ASSUERO CARDOSO BARBOSA: ASSIM NASCEU O POETA

24 de julho de 2020 - 20:34, por Claudefranklin Monteiro

            Quando o assunto é poesia em Lagarto-SE, certamente a principal referência é o jornalista Abelardo Romero Dantas (1907-1979). Autor de diversos trabalhos em prosa, tais como: Sílvio Romero em Família (1960), Origens da Imoralidade no Brasil (1967), Chatô, a verdade como anedota (1969), Heróis de Batina (1973) e Limites Democráticos do Brasil (1975, publicado postumamente em 2009). Na poesia, Abelardo se notabilizou tanto quanto na prosa e isso lhe rendeu inúmeros trabalhos, dos quais destaco Visita ao Rio (1978).

            Na década seguinte ao seu falecimento, suas sementes lançadas em solo até então exclusivo de Sílvio Romero e de Laudelino Freire, apontaram frondosas com novos frutos do talento lagartense. Os anos 80 foram importantes para a renovação da cena cultural de Lagarto, trazendo a lume nomes como o poeta Assuero Cardoso Barbosa, sem sombra de dúvidas, hoje e para a imortalidade, à altura de Abelardo Romero Dantas.

“Antes eu fazia poemas, guardava ou eram expostos nas amostras culturais da Escola de Primeiro Grau Sílvio Romero, onde estudei da sexta à oitava série”. Nos relatou o poeta, nascido no dia 13 de setembro de 1965, filho de Ataíde Cardoso Barbosa e Higino Barbosa do Espírito Santo.

Os avaliadores do 2º Concurso de Poesia. – Academia Itabaianense ...

O ano de 1984 foi um marco em sua vida, graças ao II Concurso de Poesia Falada de Lagarto, realizado no Auditório do Colégio Nossa Senhora da Piedade (Colégio das Freiras). À época, o evento era promovido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura (com Paulo Andrade Prata na condição de secretário) em parceria com Secretaria de Estado da Cultura. As atividades culturais do município eram capitaneadas pelo artista floral Aristides Libório, na função de Agente Cultural.

Assuero Cardoso Barbosa viu que ali era uma grande oportunidade de mostrar seu trabalho para além da esfera estudantil. Ele escreveu o poema NÃO ACEITAMOS DÉBEIS MENTAIS, que compôs em memória ao amigo Jerônimo Almeida, estudante, seu amigo, que havia cometido suicídio, deixando a todos chocados. Segundo Assuero: “ele era conhecido na época pelo potencial intelectual”.

No II Concurso de Poesia Falada de Lagarto, Assuero ficou em terceiro lugar. Na terceira edição do concurso, no ano seguinte, ele levou os prêmios de primeiro e terceiro lugares, além de melhor intérprete: “o evento foi de total importância para que eu seguisse acreditando no que poderia contribuir como pessoa e cidadão lagartense”.

A Associação Cultural de Lagarto (ASCLA), fundada em 1970, conseguiu editar um livreto reunindo os poemas. A seleção dos dez classificados era feita por uma equipe de intelectuais e poetas de Aracaju que enviavam os selecionados para a prefeitura daqui. Apesar do rigor, houve plágios de alguns poemas, segundo Assuero: “Talvez por insegurança de alguns concorrentes”.

Poemas classificados no II Concurso de Poesia Falada de Lagarto, em 1984: 1) Glória na Terra e Alceu no Céu (Lísia Conceição Ferreira); 2) Oposição Direta (Noeme Dias); 3) Não Aceitamos Débeis Mentais (Assuero Cardoso Barbosa); 4) Depois de Você (José Élio de Souza); 5) Convite (Noeme Dias); 6) Medo (Maria do Carmo de Jesus); 7) Sem você (George Monastiliki); 8) Atos das Seca (Noeme Dias); 9) Cara Amarrada (Maria do Carmo de Jesus); 10) Vida e Morte (Leustênisson Mesquita).

Dessa plêiade de novos talentos, que nos apresentou Assuero Cardoso Barbosa para o mundo, destaco a acadêmica Noeme da Silva Dias, da Academia Lagartense de Letras, a primeira grande referência feminina da poesia lagartense.

Passados 36 anos, Assuero Cardoso Barbosa se firmou em definitivo entre os grandes da cultura lagartense e sergipana. Notável e premiado poeta, ele é membro fundador da Academia Lagartense de Letras, ocupante da cadeira de número 2, cujo patrono é o jurista e filólogo Laudelino Freire de Oliveira. É autor de vários livros, com premiações em nível local e nacional. Licenciado em Letras – Português, pela Universidade Federal de Sergipe, também é membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras (ES).

Assuero Cardoso Barbosa interpretando seu poema no II Concurso de Poesia Falada de Lagarto em 1984 (ao fundo, encostado à parede, o artista floral Aristides Libório)

NÃO ACEITAMOS DÉBEIS MENTAIS

Não aceitamos débeis mentais!

Ouvi falar assim certos “sociais”.

Percebi neste momento o quanto

Meu esforço foi em vão.

Eu, Jerônimo Almeida,

Simples sonhador e ser humano

Apagaram minha ilusão

Destruíram meu sonho.

Não aceitamos débeis mentais!

Estas palavras insistiram

Atormentaram meu pensamento

Não me deram chance

de poder mostrar meu talento

De poder mostrar muito mais

Fui vítima injustamente

Não aceitamos débeis mentais!

Estas palavras insistiram

Atormentaram meu pensamento

Não me deram chance

de poder mostrar meu talento

De poder mostrar muito mais

Fui vítima injustamente

Desse mundo de podres animais.

Foi como se tivessem roubado

Meu desejo de vida

Fizeram-me sentir inútil e pequeno.

Optei pela morte, tomei veneno.

Perdoe-me DEUS! Viver aqui? Jamais!

Eu vou para o céu

Pois aí tenho certeza

Que o senhor aceita débeis mentais!

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