Clayton Moore: “Valmir tem um secretariado composto, em sua grande maioria, por familiares, ele está passando a mensagem errada para a sociedade”

8 de outubro de 2017 - 16:43, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

Neste mês de outubro, o Portal Lagarto Notícias dará início a uma série de entrevistas com parlamentares da Câmara Municipal de Vereadores de alguns municípios da região. E para dar início, o vereador autodeclarado independente, Clayton Moore (PPS), foi o nosso primeiro entrevistado.

Rápido, prático e firme, Moore fez uma avaliação da Casa de Leis de Lagarto, bem como da administração Valmir Monteiro, que fez parte por exatos três meses. Além disso, o vereador socialista fez algumas críticas no tocante ao funcionamento da Câmara Municipal e do jeito de governar adotado pelo gestor da cidade de Lagarto, considerado por ele como um centralizador que faz dos seus secretários meras “árvores de natal”.

Ainda na entrevista, Moore criticou os vereadores lagartenses, bem como a ligação entre os líderes dos poderes executivo e legislativo. E além de dar uma nota mediana aos gestores das casas citadas, falou do caso Fábio Frank.

Entrevista da Semana

Entrevista da Semana

Confira a entrevista desta semana:

PLN: Quem é Clayton Moore?

CM: Eu sou um sonhador, de personalidade prática. Não gosto de drama, e quando falo de sonhos me refiro a metas e conquistas a serem alcançadas. Por isso, me defino como um sonhador de pés no chão.

PLN: E o que fez o jovem empresário ingressar na política lagartense?

CM: Eu sempre gostei de política, inclusive venho do movimento estudantil, e a tendência natural de quem vem de um movimento destes é atuar no movimento político partidário. Isso nada mais é do que uma vontade de contribuir com a sociedade.

Sem falar que na época o partido estava organizado ao ponto de me conceder o espaço para lançar o meu nome. Além disso, eu nunca me senti representado de verdade e quando isso acontece você não tem que somente culpar os políticos, tem que participar e dar o braço a torcer. Eu entrei para ser o representante que eu queria ter.

PLN: Como você descreveria a sua passagem pela Câmara de Vereadores antes de assumir a Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo?

CM: Apesar da minha inexperiência, eu sempre tentei fazer o meu dever de casa estudando o regimento interno e a lei orgânica do Município, para assim exercer de verdade o real papel do vereador.

PLN: Certa vez, o senhor foi questionado pelo repórter Thiago Farias sobre o trâmite de projetos na Câmara de Vereadores de Lagarto. Na ocasião, o senhor informou que os seus pares somente assinavam e iam embora, além de tecer críticas a transparência da casa. Diante disso, estaria a Câmara de Vereadores de Lagarto aprovando projetos sem o devido debate?

CM: Estaria sim. Na semana passada foi aprovada uma lei, uma reforma tributária, praticamente sem debate e em caráter de urgência. Infelizmente, 12 vereadores aprovaram essa minirreforma.

Foram quatro meses para o executivo elaborar e organizar a proposta relativa ao ISS dos cartões de crédito e planos de saúde, que é importante para o Município e eu sou a favor que esses tributos fiquem em Lagarto, ao invés de ir para São Paulo. Mas eu também sou a favor do debate, e o que fizeram foi aprovar um pacote de leis sem discussão.

PLN: Como o senhor descreveria a tramitação de projetos na Câmara de Vereadores de Lagarto?

CM: Estou visitando várias câmaras de vereadores em nosso estado, e a de Lagarto, graças a Deus, possui funcionários preparados. Sem falar que a nossa casa de leis é uma das poucas em Sergipe que segue a rigor o devido processo legislativo.

PLN: Como é que segue a rigor se o senhor mesmo afirmou que eles não são discutidos nas comissões?

CM: Eles só assinam, mas na prática ele pelo menos passa pela comissão, que não o debate, e que posteriormente elabora o relatório.

PLN: Comissões fantasmas?

CM: Não. Existem as comissões e elas são compostas pelos vereadores, só que esse mesmo assessor que organiza os processos legislativos é quem também organiza e elabora os pareceres, enquanto os vereadores não se dão ao trabalho de debater as propostas. Com isso, eles geralmente só assinam, infelizmente, na prática é assim.

PLN: O senhor acredita que a relação de pai e filho entre o prefeito e o presidente da Câmara influencia na aprovação de projetos a toque de caixa?

CM: Claro que sim. O problema é justamente esse, e eu somente votei no atual presidente da Câmara porque ele me garantiu que seria independente do pai. Infelizmente, nessas horas, acho que essa relação tem de ser mais separada, e ele ver que isso acaba desvalorizando os vereadores, o que consequentemente termina por desvalorizar o povo, que são os nossos representados.

PLN: Por falar no presidente Ibrain Monteiro. O senhor acredita que ele possa ser eleito deputado estadual?

CM: Acredito sim, porque todo mundo tem potencial para ser candidato, principalmente ele com uma estrutura dessas. A prefeitura…

PLN: O vereador Fábio Frank certa vez falou que a fala dos vereadores se equiparavam as de um cachorro. Essa citação, em sua opinião, representa a visão que o povo lagartense tem dos seus parlamentares?

CM: Não. Eu sou contra aprovar projetos em caráter de urgência, mas é a opinião deles e eu tenho que respeitar. Apesar de não concordar com os 12 vereadores que aprovaram aquele pacote de leis, eu sou radicalmente a favor da democracia e da liberdade de expressão.

PLN: Como o senhor acha que a população está avaliando o comportamento dos vereadores? Como o senhor avalia a imagem da Câmara de Vereadores na atualidade?

CM: Quando eu era somente eleitor, tinha uma opinião e dizia que a Câmara era um circo. Hoje estou fazendo de tudo para que a gente não tenha essa mesma imagem, não somente eu, como outros colegas da situação.

Entretanto, o percebo é que o vereadores vão acabar se despertando mais, porque você é uma voz eleita pelo povo. Então tudo que você tem que fazer ou que pensa, tem que ser feito nesse um mandato.

PLN: E o senhor, como avalia a Câmara de Vereadores?

CM: Assistimos a uma mudança de 70% dos vereadores. Então a maioria deles também, por serem novatos, querem fazer algo. Mas na última sessão, eu falei que me sinto membro da ouvidoria do Município, porque a maioria das indicações é relacionada à instalação de quebra-molas, iluminação pública, e para isso a Prefeitura deveria instalar um 0800, justamente para fazer esse link com a população e tirasse esse papel da mão dos vereadores. Isso não é papel do vereador, pois ele tem é que discutir e apresentar projetos capazes de trazer grandes e verdadeiras transformações.

PLN: Em junho, o senhor assumiu a Semict e durante sua gestão o município apresentou quedas seguidas na geração de empregos formais. E quando o senhor pediu exoneração, circulava nos bastidores que o prefeito estava lhe cobrando muito.

CM: Pelo contrário, nunca houve essa cobrança por parte do prefeito Valmir, porque na minha gestão eu procurei fazer uma articulação com os empresários, inclusive me reuni com o dono do Hospital Primavera, estive com Márcio Macêdo, além de visitar outros empresários. Saí numa verdadeira peregrinação para trazer empresários para Lagarto, porque o trabalho daquela secretaria é sempre de longo prazo.

Por isso, não fui cobrado pelo prefeito, tanto que ele me deixou à vontade, só que a gente tem vontade de deixar a nossa marca, mas a máquina pública ainda é muito burocrática.

PLN: Então não saiu magoado?

CM: Deixei a secretaria sem nenhuma mágoa da administração, inclusive agradeço ao prefeito porque quis passar por essa experiência. Mas os ritmos são diferentes, o prefeito concentra tudo nas mãos dele. Ele centraliza todas as decisões, deixando o secretário em posição secundária como uma árvore de natal.

PLN: Se não restou mágoa, por que o senhor voltou ao parlamento com uma posição de independência, abandonando a base aliada do Governo Municipal?

CM: Devido aos três meses que passei na mão dele. Por ele ser centralizador, eu percebi que a mensagem que eu ia passar para as pessoas era que me elegi para ser dependente do prefeito, quando nunca foi esse o meu propósito na política. Eu prometi para o meu eleitor que seria independente na política, e lá realmente eu sou independente, diferente da secretaria onde eu era um subordinado.

PLN: Após adotar tal postura, o senhor passou a ser criticado pela situação e pela oposição. Como o senhor está lidando com esta situação?

CM: De forma natural. Pelo menos eu sou criticado, porque tem tantos vereadores que ninguém sequer lembra que ainda é vereador. Então estou satisfeito, porque as críticas construtivas ou não fazem parte da vida pública. As pessoas têm o direito de se manifestarem e eu respeito. O importante é que estou sendo falado, e quem não tem nada no Google?

PLN: Ao retornar na Câmara, o seu nome foi citado em uma das denúncias que mais agitaram a vida política de Lagarto neste ano, que foi o caso do vereador Fábio Frank. Como foi que o senhor descobriu a irregularidade e por que enviou o caso ao Ministério Público?

CM: Esse caso não me deixou nenhum pouco feliz, porque na época estava pesquisando sobre a agência reguladora e não imaginava nunca que um vereador iria assumir um cargo em comissão numa agência em que a lei orgânica proíbe. E quando, estava pesquisando sobre Fábio Henrique, estava analisando a forma como ela foi composta e seus membros empossados.

Além disso, eu ficava sempre questionando aos vereadores se aqueles membros haviam passado pela sabatina, e os parlamentares da gestão anterior afirmaram que ninguém passou por isso, quando a lei orgânica exige que o indicado seja sabatinado.

Enfim, na minha pesquisa tomei o susto de encontrar o nome de Fábio Frank como ouvidor geral da Agência Reguladora. Diante disso fui pesquisar para saber se não era um homônimo, até concluir que realmente era ele. E ai decidi fazer o meu papel de vereador e denunciei.

PLN: E onde entra a irmã do prefeito?

CM: Eu tenho vários amigos, e um deles foi a prefeitura, porque até então eu vinha criticando o Fábio Henrique, ai chega a Sandra Monteiro, imprime o documento para dar o nome e o salário de Fábio Henrique, mas embaixo estava Fábio Frank. No início criticaram bastante, e no mês seguinte ele foi exonerado da agência.

PLN: Quando a denúncia foi publicada, como ficou o clima nos bastidores da Câmara?

CM: Ninguém acreditou, os vereadores ficaram surpresos e por não acreditar, começaram a questionar se era legal ou não. Mas quando apresentei a lei orgânica do Município, a qual é bem clara ao afirma que o vereador, desde a sua diplomação, não pode assumir este tipo de cargo. Com tudo esclarecido, até hoje espero um pronunciamento do vereador Fábio Frank.

PLN: O senhor esperava uma posição mais enérgica da presidência da Câmara?

CM: Sim. Eu cobrei usando a tribuna, mas o que a gente fala não se escreve. Apesar de ter um ata em todas as sessões, estou preparando uma petição para que a lei se faça.

PLN: A nomeação dele não incorre em crime de responsabilidade por parte do poder executivo?

CM: Quem comete o crime, não o comete sozinho. Eu ainda não tinha analisado o caso por essa parte, mas se for… ele é responsável pelos seus próprios atos.

PLN: E a sua relação com o vereador Fábio Frank, como ficou depois do ocorrido?

CM: Da minha parte tudo está correndo naturalmente. Mas ele não conversa mais comigo. Sei que devemos separar as coisas, também sei que é complicado e chato denunciar um colega de trabalho, mas a gente tem que cortar na carne para dar o exemplo.

Enquanto isso, na Câmara está todo mundo aguardando o presidente se pronunciar. Acredito que já passou da hora dele se pronunciar, inclusive se eu fosse o presidente já teria vindo a público, como aconteceu em Aracaju e Ribeirópolis.

PLN: Em meio a esse turbilhão de coisas ocorridas neste seu primeiro mandato, como se sente o vereador Clayton Moore?

CM: Eu quero aproveitar a energia da idade para tentar por em prática tudo que a gente pensa e sonha.

PLN: Você falou que os vereadores de Lagarto devem pensar grande. Desta forma, qual grande Projeto de Lei você traz para o município?

CM: O meu principal projeto consiste na compensação dos precatórios. Hoje Lagarto deve R$ 7,5 milhões, e as pessoas ficam numa fila eterna para receber esses valores. E com o meu projeto de lei, que está na Comissão de Constituição e Justiça, cujo presidente é o vereador Fábio Frank, o cidadão que é credor do Município poderá utilizar o crédito com a Prefeitura, para compensar a dívida existente entre as partes.

PLN: Quais suas pretensões para além da Câmara de Vereadores?

CM: Ser presidente do Brasil, sério mesmo. Se a pessoa não tem pretensão, não sai do lugar. O que nos dar energia é a pretensão.

PLN: Qual a avaliação que você faz da administração Valmir Monteiro?

CM: Ela tá 50%, porque a gente vem de uma gestão em que o povo ficou carente. Valmir é um bom político, mas ele tem que descentralizar mais. Ele tem que ser mais gestor do que político.

PLN: Qual nota daria ao prefeito Valmir?

CM: Nota 5,0 está bom demais, porque vejo que muitas vezes ele tem vontade de fazer, mas ele ainda tem que pensar em Lagarto numa dimensão maior. Ele deveria ser mais gestor e delegar mais, porque concentrar a máquina toda nele o impede de governar mais. Além disso, ele deveria escolher secretários com independência, porque quando ele tem um secretariado composto, em sua grande maioria, por familiares, ele está passando a mensagem errada para a sociedade.

PLN: Qual nota você dar a Câmara de Vereadores?

CM: 5,0 porque muitos vereadores ainda não disseram para que veio. Enquanto a presidência deve reavaliar as suas atitudes e observar qual o seu verdadeiro papel.

PLN: Qual mensagem você deixa para a Câmara, a administração municipal e para o povo de Lagarto?

CM: O povo aos poucos está se libertando, devido à chegada das universidades e das informações em tempo real, com isso, eles cobram mais da classe política. Portanto, a minha mensagem é que os políticos estejam atentos ao termômetro popular.

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