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DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (Servir é Reinar)
9 de abril de 2020 - 20:52, por Claudefranklin Monteiro
“Essa é a noite da Ceia Pascoal. A ceia que o Senhor por nós se imolou”. Esse trecho de um canto litúrgico, comumente utilizado na Missa de Lava-pés, no final da tarde da Quinta-feira, me traz inúmeras recordações e saudades. Mexe muito comigo. Vou às lágrimas toda vez que o ouço. Durante anos, desde a mais tenra infância, acompanhado de meu saudoso irmão, Cláudio Monteiro, ouvia esse belo canto ecoar pela voz inconfundível e precisa de Leléu, contador lagartense aposentado, que com maestria empresta seu dom à Paróquia Nossa Senhora da Piedade, tornando os atos da Semana Santa, em Lagarto, ainda mais solenes e contemplativos.
Acho muito significativo o gesto do sacerdote que repete o gesto de Jesus, de lavar os pés das pessoas durante a Santa Missa da Quinta. Eu, particularmente, já pude experimentar essa sensação duas vezes e posso afirmar que toca na gente. E, ao mesmo tempo, nos aponta para importantes reflexões e nos fornece grandes ensinamentos. A mim, em particular, tem me ajudado a compreender as relações de trabalho, familiares e até mesmo relações de poder, de uma forma completamente distinta do que preconizam as convenções sociais.
Nesse sentido, me valho, mais uma vez, de uma canção do Movimento Focolare para refletir sobre aquele momento do Lava-pés. Refiro-me à canção “Servire è regnare”, de Nancy Louise Uelmen, interpretado pelo Grupo Gen Verde. A música compõe a faixa 4 do CD Il mistero Pasquale (2011), que faz-nos penetrar profundamente naquele mistério que deixou os discípulos, profundamente desconcertados e até constrangidos.
Da
canção, destaco algumas passagens muito pedagógicas. A primeira diz: “Guardiamo
a te che sei / Maestro e signore / Chinato a terra stai / Ci mostri che l’amore
è cingersi il grembiule / Sapersi inginocchiare (Olhamos para ti, Oh Mestre e
Senhor / Inclinado à terra está / Nos mostra que o amor é cingir-se com avental
/ Saber ajoelhar-se). A outra, que diz: “E cinto del grembiule / Che manto tuo
regale / Ci insegni che servireè regnare” (Cingido com avental, ensina que
servir é amar).
O Evangelista Marcos traduz bem a missão do Cristo e daí a importância do Lava-pés: “Eu vim para servir” (Mc 10,45). E se todos assumirmos esse propósito, teremos a mesma satisfação de servir como a de ser servido e nesse movimento generoso e sincero, rogando a Deus que venha a ser um dia natural, possamos melhorar nossas relações, inclusive as relações sociais, políticas e econômicas, minando essa estrutura atual de egoísmo, prepotência, arrogância e de ambição.
Isto me encorajou a assumir, de uma vez por toda, uma postura política que vise somente o bem-comum e nada mais do que isso. Precisamos ocupar os espaços que os medíocres e mal-intencionados, em sua absoluta maioria, ocupam hoje, sobretudo nas estruturas de poder, com políticas públicas ineficientes e que só alimentam o círculo vicioso da corrupção e do desvio de verbas públicas. Portanto, sem nenhum valioso serviço prestado às pessoas, principalmente às mais carentes.
Que o servir seja reinar, na perspectiva da canção do Grupo Gen Verde: “Quem se abaixa é / Quem sabe dobrar”. Quem como o Cristo se dispõe, mesmo do alto grau de sua autoridade, de seu poder divino, dobrar os joelhos e lavar os pés dos seus, apontando como se faz para ser feliz e não ser escravo do dinheiro, da fama e do poder. Jesus não perdeu sua grandeza com aquele gesto. Pelo contrário: mostrou-se como se tornar grande, servindo e reinando.
Quando eu fui me alistar no Tiro de Guerra, ocasião em que fui dispensado por conta de estar iniciando meus estudos no Curso de Licenciatura em História da UFS, havia uma frase em letras verdes e garrafais que dizia: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Há quem a atribua a Gandhi, mas à espoca estava como sendo de Olavo Bilac. Nessa mesma toada, penso que o Papa Francisco traduz melhor nossa reflexão: “A vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor”