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Lagarto realiza festa de R$ 4 milhões enquanto população padece sem serviços básicos
26 de maio de 2022 - 15:06, por Marcos Peris
Em mais um levantamento exclusivo realizado pela equipe de Reportagem investigativa do Portal Fan F1, o município de Lagarto, com o seu Festival da Mandioca, foi a bola da vez com quase R$ 4 milhões gastos com a contratação de artistas e estrutura para a realização do evento.
Para se ter ideia, até o fechamento desta matéria e de acordo com os contratos publicados no Portal da Transparência pela Prefeitura Municipal de Lagarto, apenas com 14 atrações a gestão já apontava para um gasto de quase R$ 3 milhões (R$ 2.730.000,00). Apenas o cantor Wesley Safadão abocanhará R$ 550 mil do valor.
Lembrando que, de acordo com a programação divulgada, não constam ainda na Transparência os valores de três grandes atrações nacionais: César Menotti e Fabiano; Zé Vaqueiro e Zezé di Camargo e Luciano, o que devem elevar ainda mais os custos do festival, além dos contratos com toda a estrutura, a exemplo de montagem, som e iluminação, segurança, banheiros químicos, etc.
Enquanto a prefeita de Lagarto, Hilda Ribeiro, destina um valor dessa monta para a Festa da Mandioca, população amarga falta de serviços básicos, a exemplo de falta de médicos e remédios em postos da assistência básica. Já os servidores públicos denunciam alarmante número de contratos e cargos comissionados na folha de pagamento do município.
“Vim me receitar, mas o doutor só chega de oito em oito, na terça-feira. Se a pessoa corre para um lado e não tem doutor, eu estou aqui e não sei se vou me consultar. Estou com uma dor na boca do estômago e não tem remédio para tomar e a gente vai fazer o quê? Nada. Dou nota zero para a saúde. Se a pessoa está doente, com oito dias a gente já morreu”, lamenta a dona de casa, Laurinda dos Santos, na porta do posto de saúde do bairro Santo Antônio.
Ela continua: “Por que eles não colocam doutor no mundo para receitar o povo que está tudo doente. Para que colocar festa? Para os jovens. E os que estão doentes dentro de casa? Bote doutor, bote remédio. Eu tomo insulina de manhã, de noite, chega nos postos não tem. De vez em quando é que aparece. Se você tiver um conto no bolso, vai comprar nas farmácias. Se você não tiver, fica sem tomar. Coloque os R$ 4 milhões de remédio para o povo melhorar”.
Quem corrobora com o depoimento de dona Laurinda é o agricultor Carlos Henrique. Há três semanas ele busca atendimento médico e não encontra. Ele denuncia ainda as condições das estradas no Povoado Oiteiros.
“Tem mais de três semanas que eu estou tentando marcar um médico e não consigo. Falei com o agente de saúde e não sei se vou ser atendido. Em relação à saúde está péssimo, aqui e no Alto da Boa Vista está terrível. A gente está praticamente sem médico. O sentimento é de angústia, porque a gente acredita tanto e sabemos que acontece por causa da política. Falta médico, medicamento nos postos e na época da política tem tudo. Dou nota zero à saúde, é a realidade. É inacreditável isso, porque tem dinheiro para festa deveria ter dinheiro para a saúde, que é um caos. As estradas nem se fala, se for no Oiteiros você vai ver, ninguém faz nada”.
Já o vice-presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Lagarto (SindLagarto), José Roberto, pontua que vai levar à Justiça os valores gastos com a Festa da Mandioca em detrimento do não cumprimento do plano de cargos e salários prometidos pela prefeita Hilda Ribeiro, além do não reajuste salarial e do acúmulo de perdas salariais desde o ano de 2011.
“É mais uma contradição. Em meio a um desrespeito com o servidor e eu me pergunto onde está o Poder Judiciário do município de Lagarto? Como é que não cumpre o que é dever de um gestor? A festa é louvável, é bacana, gera emprego e renda, mas ao mesmo tempo ela tem que cumprir com o seu dever. Iremos judicializar essas questões. O número alarmante de contratos e comissionados, entrando gente direto, mensalmente, a folha não para de crescer. Outros municípios conseguiram barrar essas festas. Vamos tentar sensibilizar o promotor de Justiça e fazer com que a Prefeitura possa arcar com essas penalidades no futuro”, garante Roberto.
A categoria dos professores do município também está na bronca com a gestão de Lagarto. Para Irineu Oliveira, dirigente da Sub-sede do Centro-Sul do Sintese, a falta de concurso público e processo seletivo faz inchar o número de contratos, inclusive com contratados ocupando cargos de diretoria em diversas escolas.
“Nossa luta é constante, temos muitos problemas no município de Lagarto. Estamos reivindicando um concurso público ou um processo seletivo, porque a quantidade de contrato que tem no município de Lagarto é muito grande, é o único município que não faz processo seletivo, têm diretores que não são concursados, quase a metade é de contratados, isso não existe na rede estadual e nem nas outras redes municipais. É muito difícil a gente sentar com a prefeita”, lamenta o sindicalista.
Outro que também promete buscar a Justiça em relação ao Festival da Mandioca é o vereador de oposição, Matheus Corrêa. Ele expõe a desculpa de ausência de recursos por parte da gestão de Hilda Ribeiro para beneficiar produtos advindos da mandioca em um prédio abandonado no Povoado Açú.
“A gente fica muito triste quando vê que serviços públicos essenciais contínuos, como os serviços da saúde, transporte, dentre outros, não são fornecidos a contento à população lagartense, enquanto é gasto um valor exarcebado, elevadíssimo, com festa. O Festival da Mandioca é de tradição no nosso município, a gente quer muito que aconteça, mas veja como é destoante. A gente tem uma beneficiadora de produtos da mandioca, que é um prédio construído no Povoado Açu e que não funciona porque está abandonado.
Muitas vezes dizem que por falta de recursos, por entraves, mas recurso para festa tem. Há esse desalinho. Vamos buscar os meios legais para que as coisas aconteçam em nosso município como devem ser, tratando as prioridades como prioridades de fato. Sabemos que é um período pré-eleitoral e a gente sabe qual é a real intenção”, rechaça o parlamentar.
Para que o leitor tenha uma noção mais ampliada sobre o montante de R$ 4 milhões destinados às contratações para a Festa da Mandioca, o Portal Fan F1 buscou especialistas para saber o que poderia ser feito com esse montante em benefício da população. Ao menos 15 praças dariam para ser construídas com o valor, ou então 8 Unidades Básicas de Saúde muito bem equipadas.
A Reportagem buscou ouvir a prefeita Hilda Ribeiro sobre as denúncias feitas, mas não foi possível. Na Secretaria de Comunicação de Lagarto, o secretário Lucas Lacerda informou que não falaria sobre o assunto e indicou o porta-voz Waldson Diniz, que não atendeu às ligações da equipe e nem às mensagens deixadas no WhatsApp. O Portal Fan F1 segue à disposição para ouvir a todos. (Portal Fan F1)