Pesquisadores exploram Furna do Dorinha após 88 anos da primeira sondagem

9 de março de 2017 - 09:08, por Marcos Peris

Na cidade de Simão Dias, interior do estado de Sergipe, existe uma cavidade natural conhecida localmente pelo nome de Furna do Dorinha, cadastrada no CNC/SBE – Cadastro Nacional de Cavidades da Sociedade Brasileira de Espeleologia com o nome de Abismo de Simão Dias, sob o código SE-8.

Furna do Dorinha

Furna do Dorinha

A cavidade consiste em um abismo com desnível de 50 metros e no fundo um lago, com profundidade máxima explorada até 26 metros. Em seu histórico de exploração há um relato da década de 1928, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, pelo historiador Carvalho Neto, sobre a primeira exploração realizada, por um padre, transcrita a seguir:

À borda se lhe acercaram vários habitantes da cidade, colimando todos o alvo de desvendar o mistério. Levando cordas de caroá, que foram, depois de ligadas umas às outras, atadas a um tacho. Estava pronto o aparelho de exploração, e pouco depois desaparecia, tragado no abismo, o explorador audaz. Não profundou muito; uma lage, como formando um grande batente de gigantesca escada, interceptou-lhe a descida. Daí, porem, conseguiu despedir uma vazilha, que apanhou, em baixo, no fundo desconhecido, um pouco da agua cristalina e salobra.

Pesquisadores em Simão Dias

Pesquisadores em Simão Dias

E subi, após, guindado a braços pelos companheiros apreensivos, o primeiro valente que se aventurou à sondagem da Furna.
Além de tal façanha, dessa cavidade é recorrente também uma história sobre um personagem local chamado Seu Dorinha. Antigo proprietário das terras por volta da década de 60, de grande influência na região, o que se conta é que não tolerava desmandos e o destino dado por ele para quem os praticasse era o fundo do abismo…

Nos anos 90 o extinto CEA – Centro Espeleológico de Alagoas, grupo pioneiro na espeleologia Sergipana, realizou explorações e mergulhos no abismo. Em 2003, no 27º Congresso Brasileiro de Espeleologia membros do CENTRO DA TERRA publicam um artigo sobre uma carapaça fossilizada de quelônio encontrada no abismo em 1997 e a partir de então realizam algumas explorações nos anos seguintes.

Passados 88 anos da primeira sondagem do abismo e 19 anos depois do achado do fóssil, uma missão conjunta em parceria com o CENTRO DA TERRA, Ministério Público Federal/SE, Corpo de Bombeiros de Sergipe, Laboratório de Ambientes Aquáticos da UFS, SCUBASUL Cursos de Mergulho/PR, com o apoio da Prefeitura de Simão Dias, realiza uma nova exploração de reconhecimento para avaliar o potencial arqueológico e paleontológico e as condições de mergulho no lago para uma futura expedição.

Exploração na Furna

Exploração na Furna

A atividade aconteceu nos dias 13 e 14 de dezembro de 2016, inicialmente com a instalação de uma plataforma flutuante para os trabalhos da equipe aquática e que facilitará as próximas explorações já previstas para 2017.

Com o mergulho foi possível confirmar a existência de condutos submersos e correntes de água, bem como indícios de potencial para achados arqueológicos e paleontológicos. Por outro lado, o espeleomergulhador relatou a presença de resíduos sólidos descartados no abismo, como pneus, canos de PVC, além de troncos e galhos de árvores que dificultarão futuras atividades científicas. Na ocasião foi retirado do lago um tanque de motocicleta ainda com combustível, que felizmente não vazou o que seria um impacto ambiental de proporções consideráveis para o aquífero subterrâneo da região.

Todo o trabalho, resultado de parceria entre o MPF/SE e CENTRO DA TERRA, teve participação operacional do Corpo de Bombeiros, apoio da Prefeitura de Simão Dias, acompanhamento de dois arqueólogos da Universidade Federal de Sergipe, além da imprescindível participação e apoio do espeleomergulhador Roberto Baracho, da SCUBASUL – Escola de Mergulho de Curitiba/PR.

Uma nova expedição já está sendo planejada para o primeiro semestre de 2017 com intuito de remoção de resíduos poluentes do lago do abismo, bem como ação de conscientização e informação espeleológica das comunidades residentes no entorno.

Pesquisadores na entrada do local

Pesquisadores na entrada do local

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