Carnaval de Salvador 2017 será marcado por homenagens

9 de fevereiro de 2017 - 18:36, por Allan Bahia

Três grandes figuras ligadas à folia e à cidade serão especialmente lembradas este ano: Mestre Didi, Pedrinho da Rocha e Cristóvão Rodrigues

Por: Hahstags Se / Secom

Se a folia na capital baiana é considerada atualmente uma das maiores festas populares do mundo, muito se deve a pessoas que ajudaram a construir e divulgar a música e a cultura da cidade para todo o planeta. Não à toa, a festa a cada ano rende homenagens a estas figuras e no Carnaval de Salvador 2017 a história está longe de ser diferente. Somente este ano, três personagens serão reconhecidos de forma especial durante os festejos: Mestre Didi, Cristóvão Rodrigues e Pedrinho da Rocha.

O sacerdote, escritor e artista plástico Deoscóredes Maximiliano dos Santos, conhecido como Mestre Didi, será lembrado na cerimônia de abertura do Carnaval, a ser realizada na quarta-feira (22), na Praça Municipal. Os 40 carnavais do designer Pedrinho da Rocha serão comemorados pelo bloco Sarapa na abertura do Fuzuê, pré-Carnaval a ser realizado no sábado (18), a partir das 15h, no Circuito Orlando Tapajós (contrafluxo Ondina-Barra). Com meio século de cobertura da folia, o radialista Cristóvão Rodrigues dará nome à sala de imprensa montada pela Prefeitura no epicentro da folia. Vale conferir momentos marcantes destespersonagens.

 

Mago – Ao declinar do título de criador único da principal indumentária do Carnaval moderno – o abadá –, Pedrinho conta que desembarcou por acaso na folia. No final da década de 1970, um grupo de amigos pediu a ele para criar um adesivo, comumente utilizados em carros, para divulgar o Traz os Montes. O bloco em 1980 inovaria o cenário com a introdução de amplificadores transistorizados em substituição aos equipamentos valvulados.

A iniciativa garantia maior potência e qualidade sonora, além de deixar em evidência a voz do cantor. “Naquele tempo, quem puxava o bloco era uma banda chamada ‘Scorpius’, que mais tarde se veio a se chamar Chiclete com Banana. Foi nesta época que comecei a trabalhar como designer, primeiro de forma amadora, mas foram surgindo trabalhos aqui e ali”, explica.

 

À época, o Carnaval ainda era dominado pelas cores e desenhos clássicos das mortalhas, grandes camisões de tecido que já vinham sofrendo mudanças de forma e tamanho desde os anos 1960. Elas perduraram em grande escala até o início da década de 1990, quando Pedrinho da Rocha, mais uma vez, entra em cena. Mesmo sem deixar a originalidade, as artes plásticas voltadas para o Carnaval foram perdendo características, e já afetava a decoração das ruas, dos trios elétricos – que já não possuíam o aspecto teatral de anos anteriores – e também o corpo do folião.

“Em todo canto percebia-se uma evolução tecnológica e isso, enfim chegou à fantasia. Naquele momento, cogitar abolir a mortalha do Carnaval era algo impensável. Era como se fosse sugerido, por meio de um decreto, o fim da venda do acarajé. Em 1992, fui chamado para criar a fantasia de carnaval do Bloco Eva, e decidi sugerir uma homenagem à capoeira. Eles não aceitaram a ousadia. Quando isso acontecia eu oferecia a ideia para outras empresas e acabei acertando com o Cheiro de Amor”, conta Rocha.

Ele complementa: “Acontece que, com a mortalha, os foliões saíam às ruas obrigatoriamente com a mesma fantasia, não havia roupas para dias diferentes, o que gerava certa fidelidade a determinado bloco. Até que, em 1994, aproveitando-se da artimanha dos consumidores de trocar de fantasia com um amigo de outro bloco, o Eva acreditou na ideia de fazer uma fantasia para cada dia de festa. Criou-se esse mix que se vê atualmente, com a venda de pacotes para agremiações diferentes”, afirma em relação ao abadá – termo que, originalmente, diz respeito a uma túnica folgada utilizada por escravos malês.

Obras literárias – Filho de uma das mais conhecidas ialorixás da Bahia, Mãe Senhora, do Ilê Axé Opô Afonjá, Mestre Didi foi um escritor de extensa obra literária – entre 1946 e 1989. Dedicou-se a diversas formas de expressão artísticas, tendo na escultura a vertente mais reconhecida. Nascido em 1917 e morto aos 95 anos, em 2013, a arte de Didi explorava elementos comuns à cultura ancestral africana como contas, couro, e plantas.

Reconhecido tardiamente, ele integrou um grupo de artistas de todo o mundo que, em 1989, participaram da mostra “Magiciens de la Terre” (Mágicos da Terra), realizada em Paris. Sua primeira exposição na terra natal ocorreu em 1996, com uma sala especial na 23ª Bienal de São Paulo que, nos anos seguintes, seguiu exibindo sua arte.

“Meu pai completaria um século de vida este ano e essa homenagem é muito gratificante para a família e toda a comunidade do axé. Temos consciência da importância e da contribuição histórica que o trabalho dele tem para cultura da Bahia e do Brasil. Além disso, a lembrança da Prefeitura veio logo em seguida à restauração da obra no Rio Vermelho”, afirma José Félix dos Santos, sacerdote do Ilê Asipá, fundado por Didi em 1980.

Uma das obras mais conhecidas do artista é o Cetro da Ancestralidade, que está exposta na Rua da Paciência, no Rio Vermelho. A peça foi restaurada em 2016 pela administração municipal, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM), após sofrer vandalismo. A escultura de bronze tem 7 metros de altura e foi produzida em 2001.

Sala de Imprensa – Com atuação há meio século no jornalismo, Cristóvão Rodrigues iniciou a transmissão da folia momesca no ano de 1967, na Rádio Sociedade da Bahia. Nessa época, a festa ainda acontecia apenas na Avenida Sete de Setembro. No início dos anos 1980, ele começou a fazer o programa de rádio “Em dia com a noite” na então 97,5 FM, hoje Itapoan FM, época em que ele iniciou o contato mais forte com a música feita na Bahia.

O radialista viu de perto o novo ritmo musical conquistar as rádios do mundo. Revelou artistas como Sarajane, Daniela Mercury, Márcia Freire, Márcia Short, Carla Cristina, Cátia Guimma, Gilmelândia, Margareth Menezes, Ivete Sangalo e Cláudia Leite. É hoje uma das principais referências da história da folia em Salvador.

A Sala de Imprensa Oficial do Carnaval vai funcionar diariamente, das 9h às 21h, na Praça 2 de Julho (Campo Grande), próximo aos praticáveis de rádio e TV e camarotes oficiais. O espaço vai dar suporte à imprensa local, nacional e internacional e contará com computadores, telefones e internet sem fio. A sala também vai funcionar como redação da Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) durante a folia momesca e para a realização de coletivas diárias.

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