SUJEITOS DOS CARNAVAIS LAGARTENSES: RINALDO PRATA

17 de fevereiro de 2021 - 10:43, por Claudefranklin Monteiro

Uma das fotos mais emblemáticas da história dos trios elétricos em Lagarto também é uma das minhas preferidas. Campanha eleitoral para Prefeito, capitaneada por Dr. João Almeida Rocha, no início dos anos 70. No primeiro plano inferior, Seu Dadá, com camisa de botão aberta, dirigindo o caminhão; em seguida, o primeiro grupo de percussionistas, todos de chapéu branco. No alto, as bocas de alto-falante brancas e Rinaldo Prata em destaque com uma guitarra. O layout era de cartas de baralho coloridas, designer da filha de Zé Coletor, do final dos anos 60.

Acervo Rinaldo Prata (anos 60)

José Rinaldo Prata de Almeida, sexto filho de José Almeida Souza e Noêmia Prata Almeida, nasceu na Praça da Piedade, em Lagarto-SE, no dia 8 de agosto de 1952. Durante a infância, brincava no palanque e na praça a Matriz e também no Cemitério Sr. Do Bomfim, de cowboy, e tomando banho nos tanques do Governo. Entre seus amigos, Jorge de Usulino (filho de Seu Nozinho da Casa Oriente), Aderaldo Prata (filho de José Marcelino Prata), Geraldo Majella (empresário do Haras FJ), entre outros.

Começou seus estudos na antiga escola particular de Dona Erundina Mota, com passagens pelo Grupo Escolar Sílvio Romero, Colégio Cenecista Laudelino Freire e Colégio Nossa Senhora da Piedade. Em Aracaju, fez um ano no Colégio Atheneu Sergipense. É Técnico em Contabilidade, mas não exerceu o ofício em sua plenitude, tendo sido secretário na Coopertreze por quinze anos. Depois, investiu no comércio, abrindo uma loja de material elétrico e também com filmagens de casamento, eventos e aniversários, entre os anos 80 e 90. Um dos pioneiros nessa área, constituindo um acervo extraordinário, até hoje devidamente organizado e catalogado.

Rinaldo Prata registrando uma das edições do Lagarto Folia (anos 90)

O grande fascínio da vida de Rinaldo Prata sempre foi a música. Tudo começou nas sessões do Cinema de Edinho (Cine Glória), ainda na infância, quando curtia as apresentações de bandas como Los Guaranis e outras que vinham se apresentar em Lagarto. Seus olhos não saiam das guitarras, instrumento que sempre chamou a sua atenção.

Certa feita, pediu um violão ao pai, que era daquele tempo em que o instrumento não era bem visto pela sociedade, tido como coisa de malandro. Quem venceu a resistência do pai foi seu compadre, padrinho de batismo de Rinaldo, Seu Nozinho da Casa Oriente, que na sua loja vendia o objeto de desejo do garoto e o presenteou com um que tinha caído da parede, mas que tocava direitinho. Era o ano de 1967.

Rinaldo levou o violão para um marceneiro consertar e se dedicou com disciplina a aprender, numa época com muitas dificuldades de acessos a cifras e letras. Tinha aulas particulares numa casa perto da FM Aparecida, na Cidade Nova. Além de autodidata, teve algumas instruções com Raimundinho do Violão de Ouro, que com Alceu Monteiro chegou ter uma escola de violão em Lagarto.

Não demorou para o jovem Rinaldo tocar em bandas. Sua primeira experiência foi na Banda Os Iniciantes, em 1969. No Colégio Nossa Senhora da Piedade, reuniu os amigos Bututin (bateria) e Val (contrabaixo) e formou um grupo chamado Parada Seis, em 1971. Sua principal influência musical, até hoje, era a Jovem Guarda. Atualmente, tem uma banda (Acauã) para eventos particulares, composta por Walter Freire, Bereu, que foi goleiro do Lagarto (na bateria), Mundinho e Cícero (Los Guaranis).

Tocar em trio elétrico foi um dos grandes desafios musicais da vida artística de Rinaldo Prata. Isto aconteceu no início dos anos 70, por ocasião da campanha e depois administração do prefeito Dr. João Almeida Rocha. O trio havia sido montado por José Ercílio e precisava de alguém para tocar guitarra, uma vez que já haviam contratado uma pessoa para tocar cavaquinho. Os carnavais de rua de Lagarto da época, até o início dos anos 80, eram todos instrumentais. O grande barato mesmo da juventude eram os bailes carnavalesco da Associação Alética de Lagarto (ALL).

Rinaldo Prata – Anos 70

O grupo ensaiava no antigo Hotel Rosendo Palace (hoje Centro Comercial José Augusto Vieira). O trio elétrico saia da Praça da Piedade e descia toda as avenidas Lupicínio Barros e Presidente Vargas. A trilha sonora era o Trio Tapajós, Atrás do Trio Elétrico (Caetano Veloso, 1969), Samba Suor e Cerveja (Caetano), marchinhas de carnaval e os frevos pernambucanos.

No início, nos layouts dos trios de Lagarto não havia iluminação, salvo os faróis do caminhão. Havia o chamado pranchão de madeira em cima de um caminhão, cujo dono e motorista era o taxista Seu Dadá. Havia as famosas cornetas, entre outros adereços típicos daquela época, tudo movido por um gerador. Era conhecido pelas pessoas como o Trio da Prefeitura, que existiu até a administração de Artur Reis, que o desativou.

Rinaldo Prata, além de músico e comerciante, é figura sempre presente nas manifestações religiosas do catolicismo lagartense, notadamente na Encomendação das Almas, nos dias de Finados ou Sexta-feira Santa. Tranquilo e discreto, mas também muito bem-humorado, ele deixou um legado importante para a folia elétrica de Lagarto, seja do ponto de vista musical, seja ao nível da memória histórica de grandes campanhas eleitorais e gritos de Carnaval de rua.

Entrevista com Rinaldo Prata no dia 8 de janeiro de 2019

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