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SUJEITOS DOS CARNAVAIS LAGARTENSES: CABO ZÉ
14 de fevereiro de 2021 - 18:31, por Claudefranklin Monteiro
Início da década de 90, sua primeira micareta como prefeito de Lagarto, ele em cima de um carro com um trio elétrico ao fundo, com Ribeirinho acompanhando a pé ao lado do motorista. A multidão o saudava em euforia e mesmo eu que não votava nele e sequer concordava com suas teses políticas, pensei comigo mesmo: “esse sabe fazer festa e se souber administrar, além de marcar a História do município, se perpetuará no poder por longos anos”. Poucas vezes tinha visto aquilo, aquela manifestação espontânea do povo. Para além de um líder, estava ali, diante de meus olhos, um sujeito que sabia o que era o efeito da alegria nas pessoas. Pão e circo? Talvez. Mas nada foi comparável até hoje ao que o grupo Eldorado provocou nas sociabilidades da velha e jovem sociedade lagartense.
José Raymundo Ribeiro, filho de Rosendo Ribeiro de Sousa e Otacília Modesto de Sousa, nasceu no dia 5 de novembro de 1937, na praça Nossa Senhora da Piedade, número 31, em Lagarto-SE. Iniciou seus estudos na Escola de Dona Uda, seguindo, anos depois, para a Escola Santa Teresinha, em Boquim-SE. Em Aracaju, fez o antigo científico. Na Paraíba, na cidade de Sousa, prestou o vestibular para Direito. Nomeado para a EMSETUR, ele retornou a Sergipe, indo trabalhar em Aracaju, onde concluiu os Nível Superior na Universidade Federal de Sergipe, cujo diploma, segundo ele, nunca foi buscar.
Muito jovem e não muito dados aos estudos, preferia mesmo a vida política, ocupando várias funções públicas, algumas das primeiras por indicação do deputado Euvaldo Diniz (o arrojado), prestigiado político, muito ligado ao presidente Juscelino Kubistchek. Foi por essa época, que os irmãos ribeiros se lançaram na política, levando à eleição de Ribeirinho em 1962 para Pedrito Batalha, num pleito movimentado e polêmico, após vitória de José Monteiro de Carvalho por 32 votos, anulação da eleição e subsequente falecimento do mesmo antes de tomar posse. Naquele ano, Raymundo Ribeiro sagrou-se deputado estadual, com 1750 votos.
A alcunha de Cabo Zé se deve ao promotor Laurindo Ramos. Ele o chamava de “cabo” e Raymundo respondia chamando-o de “cabo Lau”. Com o golpe de 1964, o deputado Raymundo Ribeiro foi chamado ao 28 BC, em Aracaju, para fazer declarações sobre um juiz que era seu amigo, Dr. Osório Ramos. Seu interrogador o deixou esperando das 9 às 11 da manhã. Com sede, Ribeiro pediu-lhe água lhe chamando de “cabo”, como o tratava Dr. Laurindo. A autoridade se tomou por ofendida, pois se tratava de um Tenente do Exército Brasileiro. Liberado, dias depois, Raymundo Ribeiro contou o ocorrido na Assembleia Legislativa para a gargalhada dos presentes que passaram a lhe chamar de Cabo Zé.
Antes daquela campanha em foi eleito deputado estadual, em 1960, Raymundo Ribeiro passou um carnaval em Salvador, ocasião em que viu um trio elétrico pela primeira vez. Sua irmã Julieta morava na capital baiana. Tratava-se do Trio Elétrico Tapajós. Ele ficou fascinado com aquilo e percebeu que poderia ser utilizado na política sergipana e lagartense. Ribeirinho de uma caminhonete F350, da Ford, em cima da qual Cabo Zé montou um trio nesse carro, com oito cornetas e equipamento de som, para as eleições do daquela época. Para ele, foi o primeiro trio elétrico de Lagarto, em 1961.
No que seria o primeiro trio elétrico de Lagarto, predominava além das canções de campanha, músicas instrumentais de carnaval, com um músico de Laranjeiras comandando as festas. Cabo Zé tomou gosto pela coisa e anos mais tarde passou a empresariar a construção de trios, oportunidade em que ele comprou uma carcaça do trio do Tapajós para construir um equipamento maior, para ser utilizado nos carnavais de Sergipe e além-fronteiras.
Até o surgimento do Trio Elétrico Eldorado, Cabo Zé chegou a montar pelo menos três trios elétricos, estimulando outras pessoas a entrar no ramo, a exemplo do empresário Wanderlan da Empresa de Transporte Fátima. Seus trios foram importantes em campanhas de Albano Franco e Antônio Carlos Valadares. O Cabo nos disse que foi uma época boa do ponto de vista econômico, quando pode ganhar muito dinheiro e investir em novidades para os caminhões da alegria, com som, carrocerias e layouts mais modernos.
O conhecimento e a amizade com o empresário Orlando Tapajós proporcionava ao Cabo trazer para Sergipe bons equipamentos e técnicos também, entre ele Jorge que dava muita assistência na montagem dos trios elétricos. Seus caminhões tocavam, inclusive, nos carnavais de Salvador, com grande aceitação dos contratantes. Em algumas dessas ocasiões, chegou a dar entrevistas para a TV Bandeirante.
Apaixonado pela comunicação, desde os tempos em que foi aliado de Artur Reis, tendo rompido nos anos 60, Cabo Zé fundou a FM Eldorado nos anos 80. Anos depois, fundou o inesquecível Trio Elétrico Eldorado, um grande empreendimento, que viajou o país levando sua potência sonora e animando não somente carnavais e micaretas, mas também diversos eventos e campanhas eleitorais.
Além de empresariar trios, ele também conseguia que bandas, grupos e artistas da Bahia viessem se apresentar em Lagarto, sobretudo nas micaretas, a exemplo do Valneijós e o Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar. Com o passar dos anos, ficou mais focado com a política e com a rádio e passou a responsabilidade do Trio Eldorado para o filho Rosendo. Com as novas recomendações da justiça eleitoral, o mercado de trio caiu muito e ficou restrito aos carnavais.
José Raymundo Ribeiro foi deputado estadual duas vezes, segunda suplência para deputado federal e prefeito de Lagarto, entre 1993 e 1996. Candidato a vereador nas eleições de 2020, sem alcançar êxito, com 84 anos de idade, encontra-se afastado da FM Eldorado, mas segue na vida política e no jornalismo, se posicionando sempre que necessário pelas redes sociais, com a marca que o definiu ao longo dos anos: o viés polemista. Para a folia lagartense, ele deixou um legado importante e marcou de forma brilhante o cenário do entretenimento e da vida social e cultural do município, contribuindo sobremaneira para que o Trio Elétrico Eldorado entrasse para a história como a “máquina de som”.