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CONTE SUA HISTÓRIA, LELÉU
15 de novembro de 2021 - 12:20, por Claudefranklin Monteiro
Desde de tenra idade, estive presente nos principais eventos religiosos da Igreja Católica, em Lagarto. Entre eles, os bastidores e a realização do Congresso Eucarístico de 1979. Das gratas lembranças que guardo até hoje desses mais de quarenta anos às voltas com as ações pastorais da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, uma certamente se destaca: a voz de Leléu. E de modo muito particular, da noite de Lava-pés. O trecho inicial é de arrepiar: “Essa é a noite da Ceia Pascal, a noite em que Jesus por nós se imolou”.
Passados os anos, vi que aquele homem branco, alto, com poucos cabelos, de óculos com armação escura, reservado e sério, que anda com passos lentos e firmes, tinha um escritório de contabilidade na Rua Senhor do Bomfim, cuja frente ficava para os fundos de minha casa na travessa municipal, número 33. Por diversas vezes, eu sentado no batente ou ao lado de minha mãe na cadeira, ele passava e nos cumprimentava educadamente antes de entrar ou ao sair do estabelecimento.
Na fase adulta, já trabalhando no Colégio Cenecista Laudelino Freire, minha admiração por Leléu só crescia, sobretudo por seu talento como intérprete de canções religiosas nas celebrações diversas. Eu e Assuero Cardoso, até hoje temos uma brincadeira que se remete a ele. Vez ou outra, o imitamos, tipo ao estilo de Pavarotti, e aos risos, o poeta lagartense me diz: “Te cuida, Leléu!”. Dono de um timbre de voz todo particular, preciso e inconfundível, José Weliton de Menezes, certamente, é uma das maiores referências da cultura musical lagartense.
Filho de Dalva de Almeida de Menezes, nasceu em Lagarto no dia 13 de março de 1945, batizado no dia 8 deste mesmo ano na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, por Monsenhor João de Souza Marinho, tendo como padrinhos Mons. Juarez Santos Prata e Nossa Senhora da Piedade. Teve uma infância marcada por inúmeras brincadeiras, tais como: boi de barro, esconde-esconde, pião, cabra-cega, etc.
Na adolescência e juventude, curtia os passeios com amigos, como também pegar carona em carro de bois e carroças de burro. Recorda ainda dos namoricos (flertes), dos passeios aos domingos à tarde, na praça da Piedade, dos encontros com os amigos à noite (durante a semana, de igual modo na praça da Piedade, escutando o serviço de som “Radiofon” no tempo do Pai de Hercílio, o Sr. Deusdedith/Detinho (como locutor) e Miguel Costa, também como locutor.
Com relação a sua formação, chama a atenção a solidez das bases locais. Foi aluno da escola de Dona Sinhá do Mestre Bedóia; de Dona Hulda (mãe do saudoso Euclides Oliveira); da escola “São Luiz” (RJ), em 1956, onde residiu com a mãe durante 2 anos, na casa do seu irmão. Voltando à Lagarto, ingressou no Grupo “Silvio Romero” – na Av. Francisco Garcez, tendo como diretora dona Elisa Rocha (in memoriam). Entre as professoras responsáveis por seu desenvolvimento, destaque para: Eletice Ribeiro e Dolores Ferreira.
Ingressou depois no curso de admissão ao ginásio no Colégio Cenecista Laudelino Freire. Concluindo o ginásio, era diretor na época, Sr. José Raimundo Lima Araújo (in memoriam). Iniciou o curso de contabilidade à época do Dr. João de Almeida Rocha. Formou-se como técnico-contabilidade com direito a assinar documentos, tais como: balanços, análise de balanços, processos para a JUCESE, etc., pois nessa época, a lei dava o direito de o técnico assinar. A esse respeito, assim me disse Leléu, em entrevista: “Não fiz faculdade, precisava trabalhar para ajudar em casa!” (3 de novembro de 2021, por intermédio do filho, Ivo).
Em seu livro “Garimpando Lembranças (2017)”, Euclides Oliveira destaca uma peculiaridade de Leléu: o fato de ser colecionar de Estampas Eucalol. A propósito, assim se expressa o homenageado:
“As estampas Eucalol, minha mãe tinha guardadas como lembranças do meu irmão mais velho, que foi embora para o Rio de Janeiro. Então, ela na minha adolescência, me entregou para brincar, na época ainda existia o brinde do sabonete Eucalol, na caixa vinha uma ou duas estampas, era um meio da fábrica incentivar a classe estudantil conhecer melhor a nossa história. Eram estampas de gravuras diversas, no seu verso tinha o histórico referente à gravura. Estampas sobre: a nossa fauna e flora, os nossos indígenas, história do Brasil tipo, Tiradentes, os Bandeirantes etc.” (3 de novembro de 2021, por intermédio do filho, Ivo).
Leléu passou a frequentar e atuar na mais de perto na Igreja Católica no final de 1958. Foi coroinha por 3 meses, à época do padre José Alves de Castro, seguindo com o Mons. Jason, como coroinha e depois sacristão, durante um ano e meio. Na era de Mons. Jason, foi que comeceu a ingressar no Coral com a Ir. Cândida, seguindo mais adiante com Lourdes Xisto. Em seguida, veio o período com o Prof. Aguimaron Menezes (de saudosa memória). Com seu falecimento, veio o seu amigo Jackson Oliveira (que tocava no Grupo de Jovens), tendo convido-o pra tocar no Coral “Santa Cecilia”. Hoje o Coral se resumiu a um grupo, conservando Santa Cecília como patrona.
No dia 21 de abril de 1978, casou-se com a senhora Marilene da Silva Menezes, mãe e dona de casa, companheira de todas as horas e momentos. Segundo ele, “(…) que advinha os meus pensamentos e é muito preocupada comigo”. Disse que teve muita sorte na criação dos filhos: Ivo (22 de setembro de 1981), que atua no comércio; e Emília Maria (28 de maio de 1983), também contadora.
Do círculo de amizade de Leléu, alguns dos sujeitos mais importantes da cultura lagartense, tais como: Euler Tavares Ferreira, Elma Tavares Ferreira, Joaquim Prata Souza, Carlos Damasceno de Jesus e José Fonseca de Menezes. Entre ela fraternas, ainda e com especial destaque, o casal Isaura e Maninho de Zilá, com os quais passou a admirar e se dedicar às manifestações da religiosidade popular de Lagarto, a exemplo da Encomendação das Almas. Leléu me convidou a participar do grupo no meu primeiro ano de casamento em 1998. Chegou a me emprestar a mortalha, até eu providenciar a minha. Sobre o assunto, assim partilhou comigo o seguinte depoimento:
“A começar, Isaura era prima da minha mãe. Sempre morávamos vizinhos, saíamos para passear, depois Maninho fez minha matrícula na Associação Atlética de Lagarto (AAL), como sócio contribuinte. Através dele, fui apresentado ao Sr. Themístocles Carvalho, para ser o solista do “Pai-Nosso”. Naquela época o Grupo da Encomendação estava precisando de alguém. Os solistas eram: Sr. Chiquito, pai de Miriam Machado e o próprio Maninho. O primeiro, já com voz fraca, Maninho achou por bem me convidar” (3 de novembro de 2021, por intermédio do filho, Ivo).
Leléu é um entusiasta das coisas do povo e das nossas manifestações culturais e religiosas mais sinceras, francas e espontâneas, que têm sofrido a ação do tempo e da chamada “modernidade”:
“A nossa tradição cultural religiosa, aos poucos está desaparecendo, tais como: Cantoria dos Presépios nas famílias e Encomendação das Almas. Não sei se é da época moderna, onde as famílias estão vivendo uma nova era, a violência nas ruas, aquele “toque de recolher”, a vida moderna, a cidade cada vez mais crescendo, então a violência vai aumentando seu ritmo! As ruas à noite são desertas, logo cedo cada família procura se entreter na televisão ou celular, dentro da sua própria casa! É isso aí, obrigado! (3 de novembro de 2021, por intermédio do filho, Ivo).
Ah, Leléu! Se você não for anjo, certamente o será. Deus lhe proporcione vida e saúde por muitos anos para seguirmos a sorver de seu talento. Revê-lo na missa de Finados no último dia 2 de novembro de 2021, cantando novamente, foi um alento ao meu coração e ao dos lagartense que te admiram. Eu estava no comentário, quando ouvi sua voz, meus olhos brilharam e ao levantar a vista em direção ao coral, o vi ali, firme como uma rocha e lindo como um rouxinol.