Nilma do Bar: “Eu sou feliz com muito pouca coisa”

24 de julho de 2016 - 11:00, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

A Entrevista da Semana é com uma das empreendedoras mais conhecidas do município de Lagarto, essa mulher chamada de Nilma Cristina, que é popularmente conhecida como Nilma do bar, tem apenas 50 anos.

Entrevistada da semana

Entrevistada da semana

Ela trabalha no Bar Vapor Barato há 25 anos, e tem como fonte de inspiração o seu saudoso pai, seu Zeinha do Bar. Sem grandes ambições e dona de uma simplicidade estonteante, durante a entrevista, Nilma confessou que muito pouca coisa a faz feliz.

Além disso, Nilma comentou também sobre a política no município de Lagarto e no Brasil. E para os empresários de plantão, o único conselho que a mesma deixou é que crise se vence com trabalho.

Confira a Entrevista da Semana na íntegra:

PLN: Quem é Nilma?

Nilma: Nilma é aquela lutadora que sempre acredita em Deus, em sua família e nos grandes amigos que tem. Eu me resumo nisso: minha família, Deus e meus amigos.

PLN: Por que a senhora se resume somente nisso?

Nilma: Porque para mim é tudo.

PLN: Por que a senhora escolheu trabalhar com um bar?

Nilma: Tudo começou porque acompanhei meu pai, que foi dono do bar mais famoso de Lagarto [Zeinha do bar], e eu o ajudava desde os meus oito anos, até que num determinado momento também tive a vontade de botar o meu próprio bar, acreditando sempre na presença dos meus amigos. E até hoje, uma boa parte dos meus clientes são os meus amigos.

Além disso, eu acho que é o que Deus me proporcionou para ser até hoje, e em time que está ganhando não se mexe.

PLN: Era um sonho da senhora?

Nilma: Eu acredito que foi muito mais a genética, porque eu sempre acompanhei meu pai, não tinha aptidão para o estudo, também nunca gostei, mas me formei em agropecuária no Polivalente, também não era o que eu queria. Ai me acostumei nesse comércio, o qual estou há 25 anos.

PLN: A senhora esperava ser proprietária de um estabelecimento tão tradicional no município de Lagarto?

Nilma: Não, mas trabalhei para isso. Eu acho que mereço.

PLN: Mas quando foi que a senhora percebeu que tinha chegado num nível acima dos concorrentes?

Nilma: A gente se assusta, tem horas que você diz “poxa, que bom”. E hoje numa crise dessa, eu abro meu bar, e, graças a Deus, vejo que quem veio ontem continua vindo hoje, e está comigo há 25 anos.

PLN: E qual o sentimento da senhora em poder hoje atender aos filhos dos seus primeiros clientes?

Nilma: Acho que meu bar deve ser uma grande referência. Dentro de casa, os pais falam: “Já bebi tanto no Bar da Nilma”, e os filhos respondem: “Meu pai, agora também estou bebendo lá.”. Isso é uma grande satisfação, porque eu acho que se você entra num ambiente e gosta, e depois chega trazendo outros, é porque ficou satisfeito.

Eu fico até sem palavras, é muita alegria. Eu fico muito emocionada quando eu fecho meu bar e vejo que foi uma realização, na qual as pessoas na rua me conhecem, tem um respeito, uma amizade e um carinho muito grande por mim. Além de ser proprietária do Vapor Barato, eu não me coloco nunca como dona, porque eu somente abro e fecho, quem toma conta do meu bar são os meus clientes.

PLN: Então quando a senhora está no bar não tem medo de nada?

Nilma: Não. Apesar da situação de nossa segurança, eu digo do fundo do meu coração, quando eu abro o bar, primeiramente eu peço a Deus que me coloque num bom lugar, que proteja meu estabelecimento, minha família e meus clientes. Pois eles são tudo para mim.

PLN: Mas a senhora já foi assaltada.

Nilma: Sim, foi a primeira vez. Mas não foi nada demais, o ladrão entrou no bar pegou os celulares que estavam numa mesa e foi embora, ele não me abordou e nem abordou os meus clientes. Ele apenas pegou e foi embora, ele não nos deixou tão apreensivo de apontar arma, mandar ir pro banheiro etc. Não foi nada demais, apesar de terem feito aquele escândalo. Vão os anéis e ficam os dedos.

PLN: Não te pediram para pagar pelos celulares roubados?

Nilma: Não, graças as amizades logo vieram os policiais que conseguiram recuperar os dois celulares, mas também se fosse para arcar, não teríamos problema não.

PLN: Quais são as dificuldades que a Nilma tem enfrentado para administrar o Bar Vapor Barato? Porque é aquele comércio que é constante, mas oscila.

Nilma: Oscila bastante, e quem pode falar disso sou eu porque esses 25 anos não foram somente de sucesso. Já houve crises, e eu mesmo já passei por uma dificuldade muito grande de inadimplência, mas graças a Deus e a minha família, porque eu já estava quase desacreditando, mas nós fizemos uma reunião em casa, daí eles me ajudaram, consegui sair da minha crise, que não foi gerada pela situação do país.

Ai quando as pessoas acreditam, você logo ver, porque tinham os amigos e as distribuidoras, que acreditavam no meu trabalho, e até hoje estou ai. Foi graças a Deus, e a minha família, que é meu porto seguro, que eu consegui vencer aquela dificuldade.

PLN: Como a senhora está lidando com essa crise que há muito se falava na tevê?

Nilma: Teve crise, teve. Mas eu acho que as pessoas se apegam muito a isso, porque falam em crise e se acomodam. Acho que essa crise vai durar por muito tempo, mas em crise você tem que trabalhar, consertar o que está errado e inovar. É crise, mas acho que você não dar duas voltinhas sem tomar uma cerveja né?

Em tempos de crise, você tem que trabalhar, colocar os pés no chão e dizer: ‘eu só posso gastar X’. Assim dar para vencer, porque hoje as pessoas vivem em favor de coisas materiais, ai como não pode trocar o carro, dizem que está em crise.

PLN: A senhora inovou com o Bloco Vapor Folia, mas por que ele acabou?

Nilma: Acabou porque eu fazia ele quando tinha o Lagarto Folia, ai eu peguei uma carona nos domingos. A gente ficava numa mesa de bar brincando mesmo, tanto que eu comecei com x camisas e depois houve aquela explosão. Depois teve os amigos que pediram para colocar no bloco o frevo, que meu pai era apaixonado, era um folião maravilhoso, o primeiro era ele, ai tudo começou na brincadeira, e vieram os anos de sucesso.

PLN: E por que essa brincadeira de sucesso não durou para além do Lagarto Folia?

Nilma: Porque é um investimento muito alto, se for para trabalhar ele sobre a população que fica em Lagarto quando não tem festa, ele não se torna viável. E também se for colocar algo para ter 10 ou 20 pessoas, é melhor não fazer porque você vem de um sucesso, e se é tradição tem de manter, e para não ter poucas pessoas, deixei o Vapor Folia no sonho.

PLN: A senhora tem vontade de reativar o Vapor Folia?

Nilma: Com certeza, meus clientes só pedem isso. Mas eu só posso fazer se o Lagarto Folia voltar, espero que chegue algum político que reacenda essa chama maravilhosa.

PLN: Falando em política, como a senhora tem visto essas movimentações políticas no município de Lagarto?

Nilma: Eu tenho o meu partido, tenho amizade com pessoas de todos os grupos, mas espero que o próximo que chegar, seja ele quem for, que reacenda as festas em Lagarto porque estamos dando lucro para outras cidades. Campo do Brito e Simão Dias trazem atrações maravilhosas, e nós ficamos no escuro, com isso o povo lagartense sai daqui para dar lucro as outras cidades, enquanto isso o comércio de Lagarto vai fechando as portas.

PLN: Partindo para a política nacional, como a senhora tem visto o impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff?

Nilma: Particularmente eu acho que não foi bom, porque foi trocar seis por meia dúzia. Dilma errou, tiraram ela, mas está vindo coisas bem piores.

PLN: Para a senhora, qual seria a solução para este problema? Novas eleições?

Nilma: Eu acho que novas eleições resolveria sim, mas o problema é quem entraria no lugar? Quem a gente vai votar? Porque acessei a internet e vi que quase todos os políticos, que podem ser escolhidos, estão envolvidos em algum tipo crime. Com todo mundo devendo, eu nem sei quem escolher.

PLN: Mudando de assunto. Por que os nomes Vapor Barato e Vapor Folia?

Nilma: Porque tudo que é bom é no vapor, e também porque essa rua é conhecida, desde o tempo dos nossos pais, como a rua do vapor. Ai eu associei, coloquei Bar Vapor Barato, ai pegou. Embora as pessoas costumem chamar de Bar da Nilma.

PLN: Qual o maior aprendizado que a senhora tirou desses 25 anos de trabalho?

Nilma: Acreditar num mundo melhor, ser honesto e ser bom. Meu pai sempre dizia: ‘Loira, o sucesso de qualquer ser humano é ser direito’, e esse é o aprendizado que levo para toda a vida, e é assim que eu trabalho. Perdi meu pai há três anos, vai ser difícil chegar perto de ser o homem que ele foi, porque ele é meu espelho.

PLN: Mudando de assunto, qual a sua maior alegria?

Nilma: Minha alegria é meu sucesso, é minha família, é estar bem com todo mundo, é acordar, ver o amanhecer de poder dizer: ‘Hoje eu vou lutar’. Isso para mim é uma alegria. Muito pouca coisa me faz feliz.

PLN: E o que motiva a senhora diariamente? Porque trabalhar com bar significa perder os fins de semana.

Nilma: A gente perde a vida social, muitos amigos me convidam para ser madrinha do filho, para ir a um aniversário, mas não dar certo porque não posso sair. Mas acho que você tem que viver com o Deus te deu. Eu tenho minha folga na segunda e terça, às vezes fecho nos feriados, então eu tenho que curtir nesses dias, também não adianta você ter um final de semana que você não tem trabalho. De que adianta você ter tempo e não ter qualidade de vida?

PLN: E o que motiva a senhora a seguir em frente?

Nilma: Manter a qualidade do meu comércio.

PLN: Qual o segredo do Vapor Barato?

Nilma: É a inovação, é você querer ter a qualidade de vida. Porque eu estando bem, farei você muito bem. Para isso, mudei a programação do bar em dias de queda, como no domingo que coloquei um pagodão para ver se dar uma movimentada.

PLN: E o que a Nilma gosta?

Nilma: Gosto da minha família e dos meus amigos, através deles é que vem as resenhas, a praia, a cervejinha, mas tudo isso na hora que é para estar ali.

PLN: O que te deixa triste?

Nilma: A única coisa que me deixa triste é a ausência de meu pai.

PLN: Além de pai, qual a importância de seu Zeinha para a senhora?

Nilma: Além de ser o pai maravilhoso que ele foi para mim, é a lição de vida que ele deixou para mim como também para a minha família. O legado dele é a honestidade, isso é algo que quem ler, vai saber que não estou mentindo.

PLN: Qual a mensagem que a senhora deixaria para o povo de Lagarto?

Nilma: Que todas as pessoas acreditassem mais em Deus, porque estou achando as pessoas muito desumanas, com muita falta de amor ao próximo, com muita ambição. Então eu queria que as pessoas se acordassem, olhassem ao lado e dessem um beijo na mãe, no pai ou chamar um amigo para sair, e deixar esse materialismo. Hoje eu não consigo mais ver as pessoas terem aquela conversa de amigos. Além disso, eu queria que as pessoas rezassem para que essas drogas saíssem das nossas vidas, e dos nossos jovens.

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