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Verônica Vieira: “Silibrina não é de vândalos, Silibrina é o resgate de um povo”
28 de maio de 2017 - 14:00, por Marcos Peris
Portal Lagarto Notícias
A Entrevista da Semana é com a professora, pesquisadora, coordenadora de meio ambiente nas escolas de Lagarto e organizadora da Silibrina, Verônica Vieira de Oliveira, de 42 anos. Ela que conheceu a Silibrina ao ser largada no meio do fogo, falou das novidades desta e das próximas edições. Além de apresentar as dificuldades na organização deste evento popular da cultura lagartense.
Confira na íntegra:
Portal Lagarto Notícias: Se alguém perguntasse quem é Verônica Vieira, o que responderia?
Verônica Vieira: Eu responderia que sou uma mulher corajosa, simples e de princípios, que acima de tudo busca amar o próximo. Acho que isso me descreve muito bem.
PLN: A senhora possui 24 anos de história lecionando aulas. O que lhe fez ingressar na carreira discente?
VV: Eu amo o que faço, porque faço com o coração. Só o fato de poder ver a criança galgar os seus primeiros passos e lá na frente saber que se tornou um advogado, jornalista e político, por exemplo, para mim é muito gratificante porque sei que tenho um pouquinho ali. Isso foi que me fez lecionar. Eu tenho orgulho dessa profissão, orgulho de olhar nos olhos dos meus alunos e dizer: “Estou feliz por você”.
PLN: Quanto à educação pública no Brasil. Como tem avaliado?
VV: Ser professor é um sofrimento, mas é uma coisa linda e apaixonante. Eu sinto e dói ver que os gestores da educação não dão o real valor aos professores, mas eles têm que saber que para existir um doutor, este tem de passar pelo professor. Então o professor é tudo.
PLN: Quando se fala em valorização da educação não estamos somente falando de pagamento de professores.
VV: Não. Se formos avaliar, veremos que a parte econômica influencia, mas nós não temos respeito, sofremos agressões de alunos que não respeitam o professor, não temos atenção. Então não é a magia que tínhamos há 10 anos, pois hoje lutamos para conquistar. Se a cada 10 alunos, um você olhar nos olhos e saber que ele conseguiu algo, para mim estará de bom tamanho.
PLN: Ainda sobre a educação. A senhora ajudou a implantar em Lagarto a primeira escola do nordeste com os sistemas de aquaponia e hidroponia. Mas antes de prosseguirmos, para que serve tais sistemas?
VV: Um dos objetivos da educação é mudar e ter ousadia no que a gente faz. E foi delegada a mim a função da coordenação ambiental das escolas, e ali eu vislumbrei coisas que estavam faltando no momento. Por exemplo, você chega a uma escola e tem uma área enorme e somente um campo de futebol. Então por que não preencher o tempo ocioso do aluno promovendo a sustentabilidade? Foi ai que surgiu a ideia das hortaliças, plantadas no chão, mas agora surgiram – através das garrafas pets – os jardins e hortas suspensas.
Diante disso, estudei mais um pouco, busquei alguns recursos, como aquele do Banco do Nordeste, onde conheci a hidroponia, que são plantas plantadas dentro de água. Já a aquaponia é a água que está no peixe que serve para o plantio de hortas. Na aquaponia, o peixe fica nadando e os seus excrementos passam a servir como adubo orgânico das plantas. Com isso, você pode ter hortas e cultivas morango entre outros.
PLN: Esse projeto foi implantado na Creche Maria Valderez, com expectativa de ampliar para toda a rede?
VV: Sim, porque ela promove uma economia muito grande. O peixe, com cinco meses, você já pode consumi-lo. Se colocarmos 40 peixes, você vai tirar de 25 a 30 quilos de peixe que serviram para compor a alimentação dos alunos ou ser distribuídos aos pais deles. Sem falar que na estrutura pequena, você ainda consegue retirar hortaliças menores como a folha de couve e tudo que tenha raiz. Na creche estamos produzindo morango, alface e a cebolinha japonesa, sem contar com as ervas medicinais como a insulina, por exemplo.
PLN: Vamos falar de cultura. A senhora já ajudou na organização do Casamento do Matuto e agora da tradicional Silibrina de Lagarto. Como isso aconteceu?
VV: Eu morava de frente a seu Vavá, uma pessoa digna de se tirar o chapéu, e nisso um ia pedindo a ajuda do outro para fazer algo. Além disso, eu sempre gostei de quadrilha e de festa do povão. Em 1996, quando vim para Sergipe, fui convidada para assistir uma festa diferente pela minha prima, que me largou dentro do fogo e eu não sabia se eu chorava, se eu corria ou se gritava. Porém, me tiraram de dentro e fiz uma promessa de no outro ano ir armada e colocar todos para correr. De lá para cá, peguei amor e que amor foi esse que estou há oito anos a frente da Silibrina.
PLN: Quais as dificuldades de se organizar um evento cultural em Lagarto?
VV: São muitas porque não temos um espaço. Apoio é muito pouco, porque a gente consegue apenas o básico, mas o grande mesmo que é correr atrás de documentação e tudo nós não conseguimos. Para mim, a pior parte é começar a fazer documento em março para entregar ao promotor, e até hoje ser chamada por ele. Entretanto, ele está no direito dele, tiro o chapéu e dou os parabéns a Dr. Antônio Carlos Nascimento, porque do jeito dele, ele cobra, a gente tem de fazer e faz. Mas acho que se tivéssemos espaço, não precisaríamos enviar tantos documentos.
PLN: Na organização, a senhora é durona?
VV: Um pouquinho, porque tem de ser. Quando digo que quero agora, aquilo tem que ser feito na mesma hora. Tem momentos que eles brincam comigo, justamente por isso, mas para a Silibrina é como uma casa que precisa de uma mulher para colocar ordem.
PLN: Em 2017, a Silibrina foi colocada no calendário cívico-cultural de Lagarto. Até que ponto essa lei pode beneficiar o evento?
VV: Eu venho lutando por essa lei há nove anos. Em 2016, eu consegui com o vereador Enilton da Farmácia colocar essa lei em votação, porque a Silibrina não tem apenas 94 anos. Segundo o historiador Floriano, ela tem mais de 150 anos de história, mas apenas 94 de computada.
Hoje nós estamos no calendário do município, mas onde está a ajuda? A única coisa que mudou foi que o promotor nos chamou menos, mas a ajuda financeira até agora nada. Mas estamos estudando criar a Associação dos Amantes da Silibrina, para ai sim podermos correr atrás de recursos, porque os gestores não podem entregar o recurso para qualquer pessoa que se diga organizador do evento. Eu compreendo o lado deles.
PLN: Quais os próximos passos em relação à Silibrina?
VV: Agora vamos lutar para que a Silibrina torne-se a festa tradicional do Município, para que quando formos comemorar o centenário, ela já esteja fazendo parte do Estado. A partir dai, buscaremos tornar a Silibrina em mais um evento que componha a cultura do nosso Brasil, que é nosso maior sonho. Para alcançar isso, estamos buscando a imprensa televisiva, que sabemos ter maior influencia.
PLN: Em entrevista, a senhora afirmou que em 2017 a Silibrina retornará às origens. Até onde ela retornará as suas origens? Até que ponto ela não estava correspondendo as suas raízes?
VV: A ideia inicial da Silibrina era uma guerra de dois grupos, que ficavam nas pontas de uma rua, guerreando com espadas sem a intenção de machucar, e depois eles faziam um cortejo pelas ruas da cidade brincando com os fogos. Mas, infelizmente, hoje não podemos mais fazer o cortejo devido aos vândalos. Entretanto dará para fazer isso no nosso espaço porque ele é afastado da cidade e não possui residências.
Outro resgate será a volta da Mesa do Diabo, a qual os convidados sentam-se a mesa, comem a vontade por debaixo de muito fogo na hora que estão subindo no mastro. Essas coisas realmente ocorreram e nós estamos resgatando as nossas raízes.
PLN: Qual outro resgate pode-se esperar para a próxima edição?
VV: No próximo ano recuperaremos a Dança do Mastro, que não dará para ser feita nesse ano por causa da vestimenta. Mas a zambumba tocará, e na derrubada do mastro ela vai ressoar. Enquanto o pífano vai chorar devido à derrubada da árvore, porque tudo tem uma história por trás.
Então nesse ano, nós vamos apenas começar o resgate para que no próximo ano a gente prepare um grupo de pessoas para dançar em volta do mastro, rodar e rodopiar como manda os parafusos e como manda a própria música da Silibrina: “Ôh de casa, ôh de fora”.
PLN: Sobre a edição 2017, muito já foi noticiado, mas qual novidade ainda continua em sigilo?
VV: A surpresa do mastro é que esse ano vai um caminhão munck somente para desfilá-lo pela maior parte possível das artérias lagartense, mostrando que nós temos cultura. Já no dia 31, nós vamos disponibilizar bons prêmios, graças aos nossos colaboradores.
Além disso, nesse ano, às 23h, nós teremos fogos ao céu, que é o chamado para a Mesa do Diabo. Vamos ter um forró pé de serra em cima do mastro, para quem quiser dançar debaixo do fogo. Sem falar que nesta edição disponibilizaremos ótimos prêmios para quem quiser subir no mastro, mas em compensação nós banharemos o mastro com sebo de carneiro. Se o interessado conseguir pegar os prêmios no alto e descer com ele, bem.
PLN: Qual mensagem a senhora deixaria para o povo de Lagarto?
VV: Ame e valorize o que é nosso, porque Silibrina não é de vândalos, Silibrina é o resgate de um povo. Lagarto ame o que vocês têm porque vocês são lindos. Como diria Lavoisier, “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.