- PUBLICIDADE:
- Minas Telecom
- Hábyto
- Consultoria em Marketing
- OX
- VIDAM
Claudefranklin Monteiro: “Todos os livros e escritos que já fiz na minha vida são como filhos, e com filhos, não podemos ter prediletos”
21 de agosto de 2016 - 13:40, por Marcos Peris
Portal Lagarto Notícias
A Entrevista da Semana é com o professor e historiador Claudefranklin Monteiro, de 42 anos. Foi mais uma claríssima aula de história sobre a política, a religião e porque não acrescentar também o povo lagartense.
Durante a entrevista, Monteiro nos contou sobre o lançamento do seu próximo livro, intitulado Contradições da Romanização da Igreja no Brasil – A Festa de São Benedito em Lagarto (1771-1928), além de boas histórias sobre a religiosidade católica e da disputa histórica na política de Lagarto.
Ele também comentou sobre o ato de profanação ocorrido no Santuário Mariano Diocesano de Nossa Senhora da Piedade, e lembrou que em seu altar um padre já foi assassinado devido a um desentendimento com um mandatário da época. O historiador também fez duras e sinceras críticas à disputa política entre os agrupamentos Bole-bole e Saramandaia, e às jovens candidaturas lançadas pelos mesmos.
A Entrevista da Semana está incrível. Acompanhe na íntegra:
Portal Lagarto Notícias: Quem é o professor Claudefranklin Monteiro?
Claudefranklin Monteiro: É um sujeito esforçado que durante toda a sua vida procurou superar as dificuldades e encarar os desafios, sempre buscando manter a serenidade, focando na melhoria de vida e trabalhando coletivamente. Eu gosto de trabalhar coletivamente.
Meu irmão Claudemir, sempre diz que nós somos guerreiros, talvez a ideia de guerreiro me caiba de alguma forma, mas penso que das palavras as que melhor me definem são a persistência e a confiança.
PLN: O senhor escreve há 20 anos, como surgiu essa paixão? Alguém te influenciou?
DCM: Essa coisa de ser escritor surgiu naturalmente na minha vida, como todas as coisas. Na época, eu era professor do Laudelino Freire e tive o privilégio de conhecer um dos sujeitos mais significativos da cultura lagartense, que é o poeta Assuero Cardoso. Além disso, tive a felicidade de me tornar amigo dele, trabalhávamos juntos, e nessa conversa constante houve o estreitamento da amizade e Assuero, com a sua sensibilidade, notou que eu tinha uma facilidade para a escrita e para a comunicação.
Certa feita, nós estávamos comendo um acarajé na calçada da Câmara de Vereadores e ele me fez a seguinte indagação: “Por que você não escreve para o jornal de Raimundinho?”, eu o respondi questionando o quê escreveria e ele disse: “Você não tá se formando em história? Então por que você não escreve sobre aspectos históricos de Lagarto?” Eu gostei da proposta, procurei Raimundinho, o qual disponibilizou um espaço para mim, até que em julho de 1996 eu publiquei a primeira matéria como experiência. Depois disso, o jornalista Emerson Carvalho me estimulou a continuar na imprensa escrita, criei gosto e de lá para cá já publiquei mais de 300 artigos e matérias entre jornais, revistas e sites.
Digo isso com muita alegria e agradeço a essas três pessoas.
PLN: A gente percebe que o município de Lagarto é muito ativo no mundo da comunicação, temos vários portais de notícias, rádios e um dos primeiros jornais coloridos do Estado surgiu aqui. Como o senhor observa esse fenômeno?
DCM: Estou à frente de um Projeto de Iniciação a Pesquisa (PIBIC) na Universidade Federal de Sergipe que tem como responsabilidade organizar e digitalizar o acervo jornalístico do professor Emerson Carvalho. Ele possui, em seu acervo, jornais que vão desde 1954 até a presente data. Nós organizamos esses jornais em 80 pacotilhas e estamos neste ano disponibilizando esse material para curiosos e pesquisadores. Ao dizer isso, confirmo essa vocação histórica do lagartense para a comunicação. Obviamente primeiro a escrita, mas há muito tempo atrás, quando não se imaginava ter rádio, nós tínhamos a Radiofon que era um serviço de autofalante que existia aqui em Lagarto, até hoje nós temos o Radiofon, depois vieram as emissoras de rádio e agora os veículos midiáticos, a exemplo de Lagarto Notícias. Então realmente existe na essência do povo lagartense essa vocação para a comunicação.
PLN: Voltando para o seu trabalho como escritor. Qual das suas obras, o senhor considera a mais especial e por quê?
DCM: Essa pergunta é a mesma coisa que chegar para um pai e perguntar para ele ‘qual o filho predileto?’ A gente nunca vai responder essa pergunta porque todos os filhos são prediletos, mas temos um carinho a mais ou a menos por uma obra.
Eu gostei muito de fazer uma obra, que foi resultado na minha dissertação de mestrado, que é o livro Através do Brasil Uma trajetória centenária, mas também tivemos livros ao nível da história de Lagarto como o mais recente que trata dos 50 anos da Banda Los Guaranis, sobre a vida de Monsenhor Daltro, além de projetos individuais e coletivos como o Saramandaia versus Bole-bole Uma cidade em pé de guerra, mas eu diria que este que está no forno talvez seja o mais importante da minha carreira, sobretudo porque é resultado de uma tese de doutorado e é sobre Lagarto.
Além disso, os críticos sempre me cobraram um livro sobre a história de Lagarto. Mas esse último talvez seja o que a gente tem um carinho maior porque ele ainda não nasceu, mas todos os livros e escritos que já fiz na minha vida são como filhos, e com filhos, não podemos ter prediletos.
PLN: Daqui a pouco falaremos este filho que está para sair. O senhor escreve há 20 anos, mas por quê seguiu a carreira de historiador?
DCM: A coisa da história na minha vida também foi natural. Aos 15 anos de idade tive uma passagem pela cidade de Fortaleza, naquela época as férias duravam três meses. E lá em Fortaleza, eu acompanhei todo aquele processo de redemocratização pela televisão, o Movimento Diretas Já, a eleição indireta do presidente Tancredo Neves, depois a morte dele, e esses fatos que vivi nos anos 80 marcaram muito a minha vida.
Além disso, meu irmão mais velho, que é a minha principal referência de vida, José Claudio Monteiro Santos, o saudoso professor e vereador José Claudio, ele era formado em história. Então ao me identifiquei com os fatos históricos vividos em 84 e 85, e ao saber que ele era formado em história e que era professor, aquilo ascendeu uma luz na minha cabeça até que eu comecei a sacar que essa coisa de ser professor, como foi meu irmão e padrinho Claudio, também era um caminho que eu podia seguir. Aos 15 anos, eu tinha a convicção que queria ser professor de história devido a afinidade que tive com os fatos históricos que vivi durante o fim da ditadura militar.
PLN: Por falar em história, desde 1995 o senhor tem se dedicado a pesquisa histórica de Lagarto. Então nesses 21 anos de pesquisa, o que mais chamou a atenção do Claudefranklin Monteiro no campo da política e da religiosidade lagartense?
DCM: Eu sempre me identifiquei com as questões religiosas. Quando assumi a condição de historiador sempre me chamaram a atenção os fatos relacionados à religiosidade do povo lagartense, porque isso faz parte, não só os aspectos religiosos mas também culturais. Claro que aqui e ali também naveguei na história política, que não é o meu forte. O meu forte é história cultural de Lagarto, tendo como mote principal a religiosidade católica. Essa pesquisa me deu mais gosto a partir do momento que conheci a obra do saudoso Adalberto Fonseca, nas quais fui percebendo que alguns aspectos da história de Lagarto precisavam ser ajustados ou acrescentados. Então por volta de 1997, quando me aproximei de Adalberto e seus escritos, me senti na obrigação de poder contribuir com a história de Lagarto. Diante disso, me debrucei sobre a história de Lagarto, fui criando gosto, e fui me aperfeiçoando na prática da pesquisa histórica, como também ao nível acadêmico.
PLN: Durante essas pesquisas, o que mais lhe chamou atenção?
DCM: Sobretudo a religiosidade popular. Eu sempre fui fascinado pelas procissões, pelas promessas, pelas devoções aos santos, é tanto que a minha tese de doutorado foi sobre a devoção a São Benedito em Lagarto por considerar que era uma devoção popular muito significativa, e que ao longo dos anos foi perdendo as suas características e sua importância. Então o que mais me chama atenção é a vida dos padres, e sua relação com a sua comunidade, com as festas populares, a devoção a Nossa Senhora da Piedade e também a relação deles com os outros segmentos religiosos.
PLN: E no campo político?
DCM: O primeiro trabalho da gente sobre a história de Lagarto foi uma obra, na qual organizei reunindo os textos de Alaílson Modesto e das professoras Raylane Santos e Patrícia Monteiro, que é o livro Saramandaia versus Bole-bole Uma cidade em pé de guerra.
Então, dentro da história política de Lagarto, o que mais me chamou a atenção foi essa animosidade, essa luta pelo poder a qualquer custo, essa cidade dividida entre dois segmentos políticos, notadamente duas famílias: Reis e Ribeiros que se revezam no poder e dividem essa cidade. Por isso, sugerimos aos autores que o título fosse Uma cidade em pé de guerra porque isso é o que melhor define Lagarto, não só no período Saramandaia e Bole-bole, mas também no período que o antecede quando tinha os Pebas e os Cabaús e outros segmentos políticos. Então o que me chama a atenção na história política de Lagarto é a briga dessas famílias que se revezam no poder, e não dão espaço para outras formas de poder.
PLN: Ainda sobre história de Lagarto. Por que o senhor discorda que o nome da cidade de Lagarto surgiu por causa de uma pedra?
DCM: Durante uma palestra ministrada por Adalberto Fonseca, quando eu tinha uns sete anos, ele apresentava duas hipóteses sobre o nome de Lagarto. E essa origem por causa da pedra sempre me pareceu estranha, porque como é que o nome de uma cidade é baseado numa pedra que não se tem indícios de sua existência? Então diante dessa dúvida, eu achei melhor investir na segunda hipótese que é a origem familiar, que era mais lógica, e que quando fui me aprofundando na pesquisa, tive mais convicção disso.
O nome Lagarto seria originado do nome de uma família portuguesa-espanhola ou Galego-Portuguesa, que é a família Lagarto, porque o pai do fundador do lugar Lagarto que é Antônio Gonçalves de Santomé tinha um pai que se chamava Cristóvan Lagarto. O sobrenome do pai dele era Lagarto, então a lógica cientifica, o raciocínio histórico levava a esta convicção. Claro que a pedra não perde o seu encanto e Lagarto passa a ter duas explicações: uma mitológica, porque não tem base histórica, e uma histórica que considera que o nome se origina do nome de uma família portuguesa.
PLN: Voltando para a religiosidade que é o seu principal foco na pesquisa histórica. Qual foi o ápice da religiosidade em Lagarto?
DCM: Quando falamos em religiosidade temos que considerar o catolicismo, que foi a religião que colonizou a região que chamamos de Lagarto junto aos portugueses, o protestantismo que só chega em Lagarto em 1911, pela região do povoado Urubutinga e os outros seguimentos religiosos que vão surgindo com o tempo. Ou seja, passados 400 anos de história, o catolicismo ainda é a força religiosa mais intensa, de tal sorte que essa religiosidade marca a história de Lagarto, ela diz – efetivamente – quem é o povo lagartense.
E de tantos acontecimentos envolvendo a religiosidade católica, me parece que o auge dela foi o Congresso Eucarístico de 1979 estudado recentemente em livro pelo historiador e diretor comercial deste site, Alexandre Fontes. Claro que há vários eventos marcantes no campo da religiosidade católica, mas, ao meu ver, pela importância e por tudo que significou, acho que aquele acontecimento foi o mais importante dessa religiosidade católica cristã do povo lagartense.
PLN: No dia 07 outubro deste ano, o senhor lançará o livro “Contradições da Romanização da Igreja no Brasil – A Festa de São Benedito em Lagarto (1771-1928)”. O que o povo de Lagarto pode esperar dessa obra?
DCM: A gente pode chamar esse livro de história de Lagarto, mas ele é um livro de história do Brasil. É um livro em que eu vou tratar de um episódio da história do Brasil, que corresponde aos séculos XVIII, XIX e a primeira metade do século XX, onde a Igreja Católica estava passando por um processo de reforma que ficou conhecido pelo nome de Romanização, que passou a determinar novas formas de ser católico e se fazer católico no mundo inteiro.
Então, o meu livro estuda os reflexos dessa Romanização, que foi um processo internacional, a nível de Brasil e para tanto escolhemos Lagarto. E escolhi Lagarto porque eu tinha uma dívida histórica com o município, pois na graduação e no mestrado eu não estudei temas sobre a história de Lagarto. Então uma vez tendo a necessidade de fazer o doutorado resolvi dar a minha contribuição para a história de Lagarto. Com essa obra espero deixar o meu nome – em definitivo – gravado entre aqueles que contribuíram para a história de Lagarto.
PLN: O senhor pode citar alguns exemplos do reflexo da Romanização em Lagarto?
DCM: Entre as coisas que a Romanização mais batia firme, no sentido de reformar a instituição, era no sentido de que a Igreja Católica abandonasse uma postura popular e fosse mais clerical. E a consequência dessa mudança para Lagarto foi o desmantelamento, o desencorajamento e o desaparecimento de uma devoção, que foi se deu nível da devoção a Nossa Senhora da Piedade, que era a devoção a São Benedito.
A devoção a São Benedito chegou a Lagarto junto com a devoção a Nossa Senhora do Rosário, tanto uma quanto a outra eram devoções ligadas aos negros e escravos. Esta era a forma que a igreja tinha para manter essas pessoas convertidas ao seu lado. Então a Romanização – a partir de um dado momento – vai procurar desencorajar essas devoções e práticas populares, e a Igreja começa a estimular outras devoções, chamadas de devoções concorrentes, e dentro do tecido histórico de Lagarto, São Benedito foi ficando de lado e acabou dando espaço para outras devoções como por exemplo a devoção a Santa Rita, Santa Teresinha e São José.
PLN: Mas foi Nossa Senhora da Piedade que ficou marcada na cidade. Por quê?
DCM: Nossa Senhora da Piedade se torno a grande devoção dos lagartenses. Uma devoção que se mistura com a história do município porque quando se funda o povoado Santo Antônio em 1604, a população embrionária sofreu um problema de saúde e os Carmelitas – vindos de Riachão do Dantas – vieram para cuidar dos doentes. E nesse processo de cura, eles invocaram Nossa Senhora da Piedade e se curaram, Ela operou um milagre. E uma vez operado o milagre, esse lugar deveria ter o nome dela e não mais do santo português.
PLN: Ainda sobre religião, neste mês vimos ocorrer um ato de profanação no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, mas na história de Lagarto e pelo que tem pesquisado, há algum outro registro de intolerância religiosa que marcou o município de Lagarto?
DCM: Já tivemos casos sim de depredação das coisas da igreja, mas não ao nível da intolerância. Eu lembrava recentemente numa missa que o Templo de Nossa Senhora da Piedade já viveu algumas situações constrangedoras como a daquele sábado fatídico em que um sujeito quebrou algumas imagens do altar.
Eu me lembro por exemplo que Lagarto já teve um padre assassinado no altar por causa da política, o padre Caetano, salvo engano. Isso aconteceu na primeira metade do século XIX, naquela época o padre tinha contrariado um mandatário político da cidade – para você perceber que esse ranço político vem de muito antes de Saramandaia e Bole-bole – e me parece que com a ajuda do sacristão, o cálice dele foi envenenado, só que o padre Caetano só percebeu que o vinho estava envenenado na hora em que ele foi consagrar o vinho porque o veneno reage com ouro e prata, a depender do metal, e o padre percebeu que o metal tinha mudado de cor, mas não quis mudar o vinho devido a sua fé.
Então diante disso, mesmo sabendo que iria morrer, ele vai para a frente do altar, comunica as pessoas que o vinho – agora sangue de Cristo – está envenenado e que não pretende jogar fora, que pretende se sacrificar em nome do cristo, convida os presentes a participarem do sacrifício, no que ninguém se prontificou, e o padre toma o vinho e prontamente tomba no altar morto.
Mas diante desse e de outros fatos não podemos dizer que houve casos de intolerância religiosa antes, esse que aconteceu naquele sábado fatídico foi o primeiro.
PLN: O senhor acha que essa tradição vai continuar?
DCM: Eu quero que ela mude. Eu sonho com uma Lagarto livre dessas amarras políticas. Minha família é de origem Saramandaia, e a maioria ainda o é, mas eu, particularmente, tenho procurado assumir a postura de me livrar dessa mácula de tempos em tempos, sobretudo neste de eleição. Sinto-me constrangido com tudo isso.
Tenho amigos nos dois grupos. Eu contribuí (gratuitamente) no campo cultural, com todas as administrações, sobretudo com as de Valmir e de Lila. Publiquei meu primeiro livro de poesia, Centrifugação, na administração do Secretário de Educação, João Gustavo. Todos eles sempre me prestigiam em meus lançamentos e em alguns projetos. Respeito todos eles, apesar das mancadas com os meus colegas do magistério. Entretanto, cansei de ser apêndice e anulado, ou enfeite bonito; de tapinhas nas costas e de momentos vãos. Eu não gosto do rótulo Saramandaia, como também não gosto do rótulo Bole-bole. Não nasci para ser gado marcado. Não estudei para isso. Não quero isso para meus dois filhos: Pedro Franklin e Júlia Gabriele.
Até já quis ser Vereador ou Prefeito, mas como Raul Seixas, eu não quero ser besta para bancar fama de herói. Sou vacinado (risos). E minha esposa, a Professora Patrícia Monteiro, entende que meu papel é na tecedura da história e na sala de aula, formando pessoas e gerações.
Acho que o lagartense precisa estar mais livre dessas amarras e disponível para pensar outras opções. Eu mesmo, sonho com nomes como o do meu confrade, Doutor Deijaniro Jonas, para prefeito de Lagarto devido às qualidades que ele apresenta. Nós estamos precisando de prefeitos que tenham a cara do Lagarto de hoje. Uma Lagarto universitária, que tem uma Academia Lagartense de Letras e que tem uma juventude cada vez mais consciente e ativa, porém carente de oportunidades concretas de educação e saúde, emprego e renda, diversão, cultura e esporte.
PLN: Como o senhor avalia essa disputa entre Bole-bole e Saramandaia no município de Lagarto? Foi bom ou ruim?
DCM: A disputa em si foi péssima. As obras até podem merecer um justo elogio. Entretanto, nos últimos 40 anos, o tempo em que essas pessoas que fazem parte desses grupos passaram brigando, perseguindo uns aos outros das piores formas possíveis, foi um tempo de prejuízo para Lagarto, dado que eles poderiam usar as suas competências – porque eles têm as suas competências – para contribuírem para o desenvolvimento do município aqui e acolá. Eles poderiam ter beneficiado mais o município do que ficar disputando o poder pelo poder e ficar dividindo as famílias.
Então, numa avaliação geral do processo, Saramandaia versus Bole-bole foi mais prejudicial para Lagarto do que benéfico. Entre prós e contras, eu diria que a existência desses dois grupos no município – capitaneadas por famílias ou por amigos das duas famílias – só prejudicou o município. Eles perdem muito tempo, capacidades e energias na disputa do poder pelo poder.
PLN: O senhor acredita que essa disputa histórica tem prazo para acabar?
DCM: Sendo otimista, eu acredito que nas próximas eleições municipais (não estas, de 2016). E poderemos até nos surpreender com esta, não sei bem. Eu penso que sinais de efetivas transformações já possam acontecer algum dia com as respostas que o eleitorado vai dando. Mas acho muito difícil de acabar, pois o povo lagartense precisa de uma educação política mais consistente e da presença de nomes diferenciados, mais preparados e mais preocupadas com o coletivo e menos com o grupo.
Há quem discorde do que penso e até me chamem de ingrato ou algo do tipo, mas, a meu ver, enquanto esses grupos continuarem existindo e definindo os rumos do município, os lagartenses irão penar um bocadinho. E quem paga com tudo isso é essa juventude, que ao chegar num determinado momento da sua vida, não encontra sólidas perspectivas a não ser empregos provisórios oferecidos como moeda de troca por um grupo ou outro.