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CONTE SUA HISTÓRIA, FLORIANO FONSECA
8 de fevereiro de 2021 - 20:42, por Claudefranklin Monteiro
Eu o conheci numa situação inusitada: velório de seu pai, o saudoso historiador Adalberto Fonseca, no dia 17 de março de 2003. Eu havia sido convidado pelo então prefeito de Lagarto, José Rodrigues dos Santos para proferir algumas palavras numa homenagem póstuma àquele que fora o pioneiro nos desvelamentos das histórias de nossa gente.
No ano seguinte, ele passou no primeiro vestibular para o Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira, ocasião em que pudemos nos aproximar e trocar ideias. Ali, Floriano Fonseca tomou gosto pelo ofício do pai. O estudante tinha por hábito visitar a minha sala (Coordenação do Curso) antes de assistir aula. Eram alguns minutos de boas tertúlias, mas também de lamentações. Gênios parecidos, não faltaram “boas” discussões.
Nunca fomos grandes amigos. Nos afastamos por circunstâncias da própria vida, por imaturidade de ambos, talvez, mas eu sempre estive atento aos seus passos, driblando as fofocas, os disse-me-disse e toda uma série de questiúnculas típicas de uma cidade que ainda insiste em ser provinciana. Mantive-me em silêncio até a presente data, enquanto alguns rosnavam e gritavam ferozes em emissoras de rádio ou redes sociais a propagarem desrespeito, inverdades e um clima de guerra constante, sem motivo aparente ou que valesse meu precioso tempo. Até charge e quadrinhos fizeram, aventado uma dor de cotovelo da qual nunca senti ou sequer me tratei. Ambos, tocamos nossas vidas, como tem que ser: pesquisando e produzindo.
Floriano Santos Fonseca é natural de Lagarto. Filho de Adalberto Fonseca e de Elza Santos Fonseca, nascido no dia 26 de agosto de 1959. Cursou o atual Ensino Fundamental no Colégio Laudelino Freire. No Colégio Salete, destacou-se à frente da organização da Banda Marcial, sagrando-se campeã por três anos consecutivos (78, 79 e 80) de concurso estadual de bandas de fanfarra.
Foi estudante do Colégio Atheneu, em Aracaju, na segunda metade dos anos 70. Era uma época de muita rigidez nas escolas e o jovem Floriano teve dificuldade de se adaptar aos excessos normativos da instituição. Ainda assim, foi lá que ele aprimorou seu interesse pela arte, tendo aprendido pintura, entalho, escultura, modelagem, chegando a participar de festivais de poesia falada.
Na vivência estudantil em Aracaju, fez parte de um grupo diferenciado de alunos envolvidos com arte e cinema, mas também política, a exemplo do saudoso Marcelo Déda. À época, Floriano era colecionador de selos, hábito que surgiu aos nove anos de idade. Boa parte daqueles amigos fazia parte de clubes filatélicos. E também frequentava o Cine Clube, no bairro Santo Antônio.
Em entrevista para a professora Jaqueline Mendonça, no dia 13 de março de 2013, partilhou algumas de suas peripécias infantis envolvendo o cinema, mais de perto no Cine Glória, de Edinho:
Desde menino que eu trabalhava com cinema. Aqui em Lagarto, eu conheci, com mais ou menos oito anos de idade, um garoto que tinha um projetor de slides. Esse menino era mais velho do eu, uns treze a quatorze anos. Ele pegava no lixo do cinema os pedacinhos dos filmes queimados velhos e ele montava e passava o filme na casa dele. Eu paguei a ele um dia para assistir, ele cobrava, e aí eu fiquei maluco por aquilo. Cheguei a perguntar se ele me vendia.
(…)
Como não tinha dinheiro para comprar, resolvi fazer num caixote de maça, que Seu Tonho me deu, meu próprio projetor. (…) Seu Odilon vivia me botando pra fora [do Cine Glória], porque ele sabia que tava lá para roubar fitas. Mas eu roubava. Pulava o muro do cinema pela Vila Meire e tinha acesso ao lixo do cinema. Chegou um tempo que eu tinha milhares de frames [quadros de um filme inteiro].
Com aquela turma de amigos em Aracaju, Floriano marcou uma página importante da história do cinema sergipano. Após participarem de um curso de cinema com Djaldino Mota Moreno, a partir de 1978 passou a produzir o filme-documentário CARRO DE BOIS (Super 8 mm, 17 minutos), do qual foi roteirista e autor da trilha sonora, baseada em poema de Carvalho Deda (A sodade do carreiro).
Carro de Bois foi filmado e ambientado em Lagarto, na Fazenda Caera, de Seu Isaac da Cassuba, nas proximidades do povoado Olhos d´Água. A equipe de filmagem ficou hospedada na casa dos pais de Floriano. Faziam parte da equipe, além de Marcelo Déda (fotografia e letreiros): Augusto César Macieira (som), José de Oliveira Júnior (Assistente de Direção); Evandro Curvelo Hora (montagem); João Galo S. Amaral (layout); Djaldino Mota Moreno (Supervisão Geral.
Carro de Bois foi sagrado melhor filme-documentário em 1979, por ocasião do Festival Nacional de Cinema Amador (FENAC). Em 1984, o filme voltou a ser reconhecido, desta feita sendo escolhido como o melhor filme sergipano de todos os tempos. Ainda no campo da dramaturgia, Floriano atuou no grupo de Teatro da Rua da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe (SCAS).
O gosto pelo cinema e sua perícia técnica na sétima arte, ele levou para as atividades de extensão do Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira (2004-2008), com o projeto Memória Viva, com a produção de diversos documentários sobre Lagarto. Entre 2007 e 2008, atuou como ministrante em Oficinas de Cinema para alunos de escolas públicas. Em parceria com o Rotary Clube de Lagarto, de onde é membro, o Conselho da Criança e do Adolescente, Prefeitura de Lagarto e Fundação Banco do Brasil, a partir de 2011, capitaneou o Projeto Cinema nos Bairros, sucesso de crítica e de público.
Além de atuar no cinema, Floriano também se dedicou à imprensa, tendo sido criador ou participado da criação de jornais diversos, inclusive escolares, entre eles: O Cuiudo, Le Petit, O Mandingueiro, AABBertura. Entre 1993 e 1994, colaborou para o jornal O Lagarto.
No campo político, atuou com sindicalista, notadamente a partir de 1992, mais de perto no Sindicato do Bancários. Floriano foi funcionário do Banco do Brasil até a aposentadoria, tendo ocupado diversas funções, inclusive a de gerente. Participou como membro colegiado da CUT Sergipe e chegou a ser presidente do Diretório do Partido dos Trabalhadores no início dos anos 90. Nas administrações do Prefeito Valmir Monteiro, em Lagarto-SE (2009-2012 / 2017-2019), foi Secretário de Administração.
Tendo aprendido a tocar violão aos 13 anos de idade, uma das mais marcantes passagens da vida cultural e artística de Floriano Fonseca, certamente, foi à frente da Banda Saco de Estopa, fundado no início de 1981. Em entrevista para Marcos Peres, do Portal Lagarto Notícias, do dia 4 de outubro de 2015, Floriano assim traduziu aquele momento:
Começamos em 1981, com a realização do 1º Festival Lagartense de Música Popular (FLAMP), com meu irmão mais novo, além de Zezinho, meu sócio, e Ricardo Mesquita. Na época, começamos de forma estudantil: produzindo. Foi um momento muito marcante em minha vida. Neste meio termo, fui morar no sertão da Bahia, retornei e voltamos com a banda, gravamos 4 cds, com músicas próprias do grupo. Tivemos grandes momentos juntos, como quatro apresentações no Forró Caju, apresentações no Canta Nordeste, Alagoas e São Paulo. Porém, chegou um período que tive que optar entre a família e a banda, pois já não dava mais para conciliar duas situações. Também não havia mais retorno financeiro.
Com a canção Boleia de Caminhão, de sua autoria, Floriano participou do Primeiro Festival Sergipano de Música Popular, também em 1981. Em Euclides da Cunha, em parceria com Enoque Araújo, organizou o Primeiro Encontro de Canudos (com música e poesia). Além disso, em 1997, foi destaque na semifinal do Canta Nordeste, com a canção Reino Unido.
Com o fim do Saco de Estopa, ele seguiu compondo, mas sem participar mais de apresentações públicas. Em 2011, com a participação de Cassinho, Andrey, Wesley, Aldo, Leléu, Lúcia Ramos Santos e Cícero Stúdios, gravou o CD com O Hino de Lagarto, de autoria de Adalberto Fonseca. Recentemente, musicou um dos poemas do livro Saga de Zefa (2016), do poeta Assuero Cardoso Barbosa.
Em 2015, Floriano Fonseca estreou como escritor com o primeiro volume de uma série de livros intitulada Apontamentos para o Estudo da História de Lagarto: Febres e Fraudes na Vila do Lagarto (século XVI a XIX). Em 2016, foi a vez de Herdeiros e Deserdados do Cabaú (1880-1937), o meu preferido pela maturidade do trabalho e pela presteza da escrita. No início de 2021, o autor publicou o terceiro volume: Entre Sapos, Comunas e Coronéis (1938-1964), com destaque para a presença da mulher na História de Lagarto. Nos três volumes, Floriano opta por uma análise mais política, mas sem se descuidar de ressaltar elementos do campo da economia, da sociedade e da cultura.
O historiador Floriano Fonseca se firma cada vez num rico cenário de inúmeros trabalhos sobre História de Lagarto, produzidos nos últimos vinte anos, incluindo livros, seletas, Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. Apesar de ainda insistir em temas que merecem uma atenção mais científica, como as origens do nome Lagarto, seu trabalho se insere entre os mais importantes da seara lagartense de pesquisadores e até curiosos sobre o assunto. Afinal de contas, o que seria da ciência histórica sem o salutar contraditório.
Por todos esses méritos, Floriano Fonseca foi convidado para compor o quadro de fundadores da Academia Lagartense de Letras, em 2013. À época, sobretudo em razão de uma cirurgia, deixou o convite para outra oportunidade. Quando ela veio, a ALL já adotava seu processo eleitoral de escolhas de novos acadêmicos, do qual ele preferiu não participar. As portas seguem abertas.
Aposentado, Floriano Fonseca dedica boa parte de seu tempo pesquisando e escrevendo e também a digitalizar acervos e a lidar com genealogia. É pai de Thiago (falecido) e Rafael (filhos do primeiro casamento com Maria do Carmo Santana Fonseca (falecida); e também de Gabriela e Guilherme (filhos da atual esposa, a Odontóloga Mônica Lúcia da Cunha Fonseca).