Irrigantes de Lagarto investem no mamão havaí

28 de junho de 2017 - 10:32, por Marcos Peris

Para dinamizar as culturas exploradas em seus lotes irrigados e incentivados pela demanda criada por novos pontos de comercialização para frutas frescas, como o novo Mercado Municipal de Lagarto, agricultores inseridos no Perímetro Irrigado Piauí investem no plantio do mamão havaí. A variedade precoce começa a produzir em menos de um ano de plantio e pode chegar há dois de colheita contínua. Para tanto, eles recebem o incentivo do governo do Estado, ao serem assistidos pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), no fornecimento de irrigação e assistência técnica agrícola.

Plantio do mamão havaí

Plantio do mamão havaí

Edilma Leal Fontes cuida da plantação de 0,5 hectare (ha) de mamão havaí em seu lote. Nele, ela conta que tem a ajuda da nora que faz a colheita, já que a iniciativa e investimento no plantio foi feito pelo filho, Adjan Leal Fontes. “As mudas foram plantadas em maio do ano passado e começamos a colher, agora (início de junho). Estamos entregando ao comprador à R$ 35 a caixa (30 quilos) do mamão. Foi meu filho que tinha vontade de plantar, eu só ajudo, pois ele trabalha fora”, explicou a agricultora de Lagarto, há 75 km de Aracaju.

A plantação no lote de Adilma é feita usando a microaspersão, que o filho dela tem intenção de melhorar, quando investir futuramente na fertirrigação. “Nesse sistema de irrigação, todo adubo, os nutrientes que a planta precisa, chega diluído na água, aumentando o nível de absorção e eliminando o desperdício da adubação de lance”, argumentou o técnico agrícola Willian Domingos da Cohidro, que assiste o setor do Perímetro Piauí onde está o lote.

A plantação no lote de Adilma é feita usando a microaspersão

A plantação no lote de Adilma é feita usando a microaspersão

A produtora, porém, relata que a maior dificuldade enfrentada no plantio, até a gora, é na classificação do produto, já que os compradores só aceitam aquela peça de mamão havaí de formação uniforme e simétrica, sem deformações e no tamanho padrão de mercado. “Você abre e o mamão é o mesmo. Só é diferente por fora mesmo, mas não querem levar. Do outro tipo de mamão, o redondo, eles pagam só R$ 20 a caixa, nesse, nem isso”, lamenta Edilma.

Willian explica que o manejo indicado aos produtores é de colocar, em cada cova, duas mudas de variedades diferentes, para não haver perda e que por isso pode haver diferenciação no formato dos frutos. “A intenção é de sempre priorizar o mamão havaí, só deixar o do tipo ‘redondo’ se não desenvolver a muda principal”, explica. O técnico ainda conta que o manejo indicado para a plantação de mamão é sempre usar a Calda Bordalesa para cicatrizar os pontos onde há ‘ferimentos’ no caule, seja no desbaste das primeiras folhas ou depois que arrancados os frutos. “Assim evita a proliferação de fungos, que podem até matar a planta”, completa.

Programas de aquisição de alimentos

Para o diretor de Irrigação e Desenvolvimento Agrícola da Cohidro, João Quintiliano da Fonseca Neto, uma forma de diminuir as perdas por conta do rigor da classificação de mercado aplicado às frutas, é fazer parte de projetos governamentais de compra da produção. Nesse aspecto, a Companhia é parceira dos produtores irrigantes dos perímetros estaduais, fornecendo irrigação e a assistência técnica necessária para quem vai precisar produzir o ano inteiro, mas também auxilia as entidades – associações e cooperativas de produtores – na regularização da documentação necessária e formulação de projetos, principalmente na proposta à ‘Doação Simultânea’ que é feita à Conab.

“No PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) da Conab, via ‘Doação Simultânea’ às entidades de assistência a grupos vulneráveis, e no Pnae (Programa Nacional Alimentação Escolar), gerido pelas prefeituras; o produto atende a uma classificação feita a partir de seu valor nutricional, em dietas estipuladas por nutricionistas. Como vai servir geralmente para o preparo direto de refeições não é, por obrigação, avaliado por padrões meramente estéticos e ainda mais de tamanho, já que tudo é comercializado a partir do seu peso. Claro, seja na feira ou nessas entregas, o produto sempre vai ter que atender às exigências sanitárias, tem que estar em estado de conservação apropriado ao consumo humano”, exemplifica João Fonseca.

Plantio no perímetro irrigado de Lagarto

Plantio no perímetro irrigado de Lagarto

Diversificação

Diretor-presidente da Cohidro, José Carlos Felizola considera válido que os agricultores diversifiquem suas produções, avaliando tanto o surgimento de novos pontos de venda quanto à alternância na atividade rural para competir melhor no mercado. Para ele, ainda existe a importância de alternar o status de Sergipe de consumidor para produtor da fruta, deixando de contribuir só com 0,63% da produção nacional, mesmo o Brasil sendo o segundo maior produtor mundial de mamão.

“Não tem como todo mundo produzir a mesma coisa sempre, simplesmente por ser menos complicado ou uma tradição herdada de família.  Assim chega a um ponto de ter que baixar o preço de venda para competir com tanto produto igual no mercado. O Governo do Estado, por um lado dá incentivo na irrigação, na assistência, mas contribui criando pontos de comercialização. Foi assim com o novo Mercado Municipal de Lagarto e em breve teremos duas novas ‘Ceasas’: em Itabaiana, obra do Proinveste, e em Canindé de São Francisco, construída em área da Cohidro. Então, vai aumentar a demanda por mamão e demais gêneros que hoje boa parte vêm de fora. Mais um motivo para investir nesse tipo de produção e gerar renda aqui dentro”, acredita Felizola.

Ampliando o plantio

Josenaldo Da Silva Leal também tem 0,5 ha plantados da variedade havaí no Perímetro Piauí, aonde já começou a colher há 6 meses. Incentivado pelos resultados obtidos, já iniciou nova área. “Acabei de fazer uma colheita desse lote que plantei há 12 meses e tem mais duas plantadas: uma parte iniciada faz 2 meses e a outra há 15 dias, totalizando mais 1 tarefa (0,33 ha) plantada de mamão. Ouvi dizer que era bom e decidi experimentar. Gostei e vou continuar plantando”, comemora o produtor que consegue vender sua produção por até R$ 40 a caixa, utilizando a fertirrigação por microaspersão.

Gerente do Perímetro Piauí, Gildo Almeida Lima informa que gradativamente a produção de mamão só tem aumentado e que os técnicos da Cohidro incentivam a adoção da cultura. “Hoje temos seis produtores irrigantes no Perímetro que aderiram a produção da fruta. Juntando cada uma destas plantações, totalizamos 2 ha plantados com mamão. A tendência é aumentar, conforme for o sucesso de cada produtor que já plantou”, analisa.

 

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