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Dom Mário: “Tenho quase 76 anos e esperava ainda gozar de saúde plena”
18 de fevereiro de 2018 - 19:39, por Marcos Peris
Portal Lagarto Notícias
Com exclusividade, o Lagarto Notícias entrevistou nesta semana um dos religiosos que mais se destacou em Lagarto e no estado de Sergipe, Dom Mário Rino Sivieri, clericalmente conhecido pela alcunha de “O Servo de Todos”. Com 75 anos, o bispo emérito da Diocese de Propriá falou sobre diversos assuntos, entre eles a experiência de vivida nos últimos dias enquanto esteve internado.
Além disso, o religioso falou do seu episcopado, do seu sucessor Diocesano, Dom Vitor, e do seu futuro que será o de ser o pai dos jovens acolhidos na Fazenda da Esperança São Miguel, onde residirá em breve. Ele também lembrou dos motivos que o fez escolher a cidade de Lagarto como último lar, bem como dos clérigos lagartenses que se destacam Brasil afora.
Mas foi o sentimento de gratidão que prevaleceu durante toda a entrevista, marcada pela irreverência de uma pessoa que não somente foi um agitador da fé, como também um soldado das causas sociais.
Confira a Entrevista da Semana na íntegra:
Portal Lagarto Notícias: Recentemente o senhor afirmou que a sua internação foi digna de uma experiência perante a morte. Como descreveria isto?
Dom Mário: Realmente, sempre temos surpresas e esta foi uma surpresa que me ocorreu justamente no período em que se processava a transição entre o novo bispo. E eu fui internado com um pequeno derrame, então passei umas três semanas no hospital justamente neste período, com muitas coisas para fazer. Mas Deus não quer saber não é? Quando é hora, é hora.
Então enquanto estive internado, procurei colocar a alma no lugar e me entregar a Deus. E essa experiência de entrega a Jesus abandonado foi muito forte para mim, mas que ao mesmo tempo me deu muita paz, me desligando de tudo. A morte nos desliga de tudo. Então a primeira parte dessa experiência é a do desapego total se deixando colocar nas mãos de Deus. Depois, durante a recuperação no hospital, recebi o carinho recebido das enfermeiras, passei por vários exames que não deram nada. Recebi alta e agora estou me recuperando.
PLN: Enquanto esteve internado Dom Vitor tomou posse como novo bispo da Diocese de Propriá. O senhor já teve alguma conversa com ele depois da internação? Que mensagem passou?
DM: Desde a sua nomeação, eu senti uma alegria muito grande porque já o conhecia. Já trabalhamos juntos no setor missionário. Então para mim foi uma alegria muito grande esta decisão do Papa em trazê-lo para a Diocese de Propriá. Quando da nomeação, entramos em contato, via telefono, depois da ordenação e posse, a qual estava em espirito com muita alegria, com muita paz e com o sentimento de dever cumprido. Daquilo que podia fazer, eu fiz. Agora cabe a ele continuar.
PLN: Que avaliação o senhor faz destes pouco mais de 20 anos de episcopado?
DM: A primeira coisa é que não procurei fazer avaliação, porque avaliar significa também ver o que faltou, o que poderia ser feito, o modo como poderia ser feito. Então preferi não me avaliar, mas deixar que os outros me avaliassem até para ficar em paz comigo mesmo. Fiz o que pude, neste sentido, procurei incentivar as várias pastorais e setores sociais. Portanto não me cabe fazer esta avaliação, deixo essa tarefa para Deus.
PLN: O que mais lhe marcou enquanto clérigo?
DM: Foram muitas coisas. Antes de tudo destacaria o número aumentado de sacerdotes, porque pude ordenar 32 padres, não só Dom Dulcênio, mas também outros de fora, o aumento do número dos seminaristas, que neste ano são 15. Na parte eclesial, a catequese, os sacramentos, sobretudo, no encontro com a juventude através do sacramento da Crisma. Também na parte social, o empurrão começado pelos outros bispos, no sentido da posse da terra de quem não as tinham, a ajuda dada as comunidades quilombolas, os Sem Terras. Então foram momentos muito importantes para a nossa vida espiritual.
PLN: Nesses anos, o senhor foi o mentor de clérigos como Dom João, o próprio Dom Dulcênio e Dom Paulo Celso. O que o senhor pensa deles? Como tem observado o trabalho realizado por estes lagartenses?
DM: Deus faz, Deus escolhe. Então eu não tenho nenhum mérito nisso. O único mérito é talvez o de não ter estragado muita coisa, no sentido de ter ajudado quando eles eram seminaristas. Além disso, dois deles foram vigários paroquiais em Lagarto, ajudando muito.
Claro que para mim é uma alegria muito grande três bispos de uma paróquia, a Paróquia da Piedade, o que é um número considerável e muito bom. Isso honra as paróquias da Piedade.
PLN: A partir de agora, o que se pode esperar do senhor?
DM: Nada. Esperar de estar vivo, de contribuir um pouco com os jovens da Fazenda da Esperança dando um pouco da vida a eles.
PLN: Com 75 anos, o senhor escolheu Lagarto ao invés da Itália, onde reside sua família. Diante disso, por que Lagarto? Qual o significado desta cidade para o senhor?
DM: Eu não tinha outra escolha, pois o lugar onde mais morei em minha vida foi em Lagarto. Aqui fui acolhido, aqui fundei a Fazenda da Esperança e também tem uma questão muito prática: a saúde. Antes de vir aqui, devido ao pequeno derrame, já havia a necessidade de estar perto de um centro médico e foi nisso que pensei. Além do fato de que nesta cidade tenho muitos amigos, o que faz a vida ter mais sentido.
Eu poderia ter ficado em Nossa Senhora da Glória, Gararu, mas tinha essas questões. A idade não é mais a mesma, eu tenho quase 76 anos e esperava ainda gozar de saúde plena, mas Deus espera também um pouco de sacrifício através da doença. Também fazer bom uso da doença.
PLN: Quando o senhor anunciou o seu retorno em definitivo para Lagarto, mas especificamente para a Fazenda da Esperança São Miguel, alguns acolhidos demonstraram felicidade dizendo que para eles o senhor é como um pai. O senhor se sente nesta posição paterna entre estes jovens?
DM: Claro que sim, porque a gente dar a vida por estes jovens. Então a gente sente a paternidade com todo o bem que se faz, que repercute também na alegria da gente.
PLN: Que mensagem o senhor deixa para todos aqueles que se preocuparam com o senhor nos últimos dias e que veem acompanhando a sua carreira?
DM: Antes de tudo o sentimento de agradecimento. Estou muito, muito, muito, muito agradecido por aqueles que contribuíram para a construção dessa casa, que é um palacete episcopal (risadas). Eu não me opus a isso, porque sei que esta casa tem uma finalidade também depois da minha morte, que espero também que não seja tão cedo, e tenho esse sentimento de gratidão para o povo que ajudou e que me surpreendeu bastante.
PLN: Então o Servo de Todos vai continuar servindo de acordo as suas possibilidades.
DM: Isso mesmo.