SÉRIE MEMÓRIA INSTITUCIONAL (1) – A AGÊNCIA DO BANCO DO BRASIL EM LAGARTO-SE

21 de dezembro de 2021 - 08:31, por Claudefranklin Monteiro

A presença do Banco do Brasil em Lagarto está relacionada ao município vizinho de Simão Dias. Para Carlos Alberto Déda, a agência de lá foi transferida para as terras de Nossa Senhora da Piedade em 1953 por razões políticas e usaram um surto de lepra como motivação principal. Em estudos do médico Antônio Samarone isto se confirma, pois o censo de anos anteriores (setembro de 1941 e julho de 1946) mostrava uma tendência de alta, com 74 casos registrados oficialmente.

O jornal “A Semana”, de Simão Dias, em sua edição de número 42, do dia 18 de julho de 1953 deu amplo destaque ao fechamento da agência e a sua transferência para Lagarto: “No dia 27 de junho de 1953, o Banco do Brasil encerrou seu último expediente nesta cidade. (…) À vista do povo calado, humilhado e desiludido, arribaram os arquivos em demanda de nova sede” (p. 4). A matéria seguiu discorrendo longamente sobre o assunto. A agência do BB em Simão havia sido inaugurada em 1941, segundo Carlos Alberto, por um funcionário chamado Serrano.

Para compensar a saída do Banco do Brasil de Simão, personalidades como Carvalho Déda empenharam-se para criar uma agência do Banco do Nordeste do Brasil.


Sede da antiga agência do BB em Simão Dias. Ficava na rua Dr. Jovianiano Carvalho, atual calçadão. Depois que deixou de ser agência, chegou a funcionar o escritório do pecuarista lagartense, José Dória de Almeida (Dorinha).
 
(Acervo Carlos Alberto Déda)

Segundo Carlos Magno, funcionário aposentado do Banco do Brasil em Lagarto, a primeira sede da agência funcionava onde hoje é o espaço do estacionamento da Agência do Banese, em Lagarto-SE, na rua Dr. Laudelino Freire, número 297, entre a casa de dona Senhoria e o antigo Cine Glória, atual Agência do Banco Bradesco. Ainda segundo Magno, o local também foi depois uma fábrica de macarrão e a sede do Lagarto Esporte Clube, adquirido pelo Governo de Sergipe em definitivo.

Posso dizer que conheço o BB desde criança, pois morava vizinho de onde funcionava seu primeiro prédio instalado na Rua Laudelino Freire (vizinho ao Cine Glória, onde hoje é o estacionamento do Banese), sempre ia ao Banco com meu avô por volta do fim dos anos 60” (Carlos Magno de Oliveira, Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).


Primeira sede do Banco do Brasil em Lagarto-SE
(Acervo Maninho de Zilá – Agradecimento: Alessandro Monteiro)

No dia 16 de novembro de 1971, foi realizada a solenidade de inauguração da nova sede da Agência do Banco do Brasil de Lagarto. Uma cerimônia bastante concorrida, com a presença do governador de Sergipe, Paulo Barreto de Menezes, do senador Lourival Batista e alguns diretores da instituição, a exemplo do Dr. Camilo Calazans (Diretor da Região Norte-Nordeste).

Entre as autoridades locais presentes, o sr. Dionísio de Araújo Machado, o prefeito José Ribeiro de Souza, o vice, Porfírio Menezes, Dr. José Garcez Vieira (Juiz), monsenhor Jason Barbosa Coelho e alguns vereadores municipais.

Coube ao governador o hasteamento da Bandeira Nacional e ao pároco de Lagarto às bênçãos do novo espaço, bem localizado até a presente data, entre a Rua Dr. Laudelino Freire, 222, e o Santuário de Nossa Senhora da Piedade. À época, a entrada ficava para a Rua Dr. Laudelino Freire, readequada para atender a demandas de ordem estrutural.

Recorte da Gazeta de Sergipe

Além dos presentes, fizeram uso da palavra o gerente da nova agência, o sr. Ubirajara Barroso. Este, rendeu graças ao Governador do Estado e aos técnicos da SUDAP e ANCARSE pelos esforços desprendidos para a realização daquele pleito, não somente importante para a cidade de Lagarto, mas também para toda a região Centro-Sul de Sergipe e regiões baianas circunvizinhas. Ubirajara também dirigiu palavras elogiosas e de agradecimento ao sr. Camilo Calazans, a quem dirigiu da seguinte maneira: “(…) autor intelectual da maioria dos projetos governamentais que beneficiam o Nordeste” (Gazeta de Sergipe – 17 e 18.10.1971, p. 6).

Ubirajara Barroso saudou ainda a atuação do Dr. Luiz Alves de Oliveira, que leva nome de escola estadual na Colônia Treze. Segundo Barroso, cabia a ele o sucesso das cooperativas, mais de perto da Cooperativa Mista dos Agricultores daquele promissor povoado lagartense, cujos frutos ainda podem ser colhidos hoje, com o desenvolvimento de sua gente e de sua pujança econômica, com plenas condições de ser cidade em pouco anos.

Recorte da Gazeta de Sergipe

Sobre o novo prédio, assim lembra Carlos Magno:

Deste “novo prédio”, trago também muitas recordações, lembro-me perfeitamente que entre os anos 1976 e 1977, fui selecionado para participar de uma entrevista com o Gerente Geral à época o Sr. Wilson Cavalcante Ribeiro, fazendo parte de um grupo de estudantes do Colégio Laudelino Freire que se destacavam e eram ‘indicados’ para trabalhar no Banco do Brasil, como Menor Estagiário (não lembro bem o Termo correto que se usava), sendo que a escolha era exclusivamente do Banco, infelizmente eu não fui escolhido. No entanto o critério de escolha ficou marcado em minha mente, como um processo justo e que valorizava os estudos e a origem do aluno, normalmente de famílias mais humildes” (Carlos Magno de Oliveira, Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

Carlos Magno foi fundamental para a escrita deste histórico e memorial institucional da agência do Branco do Brasil em Lagarto. Segundo ele, nos idos dos anos 95 a 97, no Governo FHC, o BB passou por uma severa alteração em sua estrutura organizacional que resultou em um profundo corte de funcionários em todo o país, com fechamentos de muitas agencias, onde foram desligados cerca de 40 mil funcionários e outros não menos que 15 mil funcionários foram ‘convidados’ a pedir transferências para outros estados muitas vezes longínquos, e uns poucos aposentou-se.

Em Lagarto, destaca Magno, cerca de 15 funcionários foram afastados entre aposentadoria, desligamentos e remoções. Foi uma época muito delicada, “(…) um clima horrível, perda salarial de mais de 40% ao final do governo FHC em 2002”. O quadro ficou reduzido e a demanda de serviços havia crescido e agora a agência tinha menos funcionários para concluir as tarefas que eram muitas.

No final dos anos 90 e início dos anos 2000, afirma Magno, o BB remodelou toda sua estrutura de informatização, disponibilizando de forma gradual modernos terminais de computadores, máquina de saques acompanhando uma demanda do mercado financeiro, que era a redução dos custos, agilidade e rapidez nos processos de empréstimos financiamentos e atendimento aos clientes. E daí por diante o BB se modernizou de tal forma que se transformou em umas das instituições mais modernas do mundo com tecnologias de ponta e rapidez nas respostas, melhoria nos índices de atendimento. E “(…) Lagarto, por sua vez sempre acompanhou de forma efetivas apresentando bons resultados financeiros”.

“Paralelo as dificuldades que encontrávamos, há de se dizer que sempre havia um orgulho em fazer parte do BB, pelo profissionalismo que a empresa exigia, o BB foi uma escola, uma família, era um compartimento de minha casa. Enquanto escola o BB me proporcionou e proporciona um vasto número de cursos, treinamentos e oportunidades, e um nível altíssimo de eficiência e eficácia na condução dos serviços, são lições que a gente leva para a vida inteira (Carlos Magno de Oliveira, Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

Carlos Magno também se recorda de um momento muito doloroso e triste para todos na agência de Lagarto-SE. Omitindo nomes, para salvaguardar a memória dos envolvidos, assim nos relata:

O fato mais triste e lamentável ocorreu entre os anos 1997 e 1999, (não sei precisar neste momento), que foi o suicídio de um colega, ao chegar na agencia por volta das 07:45, naquele ano a acesso para abertura da agencia era pelos fundos (estacionamento), havia uma porta de aço e o primeiro colega chegou encontrou o corpo de um dos gerentes(cujo nome prefiro não citar) estendido no chão com um tiro que tirou a própria vida, foi um dia péssimo, não houve clima para abrir a agencia naquele dia,  todos nós ficamos apavorados durantes vários dias. (Carlos Magno de Oliveira, Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

Durante anos, a agência do BB em Lagarto trouxe inúmeros benefícios para o município, inclusive do ponto de vista social. Localizada na Rodovia Lourival Batista, a Associação Alética Banco do Brasil foi palco não somente do lazer de muitos lagartense, com piscina e áreas de prática de esporte (quadra, campo e ginásio coberto), mas também palco de festas e eventos inesquecíveis.

Sem falar no projeto AABB Comunidade, em parceria com Prefeitura Municipal e a Fundação Banco do Brasil, há mais e duas décadas anos. “O objetivo é promover o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, por meio de ações educacionais que favoreçam a inclusão sócio produtiva e ampliem a consciência cidadã” (Divulgação).

Em 2005, a agência sofreu um assalto que abalou a cidade de Lagarto. O fatídico episódio envolveu reféns, roubo de malotes e três assassinatos, dois irmãos (vítimas) e um dos cinco assaltantes. Apesar do trauma, a instituição seguiu firme com seus propósitos.

“Trago na lembrança algumas tentativas de assalto que ocorreram no meu período ali trabalhado, todas frustradas:  a primeira ocorreu que ao chegar na agência percebemos que durante a madrugada houve uma tentativa de assalto sem sucesso; noutra tentativa ocorreu uma ameaça de sequestro do Gerente, à época também sem sucesso; por 2 vezes ocorreu tentativa de assalto durante o expediente e numa  delas cheguei inclusive fechar a agencia em 2014 ou 2015 não sei bem ao certo, em pleno horário de funcionamento com a agencia cheia de clientes, tendo em vista o flagra de um assaltante que presenciei na tesouraria e acionamos nossa segurança interna e um policial militar à paisana que se encontrava na agencia e prendeu o meliante. (Carlos Magno de Oliveira, Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

Abaixo, alguns depoimentos de ex-funcionários da Agência do BB em Lagarto que marcaram época com seu trabalho e dedicação. Não foi possível colher outros, tão importantes quanto os que seguem. Aqui, apenas uma representação do potencial humano desta instituição:

Trabalhei no BB por quase 35 anos nas agências de Boquim, Euclides da Cunha (BA), Paripiranga (BA) e Lagarto. Ocupei diversos cargos e me aposentei como Gerente de Pessoa Jurídica, em 28 de abril de 2013. O banco foi meu único emprego. Entre 2011 e 2012, estive como secretário da administração de Lagarto, por concessão, permanecendo na mesma função no Banco. Retornei as minhas funções em janeiro de 2013 quando solicitei a aposentadoria” (Floriano Fonseca, historiador e músico – Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

“Sempre acompanhei a trajetória, a importância e o papel do Banco no município de Lagarto, mesmo antes de fazer parte da empresa como funcionário efetivo. Minha entrada no BB ocorreu por meio de Concurso em 1987 e iniciei na empresa em 02/1988, em Poço Verde, vim para Lagarto no ano de 1992, neste ano a agencia tinha por volta de 50 funcionários. Em 2001, fui transferido pelo Banco para Frei Paulo e em seguida pedi transferência para Riachão do Dantas, sendo posteriormente promovido a Gerente em Boquim onde permaneci de 05/2003 a 09/2008, retornando assim para Lagarto como Gerente da Tesouraria, onde alternava como Gerente de Contas, em Lagarto me aposentei em 29/ 12/2016, após um mais programa de desligamento da empresa. (Carlos Magno de Oliveira, Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

Trabalhar no Banco do Brasil foi para mim a realização de um grande sonho. Fiz três concursos, passei em 13º lugar. Me senti a pessoa mais feliz do mundo. Durante os trintas anos de trabalho, quando acordava de manhã sentia uma emoção enorme. Fazia o trabalho com muito amor e dedicação. Dizia que o banco era meu lazer, meu lugar de desfile de modas, enfim o BB foi tudo pra mim. Digo que trabalhei em duas empresas dentro do mesmo banco, com as mudanças do perfil do BB no ano de 1995. O banco adotou novo conceito, mas agressivo, mas exigente. Mas eu continuava com a mesma felicidade”. (Maurina Batista Cavralho Pontes – Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

Antes de ingressar no quadro de funcionários do Banco do Brasil – agência de Lagarto-SE – ainda menor, trabalhei como balconista na Farmácia Carvalho, da família Mendes.  Aos vinte anos, participei de uma seleção para o Serviço Social Rural que se realizou na Escola Agrotécnica de Jundiaí no Rio Grande do Norte.    Aprovado, regressei a Sergipe, atuando nessa instituição por apenas dois meses (março e abril), pois, nessa ocasião, fui informado de que se realizaria no próximo outubro, um concurso para admissão de novos funcionários. Decidi, então, dedicar os quatro meses a seguir, às matérias português, matemática, inglês, conhecimentos bancários e à prática de datilografia. Fui, dentre os 98 candidatos, 1 dos 3 aprovados (2 de Lagarto,1 de Aracaju). Após 1 ano desempenhando o ofício de auxiliar, um novo teste, dessa vez, para escriturário e aprovado. Foram 30 anos na mesma agência, sendo caso raro de permanência, vez que desprezei oportunidades de ser titular em várias sucursais que se abriam naquela oportunidade. Por doze anos, efetuei serviços internos, e dezoito como fiscal da Creai (crédito agrícola e industrial) em que atuei na área externa do Banco. Enfim, aposentei-me em 5-1-1992. Pelo trabalho que exerci, conheci muitas pessoas e angariei inúmeros amigos”. (Valdier Oliveira Cesar, Lagarto-SE, 24 de novembro de 2021).

Assumi o Banco do Brasil, nessa cidade, em junho de 1982. Iniciei no setor de funcionalismo. Depois, passei para o setor de empréstimos, nas áreas rural e comercial. Na época, éramos 72 funcionários na agência de Lagarto. O ritmo de trabalho era acelerado. Por várias vezes fui indicada para substituir o chefe, quando esse saía de férias. Em 1985, mandaram-me para Recife-PE, para participar de um curso para exercer a função de caixa executivo. Em 1995, o banco criou o PDV (pedido de demissão voluntária). A cada transferência ou pedido de PDV, a jornada só aumentava. Foi por essa época que adquirir a LER/DORT (Lesão por esforço repetido). Foram anos de tratamentos seguidos, me obrigando a ficar afastada das funções”. (Maria Evaldina Fernandes Santana Matos, 2005).

Sobre o legado do Banco do Brasil em Lagarto, encerro a presente matéria destacando uma síntese bem precisa a respeito feita por Carlos Magno de Oliveira:

Considero justo e relevante a afirmativa que grande parte do crescimento econômico do município de Lagarto se deve ao Banco do Brasil, principalmente no cenário da agropecuária (hoje Agronegócio), pois somos sabedores do volume intenso de capital injetado na economia local nos idos dos anos 60 e 70, via financiamentos rurais pecuários, via financiamentos agrícolas para a Coopertreze e demais produtores e merecidamente também ao comércio local. Nos anos 90 em parceria com a Prefeitura o Banco financia milhares de pequenos agricultores em todo o município através do fundo de aval, numa parceria que teve grande repercussão, sendo um dos maiores programas de fundo de aval para micro e pequenos agricultores realizados pelo BB no país, onde a agencia de Lagarto destinou empréstimos para diversas atividades agrícolas, como financiamento para gado, mandioca, fumo, dentre outras, abrangendo todo o município, houve deslocamento dos funcionários para povoados e assentamentos, realizando mutirões de assinaturas dos contratos. Basta olhar o antes e o depois e fazer essa correlação. Nos anos 80 devido às inúmeras crises na economia nacional e a ampliação do número de instituições financeiras na cidade o BB dividiu esse papel principalmente com o BNB. Ao longo desse tempo vimos crescer e surgir novas atividades no município e sempre com a presença e a marca do BB”. (Carlos Magno de Oliveira, Lagarto-SE, 18 de novembro de 2021).

Sede atual, com a frente voltada para a lateral esquerda do Santuário N. Sra. da Piedade

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O Xingó Parque Hotel & Resort está situado perto da usina hidrelétrica Xingó e dos famosos cânions do Velho Chico, a 77 km do Aeroporto Paulo Afonso. Tudo isso, às margens do Rio São Francisco no município sergipano de Canindé. 

 

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