DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (Humildade)

5 de abril de 2020 - 21:30, por Claudefranklin Monteiro

Na segunda metade dos anos 90 do século passado, eu fui apresentado pelo jornalista Emerson Carvalho a uma obra fascinante: Operação Cavalo de Tróia, do escritor espanhol J. J. Benítez, lançado em 1984, chegando ao nono volume. Emerson me emprestou o primeiro volume e fiquei algumas semanas sorvendo de suas histórias: um flerte entre o fantástico ou fantasioso e a realidade. Não tão polêmico como os livros de Dan Brown, mas envolvendo também um personagem em comum: Jesus Cristo.

No primeiro volume do livro Operação Cavalo de Tróia, há uma passagem que fala da descrição física de Jesus. Algo muito próximo da narrativa do governador romano da Judéia, Públio Lêntulo, dirigida ao Senado, que destacava sua cor morena, de cabelos longos e olhos castanhos, de barba espessa e proporção do corpo “mais do que excelente”. A bíblia não traz maiores detalhes sobre a aparência física do Nazareno. Mas, uma coisa sempre me fascinou em todas essas leituras: a estatura de Jesus Cristo. Um homem, certamente, alto e destacado fisicamente.

Hoje é Domingo de Ramos e nesse dia, na semana em que Jesus é levado para ser crucificado e morto, Ele foi à Jerusalém montado num jumento, conforme instruções que passou para dois de seus discípulos: “Ide até o povoado que está ali em frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada, e com ele um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os a mim (Mt 21, 1-2)”. Qual autoridade à época não teria preferido fazer uso de um cavalo alado, o melhor puro sangue que seu rico dinheiro e importância pudesse comprar?

Pois bem, imagino em detalhes aquela entrada de Jesus em Jerusalém aos gritos de Hosana. Ali, Ele manifestou a essência de sua autoridade de verdadeiro rei: manso e humilde de coração. E a cena ganhou ainda mais representação se de fato sua estatura fosse realmente alta. A cena, aparentemente hilária, de um grandalhão montado num jumento, com a pernas dobradas e se equilibrando sobre o pequeno animal, se reveste de um simbolismo ainda maior.

Por eu ter estudado e alçado voos altos em minha vida, para uma criança de origens humildes, sobretudo por parte de pai, há quem me julgue como aquele que se acha, que é boçal, que não se mistura. Ou que, por saber demais, quer ser melhor do que os outros. Já sofri muito por conta disso, mas hoje, encaro de duas maneiras. Uma, tão grosseira como os apressados julgamentos que me fazem, respondendo: eu não me acho, eu sou; quem se acha é quem não é, principalmente nada. Mas, na contramão disso tudo, procuro me espelhar naquele homenzarrão que entrou triunfante em Jerusalém, pedindo a Ele, em oração, que eu seja manso e humilde de coração.   

Na Carta aos Filipenses, ao se referir a Jesus, Paulo assim ressalta: “(…) humilhou-se a si mesmo (2,8). No Domingo de Ramos, Jesus dá a senha para se alcançar a humildade: humilhar-se. Humilhar-se sem se rebaixar ou se menosprezar, uma vez que Ele manteve sua autoridade o tempo todo: da entrada triunfal em Jerusalém à Ressureição. Humilhar-se em revestir-se de mansidão e de amor e se colocar no lugar do outro. Fazer uso de sua sabedoria e autoridade em favor do outro.

Nesse sentido, disse-nos o Papa Francisco na Homilia de hoje, numa Igreja de São Pedro praticamente vazia, em razão do avanço do coronavírus: “O seu amor levou-O a sacrificar-Se por nós, a tomar sobre Si todo o nosso mal. É algo que nos deixa sem palavras: Deus salvou-nos deixando que o nosso mal se encarniçasse sobre Ele: sem reagir, somente com a humildade, paciência e obediência do servo, exclusivamente com a força do amor”.

E você, está disposto a viver a humildade proposta por Jesus? Se sim, comece por se esvaziar de si próprio e deixando-se guiar por sua ação, essencialmente, mansa e humilde. Como nos diz a letra da canção do cantor gospel, Deigma Marques: “Que Ele cresça e eu diminua / Que Ele apareça e eu me constranja / Com a Sua glória e todo o Seu amor / Infinita humildade, servo de todos os irmãos”.

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