Flávio Santos: O homem que transforma sonhos em açúcar

29 de maio de 2016 - 16:14, por Alexandre Fontes

Portal Lagarto Notícias

Entrevistado da Semana

Entrevistado da Semana

A Entrevista da Semana é com o jovem empreendedor e designer de bolos do município de Lagarto, Flávio Santos, que possui 25 anos de idade e sete de cozinha, local onde ele costuma transformar os sonhos das debutantes, noivas e mães, em açúcar.

Durante a entrevista, Flávio nos contou que foi aos 12 anos que ele começou a gostar da ideia de fazer bolo, mas por não ter condições de fazê-los, acabou ganhando uma batedeira caseira e foi através dela que ele fez o seu nome no mercado dos designers de bolos. Além dessa história, tantas outras foram contadas.

Acompanhe na íntegra:

Lagarto Notícias: Quem é Flávio Santos?

Flávio: Flávio Santos é uma pessoa legal, que gosta de sair com os amigos, de trabalhar e de dar sempre o seu melhor. Além disso, eu gosto muito de malhar e de aventura.

LN: Qual foi a maior aventura da sua vida?

Flávio: A maior aventura foi um dia estar foleando uma revista, na qual vi um profissional que trabalha com bolo, ai quando eu abri o Facebook estava lá um curso dele em Santa Catarina, ai na mesma hora eu liguei para saber quanto era o curso, marquei o curso e dois meses depois, lá estava eu fazendo estudando com ele.

LN: Durou quanto tempo esse curso?

Flávio: Foi um curso de quatro dias.

LN: Qual o maior aprendizado que você tirou dele?

Flávio: Técnicas de bolo de casamento, saber ser humilde porque tudo que eu fiz foi com o grande profissional Djalma Reinaldo, que é muito humilde.

LN: Em quatro dias você aprendeu todas as técnicas?

Flávio: Não porque para você fazer um curso desses, você já tem de saber fazer bolos, pois lá você só vai tirar dúvidas e aprender algumas outras técnicas.

LN: Você faz bolos há quanto tempo?

Flávio: Eu tenho 25 anos… comecei quando tinha 18.

LN: E porque você decidiu trabalhar com bolos?

Flávio: Eu sempre gostei de fazer bolos, ai uma amiga minha – que trabalhava num buffet em Itabaiana – me convidou para trabalhar com ela. Até que num certo dia, quando eu fui lá lavar pratos, ela estava fazendo bolos, grandes bolos, ai eu fiquei com um olho nos pratos e o outro vendo ela fazer os bolos. Daí eu comecei a gostar daquilo, com o passar do tempo comecei a ajudar ela, até que chegou um tempo em que eu decidi trabalhar para mim mesmo e comecei a fazer bolos para mim.

LN: Como foi o começo dessa empreitada? Porque dizem que o povo de Lagarto é exigente.

Flávio: Eu tive grandes amigos que me ajudaram bastante. Eu tive Solange, da Sol Artes que me indicou bastante para as amigas dela; tive outros parceiros que me ajudaram, alguns cerimonialistas também, que até hoje me indicam e é por eles que eu procuro ser cada dia melhor.

LN: No começo teve alguém que disse que tal negócio não te traria futuro?

Flávio: Sempre tem, mas eu sempre gostei de fazer bolo. Desde pequeno, quando tinha aquelas festas na escola, a parte do bolo quem fazia era eu com a meninas, as vezes solava, ficava feio, mas eu sempre fiz.

LN: Como é que tem sido a vida do microempresário?

Flávio: Graças a Deus eu não tenho do que reclamar. Eu tenho 25 anos e quando quero sair, eu saio; quando eu quero viajar, eu viajo. Já fiz curso em Santa Catarina, já fiz curso em São Paulo.

LN: Teve alguém que lhe motivou a fazer bolos ou foi a sua vontade própria?

Flávio: Foi a minha vontade própria. Mas tem pessoas que fazem bolos, que você idolatra e eu tenho os meus ídolos.

LN: Quem são eles?

Flávio: Tem Djalma Reinaldo, Debbie Brown…

LN: Tem algum traço deles que você busca trazer para os seus bolos?

Flávio: Eu sempre busco colocar a delicadeza, quanto mais delicado o trabalho for, eu gosto.

LN: Dizem que menos é mais, isso também serve para os bolos?

Flávio: Serve sim, as vezes o povo que fazer um bolo e quer colocar flor, colocar anjo e isso não pode. Quanto mais simples, mais clássico e mais delicado for, o bolo fica bonito.

LN: E para aqueles cozinheiros caseiros, você tem algum segredo para que eles não façam um bolo solado?

Flávio: Acho que se eles não colocarem muito leite, botar um pouquinho de fermento e dosar tudo, o bolo não vai solar. Tudo tem que ser medido e pesado, nada no olho.

LN: Qual que é a importância de medir e pesar os ingredientes de uma receita?

Flávio: Em todo curso que você faz, todos os ingredientes são medidos e pesados. Quem faz gastronomia sabe que tudo é pesado, não é nem medido, tudo pesado: grama por grama, para balancear a receita e ela saia perfeita.

É tanto que se você for trabalhar nas grandes empresas, qualquer profissional faz qualquer receita porque tudo é pesado, nas paredes tem uma balança, você vai lá, pesa e dar seguimento a receita.

LN: Nesses sete anos em que você trabalha para si, qual foi o maior trabalho que já recebeu?

Flávio: Todos os anos eu recebo essa encomenda, essa semana também tem. É uma encomenda de Dr. Bérgson e Dra. Daniele, que é um pedido muito grande que consiste em: bolo, fatias de bolo e minibolos. Estou aqui só pensando como é que eu vou fazer tudo isso para sábado.

LN: Esses pedidos são feitos com duas semanas de antecedência é?

Flávio: Não, são pedidos planejados porque ninguém faz uma festa de grande porte de uma hora para outra.

LN: Qual o diferencial dos bolos de Flávio Santos para os demais?

Flávio: É o que eu falo para todo mundo: Existem pessoas que fazem bolo e existem pessoas que trabalham nos bolos. Eu procuro trabalhar nos bolos, eu prefiro ver o bolo e imaginar como é que ele vai ficar pronto e dar o melhor, as vezes tem uma coisa que tá meio feia, ai eu vou lá, tiro e ponho de novo. Além disso, se algo não tiver legal, eu ligo para a noiva e peço para tentarmos algo diferente.

LN: Mas antes da feitura existe aquela conversa com a cliente?

Flávio: Sim, ela vem com a ideia pronta, a gente tenta amadurecer e tenta melhorar porque eu adoro essas noivas que chegam para mim e falam: “Flávio, o que você acha? Vamos melhorar o quê?”, a gente sempre tenta melhorar.

LN: Todo empreendedor tem os seus altos e baixos, já teve alguma encomenda que o cliente não gostou? Como foi isso na primeira vez?

Flávio: Eu acho que um profissional quando faz um serviço que não fica bem feito, ele já sabe que a pessoa não vai gostar. Quando ele próprio não gosta, creio que o cliente também não vai gostar.

LN: Mas como foi a primeira vez?            

Flávio: Eu não gosto quando o cliente diz “faça do seu gosto” porque o meu gosto pode não ser o dela, e já teve clientes que mandaram eu fazer do meu gosto e realmente não foi do gosto dela. Por isso, que hoje eu procuro fazer o bolo de acordo com o gosto da cliente, nem que a gente tenha que passar uma semana ou duas conversando sobre ele porque já teve clientes que ligou para mim, no outro dia do evento, e disse que eu não tinha atendido as expectativas dela, mas ai o erro não foi meu, foi dela que não apontou “Flávio, eu quero esse!”.

LN: Mas como foi a primeira vez?

Flávio: Frustrante demais, o bolo não saiu ruim porque eu prezo qualidade em tudo, desde a batida da massa até o acabamento final. O problema foi em questão de estética mesmo. A gente fica depressivo, mas aconteceu.

LN: E como foi a primeira vez em que você entregou um bolo e foi elogiado?

Flávio: Foi gratificante. Se você for ver nas minhas redes sociais, verá que eu sempre procuro expor os elogios que minhas clientes deixam e isso é gratificante demais: você fazer um bolo e a noiva, a mãe da criança ou debutante mandar mensagem, no outro dia, dizendo que você superou “todas as expectativas que ela tinha”. Isso só mostra para mim que vale a pena cada noite sem dormir, cada dia em que acordo mais cedo porque na minha logo tem ‘Transformando sonhos em açúcar’ e é isso que eu procuro sempre, você as vezes sonha, passa para mim e eu procuro trabalhar nele.

LN: E a faixa de preços como funciona? É acessível?

Flávio: Eu tenho bolos de R$ 50 até dois ou três mil, vai depender do cliente, vai depender do tamanho do sonho do cliente porque não adianta você vir aqui, você vai casar, a noiva alugou um vestido de R$ 5.000,00, contrata um decorador de R$ 30.000,00 e na hora do bolo, pega um de R$ 1.000,00.

LN: Flávio, tem segredo para o bolo sair perfeito?

Flávio: Eu acho que não é nem segredo, é dedicação. A pessoa tem que se dedicar, fazer curso para tirar dúvidas.

LN: Mas para aqueles cozinheiros caseiros, tem algum segredo? Porque algumas vezes o mesmo acaba solando.

Flávio: Tem gente que bate bolo em casa, liga o forno e não pode nem abrir o forno que sola. Eu faço bolo, boto bolo, tiro o bolo e meu bolo não sola. Para mim não tem segredo.

LN: Porque você já disse que tem que pesar os ingredientes, mas a maioria das pessoas não tem dessa balança em casa.

Flávio: Mas é diferente você fazer um bolo para um evento e um para comer em casa. O bolo de casamento é diferente de uma torta que a gente come numa confeitaria, é diferente.

LN: Você trabalha com evento em torno do bolo, mas porque um ateliê e não uma confeitaria?

Flávio: É porque ateliê é aquela coisa mais clássica né? Mas eu coloquei ateliê porque quando fui estudar em Santa Catarina, eu fui no Ateliê Djalma Cake Design, ai eu trouxe isso para mim.

Eu sonho alto, sempre sonhei grande e um dia ainda quero ser conhecido como ‘Flávio, o mestre dos bolos’, como disse uma cliente minha, e é esse legado que eu quero levar para mim. Eu tenho 25 anos, mas quando eu tiver com 50, quero ser conhecido como mestre dos bolos.

LN: O Bake Off de Lagarto.

Flávio: Exatamente, o Bake Off de Lagarto e quem sabe do Brasil.

LN: No começo de toda essa empreitada, o que era que sua família achava?

Flávio: Eu comecei a gostar de ideia de fazer bolos, com 12 anos, mas eu não tinha condições de fazer os bolos. Ai minha madrinha me deu de presente de aniversário uma batedeira, que eu ficava brincando de bater bolo sem nada dentro, era uma batedeira dessas que a gente usa em casa, ai eu fui trabalhando com ela até conseguir comprar uma profissional e hoje eu tenho três.

LN: De uma batedeira caseira a um Ateliê de bolos.

Flávio: De um povoado a um ateliê.

LN: Você tem parentes que trabalham com bolos?

Flávio: Não, mas tenho minha irmã de 13 anos, que me ajuda nos bolos. Ela que é praticamente meu braço direito.

LN: Dizem que crianças são muito sinceras, a sua irmã costuma ser sincera e opinar nos bolos?

Flávio: Costuma, mas eu digo que o apito dela é mudo, ‘você não entende de bolo não, minha filha’. Mas apesar dela ser nova, ela é bem habilidosa em fazer laços e flores. Tudo que fazemos é de açúcar.

LN: Mudando de assunto, são tempos difíceis para o trabalhador e para o empregador, mas como é o Flávio está lidando com a crise financeira?

Flávio: A crise chegou para todo mundo, é verdade. Hoje eu não tenho as grandes encomendas que sempre tenho eventualmente, mas não tem um fim de semana que eu fique sem fazer bolo, graças a Deus!

LN: E como você faz para se divertir com os amigos, sendo que tem trabalho justamente nos fins de semana?

Flávio: Eu trabalho todo fim de semana, não necessariamente no domingo, mas todos os sábados eu trabalho. Ou seja, eu saio sábado à noite para voltar no domingo, ou deixo para me divertir durante a semana.

LN: Mas e a choradeira dos clientes, tem ocorrido com mais frequência ou sempre ocorreu?

Flávio: Sempre ocorreu, mas eu tenho bolo de todo preço, quanto maior for o bolo, maior o preço.

LN: Você quer ser reconhecido como um grande profissional dos bolos, mas já ganhou algum prêmio na área?

Flávio: Não, nunca participei de concurso algum. Já mandaram eu participar, mas eu não trabalho sob pressão. Nenhum trabalho delicado, como esse que faço, é realizado sob pressão, não tem como! Porque você passa 20 minutos fazendo uma flor em casa e num concurso tem de fazer em cinco.

LN: Mas pretende participar?

Flávio: Não, não me arrisco.

LN: O que você espera conquistar no prazo de um ano?

Flávio: Muitas, muitas e muitas novas clientes.

LN: Falando de você, qual a sua maior alegria?

Flávio: A sensação de dever cumprido, você ver alguém ali que sonhou bastante, principalmente em casamento e aniversário, e essa pessoa chega para você e coloca o sonho dela nas suas mãos, ai você vai ali, trabalha e faz com que ela no outro dia mande uma mensagem dizendo que você superou as expectativas dela. Para mim não tem satisfação maior do que essa, não tem!

LN: E uma alegria pessoal?

Flávio: Passar o dia com a minha mãe e meus irmãos.

LN: E como é o Flávio com os amigos?

Flávio: Resenheiro. Gosto de brincar, de me divertir, mas – por incrível que pareça – não gosto de festa.

LN: E sua maior tristeza?

Flávio: Não sei dizer.

LN: Se você pudesse mudar algo no mundo, o que mudaria?

Flávio: A corrupção porque eu vejo tanta desigualdade social, vejo pessoas lá no poder que roubam muito, vejo escolas sem merendas, vejo pessoas que deixam de estudar porque os professores entram em greve. Numa faculdade federal, você entra e não sabe o dia que sai e isso prejudica o futuro do Brasil.

LN: Para você, a corrupção tem cura?

Flávio: Acho que não, é sempre um sujo falando do mal lavado.

LN: Como você tem observado esse caos político do país?

Flávio: Nem sei o que dizer porque não assisto a Globo, não assisto a Record e quando ligo a Tevê é para assistir programas culinários. Nem título de eleitor, eu tenho.

LN: Mas você mora em Lagarto, uma cidade bem acalorada politicamente falando. Então o que você espera para a cidade a partir do próximo ano?

Flávio: Espero que melhore porque como está não pode ficar.

LN: Para encerrar, qual a mensagem que você gostaria de deixar para o povo de Lagarto?

Flávio: Gente, me procure para fazer bolo, pelo amor de Deus! (Risadas).

 

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