Fernanda Reis: Vá em frente, lute até conseguir alcançar seus objetivos

31 de julho de 2016 - 14:07, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

A Entrevista da Semana é com uma gerente muito conhecida dos lagartenses, Fernanda Reis, de apenas 28 anos de idade. Durante a breve conversa, Reis nos contou um pouco da sua trajetória, de como tem lidado com a crise financeira, além de ter deixado um conselho para os empresários de plantão.

Entrevistada da semana

Entrevistada da semana

Fernanda também nos contou que é uma pessoa política, no sentido de ajudar as pessoas, e que mesmo não querendo disputar um cargo público, apresentou algumas propostas que tem em mente.

Ela já foi subordinada, comentou que “comeu o pão que o diabo amassou”, mas relembrou que foi durante as dificuldades que aprendeu a viver. Hoje, Fernanda se considera uma pessoa que soube e que sabe aproveitar as oportunidades.

Confira a Entrevista da Semana na íntegra:

PLN: Quem é Fernanda Reis?

Fernanda: Fernanda Reis é uma menina mulher. Eu sou uma pessoa carismática, engraçada, gosto muito do que faço, gosto de lidar com as pessoas e também de conversar. Então Fernanda Reis é uma pessoa política, no sentido figurado da palavra, ou seja, uma pessoa que quer agradar a todos.

PLN: Essa pessoa política tem vontade de disputar algum cargo público?

Fernanda: Não tenho pretensão, apesar de já ter recebido vários convites. Algumas pessoas cogitam meu nome rumo a Câmara de Vereadores, e quando perguntam se eu vou, logo respondo: ‘quem sabe? Estou pensando’, mas na verdade não tenho vontade.

Eu não tenho vontade devido a forma que as pessoas vêm o político, eu tinha vontade de ir para fazer acontecer, mas eu sei que no ramo que estou, se eu me candidatar a algum cargo será só para o povo vim me pedir favores, pedir material, e isso eu não quero, porque não acho justo, além do mais, estaria me desgastando à toa. Mas eu tenho muitas ideias para Lagarto.

PLN: Cite uma delas.

Fernanda: Transporte público. Desde 2007, quando eu comecei a namorar com meu atual marido que é de Estância, e lá já tem transporte público de qualidade, tem ônibus e micro-ônibus com ar-condicionado, os quais levam as pessoas dos povoados e até dos bairros mais distantes para o centro da cidade. E em Lagarto estão pensando somente agora em fazer isso, então eu já criticava isso. Lagarto já tinha que ter o transporte público antes da chegada da Universidade Federal de Sergipe, porque aqui já tem o IFS, a UFS, o pessoal que trabalha no Maratá e a faculdade particular.

Outra proposta seria proibir o uso de carroça na cidade porque não acho legal, eu sou a favor dos animais, não quero ser ambientalista, mas eu acho isso muito arcaico até porque eles jogam sobre o animal o seu ganha pão, por isso não acho justo.

PLN: Mas isso é devido a condição financeira do indivíduo, Fernanda.

Fernanda: Eu conheço carroceiros e carroceiros, mas tem muitos deles que tratam muito mal o animal, se pelo menos tratasse bem. Pode ser uma ideia besta, mas na época que meu avô [Arthur Reis] era prefeito, não tinha entulho nas ruas, hoje as pessoas realizam uma obra e deixam as ruas cheias de entulhos, com um monte de defeito.

PLN: Mudando de assunto, por que você escolheu cursar administração? Foi por causa da Gurupi?

Fernanda: Não foi por causa da Gurupi, nunca foi, mas hoje eu me realizo dentro da Gurupi. Mas escolhi administração porque quando eu era criança, eu gostava muito de brincar de secretária, e eu achava que administração era isso: tomar conta de alguma coisa. E meu sonho era ser bancária, mas quando entrei na faculdade, fui me desligando dessa ideia e passando a odiar banco, quem é que gosta de banco? Ninguém.

Quando me perguntavam, eu dizia que queria ser bancária, mas quando vi a realidade, percebi que não era o que eu queria, daí surgiu a EJA UFS, que foi quem me abriu um leque de oportunidades, onde eu quisesse trabalhar eu conseguia, porque lá a gente ganhava só o que gastava. Então eu comi o pão que o diabo amassou, mas foi lá que eu aprendi a viver.

Eu já fui subordinada, eu não nasci chefe, eu comecei ganhando R$ 190 de salário, e quando me formei, meu pai estava abrindo a Gurupi Construções, ai eu vi um caminho a seguir e comecei a tomar conta do que é meu. Na época, eu não sabia para que servia um prego, e hoje eu sei tudo sobre material de construção, por isso, os clientes acham que sou arquiteta ou design.

PLN: Como a sua transição de empregada a empregadora?

Fernanda: Muito difícil. Eu sofri muito psicologicamente devido a pressão de ter que liderar uma equipe de 47 funcionários, porque eu estava ali com o diploma na mão, mas não tinha prática. Foi muito difícil, eu comecei com 22 anos ajudando meu pai e minha mãe, eu tive crise de ansiedade, emagreci, eu tinha muita pressão nas minhas costas, não que meu pai cobrasse, mas eu me cobrava. Eu me cobro muito na vida, e apesar de ter sido difícil, acabei me acostumando.

PLN: Você tinha dificuldade de lidar com pessoas?

Fernanda: Eu tinha dificuldade de lidar com funcionários e colaboradores porque é difícil separar amizade, eu sou muito amiga dos meus funcionários, com uma sugestão ou reclamação que você quer fazer.

PLN: Você é uma patroa linha dura?

Fernanda: Não sou linha dura, eu cobro muito, mas sou maleável. Eu gosto de cobrar porque sou perfeccionista, é meu defeito, mas eu gosto das coisas do meu jeito. E eu já fui plagiada, e eu odeio isso. Fui plagiada em propagandas de rádio, eu sou formada em administração em marketing, então copiaram o mesmo comercial que fiz.

PLN: Como administradora, qual foi a decisão mais difícil que você teve que tomar à frente da Gurupi?

Fernanda: Teve um funcionário que a gente teve que mandar embora – não fui eu que tomei a decisão, mas participei -, porque ele estava envolvido com algumas coisas erradas. Nós não costumamos demitir funcionários, e ele tinha todas as oportunidades de crescer na empresa. Acho que a decisão mais difícil foi essa porque eu tomo decisões o tempo todo.

PLN: Após subir ao posto de gerente, você buscou especializar-se em Planejamento Tributário. Então você voltou aos estudos porque a Gurupi estava pagando muitos impostos?

Fernanda: Estava pagando muito imposto, além disso, naquela época, o então governador Marcelo Déda instituiu a antecipação do ICMS, substituição tributária, então eu precisava entender melhor o que era isso, o quê que isso acarretava na empresa. E para se ter uma ideia, nós tivemos que dividir para 10 meses um valor de quase R$ 10.000,00 só de imposto, tudo em cima da bucha.

Então Déda, ao instituir a antecipação do ICMS, passou a cobrar o imposto antes do produto ser vendido, e para o Estado conseguir arrecadar dinheiro sem pedir empréstimo, ele decidiu que o imposto sobre material de construção seria pago antecipadamente, bebidas alcoólicas e sapatos já eram pagos dessa forma naquela época. Então foi um baque muito grande, tivemos que fazer um inventário da loja, levantar todo o estoque, elaborar o NCM de cada produto até que ocorreu esse prejuízo enorme. Mas não houve demissão porque conseguimos parcelar o pagamento. Então foi por isso que resolvi fazer esse curso, queria entender melhor.

PLN: Falando em imposto, como você tem observado a carga tributária do Brasil?

Fernanda: É um absurdo. Estive no México em 2014, e lá um Corolla custa R$ 37.000,00, eu vi a propaganda no aeroporto, converti para reais e dava trinte e sete mil reais, ai eu fiquei: ‘Meu Deus, onde vai parar esse país que cobra tanto imposto que não é aplicado?’. Esse dinheiro dos impostos vai para o bolso de muita gente.

PLN: Falta gestão?

Fernanda: Falta punição porque honestidade o brasileiro não tem. Os políticos são representantes dos brasileiros, somos nós quem elegemos, então se eles forem bons ou ruins continuarão sendo os nossos representantes, então o que falta é punição porque na hora que começarem a punir, neguinho vai pensar duas vezes antes de roubar.

PLN: Anteriormente, você havia dito que tinha dificuldades de lidar com pessoas, mas você fez um curso de Liderança e Relações Humanas, então qual foi o maior aprendizado que tirou dele?

Fernanda: O maior aprendizado desse curso foi comigo mesma, depois dele, eu diminuí meu estresse, minha ansiedade em tomar decisões, e lidar de melhores maneiras com as pessoas, além de saber motivar o colaborador. Isso para mim foi o maior ganho. Até nas minhas vendas eu melhorei.

PLN: Como resultado desse curso, muitas pessoas vão a Gurupi e só querem ser atendidas pela Fernanda, então valeu a pena ter cursado.

Fernanda: Valeu sim, mas como gerente, eu quero que meus vendedores sejam melhores que eu, não adianta eu ser melhor que todo mundo se eles têm que somar. Se um só ser bom, não adianta para a empresa, eu quero que todos sejam tão bons quanto.

PLN: O assunto agora é a crise. Como é que a administradora está lidando com este momento, que torna mais difícil ainda a situação da construção civil?

Fernanda: Pra o nosso caso, as vendas não diminuíram não porque o segredo da Gurupi é o bom atendimento. O cliente realmente está comprando menos se compararmos aos anos anteriores. Nós tivemos uma leve queda em maio e junho, porém agora no mês de julho as vendas alavancaram, e o segredo para driblar a crise é não deixar faltar pelo menos o estoque de segurança, ter um bom atendimento e preço, porque você tem que cativar o cliente. Além de ter estoque, a empresa tem que ter variedade.

PLN: E como manter o estoque e a variedade de produtos com o país em crise e o dólar nas alturas?

Fernanda: O segredo é não ter o estoque alto, é ter um estoque razoável, ninguém está conseguindo ter um estoque alto com esse imposto antecipado aliada a crise. Então é manter o estoque de segurança, não deixar acabar, diminuir a quantidade de fornecedores, mas aumentando a variedade.

PLN: A choradeira também deve ter aumentado, e como lidar com isso?

Fernanda: A choradeira aumentou e muito, mas o segredo é saber lidar com o cliente, tem muita loja que foge do cliente, nós da Gurupi ficamos no pátio da loja o tempo todo. A gente negocia o que precisar, não perdemos uma venda não. A choradeira tem que ter, o cliente está no seu direito, mas não perco uma venda não.

PLN: A imprensa nacional tem divulgado que a confiança do empresariado tem aumentado após o início do governo provisório de Michel Temer. Essa informação também é válida na Gurupi?

Fernanda: Aumentou sim. A gente tem uma expectativa porque Michel Temer está para lançar novas políticas de injeção de economia na área de construção civil, já circulam os burburinhos e quando há fumaça, há fogo. Tudo isso porque o que movimenta a construção civil é o cartão de crédito, é o crédito nos bancos, coisa que diminuiu, não está tendo mais crédito nos bancos. As pessoas estão sem dinheiro.

Então há uma expectativa sim, depois que Michel Temer entrou, o Dólar deu uma baixada legal, e quando isso acontece, o mercado fica mais competitivo internacionalmente, e tudo isso aumentam as expectativas.

PLN: E o que você espera do Governo Temer que tem tudo para deixar de ser provisório?

Fernanda: Eu tenho boas expectativas porque ele tem cara de empresa, e empresa gera emprego no país, principalmente, as pequenas e médias.

PLN: Mudando de assunto. Você tem vontade de abrir o seu próprio negócio, ou vai continuar tocando a Gurupi?

Fernanda: Eu tenho vontade de expandir a Gurupi, e seria a minha própria empresa.

PLN: Como é que surgiu o nome Gurupi?

Fernanda: O nome Gurupi é graças ao nome da cidade Gurupi, no Estado do Pará, onde meus pais moraram. Essa cidade hoje se chama Ulianópolis devido ao nome de uma família chamada Uliana, mas antigamente era chama de Gurupi ou Gurupizinho. Então esse nome meu trouxe para cá.

PLN: E qual o segredo da Gurupi?

Fernanda: O segredo é pagar bem aos funcionários, trabalhar correto, não se vislumbrar com o dinheiro que entra, pois este é dos funcionários, dos combustíveis, da manutenção dos equipamentos etc. E muitas empresas fecham porque os donos acham que o dinheiro que entra, já é dele.

PLN: Mudando novamente de assunto. Por que você se considera uma pessoa que aproveita as oportunidades?

Fernanda: Porque, graças a Deus, eu tive pai e mãe e eles me deram a oportunidade de estudar. Então eu aproveitei. Enquanto tem gente que só quer saber de se divertir, eu procurei estudar, fui morar em Aracaju, estudei em colégio particular, passei na federal, me formei cedo, fiz curso de inglês e espanhol, pós graduação, então eu soube aproveitar as oportunidades. Além disso, tem muitas pessoas não chegam onde estou hoje porque a vida não lhe deu oportunidades. Então eu sou uma pessoa que aproveita as oportunidades.

PLN: Em sua opinião, o que todo bom gestor não pode deixar de ter?

Fernanda: Ele não pode deixar de ter confiança no que faz. Quando você acredita em si, você consegue vender as suas ideias.

PLN: E o que ele não pode ter?

Fernanda: Ser relaxado.

PLN: Qual a sua maior alegria?

Fernanda: Minha maior alegria é estar feliz comigo mesma, bem e com saúde, porque eu já passei por muitos problemas de saúde, então a cada dia que passa e me vejo bem, eu agradeço a Deus, agradeço mesmo.

PLN: Casada, bem sucedida, a Fernanda pensa em ser mamãe?

Fernanda: Eu penso, mas no futuro. No momento não me enxergo de jeito nenhum, eu sou muito ativa, não posso parar agora, apesar da cobrança ser muita porque minha mãe e minha sogra querem netos.

PLN: Qual a mensagem que gostaria de deixar para o povo de Lagarto?

Fernanda: Nessa crise, não desanime. Vá em frente, lute até conseguir alcançar seus objetivos, e mesmo que você comece de baixo, você vai chegar lá. Estude para alcançar os seus objetivos, porque estudo é a única coisa que ninguém tira de você.

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