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CONTE SUA HISTÓRIA, REGINA DE BAIANO
16 de outubro de 2021 - 11:42, por Claudefranklin Monteiro
Quando eu era menino, pouco antes da chegada da adolescência, morando na Travessa Municipal, 33, eu brincava entre a Rua Senhor do Bonfim e a Praça Monsenhor Daltro, em Lagarto-SE. Nós tínhamos um grupo de amigos que vivia às voltas com várias brincadeiras, entre elas as inesquecíveis peladas no calçamento de paralelepípedo, descalços. Entre eles, Railton, filho de dona Regina de Baiano, além dos irmãos Uildemar e Ilmar (padre), filhos de seu Demar e dona Augusta, Márliton, Antônio Carlos de Zé Pechincha, Fabiano Rabelo Machado, entre outros.
A casa de dona Regina de Baiano era uma espécie de ponto de encontro. A maioria das casas ainda tinham um terreno ao fundo, com pés de árvores frutíferas, onde ousámos criar circos improvisados e balanços. E onde também brincávamos de bola de gude e até mesmo de furão. Uma espécie de jogo onde nos valíamos de uma pequena haste de metal para finca-lo no chão de terra, com a finalidade montar um desenho que definisse um vencedor, o qual teria que ter uma boa mira.
Regina Aceli da Costa Nascimento nasceu no povoado Coqueiro de baixo, em Lagarto/SE, no dia 16 de outubro de 1931. Criou-se órfã de mãe, Josefa Pereira da Costa, quando completou cinco anos de vida. Assim, passou sua infância na fazenda do Qui, onde trabalhava seu avô. Com o falecimento do pai, Joaquim Pereira da Coata, ela e seus irmãos voltaram a morar no Coqueiro, na casa de uma tia. Ela ficou com sua prima Mana, depois foi para a casa de seu tio Joaquim, onde ficou por um tempo. Sabendo de uma Santa Missão que acontecia naquela época, veio para cidade, para casa de Maria, filha de dona Candola, com quem ficou até os 23 anos, quando se casou. Lá ela cozinhava e fabricava redes. Mesmo morando em casas separadas, nunca perdeu o convívio e a proximidade com os irmãos.
Com uma infância e adolescência marcadas por perdas familiares, ambientação de novas moradias e criação, necessidade do sustento, dona Regina não teve como estudar. Não pode ir à escola quando era nova e depois, quando teve oportunidade, sentiu-se um pouco envergonhada por conta da idade e do seu tamanho em uma turma mais nova. Assim, de lugar em lugar, de casa em casa, uma espécie de cigana da vida, conheceu seu esposo, o senhor Estanislau Carvalho do Nascimento, natural de Lagarto/SE, no dia 19 de julho de 1925, cuja alcunha era Baiano.
Ela se casou com ele aos 23 anos, em casa, porque seu noivo era muito envergonhado e não ia entrar na matriz, uma vez que nesse dia estavam arrumando a igreja para comemorar a posse de Dionísio de Araújo Machado e a praça estava lotada, conta-nos em entrevista realizada pela filha Rose, no dia 15 de outubro de 2021. Tiveram cinco filhos: Rosemary Nascimento Oliveira, Rejane da Costa Nascimento, José Reginaldo da Costa Nascimento, Josefa Rosecleide Nascimento Barbosa e Railton da Costa Nascimento Souza.
Atribui a sua catequese e participação na Igreja à avó materna, que levava os 6 netos, 4 meninas e 2 meninos, sempre para as missas e outras atividades religiosas. Quando novinha sempre dormia nos bancos da igreja e, mesmo sem estudo, aprendia as orações e o amor à igreja e à vida, como ela sempre fala.
Aos 50 anos, o padre Monsenhor Jason Barbosa Coelho pediu para que as pessoas fossem visitar o hospital da cidade, o que ela prontamente o fez. Nessa visita, ela se deparou com uma situação precária. Com isso ela começou a recolher doações das pessoas, o que fez por mais de 30 anos sem nunca receber um não. Participou, ainda, de diversas campanhas com as do grupo São Francisco de Assis, inclusive para o Asilo Santo Antônio, onde incentivava as pessoas a buscarem sua aposentadoria. Nessa caminhada conheceu a comunidade da Matinha, na qual fez várias campanhas para ajudar as crianças e às famílias do lugar, além da construção da capela, onde ela foi uma das colaboradoras.
Com o padre Mário Rino Sivieri na condição de pároco, a partir de 1976, novas oportunidade de atuar na vida pastoral da Igreja surgiram. No início dos anos 80, ele estimulou a vinda de irmãs religiosas, em particular as Venerine e as Camiliana. Dona Regina trabalhou mais de perto com as Camilianas, nas demandas do Hospital Nossa Senhora da Conceição, na pessoa da irmã Bernadete. Ela saia no comércio e junto a políticos pedindo apoio para a compra de coisas estruturais necessárias, como equipamentos para banheiros e ventiladores, alimentos. Nesse sentido, foram muito importantes o apoio de José Corrêa Sobrinho e Artur de Oliveira Reis.
Eram inúmeras campanhas, as mais diversas, que ajudavam doentes carentes, idosos internados em asilos e moradores de rua. Ela contava com a colaboração de alguns amigos, como o casal Rosa e Naldinho, Marlete, Meirinha da Casa Ideal, Dra. Lucimar e também de Marciel e do Sargento Andrade. Cuidava também de conseguir a aposentadoria de algumas daquelas pessoas necessitadas junto ao INSS. Até da dignidade dos defuntos ela se preocupava. Numa determinada ocasião, disse dona Regina de Baiano, o padre Dulcênio, que costumava visitar a Matinha, presenciou um corpo em cima de cadeiras, sendo velado. Prontamente, foi ao encontro de de Seu Bebeto, pai de Dr. Paulo Andrade Prata, para conseguir um caixão.
Dona Regina de Baiano ficou viúva no dia 12 de março de 1998. Com a família devidamente criada, passou a se dedicar ainda mais às atividades de assistência sanitária, funerária e religiosa aos mais pobres. Não media esforços, mesmo com o avanço e as limitações naturais da idade. Ela faz parte de uma legião de personalidades lagartenses que atuam de forma discreta e destacada, num protagonismo cristão fora dos holofotes e dos aplausos. Ainda assim, em algumas ocasiões teve seu trabalho premiado com algumas manifestações de carinho, por meio de placas de honra ao mérito.
Passados 90 anos, com o cabelo todo alvinho, dona Regina de Baiano segue com o mesmo entusiasmo de sempre, cercada do afeto de seus filhos e netos, mas também do apreço e do reconhecimento dos lagartenses, notadamente dos mais humildes, para quem se dedicou parte considerável de sua vida, à luz do melhor do cristianismo, minimizando seus sofrimentos e lutando por sua dignidade.