Lello Araújo: “O eleitor de Bolsonaro não é ele, são pessoas cansadas da impunidade”

7 de janeiro de 2018 - 16:30, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

A entrevista desta semana é com o artista plástico e um dos youtubers mais famoso do município de Lagarto, Marcelo dos Santos Araújo, mais conhecido por Lello Araújo. Filho mais velho de três irmãos, o artista nos contou um pouco da sua história, dos projetos futuros, além de tecer comentários sobre a política nacional, estadual e municipal.

Entrevistado da semana

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Além disso, o artista defendeu a adoção de políticas públicas de fortalecimento do combate às drogas, reformas na constituição federal e o fim das cotas raciais. Lello também fez uma avaliação dos parlamentares brasileiros, e dos pré-candidatos rumo ao Palácio do Planalto.

Autodeclarado eleitor de Bolsonaro, Lello aproveitou a oportunidade para esclarecer que quem vota no mesmo é, tão simplesmente, o brasileiro cansado de impunidade e do medo de ser vítima de criminosos.  “Não é porque ele tem atitudes homofóbicas que os seus eleitores também sejam homofóbicos e racistas”, frisou.

Confira na íntegra a Entrevista da Semana:

PLN: Quem é o popular Lello Araújo?

LA: Eu sou um cara que já passou por poucas e boas na vida, pois comecei a trabalhar aos 13 anos vendendo picolé no Balneário Bica, onde também já sai no tapa quando criança. Também já vendi picolé na feira, fui do Movimento Sem Terra, cobrador de topic, até que depois comecei a usar minha arte, que eu era desenhista, em benefício próprio. Então comecei a fazer letreiro e depois migrei para o grafite. Por isso, posso afirmar que toda essa experiência me serviu para aprender pelo menos 50% do que é a vida, como também perceber que este é um mundo de enganação. Uma vez que tomei algumas pancadas com as hipocrisias do mundo.

PLN: Quais desafios encontrados pelo jovem nessa alternância de empregos?

LA: O principal desafio encontrado foi na arte, porque quem é artista em Lagarto sofre com a falta de incentivo. Dizem que “Santo de Casa não faz milagre”, mas eu costumo dizer que ele só não faz se for preguiçoso. Você tem que ir atrás do comércio, divulgar e fazer o produto chegar à mão do cliente. Não dá pra ficar parado.

PLN: Mesmo com essa falta de incentivo, você recebeu o reconhecimento de alguns artistas de renome nacional, graças a sua arte.

LA: Sim. Eu recebi o reconhecimento de Bell Marques, Saulo Fernandes, que sempre fala comigo quando me ver no Carnaval de Salvador, porque quando assisti ao show de despedida dele da Banda Eva, todos se emocionaram, então quando cheguei em Lagarto, decidi fazer uma arte para homenageá-lo. Ele viu, agradeceu, postou nas redes sociais e o meu trabalho ganhou o Brasil.

Homenagem a Diego Costa elevou o nome do artista para o exterior (Foto: Globo Esporte)

Homenagem a Diego Costa elevou o nome do artista para o exterior (Foto: Globo Esporte)

PLN: Este foi o reconhecimento mais significativo?

LA: Foi a dele e a do nosso conterrâneo Diego Costa, pois o que fiz para ele chegou aos Estados Unidos e Espanha, porque eles fizeram uma cópia do que havia sido publicado no Globo Esporte nacional e foi ai que meu nome chegou mais longe. Na época, surgiu trabalho no exterior, mas ai você quer cobrar um preço justo, quando o cliente não quer pagar.

PLN: Você considera que o artista lagartense é valorizado pela sua gente? Ele possui espaços adequados para apresentar a sua arte?

LA: Eu acho que o artista é valorizado em partes, porque se ele for acomodado, ninguém irá atrás dele. Infelizmente, o incentivo a cultura não Brasil é destinado a ações que não vão agregar em nada, enquanto outros artistas têm que procurar a iniciativa privada para se manter.

Em relação praças, acho que elas estão bem. Porém, acredito que as manifestações culturais deveriam ser expandidas para a periferia e para os povoados, porque eles estão centrados demais no centro da cidade. Sei lá, colocavam um ônibus e levava a galera para fazer um furdunço em outras regiões do nosso município.

PLN: Há pouco mais de um ano, você tem se destacado no Youtube com a postagem de vídeos relacionados a personalidades e ao município de Lagarto. Podemos dizer que esta foi uma maneira que você encontrou para valorizar a gente lagartense?

LA: Eu tinha esse canal desde 2003, mas era lá no eixo Rio-São Paulo, até que essa febre voltou no Brasil todo. Diante disso, me utilizei desta plataforma e dos meus amigos artistas para divulga-los para o meu público, enquanto eles divulgavam o meu trabalho para o público deles.

Eu gosto muito de ser irreverente nos meus vídeos, tanto que criei o Catende News, que é um jornal cômico em que damos a notícia fazendo piada. A gente faz ao estilo do nordestino, que mesmo sofrendo nunca perde o sorriso. Claro que isso tudo é possível, porque andamos com os pés no chão, falando de igual para igual, sem alterar o sotaque nem nada. É isso que torna o público mais à vontade durante as gravações.

PLN: Quando o artista se expõe, ele está sujeito a críticas. Diante disso, qual a pior crítica já recebida e como você lida com as variadas críticas que recebe?

LA: Uma das piores críticas é o cara chegar e dizer: “Como comentarista, você é um ótimo pintor”. Sem falar que rolou um caso em que Lagarto todo me abraçou, porque estava rolando uma corrente no Facebook em prol daqueles que têm a Síndrome de Down e o post tinha a seguinte legenda: “Quem acha eles lindo, curta e comente amém”. Ai eu comentei embaixo que eles não eram lindos, mas que eram normais.

Nisso printaram meu comentário e distribuíram nos grupos da cidade toda e fizeram uma cruz em mim, meio que tentando emburrar garganta abaixo que um é melhor que o outro, quando o discurso deveria ser o inverso. Esse tipo de conversa é coisa de gente que quer ganhar curtida com o “sofrimento alheio”, isso exclui mais do que inclui.

Por isso, que eu sou contra as cotas raciais. Chega de falar que o negro é especial, porque Joaquim Barbosa chegou lá sem precisar de cota alguma, muito menos Barack Obama.

PLN: Mas você não acredita que a desigualdade social, que era discrepante no Brasil de 20 anos atrás, aliada a falta de uma educação de qualidade, não torna as Cotas em uma maneira de compensar aquilo que os governos não foram capazes de resolver?

LA: Sim, mas eu penso que isso serve apenas para modernizar o voto de cabresto. Dar uma bolsa de estudo a um preto, enquanto o filho de pobre que seja branco não tem essa oportunidade de receber uma bolsa de estudos.

PLN: Por falar em políticas públicas. O que pensa daquelas desenvolvidas em prol dos dependentes químicos, a exemplo da Fazenda da Esperança?

LA: Acho que primeiramente tem que se valorizar a educação, pois o presidente que chegar lá não vai resolver nada, apenas irá tentar ajustar algumas leis para ver se a máquina começa a andar novamente. Então defendo que primeiramente devemos dar educação de qualidade ao povo, para assim prepara-lo para uma possível legalização da maconha. Porque sendo legalizada, os impostos recolhidos da maconha poderiam ser revertidos em ações de recuperação de dependentes químicos, além de construir e manter os presídios.

PLN: Mudando de assunto. Em Lagarto, o atual prefeito disse ter perdido o “tesão” para governar, enquanto o seu antecessor informou a este portal que tinha a vontade de renunciar logo em seu primeiro ano de mandato. Em sua ótica, por que os gestores de Lagarto estão agindo desta forma?

LA: As leis estão mais rígidas. Antigamente todo mundo fechada o olho, mas hoje a justiça está pegando no pé e cobrando mais transparência. Então o que fica mais difícil, fica ruim de lidar. Quando as leis se fortalecem, o cabresto perde a força.

PLN: Por falar em leis, quem as fazem vivem uma grave rejeição popular devido aos últimos acontecimentos. Mas qual a avaliação que você faz da atuação dos parlamentares?

LA: Na esfera federal, acredito que nosso federal tem trazido boas obras para a nossa região através das emendas parlamentares, que custaram o sim mais rápido do mundo. Mas que bom que serviu para alguma coisa né? Em relação aos parlamentares estaduais e vereadores, acredito que se repete o que ocorre em Brasília, barganha política.

PLN: Quem você considera ser o melhor nome para governar do Brasil: Lula, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro ou Ciro Gomes?

LA: Eu sou Bolsonaro, mas se Ciro vier será um bom nome, uma cara nova. O importante é mudar. FHC fez um bom governo diante do Plano Real, depois veio a Era Lula que desvalorizou a moeda, mas ajudou o pobre e ao nordeste, apesar da sua facção ter sido a que mais roubou o nosso país. Mas é como Bolsonaro fala, o Brasil precisa de um cavalo de pau tanto no ladrão do colarinho branco, quanto no pé de chinelo, porque os Direitos Humanos não estão nos ajudando em nada.

PLN: Nos últimos anos, percebeu-se que não é muito difícil um presidente cair, e Jair Bolsonaro tem propostas muito polêmicas. Diante disso, você acha que ele conseguirá assegurar a sua governabilidade em meio a centenas de parlamentares?

LA: Se ele for eleito, ele terá que levar metade dos aliados dele do Exército. Mas a questão é que ele promete não barganhar apoio político, e se ele não prestar sairá de primeira. O importante é a gente mudar, não dá para ficar um mesmo partido se perpetuando no poder. Quatro anos é tempo suficiente para haver aquela rotação.

PLN: Depois desses últimos anos, como você acha que o Brasil vai sair depois dessas eleições?

LA: O próximo presidente deverá dar uma repaginada na constituição, retirar as brechas, e não querer privatizar tudo o que ver.

Para Lello, eleitorado de Bolsonaro é composto por pessoas cansadas da impunidade

Para Lello, eleitorado de Bolsonaro é composto por pessoas cansadas da impunidade

PLN: Bolsonaro é amado e odiado. Você, enquanto artista e eleitor do mesmo, como lida com esta situação?

LA: Bolsonaro foi rotulado como um homofóbico, devido a algumas atitudes suas durante o debate sobre a Cartilha Gay, que ele conseguiu barrar. Mas não é porque ele tem atitudes de homofóbico que os seus eleitores também sejam homofóbicos e racistas. Nós não somos ele, apenas votamos nele porque estamos cansados de tanta impunidade, sem falar que ele fala para o homem que está cansado de sair na rua com medo de assalto.

PLN: Para encerrar, o quê poderemos esperar do Lello Araújo para 2018?

LA: Em 2018, participarei de uma exposição em Aracaju, na qual levarei 30 telas em homenagem a nossa capital. Depois disso, irei morar na capital para fazer algumas intervenções artísticas, mas continuarei trabalhando aqui e no interior de Lagarto todo.

PLN: Qual mensagem deixa para o povo de Lagarto?

LA: A mensagem que deixo é um pedido para que as pessoas não vendam o seu voto e que não deixem de votar. É muito importante votar, analisar bem o candidato, sair da sua bolha e pesquisar outras bolhas para não ser manipulado.

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