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Projeto do IFS de Lagarto busca mapear e identificar mosquitos vetores de doenças no Brasil
21 de março de 2024 - 08:20, por Marcos Peris
Desde muito jovem, Ariane Menezes Santos alimentava sonhos que a levavam para além do cotidiano de sua cidade. Enquanto outras crianças imaginavam-se em profissões mais convencionais, Ariane olhava para as estrelas e sonhava com a imensidão do universo, desejando um dia desvendar seus mistérios como cientista. Este fascínio infantil por descobertas e experimentos encontrou um novo horizonte em março, quando Ariane, agora estudante do curso técnico integrado em Edificações no Instituto Federal de Sergipe (IFS), Campus Lagarto, abraçou a oportunidade de se envolver no projeto “Ciência Cidadã na Prática: Oficina de Mapeamento de Mosquitos Vetores de Doenças”. A jornada da pesquisa começou com uma oficina dedicada à construção de armadilhas para a captura dos mosquitos, que, na etapa posterior, serão levados ao laboratório de biologia da instituição. Lá, sob orientação especializada, os alunos validarão a identificação dos insetos recolhidos.
Ariane Menezes Santos
O projeto é resultado de uma colaboração entre o Campus Lagarto e professores da Universidade de São Paulo (USP) que têm o objetivo de mapear e identificar mosquitos vetores de doenças perigosas, como zika, chikungunya e sobretudo a dengue, que neste momento impõe ao país uma epidemia sem precedentes. Segundo informações fornecidas pelo Ministério da Saúde e divulgadas pela Agência Unesp, o país registrou 512 mil ocorrências de dengue até o mês passado. Esse total engloba casos já confirmados e outros ainda sob investigação, e abrangem todas as unidades federativas desde o começo de janeiro. O relatório também aponta para 75 óbitos confirmados em decorrência da doença, enquanto outras 217 mortes permanecem em investigação. A cifra de 512 mil casos representa um aumento de quase quatro vezes em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior, que teve 128 mil registros.
A condução do projeto, no Campus Lagarto, está a cargo de Aline Alves Ferreira Lima, professora de biologia. Sua trajetória com o “Ciência Cidadã na Prática” começou com um simples toque de curiosidade, acionado por uma postagem no Instagram da Socialab, uma startup dedicada a unir esforços de universidades e escolas básicas na promoção da ciência aplicada. A docente destaca que o projeto se alinha com diversos conteúdos abordados no ensino médio, como sistemática e classificação biológica, anatomia e fisiologia animal, e programas de saúde pública. Após a conclusão da primeira experiência, ela aponta para a possibilidade de expandir a iniciativa, visando tanto a pesquisa quanto o combate aos mosquitos: “Existe a perspectiva de fazer multiplicar essa experiência em outros campi e outras escolas, e a possibilidade de aprofundar a pesquisa para uma vertente de análise genética dos mosquitos, fazendo uma parceria com laboratórios regionais, sob a coordenação do Socialab”, explica Aline Alves.
Aline Alves Ferreira
Desafios
A dinâmica do projeto exigiu dos alunos não apenas a participação ativa na confecção e monitoramento das armadilhas, mas também uma dedicação ao aprendizado contínuo e ao registro meticuloso dos dados coletados. Cada artefato de captura recebeu um rótulo e uma numeração de controle. Já os alunos levaram para casa uma planilha para realizar o acompanhamento do experimento, na qual constam os campos para o registro da presença de ovos, larvas e indivíduos adultos de diferentes espécies de mosquitos. Este processo prático serviu como introdução ao método científico, enfatizando a observação, hipótese, experimentação e conclusão como etapas fundamentais para a investigação. Haroldo Gabriel Carvalho dos Santos, outro aluno do curso técnico integrado em Edificações envolvido no estudo, compartilhou uma das dificuldades encontradas: a seleção de um local adequado em sua casa para posicionar a armadilha, que necessitava ser um ambiente nem muito iluminado nem completamente fechado. “Enfrentar e superar esses desafios nos empodera a educar a comunidade sobre medidas preventivas, como evitar água parada, essenciais para impedir a proliferação de mosquitos e a transmissão de doenças”, observa o estudante.
Ao participar de iniciativas como o “Ciência Cidadã na Prática”, estudantes como Ariane e Haroldo se tornam agentes do avanço científico e do fortalecimento da consciência comunitária sobre questões de saúde pública. Segundo Aline Alves, a experiência os ensinou o valor da pesquisa aplicada e da participação ativa: “Eles se tornaram protagonistas na construção de um conhecimento de extrema utilidade para a sociedade, principalmente neste momento em que o Brasil passa por uma epidemia de dengue sem precedentes, agravada pelas consequências das mudanças climáticas”, aponta a professora, reforçando que as conclusões do estudo servirão para nortear políticas públicas imediatas de combate aos mosquitos vetores de doenças. Desta forma, o projeto oferece aos alunos a perspectiva sobre como a ciência pode ser empregada de maneira prática para promover a saúde e o bem-estar, ressaltando o papel que jovens podem desempenhar na conscientização e prevenção de crises sanitárias e para a construção de uma sociedade melhor.