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HISTÓRICO DA EXPOSIÇÃO FEIRA DE ANIMAIS DE LAGARTO E DO PARQUE NICOLAU ALMEIDA
8 de novembro de 2023 - 22:28, por Claudefranklin Monteiro
A ideia de uma exposição agropecuária em Lagarto-SE está diretamente associada ao sucesso da criação da Vaquejada, no ano de 1963, por meio dos criadores Landulfo Almeida, João de Cândido, João Miúdo e Zé de Sérgio. Eram jovens que gostavam muito de corrida de cavalo e que costumavam realiza-las à esquerda da rua de Simão Dias. A primeira vaquejada foi realizada à direita da mesma rua. Eles tiveram a ideia de trazer o esporte para as terras de Nossa Senhora da Piedade, uma tradição que já existia há algum tempo no Nordeste Brasileiro.
Geograficamente, a mais próxima era a que se acontecia em Ribeira do Pombal. Em outubro de 1962, eles foram ao município baiano com o intuito de aprender como se fazia. Retornando à Lagarto, se reuniram e foram discutir as tratativas da organização, começando pelo local, inicialmente sugerido para ser num sítio de Zé de Sérgio. Embora a estrutura fosse simples (comparado à de hoje em dia), com currais de vara, buscaram todas as condições possíveis e atenderam as demandas a contento.
Não tardou para que a ideia daqueles jovens criadores de animais logo caísse nas graças da população lagartense. Nesse sentido, e, diante do sucesso da primeira edição, no ano seguinte, 1964, a Vaquejada passou a ter um lugar fixo no calendário de atividades da cidade, no mês de agosto, na última semana, antecedendo à primeira exposição agropecuária de Lagarto e ao Novenário e Festa de Nossa Senhora da Piedade, em 8 de setembro. A ideia foi de seu Landulfo, que assim como os outros viam na exposição uma grande oportunidade de promover suas atividades econômicas.
Lagarto, em 1964, era governado pelo agropecuarista Rosendo Ribeiro Filho (o Ribeirinho), assim, a Exposição Agropecuária nasceu num contexto de implantação de um regime civil-militar no Brasil. À época, os criadores de gado dominavam a cena econômica do município, a exemplo do fazendeiro Martinho Almeida. Foi na gestão de Ribeirinho que a Exposição passou a existir em caráter oficial.
Aqui cabe um adendo e esclarecimento importantes. A primeira edição da Exposição Feira de Animais aconteceu em 1962, na praça do Rosário. Mas, somente em 1964, como já disse, é que ela é oficialmente criada, inclusive em um outro local, num terreno que foi doado por Martinho Almeida, onde hoje seria o Posto de Gasolina Central, de Bento.
A partir de 1965, a vaquejada e a exposição de Lagarto passaram a ser pautas dos principais jornais sergipanos, a exemplo do Gazeta de Sergipe. Na edição do dia 7 de setembro, deu nota de que, em razão dos eventos, cerca de 400 veículos, vindos de diversas parte do Brasil, provocando grandes engarrafamentos. A cidade vivia um momento de inauguração de novos espaços públicos, a exemplo da Praça da Revolução, depois Praça Filomeno Hora, antigo Mercado Municipal, ainda na gestão de Ribeirinho.
Em 1966, o jornalista Orlando Dantas, na página 4 do Jornal Gazeta de Sergipe, dedicou uma matéria intitulada “Exemplo de Lagarto” elogiando a realização da IV edição da Exposição Feira de Animais da Região Centro-Sul, colocando o acontecimento entre os mais importantes do Estado. Doravante, em todos as suas edições, a imprensa sergipana deu atenção e notoriedade ao evento, juntamente com a Vaquejada. Detalhe importante, como acontecerá a praticamente todas as outras edições seguintes: com a presença do Governador abrindo as atividades oficialmente.
Em menos de uma década de existência, a Exposição Agropecuária de Lagarto cresceu de forma vertiginosa e o local original já não dava mais conta de comportar o volume de pessoas e de animais expostos. Mais uma vez, Martinho Almeida se destacou, e, liderando um grupo de mais de dez fazendeiros, adquiriu a área atual (Av. Brasília, s/n) e passaram a promover em um novo espaço.
No dia 30 de agosto de 1970 (domingo), o Governador João Andrade Garcez, ao lado do Prefeito Dionísio de Araújo Machado e demais autoridades, inaugurou o Parque Nicolai Almeida, em homenagem ao pai de Martinho. O assunto voltou a merecer, desta feita, uma longa matéria do Jornal Gazeta de Sergipe, inclusive com destaque para o discurso do governador ressaltando a importância de Lagarto no desenvolvimento do setor primário da economia sergipana (edição de 2 de setembro, capa). A partir de maio de 1971, deu-se início à construção de sua estrutura, do pórtico de entrada às baias e outros espaços, boa parte deles ainda preservando o seu original.
Em 1974, a XI Exposição de Lagarto contou com a presença do engenheiro agrônomo Edmilson Machado (representante do Ministro da Agricultura), que abriu o evento no dia 01 de setembro, junto ao senhor Dionísio de Araújo Machado e governador Paulo Barreto de Menezes. (ver foto a seguir)
Assim, ano após ano, o Parque Nicolau Almeida foi se tornando um espaço de grande mobilização e afluxo de pessoas de Lagarto, lugar onde não somente ricos proprietários de gado e de outros tipos de atividades econômicas se reuniam para fechar grandes negócios. Mas, também, para o lazer popular, atingindo seu auge nas décadas de 80 e 90, movimento todas as cadeias de geração de emprego e renda: dos parques diversões aos vendedores ambulantes; do comércio de roupas e alimentos à grandes marcas da indústria nacional. Afora, apresentações artísticas de renome nacional e também desfiles cívicos.
Com os anos 2000, a robusteza do evento foi se arrefecendo por razões de toda ordem, notadamente má vontade política ou por falta de uma organização maior para imprimir aquela mesma pegada de décadas anteriores. E assim, os anos que se seguiram foram de altos e baixos, mas o Parque Nicolau Almeida seguiu a ter utilidade e usufruto público, servindo a eventos religiosos ou mesmo da gestão municipal e mais recentemente ao Projeto Social da Equoterapia, sob a coordenação do vereador Josivaldo dos Brinquedos.
Em 2012, o Governo de Sergipe realizou a Exposergipe. O sucesso do evento trouxe novas esperanças para o uso efetivo do local, como sempre ocorrera em décadas anteriores. Naquele ano, o historiador Eduardo Bastos publicou em seu blog fundamentado texto sobre a ascensão e queda do Parque Nicolau Almeida. Na época, ele já alertava para a importância patrimonial e cultural do bem público:
“(…) o fato é que a Exposição Agropecuária de Lagarto é um patrimônio que precisa ser preservado e habilmente cuidado, independente da coloração partidária do prefeito e do governador de plantão. Deixar que esse evento se acabe é atentar contra a memória social e política do nosso município; é deixar que interesses econômicos privados enterrem boa parte da história de Lagarto”.
Em 2016, o local voltou a ser utilizado para os fins que foi criado. Por iniciativa do poder municipal, foi realizada a ExpoLagarto. As poucas edições do evento, apesar da grande repercussão, inclusive na impressa televisava do Estado, não foi adiante, com sua última edição ocorrida em 2019.
Durante anos, funcionou no Parque Nicolau Almeida, a EMDAGRO, empresa vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca de Sergipe.
Assim como em outros momentos e lugares públicos de Lagarto, o Parque Nicolau Almeida sofreu o desinteresse e desatenção, tanto do poder público municipal, seja do poder público estadual, sempre ao sabor dos movimentos dos principais grupos políticos que dominam a cidade desde os primeiros anos da década de 70, a saber: Saramandaia e Bole-bole, sob a liderança das famílias Reis e Ribeiros.
Em 2018, Letícia Ferreira Santos, então estudante do Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo (Campus de Laranjeiras da Universidade Federal de Sergipe), sob a orientação do professor Mário Pereira da Costa apresentou um estudo monográfico de grande valia, propondo que o Parque Nicolau Almeida fosse transformando “em um parque urbano com o propósito de oferecer à população de Lagarto uma área pública direcionada ao lazer, à prática de atividades físicas, à contemplação e que possa sediar os diversos eventos que ocorrem na cidade”. Vindo a ser dotado, segundo à autora, de infraestrutura necessária, capaz de potencializar a dinâmica da cidade de Lagarto.
Em 2019, a Prefeitura Municipal realizou no Parque Nicolau Almeida a primeira edição do projeto “Ser Criança”, com grande afluxo de pessoas. Iniciativa que não sofreu continuidade, sobretudo em razão do quadro pandêmico de COVID-19.
Em 2020, a Câmara de Vereadores de Lagarto Reconhece o Parque de Exposições Nicolau Almeida como Patrimônio Cultural, por meio da Lei Nº 920, de 19 de maio daquele ano.
Próximo de completar 60 anos de criação, oficial, da Exposição Agropecuária de Lagarto (2024) e passados 53 anos da inauguração do Parque Nicolau Almeida, o espaço corre o risco de passar para a iniciativa privada. Em nome do “desenvolvimento” do município, mais um bem cultural lagartense está na iminência de deixar de ser público e perder, em definitivo, sua memória e sua utilidade efetivamente pública, se este for o entendimento da maioria da Câmara de Vereadores, sobretudo depois que a Gestão Municipal atual apresentou, na última segunda-feira, uma proposta de permuta do local e mais três bens públicos.
Como todas as oportunidades que tive de me manifestar, penso que o Parque Nicolau Almeida, sobretudo por todas as razões anteriormente expostas, de ordem histórica, memorial e afetiva, deveria continuar a ser um bem público para uso público, a exemplo do que propôs Letícia Ferreira Santos e outras tantas ideias e destinações de uso que não passaram pela consulta popular, por meio de um seminário e mesmo de um fórum. Além disso e, por fim, a falta de respeito a um bem que é patrimonializado não somente por lei, mas de coração pelo povo lagartense, notadamente aquelas pessoas, que como eu, testemunharam e viveram os tempos áureos do Parque Nicolau Almeida.
Fontes e Referências
BASTOS, Eduardo. Exposição Agropecuária de Lagarto: do auge à perda do brilho. 1 de dezembro de 2012. Disponível em https://edubastos.blogspot.com/2012/12/exposicao-agropecuaria-de-lagarto-do.html. Acessado em 7 de novembro de 2023.
DANTAS, Orlando. Exemplo de Lagarto. Jornal Gazeta de Sergipe. Aracaju-SE, setembro de 1966. p. 4.
Entrevista de Landulfo Almeida para o professor Emerson Amorim. Agosto de 2023.
Jornal Gazeta de Sergipe. Aracaju-SE, 7 de setembro de 1965, capa.
Jornal Gazeta de Sergipe. Aracaju-SE, 30 de agosto de 1965, capa.
Jornal Gazeta de Sergipe. Aracaju-SE, de 2 de setembro de 1970, capa.
Jornal Gazeta de Sergipe. Aracaju-SE, de setembro de 1974, capa.
SANTOS, Letícia Ferreira. Proposta de reestruturação do parque Paulo Nicolau Almeida em um parque urbano em Lagarto-SE. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Campus de Laranjeiras, Universidade Federal de Sergipe, Laranjeiras, 2018.