Arlete Hora: “Hoje a mulher não fica mais cozinhando em casa”

12 de março de 2017 - 13:15, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

Dando continuidade à rodada de entrevistas com personalidades femininas, nesta semana o Lagarto Notícias conversou com Arlete Hora, de 77 anos. Ela foi responsável pela fundação da primeira boutique do município de Lagarto, a popular Arleza Boutique.  Enquanto a sua mãe foi a idealizadora do Asilo Santo Antônio.

Arlete Hora esbanja disposição

Arlete Hora esbanja disposição

Sempre muito alegre e disposta para enfrentar o mundo, durante a entrevista dona Arlete contou um pouco da sua história, e relembrou os tempos em que enfrentou um centro comercial formado exclusivamente por homens.

Além disso, a ativa empresária de 77 anos revelou alguns dos seus segredos para manter a saúde e uma empresa por exatos 46 anos. Confira a Entrevista da Semana na íntegra:

PLN: Quem é dona Arlete Hora?

Arlete: Sou filha de Getúlio Hora e Maria José Hora, que foi a responsável pela fundação e construção do Asilo Santo Antônio, o asilo dos pobres. Hoje, eu olho para aquela obra e só lembro da minha mãe, que está enterrada na capela de lá.

PLN: De onde foi que surgiu a ideia de construir um asilo em Lagarto?

Arlete: Isso foi ideia da minha mãe e quando ela pensava em fazer alguma coisa, ela ia e fazia.

PLN: Os pais da senhora foram pioneiros no setor de comércio no município de Lagarto. Como a convivência com eles influenciou a senhora?

Arlete: Desde muito pequena eu trabalhava com meu pai. E eu entrei justamente no período em que as lojas estavam se modificando, pois naquela época se vendia muito tecido e chapéu. Além disso, o comércio daquela época não era como hoje, que a gente tem de lidar com as tendências da moda, o que me faz viajar muito para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Dona Arlete no período em que ingressou na carreira empresarial

Dona Arlete no período em que ingressou na carreira empresarial

PLN: Então foi durante a sua administração que a loja largou de vez os tecidos e ingressou na boutique?

Arlete: Sim, porque durante a transição a gente vendia os tecidos para fazer a roupa e as peças de roupas já prontas. Então acontecia que quando o cliente não tinha dinheiro para comprar uma peça pronta, ele comprava o tecido e mandava fazer aquela peça. Foi quando percebemos que estávamos sendo concorrentes de nós mesmo, daí acabamos com a venda de tecidos e nos dedicamos a venda de roupas prontas e de qualidade.

PLN: Somente a senhora quis dar continuidade ao comércio do seu pai?

Arlete: Sim, são três irmãos. Um é primeiro tenente da Marinha e mora no Rio de Janeiro, ai eu já tinha possibilidade de viajar pra lá para fazer compras. Ai eu achei tudo fácil e decidi seguir comercializando. Fui a única que quis dos três filhos.

PLN: Quais foram as dificuldades encontradas em sua vida comercial?

Arlete: Graças a Deus, eu não enfrentei dificuldade alguma, porque o comércio era pequeno e eu manobrava com todo mundo. Agora que tá cheio, você tem de estar sempre alerta. Hoje, tem mais boutique para vender do que gente para comprar né?

PLN: Como a senhora se sente tocando, por tanto tempo, um negócio de família?

Arlete: Me sinto muito bem. Estou continuando e quando eu deixar tem os meus três filhos, que já estão trabalhando comigo e que irão tocar o negócio adiante. Até meu neto que se formará em Direito nos próximos dias, também gosta de vender. É uma empresa de pai para filho e vai continuando.

PLN: Crises são constantes e a senhora toca a sua boutique há exatos 40 anos. Como a senhora lida com elas?

Arlete: Não existe essa crise toda não. Essa repercussão toda é porque o povo fala demais, porque eu não vi crise nenhuma. Só que há tempos em que a gente vende menos, ai já dizem que é crise, mas estamos atravessando isso tranquilamente.

PLN: Qual o segredo para manter um negócio por 46 anos?

Arlete: O segredo é você saber comprar. Se você ver que as vendas estão diminuindo, então você obrigatoriamente tem de comprar menos, porque você já tem o crédito e não pode desperdiça-lo. Você compra o necessário desde que pague tudo certinho.

PLN: E qual é o segredo da comerciante dona Arlete?

Arlete: É a honestidade, porque ai todo mundo adula você para poder vender. Além disso, tem a fé e a confiança.

PLN: Como a senhora analisa o comércio de Lagarto atualmente?

Arlete: Acho que está muito melhor do que quando entrei, porque naquela época as pessoas eram mais humildes e hoje as mulheres estão empregadas, tendo o seu dinheirinho, além de termos uma universidade na cidade. Hoje a mulher não fica mais cozinhando em casa.

PLN: Há 46 anos a presença da mulher no comércio era ínfima.

Arlete: Naquela época o comércio era formado por homens, apenas de um tempo para cá que a presença feminina nas negociações aumentou. No tempo de meu pai, só era homem e as mulheres para cozinhar. Mas eu ficava lá no meio, não enfrentei dificuldade nenhuma. Agora, hoje eu me encosto mais porque tenho meus filhos, ai fico no meu canto lendo, porque eu adoro ler.

PLN: Quais seus autores preferidos?

Arlete: Zibia Gasparetto, Augusto Cury e outros que agora eu não vou lembrar. Mas eu leio direto.

PLN: Qual o segredo para se manter firme trabalhando aos 77 anos de idade?

Arlete: Até agora eu não sinto nada, mas além de ler, eu costumo fazer caminhada.

PLN: O que todo comerciante deve ter em mente para não falir?

Arlete: Eu não quero crescer mais não, porque está tudo bom. Mas acho que querer pegar o mundo com as pernas, não dá. O comerciante tem que ir devagarzinho porque irá enfrentar tempos bons e ruins, mas tudo tem de estar equilibrado.

PLN: Mudando de assunto, a senhora enquanto mulher se sente representada na política?

Arlete: Acho que a representatividade feminina poderia melhorar, mas eu prefiro não falar sobre esse assunto.

PLN: Qual a mensagem que a senhora deixaria para todas as mulheres do mundo?

Arlete: Que elas se embelezem, que andem bem arrumada e bem chique. E também que se alegrem para poder enfrentar o mundo com mais alegria.

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