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Jorge Bastos: “A princesinha de Sergipe, que fora no passado, ainda poderia ser, se soubéssemos explorar toda a riqueza que temos”
12 de junho de 2023 - 07:59, por Marcos Peris
Portal Lagarto Notícias
Dando continuidade a série de entrevistas voltadas para às comemorações dos 133 anos de Emancipação Política de Simão Dias, o Lagarto Notícias entrevista o professor, escritor e historiador simãodiense, Jorge Bastos.
PLN – Qual a trajetória de vida do professor Jorge Bastos?
JB – Eu nasci no Povoado Lagoa Grande, Município de Simão Dias, em 13 de agosto de 1973, sou filho de agricultores, do senhor Enoque Leopoldino Bastos (in memoriam) e D. Maria de Lourdes Souza Bastos. Tenho três irmãs Sueli, Roseli e Rosângela. O irmão Gilmar morreu prematuramente, em 2013, vítima de um câncer. Fiz o ensino primário na Escola Municipal “Carlos Alves”, hoje demolida, mas o Ensino Fundamental II e Médio, cursei no “Milton Dortas”, hoje Centro de Excelência. Aos 15 anos comecei a participar do movimento da Pastoral da Juventude, na minha comunidade, o que contribuiu significamente com minha desenvoltura nas relações sociais, passando a ministrar palestras de cunho religioso e social nas diversas comunidades de Simão Dias e nas comunidades vizinhas de Paripiranga/BA. Através da Pastoral também mim descobrir poeta, cantor, ator, áreas que não pratico mais, porque meu tempo está mais reservado ao trabalho de professor, do qual exerço desde 1 de setembro de 1997, e a de pesquisador, que eu considero que tenha surgido do acaso.
PLN – Como surgiu o interesse pela área da História?
JB – Antes de ser efetivado na Prefeitura Municipal, quando ainda era aluno do Ensino Médio, já havia dado aula de História na Escola Municipal “Otaviana Odíllia da Silveira”, do Brinquinho. Em 1999, quando dava aula no 3º ano da Escola Municipal “Fabrício Policarpo do Nascimento”, fui convocado para assumir algumas turmas no Brinquinho, onde umas das disciplinas também era de História. Na oportunidade de fazer o curso de Licenciatura pela UFS, através do PQD (Programa de Qualificação Docente), entre as disciplinas que ofereciam, uma delas era História. Daqui de Simão Dias, a professora Gisélia Silva, Rita Cruz, Mônica, Claudia Patrícia, e o Professor Marcelo Domingos, que já os conhecia e tínhamos uma forte amizade, escolheram esta área, e daí também resolvi fazer o mesmo. Não me arrependi. Era realmente a área que mais mim identifico.
PLN – Recentemente, o senhor lançou dois livros sobre Simão Dias, nos descreva um pouco sobre as obras.
JB – Eu considero que as obras são uma extensão do livro clássico de Carvalho Déda “Simão Dias: Fragmentos e sua história”. Devido a extensão, que era para ser transformado em 4 volumes, a editora Edise decidiu fazer em dois volumes, devido a pressa do ex-governador Belivaldo Chagas, que estava no fim do mandato, e queria entregar a tempo estes livros, que serviu como base para a elaboração dos conteúdos expostos no Centro de Memória Digital de Simão Dias “Enedina Chagas”, obra que muito nos orgulha. Assim, o livro “Simão Dias – Tempos e Narrativas” trata do histórico da cidade, a origem, primeiros povoadores, a biografia de Simão Dias Francês, aspectos políticos, sociais e culturais, enfatizando nestes três últimos temas, a fundação da Câmara, alterações dos partidos e chefes políticos locais, o histórico do poder judiciário, dos casarões e pontos comerciais, as mais antigas escolas primárias e secundárias, as filarmônicas e símbolos do município; O livro “Uma história de tradição e fé”, fala da História da Paróquia de Senhora Sant’Ana, sua fundação, patrimônio e sacerdotes que serviram aqui ou nasceram aqui. Falo das tradicionais festas e movimentos religiosos, além dos conflitos particulares, políticos e sociais de alguns sacerdotes, dentre os quais, a relação de Simão Dias com a Guerra de Canudos, e outros fatos religiosos.
PLN – Quais projetos, o professor Jorge Bastos tem em mente para os próximos meses?
JB – Tenho dois livros menores já prontos para serem lançados, um sobre os primeiros anos da Câmara Municipal de Simão Dias, com a biografia dos primeiros eleitos e o histórico da Casa Legislativa, partido e primeiras eleições, e o outros sobre as três piores pandemias ou epidemias que ocorreram no município, entre os séculos XIX e XX: A Cólera Morbos, a Varíola e a Gripe Espanhola. Na área de pesquisa estou trabalhando na elaboração do livro que conta a história de parte dos principais povoados de Simão Dias, especialmente a Lagoa Grande, que em 2026, faz 100 anos de história religiosa. Deste povoado onde nasci, já tenho muitas informações porque minha monografia foi baseada na história de lá, que sempre tive a curiosidade de conhecer minhas origens. Além destes, tenho projetos para trabalhar com os exímios historiadores Claudefranklin Monteiro, de Lagarto, e Josevanda Franco, de Aracaju, que passei a admirá-los incondicionalmente, e que gentilmente mim convidaram para formar parceria. Também tive um convite de Jorge Barreto Matos, autor do livro “Simão Dias, minha terra, minha gente”, para organizar um de seus livros sobre a educação de Simão Dias. Mas nada ainda iniciado, são projetos para mais adiante.
PLN – Qual fato marcante ou interessante o senhor poderia contar em sua carreira como historiador?
JB – O fato marcante foi justamente as amizades e parcerias que conquistei durante a publicação de meus livros. Com o convite que recebi do Instituto Banese, através do arquiteto Ezio Déda, nasceu o Centro de Memória Digital Enedina Chagas, onde ali fui o curador local, trabalhando com as colegas Edjan Alencar, Dênisson Déda, Amanda, Joaldo, orientados pela curadora e professora Josevanda Franco, com quem aprendi bastante. Hoje, quando passo pelo Centro, vejo com o orgulho tudo aquilo, espaço único nos município de Sergipe, exceto, Aracaju. E tudo isso graças ao governo de Belivaldo Chagas, que assumiu todas as despesas, em parceria com Instituto Banese, tendo do Prefeito Municipal, apenas a doação do prédio do antigo Mercado ou Clube do Povo para ser transformado em Centro Cultural Cayçara e que hoje administra.
PLN – Como analisa a cultura de Simão Dias?
JB – Ainda precisa de uma pessoa mais preparada e compromissada com a cultura para avançar. A cultura é o que define a tradição e o conhecimento de um povo, dar uma identidade ao lugar. É preciso um comprometimento maior com todos os seus seguimentos, independentemente de partido ou ideologias. Simão Dias é muito rico em cultura. Até o momento não consigo ver o agente cultural frequentar o complexo cultural e sentir-se como parte dele.
PLN – O que significa para o município, a abertura do Complexo Cultural, em especial o Centro Digital Enedina Chagas?
JB – Esta novidade tomou uma proporção gigantesca, tanto por parte dos simãodienses como para os visitantes que chegam de outras cidades ou Estado. Mas tem que tomar cuidado porque ali, muitos de nós simãodienses não conhecemos, não exploramos, então suas exposições, mesmo as que forem temporárias, deve ser mantida por mais tempo. E ainda falta muita coisa para acrescentar no Centro Digital, sobretudo, na midiateca, e está sendo providenciada por Amanda de Oliveira Santos, uma historiadora competentíssima e compromissada com tudo ali. Os que buscam respostas para fatos importantes ocorridos em Simão Dias, ou personalidades notórias da região, vão encontrar ali, por isso, a preocupação de estar sempre alimentando com novas informações.
PLN – Na sua visão qual projeto cultural deveria ser implantado no município?
JB – Eu acho que as furnas espalhadas pelos quatro cantos do município podem ser exploradas turisticamente. Simão Dias, até o momento, é o único município que tem abismo e na quantidade de caverna, por enquanto perde para Laranjeiras. Poderiam investir mais no turismo.
PLN – Simão Dias chegou aos 133 anos, qual avaliação faz Jorge Bastos dessa rica história?
JB – Simão Dias tem uma história rica e muito inexplorada. Grandes fatos conhecidos nacionalmente, nós fizemos parte e pouco se fala, a exemplo da Guerra de Canudos. Simão Dias é cheio de multitalentos, alguns ainda desconhecidos, mas que produzem. Autores de livros conhecidos até nas esferas internacionais, nós desconhecemos. Políticos renomados, agentes culturais, mestres da música e do artesanato, autores de obras essenciais para estudo de direito, etc. A princesinha de Sergipe, que fora no passado, ainda poderia ser, se soubéssemos explorar toda a riqueza que temos. Pode ter se perdido em alguns aspectos; políticos tiveram chances de fazer mais por aqui e deixou a oportunidade passar, mas estamos bem, comparando a outros municípios. Se a história se constrói com boas ações, agora é nossa vez de eliminar o que nos atrasa e investir nos que nos ajuda a avançar. É olhando os erros do passado que podemos conservar, fazendo a diferença.
PLN – Jorge Bastos deixa qual mensagem de esperança para os simãodienses?
JB – Não busquemos conhecer o mundo, sem antes conhecer nossas raízes. Muitas coisas aqui precisam ser descobertas. O belo que muitas vezes buscamos fora, pode ser encontrado mais perto de você, apenas passam despercebidos aos nossos olhos. Antes de qualquer coisa, nós precisamos descobrir nossa identidade, reconhecer nossos valores, compreender toda conjuntura política, socioeconômica e cultural, dos que fizeram a Simão Dias das antigas palmeiras imperiais, cidade inspiração do semiárido sergipano.