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José Uesele, um mestre que não se curvou diante das suas limitações físicas
15 de março de 2017 - 05:30, por Marcos Peris
Portal Lagarto Notícias
Em março deste ano, o professor José Uesele, de 32 anos, tornou-se mestre em história, pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Mas o que chama a atenção na história deste docente, com passagem pelas redes municipal, estadual e privada, é que ele conseguiu vencer a maioria das barreiras que a vida de um portador de necessidades especiais pode oferecer.
Com apenas 10% de sua visão e com uma alta sensibilidade a luz, Uesele contou ao Lagarto Notícias que durante toda a sua vida enfrentou dificuldades, chegando a sofrer bullying durante a infância. “Eram aqueles apelidos carinhos que eu nem gosto de comentar, mas usei isso como um trampolim para vencer as dificuldades e realizar os meus sonhos”, relembra o atual professor do Colégio Estadual Abelardo Romero Dantas, o Polivalente.
José Uesele, que já sonhou em ser jogador de futebol – “como todo garoto” – e jornalista, decidiu seguir na carreira docente devido a influência que os professores Claudefranklin Monteiro e Fernando Bezerra exerceram sobre ele ainda no ensino médio. “A forma como eles cativavam seus alunos em sala de aula me encantava muito. O Fernando pela sua forma carismática de dar aula e se aproximar do aluno, e o professor Claudefranklin por ser um cara muito profissional, que tem a capacidade de tornar a história viva, em suas aulas”, argumentou José Uesele.
Influenciado pelos citados historiadores, Uesele formou-se em História pela Faculdade José Augusto Vieira (Fjav), e passou a ministrar aulas na Escola Nossa Senhora das Graças, a popular Fundação, no Colégio José Augusto Vieira (Cjav), Colégio Frei Cristóvão, e Polivalente, o qual substituiu o professor Claudefranklin Monteiro que havia partido para a UFS. Após oito anos de docência, ele volta aos bancos da universidade, onde passa dois anos produzido uma tese de mestrado intitulada: A História e a Cultura Festiva do Brasileiro nas Narrativas de Silvio Romero.
Segundo o professor Claudefranklin, orientador de Uesele, durante a feitura da tese o último foi tratado com toda a normalidade de um aluno sem necessidades especiais, mas lembrou que este precisou muito da ajuda de outras pessoas para concluir a empreitada. “Ele foi um aluno dedicado e atencioso, que demonstrou vontade de aprender e superar as suas limitações”, destacou Monteiro.
A ideia de trabalhar Sílvio Romero foi maturada durante toda a graduação de Uesele, através da ajuda do professor Claudefranklin. “Sílvio Romero é um filho da terra que tem várias facetas, e na monografia estudei como ele analisava o comportamento do brasileiro no século XIX. E quando voltei para a universidade, Claudefranklin já estava lá e me ajudou a trabalhar um outro aspecto do Silvio Romero, que era o seu lado folclorista, ou seja, estava estudando como ele observava a cultura popular. Para isso trabalhei as obras relacionadas aos cantos, os contos e a poesia popular do Brasil”, falou o mestre em história.
Ainda durante a feitura da tese, Uesele precisou de mãos amigas para auxiliá-lo no translado Lagarto – São Cristóvão e para a travessia do mestrado durante os dois anos. Este último, o ajudou principalmente a ler os materiais necessários. “Eu precisei de muitas mãos amigas para atravessar esse processo”, relembra Uesele, que para ler precisa levar o livro para o seu rosto, deixando-o a distância de um palmo ou menos dos seus olhos.
Após receber o título de mestre, Uesele voltou a sua rotina diária ministrando aulas de história e artes no Colégio Polivalente, e outras disciplinas na Faculdade Dom Pedro II. No colégio estadual, o lagartense desenvolve projetos ligados ao teatro. As suas últimas realizações foi a organização de um concurso de poesia e a apresentação de uma peça, no dia 24 de janeiro deste ano.
Com o sentimento de superação por ter conquistado o mestrado, Uesele que será pai nos próximos meses, acredita que quando as pessoas sonham e acreditam neles, é possível realiza-los.
“Se a gente pegar o número de portadores de necessidades especiais no ensino superior, veremos que é um percentual muito baixo. Se observarmos esse número no mestrado, ele vai cair, no doutorado ele diminui mais ainda. Então, superação é uma palavra que carrego comigo. Superar as limitações a cada dia, é assim que eu me sinto”, concluiu José Uesele.