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CONTE SUA HISTÓRIA, MIRIAM MACHADO
27 de maio de 2021 - 17:41, por Claudefranklin Monteiro
Um dos meus primeiros amigos de infância foi Fabiano Rabelo Machado, atualmente professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Sergipe. De igual modo, sua irmã, a arquiteta Elis Regina, também esteve entre as pessoas do meu pequeno círculo de amizades entre os anos 70 e 90, a exemplo também de seu primo, o saudoso Gabriel Machado. Ambos, são filhos de dona Detinha e seu Zé de Chiquito, o qual convivia com meu pai nas lides do esporte, caçadas e pescarias.
A família Machado é uma das mais tradicionais e importantes da História de Lagarto, com nomes de grande destaque. Na vida religiosa, o cônego José de Araújo Machado (1909-1991), e na vida política, seu irmão, Dionísio de Araújo Machado (1905-1985). Somem-se a estes, outros nomes igualmente significativos, de modo particular na vida educacional, a exemplo da saudosa professora Eliane Machado, por muitos anos responsável pela parte administrativa e pedagógica do Colégio Cenecista Laudelino Freire.
Sua irmã, Maria José Machado Lisboa, além de notável colaboração no campo educacional de Lagarto, também contribuiu de forma significativa para o setor econômico e catequético e pastoral no seio da Igreja Católica. Antes de conviver com os Machados, eu a vi, pela primeira vez em duas das fotos de meu irmão, José Cláudio Monteiro. Aliás, duas das que mais chamam minha atenção do rico acervo imagético de minha família.
Numa foto, em preto e branco, julgo ser dos anos 60, Cláudio Monteiro, com menos de 10 anos, cumprimenta a professora Miriam Machado, séria, com um lenço envolto na cabeça. Na outra, da mesma época, ela aparece de perfil, sem o lenço, cercada de três meninas e cinco meninos, servindo-lhes lanche. Ao apreciar as fotos pela primeira vez, lembro que padinho Cláudio encheu os olhos d´água e me falou com alegria e orgulho de ter sido aluno da professora Miriam Machado.
Algum tempo depois, tive a oportunidade de conhecê-la, nas minhas andanças à casa de seus pais, Francisco Araújo Machado e Maria Terezinha Almeida Machado, minha parente por parte de pai. Dona Terezinha já esatava cega e me reconhecia quando eu me aproximava dela. Costumava pegar o meu rosto para apreciar com as mãos as minhas expressões faciais. Ela me dizia: “Você tem a cara de seu pai”.
Sobre seus pais, testemunha:
“É dificílimo encontrar palavras que traduzam os meus sentimentos a respeito dos meus pais. O que dizer sobre um casal que recebeu de Deus a graça de ter 27 filhos, com todo amor? Como descrever a luta incansável e diária de papai para educar, criar com dignidade e respeito, desempenhando, com toda garra, a sua tão importante missão com recursos financeiros oriundos apenas do seu trabalho como agricultor, pedreiro, marchante e, já chegando à terceira idade, funcionário público? Minha mãe, dona de casa (doméstica), sem secretária, na maioria das vezes, e encontrando tempo para desenvolver o seu dignificante papel distribuindo tanto amor, dedicação, carinho, cuidado, que é quase impossível poder relatar com palavras. Recebi deles o maior testemunho de amor e de fé em Deus. Como isto me orgulha e me faz feliz!” (Lagarto-SE, 25.05.2021 )
Maria José Machado Lisboa (Miriam), nasceu em Lagarto no dia 15 de dezembro de 1946. De uma família de inúmeros irmãos e irmãs, onde não faltou alegria e carinho. A luta era grande e as dificuldades financeiras também, mas todos foram criados com valores raros nos nossos dias: formação religiosa, dignidade e honradez.
Estudiosa, procurou construir uma sólida formação escolar, fazendo valer cada oportunidade que a vida foi lhe oferendo. Fez o curso primário no antigo Grupo Escolar Sílvio Romero; o ginasial, no Colégio Cenecista Laudelino Freire. No Colégio Nossa Senhora da Piedade, fez o curso pedagógico. E pela Universidade Federal de Sergipe, gradou-se em Licenciatura em Estudos Sociais.
“Sempre me dediquei muito aos estudos. Como era professora, para complementar a minha formação escolar, quando me era oferecida a oportunidade, participava de cursos de aperfeiçoamento, entre os quais posso citar o da CADES (Curso de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário). Acredito que por tudo isto fui muito feliz nesta tão honrosa profissão”. (Lagarto-SE, 25.05.2021)
Miriam Machado iniciou sua carreira no magistério muito jovem, ainda na adolescente, como auxiliar de sua irmã Eliane Machado, na Escola Noturna Municipal Ipiranga. Foi daí que lhe despertou a vocação para a docência. Em seguida, foi professora de inúmeras matérias, entre elas Português, Geografia e Religião, tendo atuado nos seguintes estabelecimentos: Colégio Nossa Senhora da Piedade (De 03/1969 a 02/1972 e de 10/1973 a 02/1974); Ginásio Laudelino Freire (CNEC) (De 03/1974 a 02/1978); Grupo Escolar Nossa Senhora da Piedade (De 04/1970 a 08/1970, como professora polivalente, e de 08/1970 a 04/1976, como diretora); Grupo Escolar Sílvio Romero (De 04/1968 a 04/1970, como professora polivalente); Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA) – Centro Piloto Lagarto – MEC (De 12/1961 a 12/1962, como professora polivalente);
Em 1963, fundou a Escola Nossa Senhora do Carmo, que funcionava em uma das salas de sua residência, à rua Senhor do Bomfim, dispondo apenas de grandes mesas, quadros negros e bancos para os alunos sentarem. Frequentavam discentes das quatro séries do curso primário. Os da 4ª série eram, inclusive, preparados para enfrentar o “Curso de Admissão”, espécie de pequeno “vestibular” exigido para o ingresso no curso ginasial. Foi nesta ocasião, que meu irmão foi seu aluno.
“Eu estudava e me esforçava muito para que pudesse me sentir mais digna de tão nobre e dignificante profissão. Aliás, a de Jesus Cristo, que foi chamado de “Mestre”. Lecionar me fazia feliz, realizada. Nem o tão pequeno salário conseguia desviar de mim este sentimento”. (Lagarto-SE, 25.05.2021)
No final dos anos 70, deu um novo direcionamento a sua vida profissional, iniciando as suas atividades na Caixa Econômica Federal (CEF), como escriturária, no dia 21/12/1977, após ter sido aprovada em concurso público. Miriam Machado trabalhou na primeira Agência Lagarto, onde exerceu as funções de Gerente (Substituto eventual), Gerente de Núcleo e Supervisora. Em 1984, foi transferida para a GEROP (Gerência de Operações Financeiras), em Aracaju, onde atuou como Gerente de Núcleo e Chefe de Setor. Retornou à Agência Lagarto, em 1990, como Supervisora, aí permanecendo até a sua aposentadoria, em 1997.
No dia 07 de maio de 1980, casou-se com Gilson Araújo de Lisboa, com quem teve Rita de Cássia (Ritinha), Terezinha, Maria de Lourdes e Maria de Fátima. Destas, quatro netos.
“Nossas filhas e nossos netos representam os maiores presentes que Deus nos deu. Como nos sentimos felizes e realizados! A vida vai ser curta para podermos agradecer a Deus tão preciosa dádiva. Eles constituem a maior alegria de nossas vidas. Todo amor do mundo ainda é pouco! Nós os amamos demais e nos orgulhamos tanto deles!” (Lagarto-SE, 25.05.2021)
Na Igreja Católica, Miriam Machado teve e tem uma vida bastante atuante e destacada, com uma ação pastoral intensa. Foi catequista; Membro do Conselho Econômico Paroquial; Ministra Extraordinária da Comunhão Eucarística; Palestrante (comunidades, ECC, Encontro de Noivos, entre outros); com seu esposo, estiveram, por alguns anos, como casal coordenador geral da Pastoral Familiar Paroquial. Além de participar da Pia União das Filhas de Maria; Legião de Maria; Mãe Rainha (até a presente data).
“Graças à bondade e misericórdia de Deus sempre tive participação efetiva em minha Igreja. Infelizmente, com a chegada da terceira idade, o ritmo tende a diminuir. Constato, entretanto, que a fé em Deus permanece e aumenta cada vez mais. Atualmente, sinto-me mais contemplativa”. (Lagarto-SE, 25.05.2021)
Pelas razões acima expostas, nossa homenageada se considera “uma pessoa muito feliz e altamente realizada, graças a Deus e a Nossa Senhora”. E nós, os lagartenses, somos profundamente agradecidos pelos seus serviços e por ter colaborado para formar gerações de diversos profissionais e de pessoas dedicadas à fé católica. Nesse sentido, também a história da Igreja Católica em Lagarto lhe dedica uma página especial, em que ela figura como modelo de dedicação, de humildade, de desprendimento e de mansidão.