José Uelinton: Veneramos as imagens como lembrança, coisa que os protestantes não entendem

14 de agosto de 2016 - 14:33, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

A Entrevista da Semana é com o mais novo diácono da Igreja Católica, José Ueliton dos Santos, de apenas 29 anos. Durante a breve entrevista, Ueliton nos contou um pouco da sua história, da sua rotina dentro do seminário, dos seus objetivos de vida, bem como fez um breve comentário a respeito do ato de profanação ocorrido no último dia 6 de agosto no Santuário Mariano Diocesano de Nossa Senhora da Piedade.

Entrevistado da Semana

Entrevistado da Semana

Ueliton é devoto de Santo de Agostinho, segundo ele, porque se identificou com a história do santo que largou a vida mundana para se dedicar a Deus. O jovem que é natural do povoado Várzea dos Cágados, zona rural de Lagarto, e afirmou que para ele, “ser padre já basta”.

Portal Lagarto Notícias: Quem é José Ueliton?

José Ueliton dos Santos: José Ueliton é um cara jovem com cara de criança. Além disso, me coloco como um cara humilde e simples, que são coisas que meus formadores sempre destacaram, e uma pessoa muito dedicada e esforçada para vencer na vida.

PLN: Qual o seu objetivo de vida?

JUS: Meu maior objetivo é servir a qualquer pessoa, é servir e ser feliz. Pois é isso que importa: ser feliz com o que faz.

PLN: Antes de seguir pro Seminário, você pensava em fazer outra coisa?

JUS: Antes de ingressar no Seminário, eu estava cursando matemática na Faculdade José Augusto Vieira aqui em Lagarto, e eu trabalhava no Hiper-Gbarbosa. Mas antes de concluir o ensino médio, eu trabalhei numa panificação como balconista em Aracaju, não deu certo, voltei pra Lagarto, comecei a trabalhar no Gbarbosa, onde passei dois anos, saindo de lá fui para o Seminário. Embora nunca tivesse pensando em ser padre.

PLN: Quando foi que você achou que era o momento certo para seguir a vida religiosa?

JUS: Em 2007, na ordenação dos padres: Iran, Jodeclan, Ilmar e Gildeon, no momento da ordenação, eu me senti comovido e como nós sabemos que a vocação vem de Deus, é um chamado. Então Deus nos chama de vários modos e em qualquer circunstância, o padre Fábio de Melo foi atraído para ingressar no seminário pela piscina do seminário.

Está em Jeremias 23 que Deus nos chama desde o ventre materno, isso é bíblico, mas eu descobri que deveria seguir pro seminário aos 20 anos durante a ordenação desses padres.

PLN: Como o Seminário mudou a sua vida?

JUS: Antes do Seminário, Uelinton era uma pessoa que gostava muito de farra, tinha namorada, sempre estava nas festas, nas micaretas e nos bares para se divertir com os meus primos e amigos, nós estávamos sempre passeando, dançando quadrilha que é algo que sempre gostei. Depois de entrar pro Seminário, Uelinton ficou mais calmo, claro que eu não deixei de gostar de dançar, mas eu fiquei mais tranquilo, bem mais sereno.

PLN: Como foi para o Ueliton ter de renunciar as coisas mundanas estando tão jovem?

JUS: Deus vai nos capacitando, quando ele chama, ele sabe que aquela pessoa é capaz de fazer tal renúncia. Além disso, ele também vai nos modelando aos poucos, e isso fez com eu me deixasse levar pela formação. E na formação, que a gente sabe que é a voz de Deus, os formadores vão nos orientando a tal objetivo porque Deus vai nos convencendo.

Para quem está de fora é complicado entender isso, mas quem está dentro sabe muito bem que Deus é capaz de modelar qualquer ser humano que se permita ser transformado e eu, diante do que acredito, fui deixando ele fazer o seu trabalho em mim.

PLN: Mas no começo você resistiu a essa transformação?

JUS: No início, eu fiquei em dúvida se entrava ou não porque diante daquele chamado, o padre Everton foi o primeiro a dizer: “Olha, eu vejo algo diferente em você”, e na época ele era seminarista, e eu fiquei encucado com aquilo, e diante daquilo, naquele momento, eu estava um pouco afastado da igreja devido à idade e resisti. Mas depois eu voltei a participar das missas, e nessas idas eu me sentia mais atraído pelo seminário, Deus vai nos colocando essa vontade porque o desejo não parte de nós, é Deus que dá o início de tudo e a gente vai apenas correspondendo.

PLN: Como foi a reação das pessoas ao saberem que você seguiria para o Seminário?

JUS: Alguns primos perguntavam o que eu iria fazer lá, mas quando é o chamado de Deus a gente não ouve esses comentários. Em contrapartida, eu tinha medo de comunicar a meu pai, porque ele tem um temperamento muito forte, mas eu comentei com Dona Nivalda, que é da família mas é um pouco distante, porém pedi para que não contasse a ninguém. Depois eu a liberei para falar pro meu pai, até que um dia, durante um almoço com meu pai, ele começou a chorar e me perguntou se eu queria mesmo ser padre, respondi que sim e ele falou que me apoiava em qualquer decisão que eu tomasse, e que se não desse certo, eu poderia retornar para casa. Depois disso, eu fui pro seminário.

PLN: Como é viver dentro do Seminário?

JUS: Para viver no Seminário é necessário ser prudente, quando meu pai me levou lá, ele disse: “Seja cego, surdo e mudo”, isso é ser prudente. E lá no seminário, nós temos uma rotina na qual acordamos às 5:30 da manhã e só paramos por volta da meia noite.

A gente acorda 5:30, tem meia hora de banho, vai para a capela para fazer a oração da manhã, logo após a santa missa, depois da missa tem o café da manhã, em seguida, as aulas que são de 7:15 até às 12 horas. As aulas são intensas pois fazemos dois cursos, Filosofia e Teologia além da propedeuta e mais seis meses de estágio pastoral. Depois das 13 horas, temos os trabalhos como a limpeza da casa, do sitio etc. Depois disso, temos meia hora de descanso, depois a oração da tarde, o jantar, o momento de estudo, a oração da noite e o estudo pessoal que vai até a hora que cada um deseje, contando que pela manhã ele esteja de pé.

PLN: Sua mãe era uma pessoa muito religiosa, e você a perdeu muito cedo. Então como será para você o momento da ordenação sem a presença dela?

JUS: Será um momento delicado porque a mãe é tudo, eu era muito apegado à minha mãe e com a falta dela eu me sinto abandonado do lado materno, mas durante a vida nós vamos encontrando outras mães. Esse momento será marcante para mim e muito forte porque ela não estará comigo, mas sei que se ela estivesse viva, ela estaria muito feliz comigo.

PLN: Em qual paróquia irá atuar após a ordenação?

JUS: Eu fui designado para a Paróquia de Santa Luzia, em Santa Luzia do Itanhy, onde estou e permanecerei, segundo o bispo.

PLN: Nos dias atuais, para você, o que é ser um diácono?

JUS: Serviço. O diácono é aquele que serve as pessoas no altar e na caridade, então o diácono é aquele está sempre zelando pelos pobres, pelos marginalizados. Por isso, o diácono deve sempre ter em mente o objetivo de servir seja lá quem for.

PLN: O que é ser vocacionado nos dias atuais?

JUS: É se dedicar aos outros porque todos nós somos vocacionados, até aqueles que se dedicam ao matrimônio. Vocacionado vem da palavra vocação, e isso é um chamado de Deus, então aquele que é chamado ao sacerdócio é vocacionado e aquele que é chamado ao matrimônio também é vocacionado, e ambas as vocações estão para servir.

PLN: Você pretende subir na hierarquia de Igreja Católica?

JUS: Eu não pretendo ser Bispo, Papa ou Cardeal, para mim já basta ser padre porque o importante para mim é servir e se dedicar as pessoas.

PLN: Por que ser padre para você já basta?

JUS: Porque isso é algo que configura toda a nossa vocação, o in persona christi, isto é, nós somos usados por Cristo, nós somos um outro cristo. Ser Papa, ser Bispo ou Cardeal, ele tem como primeiro grau, o grau da ordem de ser padre. Então ser padre para mim já basta.

PLN: Mudando de assunto. Como você observou o Ato de Profanação ocorrido no último sábado, dia 6, no Santuário Mariano Diocesano de Nossa Senhora da Piedade?

JUS: Achei aquilo uma falta de respeito ao outro porque não é porque eu sou cristão católico que eu vá desrespeitar o Candomblé, o Protestantismo e demais religiões. Cada um segue aquilo que é atraído e aquilo que gosta. Então aquela profanação para mim foi um profundo ato de desrespeito, porque nós católicos nunca fomos na igreja deles para desrespeitá-los, não fazemos isso, mas vemos muito desrespeito da parte deles para conosco.

Além disso, nós temos as imagens não para adorar, mas para venerar. Para lembrar que aquele santo seguiu os passos de Jesus Cristo, nós temos fotos em casa e elas servem para lembrar alguma coisa, do mesmo jeito são as imagens da Igreja Católica, elas servem para lembrar o testemunho de vida daquele santo, que foi humano como nós. Por isso, veneramos as imagens como lembrança, coisa que os protestantes não entendem, está no livro de Êxodo: “Adorarás somente a Deus”, então somente a Deus nos ajoelhamos, aos santos apenas veneramos.

PLN: Quando vocês presenciam atos de intolerância religiosa, o que fazem?

JUS: Nós apenas entregamos a Deus, porque cada um vai prestar contas a Deus daquilo que se faz. Nós sabemos que não fizemos nada de errado, apenas seguimos aquilo que o próprio Jesus Cristo pediu.

PLN: Qual mensagem você gostaria de deixar para o povo de Lagarto?

JUS: Que vale a pena servir a Deus, por mais que zombem de nós, por mais que riam de nós, vale a pena amar o próprio Jesus Cristo.

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