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Irrigantes no Perímetro de Lagarto querem beneficiar e exportar pimenta
7 de dezembro de 2017 - 08:56, por Marcos Peris
Descontentes com a diminuição do preço pago pela indústria local e estimulados pelo interesse de importadores europeus em comercializar seu produto lá fora, produtores de pimenta que são agricultores irrigantes no Perímetro Irrigado Piauí, em Lagarto, estão se mobilizando para montar estrutura fabril necessária para, eles próprios, beneficiarem o produto e alcançarem mais valorização comercial.
A Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro) já fornecia irrigação e assistência técnica agrícola, afim deles obterem melhor rendimento nesses cultivos. Agora, a sua gerencia no polo irrigado presta auxílio ao grupo e busca parceiros para essa nova empreitada.
Em Lagarto, 75km de Aracaju, a produção das variedades de pimenta malagueta, jalapeño e habanero surgiu há cerca de 10 anos e sempre foi impulsionada pela atividade industrial local. Atraídos pelo preço compensativo, produtores irrigantes do perímetro irrigado investiram na implantação de plantações de pimenta. Mas como o tempo e sob influência da crise econômica, o preço de venda decaiu e passou a ser cada vez menos vantajoso investir nesta produção. O produtor irrigante Marcos Melo Menezes que o diga, um dos poucos que manteve a produção de pimenta malagueta na mesma proporção em que iniciou.
“Hoje a venda da pimenta baixou muito. De R$ 10, a malagueta passou para R$ 6, a jalapeño R$ 1,50 e a habanero R$ 2,50. Como produtor, eu fico triste com um negócio desse, e a gente não esperava também”, explicou Marcos Melo. Há cerca de um mês, ele recebeu a visita de representantes de uma companhia holandesa que faz a exportação de produtos agrícolas, do Brasil para outras partes do mundo.
“Eles vieram e foram lá em minha roça, olharam, tiraram (pimenta) para fazer análise. Olharam a do meu irmão lá, foram na propriedade do meu pai também. E chegaram aqui na associação, que tinha uma fábrica de poupa, desativada. Mas eles olharam o galpão e gasta pouco para fazer. E mandou reunir o pessoal que tem interesse de fazer a compra”, relatou o produtor de pimenta.
O técnico em Agropecuária da Cohidro alocado em Lagarto, Marcos Emílio Almeida, acompanhou os visitantes holandeses e está mantendo contato, os informando quanto ao andamento das reuniões que e vem organizando com os produtores e das visitas que tem feito em outras instituições, para buscar auxílio.
“Entramos em contato com o Sebrae e foi sinalizada a possibilidade deles fornecerem uma consultoria especializada aos agricultores, sobre mercado de exportação. Da mesma forma que o BNB (Banco do Nordeste), informou existir linhas de crédito destinadas a fomentar esse tipo de empreendimento agroindustrial, a partir de uma associação ou cooperativa agrícola”, destacou.
Gildo Almeida Lima, gerente do Perímetro Piauí, vem mobilizando produtores e técnicos do Cohidro para o amplo debate, de como pode ser promovido esse avanço produtivo dos irrigantes pimenteiros. “Hoje (5 de dezembro), foi realizada mais uma reunião, com mais produtores que na primeira, crescendo o número de interessados. Infelizmente o dia de paralisação nacional não permitiu a vinda dos representantes do BNB e Banco do Brasil, mas a conversação tem caminhado para um entendimento de ser possível investir na indústria de beneficiamento”, expôs. Segundo ele, os produtores têm interesse de atender a demanda criada pelos importadores estrangeiros da pasta de pimenta, mas também pensam em beneficiar o produto para outros compradores aqui mesmo no Brasil e ainda fabricar a polpa, um processamento pronto para o consumidor final.
Para o presidente da Associação dos Produtores do Perímetro Irrigado Piauí (APPIP), Antônio Cirilo Amorim, “é uma ideia maravilhosa sim, que pode ajudar muito o agricultor, porque ele ultimamente vem sofrendo com a venda de pimenta. O custo de manutenção da pimenta vai para R$ 4, ele entrega de R$ 6 e fica com R$ 2. Não existe condição do agricultor estar no campo dessa forma. Então, estamos organizando a tentar montar uma fábrica para gente mesmo vender nosso produto, porque aí é uma forma de agregar associação, cooperativa, agricultores para ter um fim lucrativo, para que ele possa sustentar sua família, porque do jeito que está é muito difícil”, avalia.
Já o diretor-presidente da Cohidro, José Carlos Felizola, considera frutífera a organização dos produtores buscando melhorar a renda obtida via a agricultura no perímetro irrigado. “Eles já têm a vantagem de contar com a irrigação pública fornecida pelo Governo do Estado, através da nossa empresa e têm também a valiosa assistência técnica rural dada pelos nossos técnicos. Eles têm que se valer disso, para não aceitar qualquer negócio na hora de vender o produto. Usar esse ‘folego’ que a Cohidro dá e buscar novos arranjos produtivos, se isso for necessário. Mas vai depender não só da nossa ajuda e do interesse dos compradores. Têm que se unir pelo interesse comum de obter os meios necessários para valorizar esse produto final”, salienta.
Alternativas de produção
A assistência técnica da Cohidro, dada ao produtor de pimenta no Piauí, vai além da orientação de como produzir e combater pragas. Passa também pelo aspecto econômico e a necessidade de inovar para alcançar a economia. Outro técnico em agropecuária do perímetro é Willian Domingos, que explica bem como isso vem ocorrendo em Lagarto. “Das alternativas de produção que nós estamos tentando baratear o custo da produção da pimenta, a principal é a fertirrigação, que é a adubação via água, que se torna mais barato. E introduzindo o gotejamento, que é uma mangueira no pé da planta irrigando, gotejando. Nisso, ele reduz o custo de mão de obra do produtor e com isso vai baratear muito os custos de produção. Invés de ele ter quatro ou cinco trabalhadores aqui, ele vai ter ele próprio, manejando tudo”, afirma.
Diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Quintiliano da Fonseca Neto, explica que além da tecnologia que pode melhorar o ganho do produtor de pimenta e até a intermediação de novos acordos de comercialização do produto, dentro e fora de Sergipe, a empresa tem influenciado a troca, a alternância e até o plantio consorciado com outros cultivos.
“Em busca de um preço melhor e de um custo mais reduzido de produção, nós temos incentivado os produtores a investirem em variedades que possam ter um custo-benefício mais vantajoso que a pimenta, como a batata-doce. Da mesma forma que incentivamos que coloquem outras plantas entre os canteiros de pimenta, aproveitando a mesma irrigação. Um exemplo bem-sucedido disso foi o maracujá”, conclui.