado que minha ordem de prisão estava pronta, porque eu estava escalado e não fui ao São Francisco. Procurei me informar mais a respeito e só consegui me livrar por que tinha um professor que era capitão do Exército. Ao final de tudo, descobriu-se que a secretaria da universidade tinha esquecido minha convocação dentro de uma gaveta, por isso não fui comunicado a tempo. Foi por muito pouco (Entrevista no dia 17 de maio de 2017).
A política era estudantil e voltada apenas para as questões relativas às condições de ensino e aprendizagem. Dr. Antônio Rocha foi tesoureiro do Diretório Acadêmico Carlos Chagas do Instituto de Biologia, onde fez uma parte do curso de Odontologia da Universidade Federal de Sergipe. Inicialmente, seu desejo era fazer Engenharia Civil, curso que ainda não tinha em Aracaju. Seu pai à época estava com dificuldade financeira e não podia bancar sua estada em Salvador. Daí, então, ele optou pela Odontologia.
Uma fez formado, retornou para Lagarto onde atua até hoje na profissão, na rua Laudelino Freire, próximo ao BANESE. Seu pai já havia deixado o ofício e na cidade tinha muito dentista prático, sem a formação superior. Com Dr. Rubens, Dr. Antônio Rocha eram os únicos odontólogos com consultório montado. Os outros, atuam em sindicatos e demais instituições, a exemplo de Dr. Gilson e Dra. Marta. O saudoso Dr. Anselmo Andrade é uma geração posterior, filho de Seu João Briba.
Sobre a vida social de Lagarto, Dr. Antônio Rocha além de entusiasta era também um frequentador assíduo. Quando jovem, era comum vê-lo em clubes como Associação Atlética de Lagarto e a Associação Atlética Banco do Brasil. As pessoas de sua geração curtiam com alegria cada momento de confraternização. As festinhas que eram promovidas nas casas dos amigos, a exemplo da casa de meus avós, Raimundo Notato e Eutímia, na Praça da Piedade, hoje anexo da Prefeitura, segundo ele serviam de aquecimento para as noitadas.
Eram épocas bastantes movimentadas. Eles ouviam de tudo, sobretudo música estrangeira. Os Beatles já haviam terminado enquanto grupo, mas suas canções estavam entre as prefiras da turma de Dr. Antônio Rocha. Era uma febre de música estrangeira na cidade, afirmou nosso homenageado. Mas, eles também curtiam e foram influenciados por artistas brasileiros, a exemplo de Paulinho da Viola, Benito de Paula, Chico Buarque, Milton Nascimento.
Dr, Antônio Rocha tinha pelo pai um grande afeto e nutria uma profunda admiração. Tinha fala de ser disciplinador, mas era também liberal. Era um homem dotado de grande inteligência, sobriedade e distinção. No Laudelino Freire, Dr. João Almeida Rocha foi seu professor de ciências e de inglês: “Eu além de aluno do meu pai, era filho do Diretor da escola. Tinha que dar exemplo, não podia tirar nota baixa”. Costumava frequentar seu consultório odontológico: “Eu praticamente morava no consultório. Não saia do pé de meu pai”.
Ele era uma pessoa que valorizava muito a gratidão. Tanto que, na política, que guarda muitas armadilhas, ele tinha uma tia que ele gostava muito, Tia Flora, que era professora. Ele tinha a maior adoração, porque quando ele foi estudar na Bahia, ficou lá, na casa dela. Ele tinha muito gratidão por ela. Quando foi eleito prefeito, Tia Flora queria que ele calçasse algumas ruas para valorizar uns imóveis que ela possuía. Mas, ele não fez. Então, ela morreu odiando-o. Ele tinha grande mágoa por isso, porque julgava que estava fazendo o certo: era uma propriedade pública e ele não poderia se prevalecer de ser prefeito para ajudar uma parente.
Episódios como este deram a Dr. Antônio Almeida Rocha a alcunha de administrador correto e honesto, qualidades herdadas pelos filhos, tão carentes nos políticos de nossa geração. Dr. João já havia sido vereador de Lagarto nos anos 40, por duas legislaturas, e foi iniciado na política pelo saudoso José Monteiro de Carvalho, falecido em 1963, em plena disputa eleitoral para a Prefeitura de Lagarto. O fato deixou Dr. João chateado e só retornou à política para ser eleito em 1972 para Prefeito, numa das campanhas mais marcantes do município, com direito a trio elétrico e a uma expressiva votação, tendo como vice Eliseu do Cachimbo.
Dr. Antônio José Monteiro Rocha é membro fundador da Academia Lagartense de Letras, no dia 19 de abril de 2013, ocupante da cadeira número 19, cujo patrono é o médico e escritor Dr. Teodureto Arcanjo do Nascimento. Sua veia literária nasceu por intermédio de Dr. Joaquim Prata (in memorian), foi sua grande influência e também incentivador.
A ideia era contribuir para o portal do professor Rusel Barroso, o LagartoNet. Principalmente com textos e crônicas memorialísticas do Lagarto. Ele criou gosto e passou a produzir textos primorosos, excelentes contos, de grande fineza e detalhes. Outro aspecto formidável, característica presentes em confrades como o próprio Joaquim Prata e na pena de Anselmo Vital, que é o humor. Eu, particularmente, sou fã da história de um sujeito com o qual ele pregou uma peça, colocando uma dentadura em seu copo de cerveja, num baile de Carnaval em Lagarto.