- PUBLICIDADE:
- Minas Telecom
- Hábyto
- Consultoria em Marketing
- OX
- VIDAM
DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (DOAÇÃO)
26 de maio de 2020 - 09:58, por Claudefranklin Monteiro
Ninguém faz o doce de leite que mamãe fazia igual a ela. Agora a pouco, enquanto escrevia essa crônica em sua homenagem, ela me mandava um ZAP dizendo: “prepare a cerveja gelada, que no cardápio de hoje tem vatapá”. Entre um mimo aqui e outro ali, ela quebra o coração da gente e mantém o que me parece ser sua missão entre nós: manter a conexão e zelar pelos laços da família. Diria mais: ela, com muita competência, exerce o ofício de relações públicas. Quando o telefone toca ou chega uma mensagem de áudio, não sendo comida, pode ter certeza que é notícia do pessoal de Fortaleza, da Colônia Treze, de Salvador, da Cidade Nova…
Tem o hábito de guardar as datas de aniversário de todos da família, de irmãos a primos. Faz questão de ligar para todos, tanto os parentes de mamãe tanto quanto os da parte de nosso pai. Ainda cultiva uma prática que com o tempo foi se perdendo, sobretudo com a chegada das redes sociais e do corre-corre da vida: a de visitar as pessoas. Daquelas de passar para tomar um café ou mesmo ficar por horas para colocar o papo em dia. Nisso, ela também é expert.
Apesar de ser a caçula das mulheres, Claudicleide foi aprendendo com a vida e com os reveses e até com as escolhas não muito boas a amadurecer logo, antes mesmo do comum. Sofreu muito preconceito numa época que a sociedade lagartense era cruel com as mães solteiras, como se elas escolhessem viver isso ou mesmo calculassem que isso pudesse lhes ocorrer (salvo nas condições de vontade própria ou de necessidade). Nesse sentido, nossa mãe e Padinho Cláudio foram de uma fortaleza sem igual, encarando a todos sem animosidade, mas com dignidade e de cabeça erguida.
Luan Henrique teve como figuras paternas, por muitos anos, seus tios. Eu, que ainda não tinha filhos, vivia a mimá-lo, levando para passear nos braços ou na cacunda. Tive um treinamento intensivo de paternidade antes de Pedro Franklin vim. Luan renovou a feição da nossa casa, encheu-a de alegria e de viço. Fofinho e carismático, vivia a aprontar peripécias. Mas sempre perdoado a cada estripulia. Padinho Cláudio o registrou como seu protegido legalmente, demonstrando todo seu afeto, tendo direito, inclusive ao seu inventário em testamento.
Eu e Claudicleide vivíamos às turras na infância. Ela tinha nojo de mim, porque eu troquei a chupeta pelos dedos. E ainda tinha a péssima mania de butucar o nariz. Era uma confusão atrás da outra, mas nada que o tempo não curasse. Hoje, é carinho às toneladas. Sempre atenciosa comigo, me cobre de cheiros, beijos e abraços. Aliás, a todos nós.
Na fase adulta, a única coisa que ainda era causa de ruídos foi a política partidária. Não gostava do envolvimento dela a um determinado agrupamento, a ponto dela se desgastar com as pessoas, dado que seu temperamento sempre foi impulsivo e ansioso, o que lhe afeta a saúde também. Ficava sempre a lhe aconselhar ou a dar bronca também. Acho que valeu a pena. Assim espero, pelo menos até as próximas eleições (risos).
A vida foi lhe sorrindo aos poucos e ela conseguiu concluir os estudos, inclusive em nível superior, licenciando-se em Biologia. É professora da Rede Municipal de Lagarto há vários anos. Tendo ocupado a função de Coordenadora Escolar por algum tempo. Hoje, dedica-se como nunca ao filho, à nora (Jéssica) e ao seu netinho Kauan Henrique.
Por fim, realizou o grande sonho da vida dela e posso asseverar que foi tudo muito bonito. Seu casamento com Manoel foi de cinema e marcado por grande emoção. Seus olhos eram um contentamento só. Ainda desejo que ela alcance a serenidade, pois não há mais porquê se esquentar ou o quê provar. Os fantasmas já foram exorcizados. Que sua essência de ser doação por inteiro prevaleça acima de tudo que é ruim, que não soma e nem edifica.