O preço da feira de Lagarto não cabe no poema

10 de dezembro de 2017 - 23:41, por Alexandre Fontes

Portal Lagarto Notícias

Na tarde deste domingo (10), a professora do quadro efetivo da rede pública estadual e municipal de ensino, Isabel Carvalho, publicou em seu perfil em uma rede social e que depois viralizou, um texto sobre os feirantes do município de Lagarto, que nesta segunda-feira (11), se despedem da praça do Tanque Grande, local que comercializam seus produtos desde a construção do Mercado Municipal José Corrêa Sobrinho.

Confira na integra o texto da docente:

Aristóteles, ainda antes de Cristo, nos propõe que “devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida da sua desigualdade”.
Ferreira Gullar, poeta brasileiro, na década de 60, cria o poema “Não há vagas”, o qual até hoje instiga nossos olhares quando diz que “O preço do feijão/ não cabe no poema. O preço/ do arroz/ não cabe no poema./ Não cabem no poema o gás/ a luz o telefone (…)”
Partindo desses dois trechos, hoje tem textão (o que não faço há muito), por talvez entender que isso não faz muito efeito. Mas hoje estou intimamente, profundamente incomodada.
De tantas angústias e incertezas que o mundo nos proporciona no percurso da vida, hoje senti uma angústia sem igual tamanho! 
E o mais interessante é que essa não diz respeito a mim diretamente, porém me doeu verdadeiramente. Deixemos meus sentimentos de lado e vamos à angústia!
Como de costume fomos à feira da cidade comprar nossas frutinhas, verduras e raízes de cada dia e o que constatei nos olhos tristes dos feirantes foi uma sensação de abandono, de impotência e de desolação…
A notícia de que no próximo domingo eles não poderão mais ocupar o espaço que hoje ocupam se tornou uma realidade cruel e injusta!
Temos um mercado lindo, maravilhoso mas que não foi feito para seu José que me vende banana (só banana) nem para seu João que me vende macaxeira, batata e inhame (apenas esses itens)… pois o valor da banca está alto para muitos, além disso é preciso pagar água, luz e uma tal de taxa de “condomínio” (a ser estabelecido) mensalmente, o que torna inviável adquirir a mesma! Como pagar tantas despesas vendendo poucas mercadorias… e por preços tão em conta? Não há condições! Ou tudo terá que aumentar! Não quero nem falar dos marchantes…os que mais sofrem com nossas pechinchas, porque o preço da carne, bem… talvez também não caiba no poema.
Eles (feirantes) não são contra o fato de ter que concorrer à licitação da barraca e pagar taxas… o problema é o valor! É preciso tratar os iguais com igualdade e os desiguais com desigualdade. Diante desse cenário só vislumbro o aumento das desigualdades, da injustiça e claro, das mercadorias.
Queridos vendedores que não compraram bancas no mercado, vocês não estão sozinhos nessa angústia, de maneira muito pequena e incomparável à falta de perspectiva de vocês, eu também não sei onde comprarei minhas frutas e verduras no próximo domingo! Certamente irei ao mercado numa última expectativa de encontrá-los, mas se isso não acontecer, espero revê-los nas esquinas da vida.
Foram tantos “Bom dia, tudo bem?”, “tem dinheiro miúdo?” “Essa é sem carboreto” ou “essa macaxeira é molinha” que será difícil não vê-los nos locais de costume ou talvez não vê-los mais.
Queria muito poder ajudá-los, mas por hora, só tenho essas palavras escritas com o olhar marejado de quem não se conforma com injustiças, mas que também sente-se impotente diante delas.
Ofereço a vocês meu apoio virtual na esperança que ainda haja uma mudança real em tudo isso!
Isabel Carvalho

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