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IRMÃOS MACEDO: OS BEATLES DA BAHIA ELÉTRICA
28 de fevereiro de 2017 - 01:53, por Claudefranklin Monteiro
Corredor da Vitória, dia 25 de fevereiro. Meu coração quase não se continha no peito, quando avistei, pela primeira vez em minha longa estrada de fã, num final de tarde, sob árvores altas e frondosas, o Trio Elétrico Armadinho, Dodô e Osmar, no formato do Fobicão.
Tudo para mim era novidade. Primeiro carnaval em Salvador. E com minha primeira namorada, hoje minha esposa, a Professora Patrícia Monteiro. Como toda a primeira impressão é a que fica, ficou a alegria de ter vivido aquele momento. A sensação de uma fantasia, de um sonho realizado.
Posto isto, tive que conter as emoções, não menos as lágrimas, para fazer também às vezes de estudioso e de articulista do Lagarto Notícias, privilégio este proporcionado pelo amigo Alexandre Fontes. Portanto, meu olhar precisava ser cuidadoso e acurado, poético e astuto.
Outrossim, impossível não deixar de notar a correia que sustentava a lendária guitarra baiana de Armandinho, personificada com símbolos dos Beatles. Mais precisamente, do álbum Sargent Peppers. Ou ainda, o terço que revestia a mão de André, segurando firme o microfone. A serenidade de Beto. E a simpatia de Aroldo.
Personagens que sempre habitaram minhas brincadeiras de infância, meus arroubos de juventude e meus carnavais da fase adulta. Ali, diante de mim. De meus olhos. Nunca como das outras três ou quatro oportunidades, uma delas, inclusive, em Lagarto, Sergipe: berço das origens da família Macedo, em que pese o fato de o avô de Osmar, Osmundo Tolentino, ter sido de lá.
Sobre o assunto, uma bandeira de Lagarto e outra de Sergipe, levadas pelo colega, Professor Antônio Carlos e família, tremulavam ao sopro do vento gostoso daquela noite de carnaval baiano, sobre as grades do trio, chamando a atenção de todos na avenida e também da equipe de produção, bem como dos familiares do grupo.
Como bom beatlemaniaco que sou, desde 1992, resolvi traduzir minhas primeiras impressões do grupo com uma metáfora, a meu ver, bastante apropriada, para representar a importância histórica dos quatro para a história cultural do carnaval baiano.
Antes, permitam-me lembrar a meus leitores, que estamos diante de um fenômeno musical que está próximo de completar 70 anos. Segundo a família, tudo começou com os amigos Dodô e Osmar, que desde os anos 40, realizavam experimentos que deram na criação do pau-elétrico (guitarra baiana) e assim, desde 1950, o trio e a pipoca (nome dado a um grupo de foliões que vão atrás do trio elétrico, sem corda).
A propósito, “Pra que corda” é o tema da nova canção do grupo, em 2017, que traduz bem o seu espírito e a marca dos carnavais baianos, de rua. Bem como, a essência de suas canções, entre elas, o sucesso “Chame Gente”, dos anos 80. Elementos que pude testemunhar, de cima do trio, como na alegria estampada no rosto e nos braços abertos, no meio da multidão, do Professor Milton Araújo, da UFBA. Ou nas lágrimas escorrendo do rosto de Patrícia, quando curtia o verso “Eu queria que essa fantasia fosse eterna”.
Voltando à metáfora a que me referia antes, todo o cenário em volta me reportava à musicalidade londrina dos Beatles. Jovens garotos de uma cidade portuária, Liverpool, como Salvador, cuja longevidade cultural só pode ser explicada pelo conjunto de ações e sentimentos que os moveram.
Nesse sentindo, vê-los em ação, mais uma vez, e agora em seu palco por excelência, o trio, não houve como não estabelecer inúmeras associações, sobre as quais, devo me ater, por ora, a apenas aos seus personagens, a eles, os filhos da alegria.
Armandinho, identificado à Jonh Lennon, com sua genialidade e também ao seu gênio “louco”, com a boca aberta e olhos vivos, a dar voz à guitarra. Aroldo, a Paul MacCartney, a sensibilidade, o talento e a liderança. Beto, à candura de Ringo, que em muito recria a figura do saudoso Osmar. E finalmente, ele, a voz do trio, como na canção “Cantor do Brasil”, André, que em muito lembra George Harrison, pelo timbre particular e pela religiosidade.
E foi assim, meu primeiro carnaval em Salvador. Com chave de ouro. Um abre-alas à altura da história da boa terra, num rio de gente inundando o circuito Osmar, no Campo Grande. Sob as bênçãos de Deus e do poeta, na Praça, na raça, com a massa, com amor, atrás e em cima do trio elétrico Armandinho, Dodô e Osmar.