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Agricultores contornam crise no plantio da batata-doce irrigada em Lagarto
29 de outubro de 2019 - 13:13, por Marcos Peris
A água em abundância para irrigar ano inteiro no Perímetro Irrigado Piauí, administrado pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe – Cohidro em Lagarto, somada à facilidade de plantio e colheita, e o baixo custo no manejo da batata-doce, garantiram o aumento gradual da produção até 2017, quando foram produzidas 1.115 toneladas ao longo do ano. Como o tubérculo era cultivado praticamente sem o uso de agrotóxicos, dois vírus transmitidos pelo Pulgão e pela Mosca Branca atingiram as lavouras, fazendo cair sua produtividade e levando muitos agricultores a abandonar o cultivo. Os que persistiram, contudo, trouxeram ramas-sementes de outras microrregiões sem casos de infestações, e estão conseguindo recuperar o lucro no plantio.
Os vírus do mosqueado plumoso e suave causam clorose irregular, em forma de mosaico nas folhas, provocando o atrofiamento da planta, por vezes acometida pelo nanismo, tendo afetado o seu tamanho e o número de raízes. “A gente não aproveitou nem 20% da safra passada, por causa do vírus. A rama não deu ‘fruto’ nenhum. A gente plantava, mas sem resultados. O prejuízo foi grande com a variedade ourinho. Por isso, agora investimos na batata-doce roxa e na italiana, que renderam muito mais. É a segunda vez que estou apostando nessa safra, mas a do ano passado foi perdida”, explicou o agricultor irrigante Gilvan Lima. Após 35 dias de plantio, sua lavoura de 0,33 hectares da variedade ourinho roxa está sadia. A anterior rendeu 200 sacas/ha.
Para técnico agrícola da Cohidro, Marcos Emílio, contudo, a solução encontrada pelos agricultores é paliativa, pois o reuso das ramas da batata-doce como semente para as próximas lavouras tende a proliferar a doença. “Os produtores plantavam aqui muita batata-doce e, nos anos anteriores, sempre rendia boas produções. Só que no ano passado houve uma queda muito grande. Verificamos que o problema está no material genético, na própria rama da batata. Então, esses dois vírus vão passando de um plantio para outro através da rama. Não precisa nem a Mosca Branca estar aqui, porque as ramas já estão infectadas”, explicou. Ele tem feito o trabalho de conscientização dos bataticultores, buscando sua colaboração para aplicar medidas eficazes para erradicar os vírus.
Marcos conta que, agora, quer fazer parcerias para a produção de mudas sadias, a partir do material genético de plantas sem o vírus. Ele cogita ainda, em último caso, fazer o processo de ‘limpeza do vírus’ nas amostras das batatas-doces que melhor se adaptam ao solo e clima de Lagarto, em um laboratório da Embrapa ou outra instituição. De acordo com ele, a produção de mudas seria feita em viveiro, sem o contato com as lavouras contaminadas, para que os plantios sejam recompostos com matrizes saudáveis. “Na agricultura, você deve planejar e acompanhar o que está acontecendo no campo, para conseguir almejar lucros. Não adianta pegar uma planta doente e colocar no campo. Vai gastar com adubação, perder tempo e não vai produzir nada. É preciso investir certo. Procurar o escritório da Cohidro e fazer o trabalho correto”, orienta o técnico.
Enquanto isso, os irrigantes que persistem com a batata-doce continuam apostando nas sementes trazidas de Itabaiana. Por lá, a produção é bem maior, e toda a lavoura deixa um excedente de ramas não aproveitadas no replantio, muitas vezes utilizadas como ração animal. Produzindo as duas variedades vindas da capital do Agreste, Gilvan afirma que quer mais investir na variedade Ourinho, que anteriormente preferia por ter maior valor de mercado. “A roxa tem um sabor mais doce, bem docinho. Já a italiana não é doce. Vou continuar insistindo na produção dessas duas, porque o mercado pede. Mas a ourinho, eu não quero mais”, conclui.