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A desigualdade de gênero ao longo da história na composição dos espaços políticos
13 de março de 2023 - 09:17, por Marcos Peris
A DESIGUALDADE DE GÊNERO AO LONGO DA HISTÓRIA NA COMPOSIÇÃO DOS ESPAÇOS POLÍTICOS
GENDER INEQUALITY THROUGHOUT HISTORY IN THE COMPOSITION OF POLITICAL SPACES
Maiara De Oliveira Gonzaga.
RESUMO
O Brasil é um dos países da América Latina e do mundo com uma das menores representatividades feminina na política, a realidade misógina que o país enfrenta, é perturbadora, levando em consideração que as mulheres representam o maior número de eleitores do país. O presente estudo científico busca mergulha nos entraves vividos pelas mulheres e de como a sociedade as enxergavam, desde a Grécia antiga até os dias atuais, com o intuito de comprovar que a baixa ocupação feminina em cargos públicos, está caracterizada por uma cultura machista, patriarcal e de exclusão que as mulheres sempre viveram desde as primeiras civilizações. Abordar a idade média é crucial para entendermos os tímidos avanços e os fortes retrocessos que os direitos das mulheres sofreram, se na baixa idade média, registramos um avanço, no surgimento do movimento Renascença detectamos um retrocesso, que é abordado nesse trabalho. Somente no século XX é que os movimentos sufragistas, começam a tomar força pelo mundo, no Brasil, a conquista do direito ao voto feminino só veio acorrer em 1932, no governo de Getúlio Vargas, depois de inúmeras reinvindicações e disputas políticas e sociais travadas pelas mulheres.
Palavras-chaves: Mulher, igualdade, machismo, sufrágio, política.
ABSTRACT
Brazil is one of the countries in Latin America and the world with one of the lowest female representation in politics, the misogynistic reality that the country faces is disturbing, taking into account that women represent the largest number of voters in the country. This scientific study seeks to delve into the obstacles experienced by women and how society saw them, from ancient Greece to the present day, in order to prove that the low female occupation in public office is characterized by a macho, patriarchal culture. and exclusion that women have always experienced since the first civilizations. Addressing the middle age is crucial for us to understand the timid advances and strong setbacks that women’s rights have suffered, if in the low average age, we register an advance, in the emergence of the Renaissance movement we detect a setback, which is addressed in this work. It was only in the 20th century that the suffragist movements began to gain strength around the world, in Brazil, the conquest of the right to vote for women only took place in 1932, under the government of Getúlio Vargas, after numerous claims and political and social disputes fought by the women.
Keywords: Women, equality, machismo, suffrage, politics.
Precisamos desmistificar alguns argumentos misóginos que tentam justificar a desigualdade de gênero na composição dos espaços políticos no Brasil, alguns desses argumentos torpes é que mulher não vota em mulher, que mulher não se interessa por política, entre outros. Essas afirmativas são inverdades produzidas por uma sociedade que ainda não aceita e não entende a importância de as mulheres participarem ativamente na vida pública de seu país.
Estudar a educação e a forma como a Grécia Antiga tratava suas mulheres, em especial as duas pólis mencionadas a baixo, é de fundamental importância para derrubarmos argumentos como o do parágrafo anterior, pois é de notório saber que Atenas, foi a cidade-estado berço da democracia, mas em contrapartida o tratamento dado as mulheres atenienses foram profundamente machistas e de uma subjugação indescritivelmente cruel. Os filósofos de suas famosas escolas a exemplo de Aristóteles, representam perfeitamente em seus pensamentos políticos e filosóficos a forma como as mulheres eram vistas naquela época.
Esparta, outra importante cidade-estado da Grécia, conhecida principalmente por sua educação militarista, também é narrada no presente trabalho, ambas as pólis mencionadas tem desígnio de clarear toda a trajetória de lutas travadas pelas mulheres ao longo dos séculos para se alcançar direitos similares aos dos homens, o que ainda é uma missão árdua e complexa.
Para chegarmos até a atual conjuntura, muitos marcos da história foram cruciais, a exemplo da idade média que é explorada nos parágrafos seguintes, com ênfase na Idade Média Baixa, onde surgiram as ideias feministas. Christine de Pisan (1364-1430), foi considerada a primeira escritora profissional francesa, que condicionou-se a escrever sobre poemas e tratados de política e de filosofia. A cultura dessa mulher passou a dos homens de sua época, ao escrever “Cidade das Damas” onde destacou na obra a igualdade natural entre os sexos. A mesma autora abordou a vida de, Joana D’Arc, heroína da guerra dos 100 anos (1412-1431), através de biografia. Constatado por Olivieri (2007) em seus estudos.
As duas grandes guerras que emergiram no século XX, são acontecimentos decisivos para modificar a imagem que as mulheres carregavam por décadas, de fragilidade, de incapacidade, de insignificância e de fonte tão somente de procriação. Após a primeira guerra mundial diversos movimentos sufragistas tomaram força pelo mundo, a exemplo da Alemanha que já no ano de 1918, conseguiram garantir o voto feminino, o mesmo aconteceu nos Estados Unidos, que também ao fim da primeira guerra mundial, em 1919 consegue a aprovação do direito ao voto da mulher. Essas conquistas só foram possíveis porque durante a guerra as mulheres tiveram que ocupar os trabalhos civis, anteriormente desenvolvido pelos homens, milhares de mulheres também foram pro front da guerra, ajudando de diversas formas, ao fim da guerra retroceder ao que era, já não era mais aceito pelas mulheres.
A segunda guerra mundial é mencionada, por proporcionar um protagonismo feminino jamais visto na história mundial, as mulheres foram a mão de obra das indústrias bélicas que alimentaram a guerra, estavam presentes nas indústrias alimentícias, em um número muito superior ao da primeira guerra mundial, já que os homens dos países beligerantes tiveram que servir como soldados. No entanto, o protagonismo das mulheres não se resumiu ao trabalho nas fabricas, elas foram literalmente para guerra, serviram como motoristas de tangues de guerra, de franco-atiradoras, de espiões, foram pilotas de aviões de bombardeios, estavam na inteligência, na logística, foram da equipe de saúde como enfermeiras e medicas.
A Segunda Guerra Mundial foi um divisor de águas para mostrar ao mundo todo potencial das mulheres e modificar a forma que o mundo as visualizava. Em 1932 o Brasil concedeu o direito ao voto das mulheres, depois de muitos conflitos travados pelas sufragistas e até a atualidade, mesmo a mulher sendo maioria do eleitorado feminino no Brasil são sub-representadas. O país tem uma das mais baixas taxas de representação feminina na política, na América Latina e no mundo.
2 O PAPEL DA MULHER NAS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES DEMOCRÁTICAS.
O certo é que até aqui as possibilidades da mulher foram sufocadas e perdidas para a humanidade; já é tempo, em seu interesse e no de todas, de deixá-la enfim correr todos os riscos, tentar a sorte. (BEAUVOIR, 1980, p.483)
Ao observarmos a história de forma técnica e metódica ao longo dos séculos, podemos diagnosticar a cruel submissão da mulher ao homem, seja ele seu marido ou seu pai nos casos das filhas ainda solteiras.
Para entendermos como se deu a projeção das mulheres na vida política representativa e o porquê de sua baixa representatividade em países como o Brasil, é preciso desmistificarmos muitos argumentos misóginos e de senso comum de que mulher não vota em mulher, que mulher não se interessa por política, pois não são verdadeiros, ao estudarmos a seguir a educação e o papel das mulheres em duas das principais pólis da antiga Grécia Atenas e Esparta, vamos visualizar que as mulheres desde as antigas civilizações foram subjugadas e excluídas de forma visceral da vida social, cultural, intelectual, filosófica, artística e política da sociedade.
Não podemos admitir questionamentos e explicações machistas, sem nenhuma base histórica que tentam todos os dias e a todo custo ceifar os direitos e os avanços que mulheres em todo o mundo tentam exercer e conquistar.
Atenas, uma das principais Pólis (cidade-estado) da Grécia Antiga, que surgiu ainda no período da Civilização Micênica, segundo milênio a.c, conhecida por ser o berço da democracia, desperta curiosidades do mundo inteiro até os dias atuais, pela enorme quantidade de escritores e filósofos que produziu no decorrer do período clássico. A metodologia educacional de Atenas, era o oposto da usada por outra importante Pólis Grega, Esparta, que analisaremos posteriormente.
Em Atenas, se pregava e praticava o equilíbrio, a formação integral do homem, para os atenienses era fundamental conciliar a saúde física, o desenvolvimento do raciocínio crítico, intelectual e cultural, muitas das vezes através de debates filosóficos. A educação dos homens era destacada nas áreas de artes plásticas, literatura, teatro, filosofia, música, etc. Aplicava-se essa metodologia, para que os atenienses dominassem o uso da palavra, para desenvolverem com perfeição suas metas, que eram: julgar, falar e agir, para que tais metas fossem atingidas era normal às leituras em público, comentarem obras de poetas e promoverem diversos debates.
No entanto, essa educação era restrita ao gênero masculino, a realidade das mulheres atenienses era totalmente contrária , as mulheres eram abafadas, o ensino aplicado a essas mulheres era medíocre, ensinavam a serem inteiramente submissas a seus maridos e eram tratadas como seres inferiores, não possuíam direitos, jurídicos ou políticos, sua função era se dedicar as tarefas domesticas, essa exclusão de direitos é posteriormente visível na política de ARISTÓTELES (384 – 322 a.c), ( aluno da academia de Platão em Atentas, na qual iniciou como discípulo e depois se tornou professor, até a morte de Platão em 347 a.c), para ARISTÓTELES as mulheres deveriam permanecer caladas por seres desprovidas do logos (raciocínio lógico).
Ao silenciar completamente as mulheres, retiravam delas não só sua voz, mas também sua própria cidadania, essa visão só teve leves mudanças na Grécia Antiga com o fim da guerra do Peloponeso (conflito entre Atenas e Esparta de 431 a 404 a.c, que durou 27 anos), mesmo com essa leve mudança ainda continuou sendo utópica a participação efetiva das mulheres na Pólis.
Entretanto, mesmo que de forma lenta, alguns espaços foram abertos para que as mulheres tivessem voz após a guerra do Peloponeso, nesses espaços as mulheres se reuniam, debatiam e se união para reivindicar mais espaços, para que elas conseguissem atuar mais socialmente.
Tais absurdos no tocante aos direitos básicos das mulheres não era uma exclusividade de Atenas. em Esparta, diferentemente de Atenas, sua metodologia educacional era extremante militarista, o seu objetivo era construir uma sociedade de soldados forjados para guerra, em Esparta, todos os homens espartanos eram obrigados a servirem o exército, com raríssimas exceções como é o caso dos homens livres não espartanos. Ao nascer os bebês espartanos eram examinados minuciosamente, para diagnosticar se não tinham nenhuma doença ou se não eram robusto o bastante, se não fossem saudáveis, eram mortos, aos sete anos de idade iniciava-se o treinamento, com o intuito de se criar aptidão física, força e coragem, para alcançar essa meta, os treinamentos realizados eram exaustivos, eram espancados e não podiam demonstrar nenhum tipo de fraqueza ou dor, aos 12 (doze) anos de idade, eram abandonados em situações perigosas e ambientes hostis para se tornarem mais resistentes e temíveis, entre os 20 e 60 anos quando sua formação educativa já tinha sido finalizada, começavam a viver dedicados a sangria da guerra.
As mulheres espartanas tinham algumas diferenças educacionais das atenienses, o que gerava uma certa” liberada” e poder de decisão sobre suas próprias vidas, nada que possa ser tido como algo louvável, mas comparado a realidade das mulheres atenienses, a vida das espartanas é sem sombra de dúvidas mais digna.
Analisando as cidades-estados da Grécia Antiga, podemos afirmar que as mulheres espartanas são diferenciadas, se comparadas as demais de outras pólis, e é justamente por causa disso que muitos estudiosos desenvolveram um maior interesse em estudá-las do que as demais, acarretando em mais informações e conteúdos sobre as espartanas e pouquíssimos sobre as mulheres de outras cidades-estados grega.
Todavia, deve ser ressaltado que a cidade se expande por séculos e séculos, fazendo com que nem sempre um aspecto que era explicado em determinada época foi da mesma forma durante todo tempo, de qualquer modo, em todas as pólis que se tem pesquisas, não havia programas de educação para ensinamentos produtivos no campo do conhecimento filosófico, da arte ou cultural para as mulheres, o que ocorria na maioria das vezes, com raríssimas exceções, era o isolamento social das mulheres, como em Atenas, onde eram mantidas dentro de suas casas, focadas em atividades domesticas e artesã, já em esparta era diferente, as mulheres deveriam se tornar boas mães, e para isso acontecer, elas deveriam ser bem educadas e disciplinadas, pois as espartanas seriam as responsáveis pela reprodução dos filhos de Esparta, homens que serviriam ao temido exército.
O trabalho doméstico e artesão de dentro de casa era restrito as escravas, muito embora fossem treinadas para supervisionar o trabalho das escravas as espartanas não eram encorajadas e nem obrigadas a fazê-lo, para que as mulheres produzissem os bebês saudáveis e fortes, o sistema de educação em Esparta era uniformizado, direcionada a leituras, oratórias e escritas e de acordo com a idade era custeada pelo estado espartano.
Aristóteles tentou racionalizar porque as mulheres espartanas tinham mais liberdade que suas compatriotas do resto da Grécia e chegou à conclusão que isso ocorria pela ausência prolongada de homens da pólis, derivada dos períodos da guerra ou expedições militares e por isso surgia a necessidade de algum grupo que dominassem os afazeres e tivessem mãos fortes sobre o império espartano terem tais responsabilidades. O próprio ARISTÓTELES (384 – 322 a.c), conta uma história sobre o legislador Licurgo de Esparta, que tentou diminuir as liberdades das mulheres espartanas com reformas restritivas, no entanto, elas não aceitaram e iniciaram uma mobilização contra tais restrições, e obtiveram exido, conseguindo que ele mudasse de ideia e voltasse atrás em todas as reformas propostas.
Segundo a maior historiadora contemporânea sobre as mulheres espartanas (SARAH B. POMEROY, 2002), as espartanas eram proibidas de usarem qualquer tipo de maquiagem, comiam bem e suas refeições eram acompanhadas por vinhos, as mulheres de esparta tinham mais possibilidades de explorarem o conhecimento, já que os homens estavam sempre focados e absorvidos pelos seus deveres com seu corpo físico e suas obrigações militares. Diversas regras tradicionalíssimas foram criadas para afastar as espartanas de vícios que levariam a fraqueza, como o uso de perfumes, maquiagens etc., embora o seu grau tenha sido variado ao longo da história.
As mulheres espartanas eram treinadas e encorajadas a falarem em público, exaltavam os corajosos e insultava os covardes, enquanto ARISTÓTELES (384 – 322 a.c) julgava natural as mulheres ficarem em silêncio, e que PLUTARCO (46 – 120 ac.) quase 500 anos depois, pregava que as mulheres deveriam falar apenas com seus maridos ou através deles, fica evidente que a educação das espartanas por mais contraditória que fosse a situação da pólis era revolucionária para época.
3 A MULHER NA IDADE MÉDIA E MODERNA, COM O SURGIMENTO DO MOVIMENTO RENASCENÇA.
A idade média teve início com o declínio do Imperador romano Rômulo Augusto em 476 d.c e durou até 1453, no decorrer de todos esses séculos, tiveram vários acontecimentos, retrocessos e modificações de suma importância para chegarmos aos dias atuais, em especial para compreendermos toda a problemática que ao longo dos séculos rodeiam e pairam sobre o exercício pleno dos direitos das mulheres. Sejam eles políticos, sociais e sexuais.
A idade média é analisada de duas formas pelos historiadores, do século V ao século X, que é denominada de alta idade média, e do século XI ao século XV, conhecida como baixa idade média. Para o presente estudo será dada ênfase a baixa idade média, durante a alta idade média é essencial destacar que a Europa entre os séculos V e X foi palco da fortificação da Igreja Católica, a formação do sistema feudal, economicamente, politicamente e socialmente.
Foi no período da baixa idade média que se teve o apogeu do feudalismo, mas também a sua falência, posteriormente o surgimento da intensificação da urbanização e da ascensão do comércio, nesse período a Europa vivenciou diversas tensões que geraram crises insanáveis, gerando o fim da Europa medieval, mas por muitos séculos seguintes o medievo se perpetuou.
Olivieri (2007) constatou em seus estudos que na baixa Idade Média surgiram as ideias feministas, Christine de Pisan (1364-1430) considerada a primeira escritora profissional francesa, que se condicionou a escrever sobre poemas e tratados de política e de filosofia. A cultura dessa mulher passou a dos homens de sua época. Ao escrever „Cidade das Damas” onde destacou na obra a igualdade natural entre os sexos. A mesma autora abordou a vida de, Joana D’Arc (1412-1431) através de biografia que foi a heroína da Guerra dos 100 anos.
Já na transição da idade média para moderna, onde surgiu o primeiro movimento artístico, cultural, científico, literário e filosófico, denominado de Renascimento, registra-se um dos períodos históricos mais danosos aos direitos das mulheres. Olivieri (2007) da ênfase a esse retrocesso social da mulher.
[…] teve restrito seu acesso aos estudos e ao exercício de diversos ofícios e profissões. O mercantilismo confirma o homem como protagonista da história e devolve as damas ao recesso do lar. Mas não se pode deixar de mencionar figuras femininas incríveis, como Lucrecia Bórgia (1480-1519), filha do Papa Alexandre 6º., uma legendária “mulher fatal” que aliou beleza e poder de sedução para tornar-se instrumento da política de seu pai e de seu irmão. É o também caso de Catarina de Médici (1519-1589), originária da poderosa família florentina. Ela se tornou rainha da França, ao se casar com o duque de Orléans (futuro rei Henrique 2º.), e exerceu a chefia de Estado, como regente, de 1560 a 1574, com arbitrariedade e despotismo. Ao mesmo tempo, edificou em Paris o palácio das Tulherias, ampliou o acervo da biblioteca parisiense, ordenou a ampliação do Louvre e contribuiu para o engrandecimento da cidade. (OLIVIERI, 2007, p.1).
Com essa narrativa os direitos das mulheres começaram a ser efetivamente reivindicados a partir do século XVIII.
4 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E SEU PAPEL DECISIVO PARA A CONQUISTA DO DIREITO AO VOTO DAS MULHERES.
Com o início da primeira guerra mundial, o mundo em especial a Europa viveu um cenário de fortes mudanças, durante a guerra novas armas foram usadas como as armas químicas, a exemplo do gás mostarda, o aumento na produção bélica, a corrida para se fabricar armas mais potentes, que veio ser aprimorada na segunda guerra, e no campo social, a primeira guerra mundial, marca o início de vários movimentos sufragistas pelo mundo, no curso do conflito mulheres ocupam espaços de trabalho imagináveis, para substituir a mão de obra masculina que se encontrava na guerra, auxilia e participa ativamente dos conflitos, nos postos que no decorrer da guerra foram sendo autorizados a presença feminina, e após seu termino mudanças visíveis tinham ocorrido e o retrocesso já não era mais aceito por essas mulheres que voltaram a se organizar para conquistarem seu direitos ceifados por seus países, por uma cultura patriarcal e machista.
O escritor Eric Hobsbawm, em 1994 escreveu o livro Era dos Extremos, o breve século XX, nessa fantástica e extensa obra de 598 páginas ele faz um relato da primeira guerra mundial, iniciada em 1914 até a queda da União Soviética em 199, a nomenclatura dada por Eric ao livro, é a definição certeira do que foi o século XX, extremos, guerras, sangue e milhões de pessoas mortas e feridas.
A primeira guerra mundial não só foi a primeira guerra do século XX, como também o primeiro conflito em estado de guerra total. Tendo como seu estopim o atentado a Sarajevo, em 28 de julho de 1914, resultando no assassinado do herdeiro austro-húngaro Francisco Ferdinando, juntamente com sua Esposa, sendo o responsável por tal atentado o jovem nacionalista sérvio, que pertencia ao grupo separatista Mão Negra, Gavrilo Princip.
Aproximadamente 10 milhões de pessoas morreram e 20 milhões ficaram feridos no decorrer da primeira guerra mundial, durante todo esse conflito as mulheres foram peças chaves e estiveram ativamente envolvidas no núcleo dessa problemática, em todos os países beligerantes, todo esse caos e a importância da participação das mulheres refletiram na emancipação feminina em velocidade distinta de acordo com sua nação.
Para as mulheres americanas a primeira guerra mundial foi decisiva para ajudá-las a conquistarem uma luta que a décadas era travada: assegurar o direito ao voto.
Lettie Gavin, escreveu na obra American women in World War I de 1997, que a guerra “marcou o início de uma nova era na história das mulheres”
“Muitos acreditavam que esses quatro anos de guerra liberaram mulheres dos velhos moldes e estereótipos”, discorre Lettie Gavin “e lançaram as bases para salários mais altos, melhores empregos, [e] melhores condições de trabalho”.
Pela primeira vez as mulheres americanas foram autorizadas a se alistarem nas forças armadas, muitas mulheres foram voluntárias no esforço de guerra, foram viver de perto os horrores da guerra, administrando cantinas, distraindo soldados, ajudando civis que sofriam com as consequências desumanas da guerra e servindo como enfermeiras, elas foram decisivas de forma indireta ao substituir os trabalhos deixados pelos homens, em especial nas fábricas, muito embora após o termino da guerra muitas mulheres foram demitidas, já que os homens estavam retornando e reavendo seus empregos, de qualquer modo depois de todo o ocorrido a mudança social foi inevitável.
Depois de diversas lutas do movimento sufragista, em prol do direito ao voto, o Congresso Americano aprovou em 1919 (a primeira guerra já tinha terminado) e os estados ratificaram em 1920 a Emenda Constitucional 19ª, que concedeu o direito ao voto as mulheres americanas. No entanto, nem todas as mulheres foram beneficiadas, o movimento sufragista foi caracterizado por mulheres brancas, então quando efetivamente conseguiu conquistar o direito ao voto, não aplicado as mulheres negras, o voto das mulheres negras veio ser conquistado e concretizado apenas em 1964, com a Lei de direitos civis.
Após o fim da primeira guerra mundial as mulheres alemãs também se organizaram e foram à luta em busca do direito de votar, até que em 12 de novembro de 1918, conquistaram o direito de votar e de serem eleitas. Mesmo antes da primeira guerra mundial as mulheres alemãs já buscavam reivindicar seu direito ao voto, mas com o início da grande guerra, foram esquecidas, assim como diversas outras pautas que ecoavam pela Europa, com o fim da guerra as alemãs voltaram mais fortes e inquietas, e assim conseguiram garantir o direito ao voto.
5 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E A MUDANÇA DO ARQUÉTIPO DA MULHER.
Em 1933 o então presidente alemão Hindenburg, nomeou para chanceler do Reich o homem que marcaria a história mundial e o século XX da forma mais sanguinária e cruel que a contemporaneidade já viu, Adolf Hitler.
A segunda guerra mundial iniciou-se em 1939 e teve seu fim em 1945, durante os quase seis anos de guerra, morreram aproximadamente 60 milhões de pessoas, mas diante de todo esse massacre macabro, reflexões importantes foram tiradas, direitos foram garantidos, a ONU foi criada, para assegurar mais dignidade e humanidade ao mundo, surge o debate para criação do estado de Israel, a conscientização da importância da liberdade e da democracia, e as mulheres tiveram um papel decisivo para que os aliados saíssem vitoriosos.
Durante e após a segunda grande guerra, as mulheres conquistaram papeis de destaque, postos anteriormente reservados aos homens, a imagem da mulher foi moldada, não eram amis donas de casa sensíveis e indefessas, eram soldados armados enfrentando a sem medo a blizkrieg de Hitler, a exemplo da snipers soviética Lyudmila Pavlichenko, eram peças chaves no jogo de espionagem ocorrido durante e após a segunda guerra, elas ocuparam as industrias bélicas, foram como nunca antes visto para as empresas e industrias trabalharem dias e noites para manterem a economia de seus países funcionando, conquistaram um protagonismo muito maior do que o da primeira guerra mundial, a segunda guerra mostrou ao mundo que as mulheres eram capazes de tudo, e pôs fim a ideia de que o homem era o único preparado para enfrentar situações hostis, as mulheres saíram da segunda guerra mundial tão heroínas quantos os homens.
A maior batalha da segunda guerra mundial ocorreu em Stalingrado, cidade soviética que carregava o nome do ditador soviético Josef Stalin, o cerco a Stalingrado até hoje é reproduzido em filmes, livros, documentários e exposições cinematográficas pelo mundo inteiro.
Stalin ordenou que fosse vedada a evacuação de civis de Stalingrado, obrigando desse modo que todos lutassem, agora não mais por seu país, mas por suas próprias vidas, a cidade era bombardeada dia e noite pela Luftwaffe alemã, mas os soviéticos não se renderam, e as mulheres tiveram um papel decisivo nessa conquista.
As mulheres soviéticas trabalhavam nas fabricas, nos campos, dirigiam tratores, manuseavam rifles e ainda cuidavam de seus filhos, com as fortes baixas cada vez mais frequentes no exército vermelho, as mulheres eram convocadas cada com uma intensidade enorme para ocupara os espaços deixados nas linhas de frente do exército, assim como na força área, pilotando tangues e até as enfermeiras tinham lutavam, já que entravam nos campos de guerra para retirarem soldados feridos.
Muitas mulheres soviéticas eram direcionadas para serem fraco atiradoras, pois tinham mais paciência e precisão na hora de atirar , Roza Shanina e Lyudmila Pavlicheko são snipers soviéticas que tiveram notoriedade pelos feitos desenvolvidos na guerra, assim como elas podemos destacar as “ bruxas da noite” , que eram mulheres soviéticas pilotas do 588° regimento feminino de bombardeio noturnos, e sua função era bombardear as posições avançadas alemã no interior da união soviética, o regimento era composto somente por mulheres, e foi criado pela coronel Mariana Raskova e liderado pela major Yevdokia Bershanskaya.
Os aviões usados por essas mulheres eram obsoletos, eram lentos e feitos de madeira e tecido, eram relativamente frágeis e com pouca capacidade de carga, e por isso obrigava as aviadoras realizarem suas missões pela noite. Mesmo em aviões de péssima qualidade essas mulheres fizeram o improvável e surpreenderam a todos, entre 1942 e 1945, elas já tinham realizado mais de 23 mil missões de ataques, lançando mais de 20 mil toneladas de bomba sobre os soldados alemães na frente oriental.
Apesar dos esforços das mulheres, após a guerra seu importante papel foi desprezado pelos governos, principalmente pela União Soviética, mulheres de todos os países que se envolveram ativamente na guerra voltaram para seus lares.
Todavia, muitos países concederam a mulher na década de 30, o direito ao voto e a ser votada, a exemplo do Brasil, que as mulheres só tiveram esse direito confirmado em 1934.
A segunda guerra mundial é um dos episódios históricos mais estudados por historiados de todo o globo, é um marco nos avanços tecnológicos, é a mãe de um dos episódios mais horripilantes já vividos em conflitos o ataque a Hiroshima e Nagasaki, promovido pelos Estados Unidos, inicia ai o poder de destruição em massa das bombas atômicas, revela o importante papel da espionagem e realça a importância da diplomacia para o bom andamento das relações internacionais. Mas também marca de forma positiva a conquista das mulheres por mais espaço de fala e atuação, mesmo que de forma lenta, como é até na atualidade, modifica e desmistifica a figura da mulher.
Os corpos antes vistos como ferramenta de reprodução, desequilíbrio emocional pelos hormônios e sensibilidade, durante e após a segunda guerra mundial se tornaram referências de coragem, perseverança, força física, inteligência e de crucial importância para os novos rumos que a sociedade seguiu após o maior conflito armado do século XX.
6 A CONQUISTA DO VOTO FEMININO NO BRASIL
O movimento das mulheres sufragistas brasileiras, se iniciou no século XIX e se arrastou pelo século XX, durante esse lapso de tempo as sufragistas travaram uma batalha dolorosa para que a legislação eleitoral brasileira contemplasse o voto feminino.
A primeira constituição do Brasil, a Magna Carta de 1824, não admitia que as mulheres exercessem o voto. A previsão legal da Constituição Política do Império do Brasil era que apenas cidadãos ativos poderiam votar, o que na prática acabava excluindo o voto feminino. Conforme o ordenamento jurídico da época em vigor, a mulher era incluída no grupo dos cidadãos passivos/inativos, na companhia das crianças e dos loucos.
Em 1832 a educadora Nísia Floresta, enfrentando as normas vigentes publica a obra “Direitos das mulheres e injustiça dos homens”, uma tradução livre da obra de
Mary Wollstonecraft, “A vindication of the rights of woman”, publicada em 1792. A publicação de Nísia, elencava diversas observações feitas por ela, a respeito das mulheres brasileiras. O núcleo das obras de Nísia Floresta foi o direito da mulher à educação, sendo considerada, por isso, a primeira feminista brasileira.
Em 1881, Ruy Barbosa foi redator da Lei Saraiva (lei n° 3029/1881), sancionada em 09 de janeiro. A lei determinava que os eleitores fossem diplomados com renda específica, e não tinha inicialmente distinções entre homens e mulheres. Entretanto, só poderiam ser conhecidos como eleitores os cidadãos alistados, excluindo novamente as mulheres brasileiras. É importante destacar que a Lei Saraiva era considerada o melhor sistema eleitoral do período imperial.
Quando a República foi proclamada o governo interino publicou uma Constituição e uma legislação eleitoral provisória, e convocou uma nova constituinte para analisá-la, a legislação do governo interino manteve a exclusão anterior ao voto das mulheres.
Em 1910, professora e sufragista brasileira Leolinda de Figueiredo Daltro (1860 – 1935), funda o Partido Republicano Feminino (PRF), puramente composto por mulheres. Em 1917 o partido liderou um protesto para clamar pela extensão do voto às mulheres. Em 1919, Leolinda candidata-se, mas não obtém sucesso, à Intendente Municipal do Rio de Janeiro e, em 1933, igualmente sem êxito, a deputada federal.
Em 1917 o deputado Maurício de Lacerda apresenta a Emenda nº 47, propondo alterações da legislação eleitoral e incluindo o direito de voto das mulheres. A emenda é rejeitada pela Comissão de Justiça, demonstrando a oposição das instituições políticas à ideia. Na imprensa, artigos e charges criticam e ridicularizam a possibilidade do voto feminino.
Em 1919 o projeto do senador Justo Chermont tem o mesmo desfecho do deputado Lacerda, o projeto do senador era na linha do alistamento feminino, mas não teve sucesso.
Em 1920, o Rio de Janeiro foi palco do surgimento da Liga pela Emancipação Intelectual da Mulher – LEIM, fundada por iniciativa de Bertha Lutz (1894-1976), com o objetivo de atuar em prol dos direitos civis e políticos das mulheres. Bertha Lutz é considerada uma das maiores ativistas brasileiras do século XX pelos direitos políticos das mulheres.
Em 1922, Diva Nolf Nazario, a época estudante de direito e sufragista, vai até o poder judiciário eleitoral do estado de São Paulo e pleiteia seu alistamento eleitoral, sendo posteriormente indeferido pelo juiz Affonso José de Carvalho. A negativa do pedido manifestada pelo juiz Affonso José sintetiza o pensamento jurídico brasileiro acerca do voto feminino, desde a Constituição de 1824.
O Rio Grande do Norte foi o estado brasileiro pioneiro na concretização do direito das mulheres ao voto, aprovando em 1928 o voto regional feminino, sendo eleita a primeira prefeita da história do Brasil: Luíza Alzira Soriano de Souza, no município de Lajes (RN). Alzira Soriano não só foi a primeira mulher eleita no Brasil, foi também a primeira mulher a ocupar um Cargo do Poder Executivo na América Latina.
E em 24 de fevereiro de 1932, com a promulgação do novo código eleitoral, pelo presidente Getúlio Vargas, estabelece o sufrágio universal direto e secreto e garante o direito de voto às mulheres brasileiras. É importante salientar que o voto feminino no Brasil foi de fato consolidado com a promulgação da Constituição de 1934. A partir do Código Eleitoral de 1932, muitas mulheres se candidatam à Constituinte de 1933-34, como Bertha Lutz e Leolinda de Figueiredo Daltro, mas apenas Carlota Pereira de Queirós (1892-1982) conseguiu se eleger por São Paulo. Médica, escritora e pedagoga, Carlota torna-se a primeira deputada federal brasileira eleita, atuando como deputada até 1937, em 1945 por meio de documento internacional, através da Carta das Nações Unidas é reconhecido a igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Em 1979 Eunice Michilles, do PSD/AM, torna-se a primeira mulher a ocupar o cargo de senadora no Brasil, por falecimento do titular da vaga, Eunice já tinha sido deputada estadual pelo Estado do Amazonas.
Em 1988 Através de lobby de feministas e das 26 deputadas federais constituintes, as mulheres obtêm importantes avanços na Constituição Federal, garantindo igualdade a direitos e obrigações entre homens e mulheres.
Em 2018, embora representando 52% do eleitorado brasileiro, as mulheres ainda são minoria como representantes políticas: nas eleições de 2018, de 31,6% de candidaturas femininas, as mulheres foram eleitas para apenas 16,2% dos cargos. No caso de governos estaduais, das 27 unidades federativas, somente em uma delas foi eleita uma governadora, a ex-senadora Fátima Bezerra (PT), eleita no segundo turno pelo estado do Rio Grande do Norte.
7 AS POLÍTICAS AFIRMATIVAS E DE INCENTIVOS A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA POLÍTICA.
Mesmo se passando 88 anos da conquista do voto feminino no Brasil ainda são inúmeros os obstáculos enfrentados pelas mulheres para conseguirem ter uma participação política representativa efetiva. Fomos e somos educados com base em uma cultura machista e patriarcal, a todo tempo a mulher é subestimada, seja no setor privado ou público, mas na política isso é ainda mais grave.
Os resquícios dessa cultura misógina estão impregnados nos três poderes pilares da democracia brasileira: Poder Executivo, Poder Legislativo e o Poder Judiciário. No entanto, mesmo de forma lenta a cada dia que se passa as mulheres vão ocupando mais espaços de fala e atuação nas cadeiras das Casas Legislativas e Executivas do país.
Em 04 de outubro de 2017 foi promulgada a Emenda Constitucional de n° 97/2017, com o intuito de altera a Constituição Federal para vedar as coligações partidárias nas eleições proporcionais, estabelecer normas sobre acesso dos partidos políticos aos recursos do fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuito no rádio e na televisão e dispor sobre regras de transição.
Com a vedação das coligações trazida pela Emenda Constitucional, as eleições municipais ocorridas em 15 de novembro de 2020, já foram realizadas com a nova rega, é fundamental salientar que essa vedação se aplica as candidaturas proporcionais para Câmara dos Deputados, câmara legislativa, assembleias legislativas e câmaras municipais.
Um dos principais impactos positivos para as mulheres com a proibição de coligações, se dá no ato do pedido de registro de candidaturas feito através do sistema CANDex da justiça eleitoral, pois cada legenda terá que indicar as filiadas (mulheres) que concorrerão no pleito, devem ser indicados pelas coligações o mínimo de 30 % de mulheres como prevê o artigo 10, parágrafo 3° da lei n° 9.504/1997.
LEI Nº 9.504, DE 30 DE SETEMBRO DE 1997.
Art. 10. Cada partido ou coligação poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados, a Câmara Legislativa, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais no total de até 150% (cento e cinquenta por cento) do número de lugares a preencher, salvo:
§ 3o Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo.
De acordo com o secretário judiciário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fernando Alencastro, “a mudança vai impactar principalmente o fomento à participação feminina política, muito incentivado pela legislação. Agora o partido não vai poder ter como escudo outros partidos para que, enquanto coligação, eles atingissem os 30%”.
O plenário do TSE em unanimidade em 2017, decidiu que os partidos políticos deveriam reservar pelo menos 30% dos recursos do fundo especial de financiamento de campanha, popularmente conhecido como fundo eleitoral, para custear as campanhas femininas no período eleitoral, essa decisão do TSE foi colocada em prática já nas eleições de 2018. Os ministros também entenderam no mesmo ensejo que o mesmo percentual deveria ser aplicado em relação ao tempo destinado à propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.
A decisão do colegiado foi proferida no estudo de uma consulta apresentada por oito senadoras e seis deputadas federais foram elas: as senadoras Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Ângela Portela (PDT-RR), Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Kátia Abreu (sem partido -TO), Regina Sousa (PT-PI), Lídice da Mata (PSB-BA) e Rose de Freitas (PMDB-ES); e também pelas deputadas federais Gorete Pereira (PR-CE), Jô Moraes (PCdoB-MG), Luana Costa (PSB-MA), Luciana Santos (PCdoB-PE), Raquel Muniz (PSD-MG) e Soraya Santos (PMDB-RJ). O entendimento dos ministros foi firmado em consonância com o que foi estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 5.617/2018. Na oportunidade, a Corte Constitucional determinou a destinação de pelo menos 30% dos recursos do Fundo Partidário às campanhas de candidatas.
A ex-ministra do Tribunal Superior Eleitoral Luciana Lóssio foi a advogada que pediu a consulta, ela enfatizou a importância da audiência pois “as dificuldades que as mulheres brasileiras encontram no cenário político eleitoral, e que levam o Brasil a possuir a pior representação feminina na América Latina, apesar de ser o principal país da região, puderam ser colocadas para a ministra”.
8 A DISPARIDADE ENTRE HOMENS E MULHERES NA POLITICA BRASILEIRA
No capítulo anterior foi constatado que mesmo depois de anos de lutas em prol dos direitos políticos das mulheres, as mudanças na legislação e o fomento as candidaturas femininas pelas instituições brasileiras a exemplo do TSE e do STF, são recentes. Embora de forma tardia e tímida as instituições acima citadas, se manifestaram usando de vossas competências e ferramentas, a aplicação e interpretação da lei para fomentar e viabilizar mais candidaturas femininas no país. No entanto, não podemos deixar a cargo somente da Lei a responsabilidade de oportunizar a concretização do preenchimento mais igualitário de mulheres nos espaços políticos brasileiros.
Dados recentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) comprovam a importância do eleitorado feminino para a política brasileira. Dados de setembro de 2020 mostram que as mulheres são hoje 52,6% dos eleitores, enquanto os homens são 47,4%.
Quando se trata do nível de instrução, as mulheres são a maioria entre os eleitores de nível superior completo: 60,9%, contra 39,1%. Entre os que possuem nível superior incompleto, as mulheres representam 55% do total, enquanto os homens representam 45%.
As mulheres também são maioria entre os eleitores com ensino médio completo: 55,4% a 44,6%.
Os homens passam a ser a maioria entre os eleitores com nível médio incompleto (50,8% a 49,2%), ensino fundamental completo (50,4% a 49,6%) e ensino fundamental incompleto (50,7% a 49,3%).
Muito embora as mulheres sejam a maioria dos leitores no Brasil, é caótica, e vergonhoso o baixo percentual de representação feminina em cargos políticos, nas eleições de 2018, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de mulheres eleitas para o Senado se manteve em relação ao ano de 2010 sendo eleitas 07 senadoras, correspondente a 7%. Apesar disso, nenhuma mulher foi eleita para o Senado em 20 estados – em três deles, Acre Bahia e Tocantins, não houve candidatas. (VELASCO, 2018). Mas, na Câmara e nas Assembleias a presença feminina aumentou. Na Câmara, houve um aumento de 51% no número de mulheres eleitas em relação a 2014. Foram eleitas 77 deputadas neste ano de 2018, correspondente a 15% de mulheres na sua composição. Apesar do aumento no número de deputadas federais, três estados não elegeram nenhuma mulher para o cargo: Amazonas, Maranhão e Sergipe. Considerando os deputados estaduais, foram eleitas 161 deputadas, um aumento de 35% em relação a 2014. Alguns casos chamam atenção, como o do Mato Grosso do Sul, dos 24 deputados estaduais eleitos, não há nenhuma mulher. (VELASCO, 2018).
Esses números são muito inferiores, inclusive, à cota mínima de 30% de candidaturas femininas por partido, que existe desde 1997 (Lei 9.504, de 1997).
O cenário foi o mesmo nas eleições de 2016 para prefeitos e vereadores. Dos 5.570 municípios brasileiros, foram eleitas apenas 636 prefeitas (11,42% do total) e 7.816 vereadoras (cerca de 13,5% do total).
As mulheres negras sofrem ainda mais com essa sub-representação, só pra termos ideia na história do Senado Federal houve apenas 03 senadoras negras: Laélia Alcântara, Benedita da Silva e Marina Silva.
Muito embora já tenha sido citado, é preciso enfatizar que no tocante ao poder executivo, nas eleições de 2018, só foi eleita uma mulher, a ex-senadora Fátima Bezerra, que foi eleita para chefiar o Governo do Estado do Rio Grande do Norte.
Nas eleições municipais de 2020, foi registrado um aumento nas candidaturas de vice-prefeitas, como podemos observar na tabela abaixo:
Gráfico 1: Percentual de candidatas nas eleições 2016 e 2020
Fonte: Elaboração das autoras, a partir de dados de Estatísticas Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) https://noticias.uol.com.br/colunas/observatorio-das-eleicoes.
Entretanto, quando analisamos o ranking latino-americano e caribenhos sobre mulheres nos parlamentos nacionais, o Brasil ocupa a vexatória 32ª posição, entre 33 países, essa posição se deve aos 9,9% de parlamentares eleita, com 33 países num ranking de 33 países latino-americanos e caribenhos sobre mulheres nos parlamentos nacionais, o Brasil ocupa a 32ª posição devido aos 9,9% de parlamentares eleitas. Como nos mostra o gráfico em anexo.
Gráfico 2: Porcentagem de mulheres no órgão legislativo nacional
Fonte:https://oig.cepal.org/pt/indicadores/poder-legislativo-porcentagem-mulheres-no-orgaolegislativo-nacional-camara-baixa-ou
A presença de mulheres nos órgãos legislativos aumentou de maneira gradual nos últimos anos na América Latina e no Caribe. Se bem é certo que estes cargos seguem sendo ocupados em sua maioria por homens, a região continua ocupando a vanguarda mundial, alcançando em maio de 2018 uma média de 29,8% (UIP, 2018), ainda que no Caribe a média alcance apenas 19,5%.
Para o ano de 2019, 6 países superam os 40% de parlamentárias: Cuba, o Estado Plurinacional da Bolívia. Granada, Nicarágua e Costa Rica. No caso de Granada e Costa Rica, é importante destacar o aumento significativo de mais de 10 pontos porcentuais que se observa com relação ao ano anterior, o que posiciona a ambos os países entre os valores mais altos da região.
Atualmente, 14 países não alcançam 20% de representação de mulheres no parlamento. Haiti apresenta a cifra mais baixa da região, com apenas 2,5% de mulheres entre seus parlamentários, e o Brasil lamentavelmente é um desses 14 países, com uma cifra de 15%.
O Brasil também ocupa as últimas posições no ranking mundial de 172 países. Está posicionado em 154º lugar, considerando 10,7% de mulheres na Câmara e 14,8% no Senado.
Para representante da ONU mulheres Brasil, Nadine Gasman “o empoderamento político das mulheres é uma das seis prioridades do mandato da ONU Mulheres, no mundo, e está presente em uma série de instrumentos internacionais. Em 1990, o Conselho Econômico e Social da ONU recomendou, para 1995, a meta de 30% de participação das mulheres em cargos de liderança, e de 50% até o ano 2000”,
Para Nadine, “países como o Brasil não conseguem explicar por que se mantêm distantes desse parâmetro, que tira as mulheres das decisões políticas. Nos últimos anos, muitos países latino-americanos investiram na adoção de mecanismos que enfrentassem objetivamente a concentração de poder para os homens. No Brasil, é urgente reconhecer que as mulheres são fundamentais para a democracia e que elas estão cada vez mais distantes de fazer parte do grupo decisório sobre a política nacional, das possibilidades de exercer a cidadania e da igualdade de maneira plena e concreta”, considera Gasman.
De acordo com os dados do Observatório de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o Brasil está na contracorrente dos esforços a região. Um dos aspectos seria a falta de medidas efetivas para corrigir as desigualdades de gênero na política.
Outro levantamento extremamente importante feito em fevereiro de 2020 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostrou que as mulheres também são pouco representadas na cúpula do Poder Judiciário. O levantamento aponta apenas duas ministras no Supremo Tribunal Federal (18,18% do total), seis no Superior Tribunal de Justiça (18,18%), uma no Tribunal Superior Eleitoral (14,29%), cinco no Tribunal Superior do Trabalho (18,52%) e uma no Superior Tribunal Militar (6,67%). Ou seja, um total de 15 mulheres entre 93 ministros de tribunais superiores (16,13% do total).
O objetivo desse trabalho é mostrar a alarmante desigualdade de representação política das mulheres no Brasil, é inadmissível que um país onde as mulheres representam 52,6% do eleitorado não se tenha nem 15% de mulheres ocupando cargos eletivos, são apenas 12,32% em 70 mil cargos eletivos, segundo o Mapa da Política de 2019, elaborado pela procuradoria da Mulher no Senado.
As mulheres no Brasil possuem mais gral de escolaridade do que os homens, mas mesmo assim o seu trabalho é menos valorizado se comparado aos seus colegas homens, o machismo enraizado é um câncer que assola homens e mulheres no mundo inteiro, e em países como o Brasil esses pensamentos misóginos são reproduzidos sem nenhum pudor tanto no setor privado como no público, muito embora a Constituição Federal Brasileira de 1988 assegure igualdade entre homens e mulheres.
Nos últimos anos o Brasil vem passando por um período muito obscuro em seu cenário político, nas eleições presidências de 2018 pudemos ver o show de hores e absurdos promovido em especial pelo atual presidente Jair Messias Bolsonaro, suas falas misóginas e carregadas muitas vezes por uma forte homofobia, foram encaradas como algo normal, revelando a face mais sóbria dos brasileiros.
Ao chegar ao poder, Bolsonaro tratou de montar o seu corpo ministerial e apenas duas mulheres fazem parte dessa composição, a Ministra Damares Alves que comanda a pasta da Mulher, da Família, e dos Direitos Humanos e a Ministra Tereza Cristina que chefia o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A eleição de Bolsonaro representa um dos maiores retrocessos políticos e democráticos do Brasil, em especial para as mulheres.
Ainda se tem muito o que fazer e conquistar no Brasil no que desrespeito aos direitos das mulheres, a luta está apenas começando, garanti os espaços de falas e de poder da mulher não é uma tarefa fácil, pois como já foi explanado as mulheres são subestimadas e tratadas como seres inferiores aos homens desde a Grécia Antiga, a submissão que sempre foi imposta as mulheres reflete até hoje na vida de milhões de mulheres pelo mundo.
A desigualdade não está só na política está também no Poder Judiciário e em várias outras áreas como a segurança pública, é preciso que as mulheres se conscientizem cada vez mais, pois o machismo estrutural também é reproduzido de forma visceral pelo sexo feminino. No entanto, mesmo diante de vários entraves as mulheres avançam de forma lenta e gradual na corrida pela ocupação de espaços políticos.
A chegada da primeira mulher ao cargo mais alto do poder executivo, a presidência da república, evidenciou da forma mais cruel possível, todo o machismo impregnado em nosso país, Dilma Roussef foi alvo de inúmeras matérias jornalísticas com cunho misógino diversas vezes, sendo representada como louca, histérica e incapaz. Na sua posse como presidente teve até comentaristas para falar da escolha de sua roupa, fato antes nunca ocorrido. Ninguém vê comentaristas questionando a escolha do terno do atual presidente nem dos outros homens que já passaram pelo comando da presidência da república.
A escritora e feminista francesa Simone de Beauvoir ainda se faz fortemente contemporânea em sua celebre frase “O mais escandaloso dos escândalos é que nos habituamos a eles” as mulheres não podem jamais se acomodarem ou se conformarem com toda opressão vivida, há de chegar o dia que iremos olhar para trás e vê o quanto valeu a pena tantas lutas intermináveis e exaustivas, chegaremos a um tempo em que existirá igualdade de representação tanto na política como na justiça, lutamos e sonhamos com o dia em que as cadeiras da Suprema Corte Brasileira (STF) tenham mais de duas mulheres, viveremos em um país em que as mulheres sejam igualmente respeitadas e valorizadas como os homens. Para isso é necessário que agora as lutas sejam travadas de forma destemida e não nos curvemos diante da opressão e da desigualdade de gênero que é real e gritante no Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/26/cultura/1516972221_680345.html?outputT ype=amp
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2020/03/08/internas_opinia o,832829/amp.shtml
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NOREMBERG, Alessandra, ANTONELLO, Isabelle Pinto, A Trajetória Feminina Na
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Procuradoria Especial Da Mulher, Senado Federal, Câmara Dos Deputados, Bancada
Feminina Da Câmara Dos Deputados + Mulher na Política Mulher, Tome Partido!
SENADO FEDERAL, A Conquista Do Voto Feminino No Brasil, 2019.
Spartan Women – Sarah B. Pomeroy
The Ancient World Transformed – Pamela Bradley
The Enigma of the Spartan Woman. Jalena M. Post
Women, Gender, and World Politics: Perspectives, Policies, and Prospects. editado por Peter R. Beckman, Francine D’Amico