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Sem papas na língua, Cabo Zé concede entrevista polêmica
8 de maio de 2016 - 11:07, por Alexandre Fontes
Portal Lagarto Notícias
A Entrevista da Semana é o jornalista, radialista e ex-prefeito de Lagarto, José Raymundo Ribeiro, o popular Cabo Zé, de 78 anos de idade. Na ocasião, o líder bole-bolense nos contou um pouco da sua história e fez duras críticas à gestão do prefeito Lila Fraga (DEM). Ele ainda afirmou e explicou que é pré-candidato a prefeito de Lagarto.
Além disso, o Cabo Zé falou sobre a parceria entre Valmir e Adelson Ribeiro, da possível chapa alternativa encabeçada pelo radialista Prefeitinho, das disputas, erros e acertos do Bole-bole e Saramandaia, bem como, do tempo em que era prefeito de Lagarto e do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT).
Lagarto Notícias: Quem é o popular Cabo Zé?
Cabo Zé: O Cabo Zé é uma pessoa que nasceu em Lagarto e que em seus primeiros passos de vida emancipada se dedicou a comunicação. Eu não me recordo os anos, mas eu era muito jovem quando montei uma rádio clandestina aqui em Lagarto e tinha o diretor dos correios que era responsável por fiscalizar os rádios – através do Ministério das Comunicações -, e um dia eu estava falando da cozinha da minha casa quando seu Nelson bateu na porta de casa e disse pro meu pai: “Olhe eu vim fechar essa rádio clandestina”.
LN: Qual a potência dessa rádio e qual o nome dela?
Cabo Zé: Ela só funcionava em Lagarto e tinha o nome da Rádio Independência. A programação dela era totalmente musical, o pessoal pedia e eu tocava direto da cozinha da minha casa.
LN: Podemos dizer que foi a partir daí que surgiu a sua paixão pela comunicação?
Cabo Zé: Perfeitamente. Hoje sou formado em jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe e bacharel em radialismo.
LN: Qual o momento em especial que o senhor viveu no mundo do jornalismo e que não vai esquecer?
Cabo Zé: Eu tenho tantos, eu tive contato com Juscelino porque eu estive na inauguração de Brasília através do saudoso deputado federal Evaldo Diniz. Eu não participei da solenidade, mas a assisti de fora em 1960, quando Brasília foi fundada. Para mim, eu estou vendo Juscelino falando.
LN: Muita gente se pergunta, como foi que surgiu esse nome de “Cabo Zé”?
Cabo Zé: A história é longa, mas eu vou contar. Eu tive um amigo em Aracaju – já é falecido – Laurindo Campos, e ele me chamava de Cabo e eu o chamava de Cabo Lau. Nessa época, eu já era deputado estadual – me elegi com 24 anos, entrei muito cedo na política -, e eu fui chamado para depor contra um juiz daqui de minha cidade, Dr. Ozório. Ai eu cheguei lá nove horas da manhã, quando eu cheguei tinha uma mesa com uma máquina de datilografia com uma cadeira de lado e de outro, me sentei e esperei.
Deu nove, deu dez, deu onze, onze e quinze me apareceu um sujeito forte e alto que sentou na cadeira e disse: “Bom dia, seu nome?” ai eu: “José Raymundo Ribeiro”, perguntou o nome do meu pai, da minha mãe, onde morava e eu com uma sede danada, até que eu caí na besteira de o chamar de cabo porque até hoje eu não entendo esse negócio de divisa, não sei quem é Major nem nada, nem sei e nem quero saber. Ai eu disse: “Cabo, me arranje um copo com água porque eu tô aqui me acabando de sede”, ai ele colocou o dedo na minha cara e disse – isso no auge da revolução de 1964 -: “O senhor me respeite porque eu não sou cabo, eu sou tenente”, ai eu pedi desculpas e ele não aceitou e começou a me provocar, ai eu disse: “Meu irmão, já tem dois deputados presos e o senhor me deixe preso porque eu não vou discutir com o senhor o que eu não entendo, eu só conheço Cabo por causa de Cabo Laurindo”, ai ele maneirou a barra.
Quando cheguei na assembleia contei isso, ai o pessoal começou a me chamar de Cabo, ai pegou o nome de Cabo Zé.
LN: Cabo, o senhor é jornalista, mas ainda se destaca na política. O que te fez querer entrar para a política e até ser prefeito de Lagarto?
Cabo Zé: Eu fiz uma amizade muito grande com Evaldo Diniz, e ele um dia decidiu me colocar como presidente do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, um órgão federal que tomava de conta dos navios e tudo que chegava em Aracaju, era tudo comigo. Lá passei um ano e pouco, depois ele me colocou no Serviço de Alimentação da Previdência Social, era um órgão que a gente comprava comida e vendia barato para o povo, através de postos do estado. Até que um belo dia, Evaldo Diniz me chama para fundar aqui em Lagarto o Partido Rural Trabalhista (PRTB), eu disse que não me metia nisso, mas ele pediu minha ajuda porque queria ser candidato a governador, ai eu fundei o partido e não encontrei ninguém porque o radicalismo político era grande. Ai eu falei pra Evaldo que não tinha encontrado ninguém pro partido e ele disse para colocar o pessoal do SAPS pela conta dele, ai eu coloquei e fundei o partido.
Nisso, Ribeirinho ficou numa dissidência da UDN com José Monteiro que este iria apoiar ele para prefeito. Ai quando voltei pra Aracaju, Ribeirinho bateu na porta da minha casa dizendo que Dionizio Machado tinha chamado José Monteiro e dito que o prefeito era ele e que não apoiaria mais o nome de Ribeirinho. Ai eu fui falar com Evaldo e ai surgiu minha eleição com 24 anos de idade. E quando cheguei lá, coloquei três emissoras para transmitir a Alese, e eu falava todos os dias e governador nenhum conseguiu que os trabalhos fossem transmitidos. Agora estão colocando a TV Alese e isso vai ser bom para o povo saber quem sabe apresentar projeto, quem fala bem, e quem trabalha em benefício do povo. Isso é muito importante.
LN: Até o saudoso Marcelo Déda chegou a falar do Cabo Zé.
Cabo Zé: Marcelo Déda chegou pra mim e disse: “Você não é um líder lagartense, você é um líder sergipano e eu preciso de você”. O que Marcelo fez comigo, acho que ele não fez com ninguém. Quando ele assumiu o cargo, ele recebeu uma caneta com o brasão do estado gravado nela, e ele me deu essa caneta.
LN: Então o senhor tinha uma amizade forte com Marcelo Déda?
Cabo Zé: Não, eu nunca votei em Marcelo Déda porque eu nunca fui PT, mas eu confiei tanto do projeto dele que eu resolvi – sem falar com ele – abraçar o projeto dele e saí num carro de alto-falante aqui na rua pedindo voto. Apoiei ele sem ir lá, não falei com ele, não pedi nada a ele, mas quando ele se elegeu, eu fui pedir a Bica.
LN: E veio, está vindo agora.
Cabo Zé: Não. Não tá como ele queria não, ele queria uma piscina olímpica, ali tinha que ser uma piscina digna de um Balneário Bica.
LN: O senhor está decepcionado com a obra?
Cabo Zé: Estou decepcionado com a obra, foi um dinheiro jogado fora, para fazer cooper, nós temos diversos lugares.
LN: Se o senhor tivesse que definir a Bica, depois dessa reforma, numa palavra, qual seria?
Cabo Zé: Um fiasco.
LN: Cabo, o que você considera que foi o seu maior feito quando foi prefeito de Lagarto?
Cabo Zé: Eu tive vários, mas tem a luz do Povoado Oiteiro que os adversários levavam um caminhão com quatro postes, e o povo que não tinha conhecimento achava que a luz seria instalada, ai eles votavam no candidato da oposição, ai passava as eleições e nada.
Eu quando fui candidato a prefeito, cheguei lá e Evandro que é muito meu amigo disse: “já vem fazer promessa” e eu respondi: “Não, meu amigo, eu sou pré-candidato a prefeito e se vocês me derem a oportunidade, eu vou colocar a luz aqui”, ai eu ganhei e sabe quantos postes eu gastei? 137 postes, eu acabei um trator D7 que pedi ao governador Albano Franco porque eu tinha contratado uns bois que não aguentaram puxar os postes. Quando a obra acabou, o trator foi pro ferro velho, depois eu mandei instalarem a luz em todas as casas de Bole-bole a Saramandaia, tudo por conta da prefeitura e tá lá. Ainda sobrou dinheiro que deu para colocar luz no povoado Pururuca.
LN: Cabo, qual foi a sua maior decepção na política?
Cabo Zé: A minha decepção foi ter ajudado certos amigos que me traíram. E foi ai que eu comecei a ficar apaixonado pela política porque quando eu fui prefeito, eu fazia as grandes festas, as micaretas, os trinta dias de São João. Não cobrei imposto na feira e foi ai minha decepção porque quando eu chegava lá, tinha gente que subia nas bancas para me elogiar e foram esses mesmos que me traíram. Poxa, eu fiz coisas que era pra ser cassado no outro dia porque eu sabia que minha Câmara e nada era a mesma coisa. Por isso, eu dispensei imposto da feira e a Dilma está indo pra fora porque não ouviu o Congresso, não tem jeito não. Mas na minha época, eu dispensei os impostos da feira, era para eu ser cassado e ainda perder meus direitos, mas não aconteceu nada.
LN: Hoje a gente assiste esse impasse entre a Prefeitura e os professores, além da não realização de festas. O senhor, como ex-prefeito, acha possível resolver esse impasse com o magistério e ainda realizar festas?
Cabo Zé: Esse é o grande comentário que faço com os amigos porque na minha época eram R$ 750.000,00 que eu recebia por mês, as emendas parlamentares não existiam porque na época os deputados não tinham prestigio. Hoje, cada deputado recebe R$ 14 milhões para fazer o que quer, e eu com R$ 750 mil calcei rua, botei água nos povoados, fiz praça, ponto de ônibus e tudo com recurso da prefeitura. Hoje, R$ 15 milhões e eu já chamei o prefeito: “Lila, não tenho nada contra você, sempre fomos amigos, eu te respeito e você sempre me respeitou. Eu gostaria que você viesse aqui na FM Eldorado para me explicar o que você recebe mensalmente e como você gasta porque eu quero te elogiar ou criticar”, mas ele nem veio nem manda ninguém e o pessoal fica nessa dúvida.
LN: Para o senhor, qual seria o maior defeito da atual administração? Algumas pessoas dizem que foram os secretários que não deram conta.
Cabo Zé: Não adianta você ser meu funcionário, e eu te dou cobertura pra você fazer o bom trabalho. Eu acho de Lila isso, ele pode ser um bom administrador das empresas dele, mas para atuar no Poder Público, eu dou nota zero pra ele. Porque ele não tem o diálogo com o povo, é um homem que vive enclausurado dentro de um gabinete quando vai. Ele tem aquele temperamento agressivo que prejudica muito o homem público que tem que ser muito humilde com o povo e saber dar o não. Por outro lado, eu vejo com os secretários que eu me dou, eles dizem: “Cabo, não tem condições porque o secretário de obras, por exemplo, é um rapaz competente, habilidoso, mas quem manda é o irmão do prefeito”, já pensou o doutor Fábio Henrique dizer: “Vai uma máquina para fulano” e o irmão do prefeito dizer: “Não vai não!”. Então tenha paciência, isso tira a autoridade e eles não aparecem com medo.
LN: Então o erro da gestão Lila foi ter delegado poderes a terceiros?
Cabo Zé: E não ter comunicação porque comunicação é tudo. Eu vi o filho dele aqui dando entrevista dizendo que gastou – em três anos -apenas R$ 12 mil em comunicação. Proporcionalmente, eu comparo Lagarto com a Presidente da República que gasta bilhões por ano em propaganda.
Eu tenho uma queixa muito grande de Lila porque o filho dele chegou aqui e perguntou o que Valmir tinha me prometido, eu disse que não tinha pedido emprego e nem secretária a Valmir, mas que ele ajudasse – dentro das possibilidades – a rádio e o meu jornal. Ai o filho dele disse: “Não se preocupe que nós vamos te ajudar”, ai passou as eleições e no dia 20 de fevereiro eu liguei pra William e ele pediu para ir em Aracaju para “acertar o esquema”. Depois me pediram para ir na casa do prefeito 7 horas da manhã, quando eu cheguei lá, eles reduziram em mais da metade o que combinou comigo, não aceitei, ai o prefeito disse: “Então você fique com sua rádio”, ai eu disse: “Não precisa você mandar não porque a rádio é minha”. Mas aquilo eu levei como um deboche. Poxa, eu o ajudei tanto para ele me dizer aquilo. Eu fiquei triste, desse dia pra cá, não o procuro mais, mas faço críticas a ele.
LN: Aproveitando que o senhor falou da rádio, há muito tempo circulam boatos na cidade de que a Eldorado FM passa por serias dificuldades financeiras, é verdade isso?
Cabo Zé: Qual é a rádio que não está passando? A FM Ilha botou seis funcionários pra fora, já soube que Zé Valadares botou três, já soube que Zezé Rocha colocou um e já vai colocar mais dois, a situação é crítica. Muito embora, o comércio tem se retraído bastante em não saber que a comunicação é tudo. Se você tem um produto bom que faz uma promoção, mas não noticia, ninguém compra. Lamentavelmente, o comerciante de Lagarto pensa de outra maneira, então nós estamos passando crise.
LN: Pelo visto só o governo está gastando com publicidade.
Cabo Zé: É porque tá com medo de tomar o impeachment. Eu sou aposentado e recebo meu dinheiro no dia 20, nunca atrasou, mas esse mês eu tive que chamar todos os meus credores e adiar o pagamento pro dia 11 do outro mês, já soube que o Tribunal de Contas do Estado já atrasou o salário, a situação é séria.
LN: Em sua opinião, qual a diferença entre os políticos de antigamente para os de hoje?
Cabo Zé: Antigamente o político tinha palavra. Antigamente se um político dissesse: “Cabo Zé, vou te apoiar”, ele cumpria, hoje não. Hoje, foi essa grande decepção que tive com os amigos que tirei da sarjeta e que, simplesmente, depois me apunhalaram. Hoje o prefeito diz: “Vou votar em você”, daqui a pouco ele diz: “Rapaz, tô apoiando Cabo Zé” e depois outro. Eles perderam a credibilidade, o povo não acredita mais neles e os grandes políticos daqui de Lagarto fazem promessas e o povo não aceita mais promessas. Eu tenho andado pelos povoados, e tenho visto uma reclamação generalizada. Eu fui quarta-feira no povoado Açu porque me convidaram para fazer umas declamações, mas eu fiquei impressionado porque esperava encontrar umas 10 pessoas e tinha quase 150. Quando comecei a conversar, eles reclamaram da falta de segurança e eu já soube que o Tenente-coronel Pinheiro vai fazer uma visita lá, e isso é muito importante, parabenizo ele porque ele tem feito um trabalho muito interessante e que a sociedade tem aplaudido. Eu vi o secretário de segurança fazer elogios a ele, e realmente ele merece todos os elogios.
LN: Como um dos fundadores do Bole-bole, quem o Cabo Zé acha que representa o agrupamento na atualidade?
Cabo Zé: O Bole-bole é representado autenticamente na raiz por Ribeirinho, meu irmão, e eu, principalmente, eu por ser mais ligado a comunicação porque na época que surgiu a novela que era Bole-bole e Saramandaia, eu falei: “Ribeirinho, vamos fundar o Bole-bole aqui e o Saramandaia fica com seu Arthur”, ai surgiu.
LN: A história diz que Lagarto teve mais prefeitos Saramandaias do que Bole-bole, mas como é que era a campanha eleitoral daquela época?
Cabo Zé: Era completamente diferente de hoje. Naquela época, Ribeirinho soltava dinheiro na feira, sabonete, bacalhau e hoje não pode fazer isso. A rádio, por exemplo, eu tinha feito o primeiro motel da região, ai me chamavam de Zé do Cabaré e naquela época, quando eu usava o rádio às 5 da manhã, eu respondia a uma certa pessoa que me criticava: “Seu fulano, aquelas mulheres da boate Xangai são iguais, são filhas de Deus como o senhor é. E os votos delas são iguais aos do senhor e ao do presidente da república”, ai sabe o que aconteceu? Encontraram aquelas mulheres no Jenipapo pedindo voto pro Cabo Zé.
LN: Qual a critica o senhor faria ao grupo Saramandaia?
Cabo Zé: Eu critiquei o Saramandaia porque ficaram entre família, mas hoje eu dou razão ao Saramandaia porque eu mais Ribeirinho queríamos demonstrar que não queríamos ser donos do poder e colocamos um estranho, e essa foi a maior decepção nossa.
LN: Esse estranho no caso é o Valmir Monteiro?
Cabo Zé: É o Valmir. Ele além de nós trair, queria acabar com o Bole-bole e o Saramandaia e é por isso que eu não perdoo Valmir. E outra coisa, chamar o povo de filha da puta, ele disse: “Olhe, Cabo Zé, vou sair sem nenhum processo no Tribunal”, ai o Tribunal divulga uma sentença contra ele no dia 20 por causa de peculato, peculato é roubo. Todos os desembargadores decidiram, tem outro processo que decreta a prisão dele por oito meses. Esse homem não tem mais credibilidade para ser nada.
LN: E qual a critica o senhor faria ao Bole-bole?
Cabo Zé: Eu não faço críticas ao Bole-bole porque ele é feito por pessoas boas e humildes, mas critico a família Ribeiro por ser desunida. Quando eu saí da prefeitura, minha candidatura a deputado era tranquilíssima, até que apareceu minha sobrinha Luiza Ribeiro, ai eu mandei ela ter calma porque a vez dela ainda não tinha chegado, resultado: perdeu e Valmir se elegeu com seis mil e besteira.
LN: Cabo Zé, durante a última campanha municipal entre Valmir e Lila, nós víamos nas ruas um pleito tão disputado que ninguém dava 2000 votos de diferença, no entanto, Lila se elegeu com 5006 votos. Como o senhor explicaria tal resultado?
Cabo Zé: Chama-se Eldorado, eu tomei a frente e coloquei dona Edla porque eu não poderia chegar e dizer: “Eu sou Saramandaia”, eu sou Bole-bole, mas no fundo eu estava apoiando Lila. Além disso, eu disse a Valmir antes dele sair da prefeitura: “Assim como eu te coloquei na prefeitura, eu vou te tirar!”.
LN: Então foi daí que surgiu aquela frase: “O Cabo bota, o Cabo tira”?
Cabo Zé: Isso foi o povo que inventou, eu fiquei feliz porque eu disse que ia tirar ele da prefeitura. Para isso, coloquei a rádio todo dia, ia pedir voto pra dona Edla e ela fez dois comícios na feira, no último ela disse: “Se não quiser votar em mim, vote em Lila”, ela não poderia ter feito isso, mas fez. Depois vieram falar que ela só teve 250, ainda teve muito.
LN: Qual a avaliação que o senhor faz da atual conjuntura política de Lagarto?
Cabo Zé: Hoje, eu me sinto muito feliz na política de Lagarto porque eu tô sentindo que o povo cansou, o povo tá calado e eu acho – na minha ótica política de quarenta e tantos anos que tenho – que o povo já sabe em quem vai votar porque aquela paixonite desapareceu. Hoje, o Bole-bole vai votar em Saramandaia e vice-versa.
LN: Então o senhor considera que essa recha entre Bole-bole e Saramandaia acabou?
Cabo Zé: Acabou, os partidos continuam e vão continuar, mas eu tô notando que o povo cansou de promessas do Saramandaia e cansou dos Bole-bole do Paraguai porque tudo que tem de bom nessa cidade foram os Ribeiro quem fizeram. Essa Câmara que já tá obsoleta foi meu irmão que fez, a Bica fui eu, as fontes luminosas, o hotel, Ribeirinho comprou três mil tarefas de terra com o dinheiro dele e distribuiu para o povo. Então me mostre uma obra de Jeronimo? Zezé Rocha fez aquela escola e o calçamento do Santo Antônio, isso eu reconheço.
LN: Usando o balneário Bica como exemplo, como o senhor avalia essa história de que um faz e o outro destrói?
Cabo Zé: Isso é um atraso muito grande.
LN: O senhor destruiu alguma obra?
Cabo Zé: Não. Zezé Rocha fez aquela praça grande, muito bonita e colocou uma lanchonete e os canteiros. Eu chamei um dos maiores arquitetos deste país, o doutor Carlos Magno, e fizemos o projeto do Balneário Bica, ai levei o projeto pra João Alves que ficou impressionado e logo mandou ele fazer o projeto da Orla de Atalaia. Foi ele quem fez a Orla, mas primeiro passou por Lagarto. Então o que tem de bom aqui em Lagarto, foram os Ribeiro quem fizeram.
LN: O senhor acredita que a atual gestão desgastou o grupo Saramandaia ou considera que o grupo pode se manter no poder depois das eleições deste ano?
Cabo Zé: Desgastou consideravelmente e vou mais além, o candidato que Lila apoiar vai perder as eleições.
LN: As eleições estão chegando, podemos dizer que o Cabo Zé é pré-candidato a prefeito?
Cabo Zé: Sou pré-candidato a prefeito.
LN: O senhor não tem nenhum problema com a justiça não?
Cabo Zé: Não, mas eu vou contar o que aconteceu. Eu fui perseguido por um conselheiro do Tribunal de Contas, e levei na brincadeira um recado que ele me mandou que dizia que ‘ele era Conselheiro do TCE e que agora eu iria pagar a ele’, eu deveria ter pedido a suspensão dele, mas levei na brincadeira. Por infelicidade minha, eu caí na mão dele, então meus processos foram todos rejeitados e teve um que fui condenado, no qual passei oito anos sem ser candidato a nada, mas Deus é grande. Quando foi agora, contratei um escritório de advogados para tentar anular um processo que tinha ai, e quando a equipe de advogados pegou os processos, eu perdi a causa no tribunal, perdi aqui no tribunal. E quando o desembargador disse: “Determino a Secretaria publicar no Diário Oficial a sentença a desfavor de José Raymundo Ribeiro tornando-o inelegível por oito anos”, não publicaram a sentença no Diário Oficial. Então agora vai começar tudo de novo e eu posso ser candidato.
LN: E quem será o seu vice?
Cabo Zé: O vice quem vai escolher é o povo. Nas reuniões eu digo que é o povo quem vai escolher o vice.
LN: Qual a avaliação que o senhor faz da sua pré-candidatura?
Cabo Zé: Eu sou uma pessoa que não faço promessas e tenho notado que o povo tem se cansado da administração de Lila e de Valmir. Muitas pessoas dizem que o Cabo Zé fez a Bica, a fonte luminosa, a praça, Cabo Zé não cobrava imposto, então eu noto que estão se voltando para o meu nome, é o povo que está querendo. Não estou exigindo ser candidato, é o povo que tá querendo.
LN: Na política é normal as coligações, mas qual político o Cabo Zé jamais se aliaria?
Cabo Zé: Em benefício de Lagarto eu andaria com todos. Eu não tenho ódio de ninguém, mas se for para fazer menções é ao próprio Valmir porque se você já me traiu uma vez, pode trair de novo. Antes da campanha, eu liguei pra ele e ele não reconheceu a minha voz, eu mostrei a ele uma pesquisa e disse que ele seria o candidato tendo meu filho como vice com a condição dele me apoiar para deputado, ele topou e eu o levei para conversar com Marcelo Déda junto com Juquinha para testemunhar. Déda ficou impressionado porque tinha o compromisso de me apoiar para prefeito, eu deveria ter sido candidato com o apoio de Déda porque eu ganhava a eleição, mas apoiei Valmir. Ele ganhou a eleição e com quatro meses chamava meus amigos para fundar uma terceira via.
Uma terceira via aqui em Lagarto é impraticável, enquanto existir Jerônimo, enquanto existir Cabo Zé e familiares de Ribeirinho e Arthur Reis, não acaba Bole-bole e Saramandaia não. Acaba aquelas paixões, isso já acabou, mas os partidos não acabam não.
LN: Até uma chapa alternativa está se formando, talvez o Prefeitinho seja candidato a prefeito. O que o senhor acha disso?
Cabo Zé: Não vamos prestigiar esse rapaz não porque ele é completamente desqualificado.
LN: Poderia dizer o porquê?
Cabo Zé: Certa vez ele saiu daqui algemado direto para a delegacia porque estava extorquindo um pai de família que chegou a perder o emprego. Seu Prefeitinho fez ele perder o emprego e hoje ele trabalha num escritório de advocacia aqui em Lagarto.
LN: Falando de Valmir, qual a avaliação que o senhor faz da votação que ele teve na última eleição em Lagarto?
Cabo Zé: Com Lila fazendo uma péssima administração, não fez nada, ai o Valmir dizia: “Lila não fez e nem vai fazer, o povo de Lagarto está decepcionado com a administração dele”, o Gustinho é um dorminhoco que chega na assembleia 11:30 e Gustinho ficava calado, e Lila ficava calado. Então o povo acreditou que a melhor opção é o Valmir porque os outros não faziam nada.
LN: O senhor acredita que Valmir é o preferido nessas eleições?
Cabo Zé: (Risadas) Daqui para agosto, eu vou mostrar uma pesquisa e vou mostrar a verdadeira realidade da situação de Valmir em Lagarto.
LN: E o senhor tem dimensão de como está a situação de Valmir?
Cabo Zé: A pior possível. Os Reis também estão desgastados, poderá surgir outro nome e o povo optar por esse.
LN: Quem fará essa pesquisa?
Cabo Zé: Vai ser um instituto de fora porque uma pesquisa que você contrata e chega: “como é que você quer a pesquisa?”, pra quê isso? Enganar a si próprio? Eu não quero isso. Eu quero a verdade.
LN: Nos últimos dias surgiu a notícia de que o seu filho Adelson Ribeiro poderá ser candidato a vice na chapa de Valmir. O que o senhor tem a dizer sobre essa parceria?
Cabo Zé: É um bom candidato, é um rapaz sério, mas é um péssimo filho porque ele não morava em Lagarto, eu trouxe ele para Lagarto, ele não é filho de dona Edla e quem queria ser deputado era Dr. Ricardo e eu escolhi o Adelson para deputado federal. Consegui torna-lo deputado, mas ele não soube aproveitar o cargo dele, depois consegui colocá-lo na Alese em detrimento de outro filho meu que trabalhava na assembleia comigo.
LN: Como parlamentar, qual a avaliação que o senhor faz de Adelson Ribeiro?
Cabo Zé: Deveria ser mais atuante, devia ser como o seu pai Cabo Zé e não foi. Era muito tímido.
LN: Mudando de assunto. Certa vez, Ribeirinho afirmou numa entrevista que “o erro do Bole-bole e do Saramandaia foi não ter se unido para ajudar Lagarto”, o senhor concorda com esse pensamento?
Cabo Zé: Compartilho. Eu sempre tenho dito que no momento das eleições, nós devemos nos separar. Passou as eleições deve estar todo mundo unido para o progresso de Lagarto, conseguir o gasoduto, a duplicação da pista, um grande distrito industrial para convencer os empresários a se instalarem aqui gerando emprego, tudo isso.
LN: O senhor acredita que se Lila tivesse feito um governo de coalisão com Valmir e Gustinho, ele teria conseguido mais coisas para Lagarto?
Cabo Zé: Sim, até o governador passava a respeitá-lo mais. Eu sei que os Reis são amicíssimos de Jackson, mas se todos tivessem unido. O quê que os Reis trouxeram para Lagarto? Tem alguma obra? Quiseram até vender o Estádio Paulo Barreto.
LN: O Senhor é a favor da venda do estádio?
Cabo Zé: Sou categoricamente contra, se ali está inadequado então que o governador construa outro, inaugure e só depois venda o Paulo Barreto. Ai eu estou de acordo, mas se for para vender o Paulo Barreto para depois construir outro estádio, jamais teremos um estádio.
LN: Partindo para a política nacional, o senhor é favorável ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff? Porque?
Cabo Zé: Sou sim. Primeiro porque eu acredito que lei é para ser cumprida, ficou comprovado que ela desrespeitou o artigo 85 da Constituição que determina que para ela pedir empréstimos aos bancos públicos, ela tem de pedir permissão ao Congresso, e ela fez vários empréstimos no BNDES, na Caixa e no Banco do Brasil. Eu soube que esses empréstimos tem um prazo para resgatar e o do Banco do Brasil, ela demorou mais de anos para resgatar.
Além disso, eu não admito que você seja o chefe de família e você desconheça o que acontece na sua casa, então teve o roubo na Petrobrás e ela participou do Conselho, veio o rombo do BNDES, veio o rombo da Caixa Econômica. Por outro lado, ela gastou bilhões em Angola, gastou bilhões na Venezuela, com a Bolívia, por que isso? Países socialistas. E quando vieram descobrir o documento, tinha o carimbo de sigiloso, porque os empréstimos para esses países tinham que ser sigilosos? Tem de existir transparência. Então, eu sou categoricamente a favor que ela saia, agora estou de acordo com a punição do Cunha porque ele deveria ter hombridade para dizer: “Eu tenho conta da Suíça”, ficou comprovado que ele tinha e ele disse que não tinha. Então porque ele não procurou saber quem colocou esse dinheiro lá? Ficou calado.
LN: Agora com esse possível governo de Michel Temer, saiu a notícia de que ele vai criar uma secretária para realizar privatizações. O senhor é a favor das privatizações?
Cabo Zé: Algumas empresas como a Vale, eu sempre fui favorável porque ela está contribuindo muito para o país em imposto. Já a Petrobras, eu sou categoricamente contra porque é um país que tem credibilidade. Já fomos rebaixados quatro vezes, então o Temer, não pense ele que ele vai assumir e resolver o problema, ele vai levar uns quatro anos para chegar a um patamar em que o povo esteja satisfeito.
LN: Sendo o líder do Bole-bole, o que o senhor tem a dizer sobre as medidas impopulares que já foram anunciadas pelos aliados de Temer?
Cabo Zé: Ela reduziu o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida reduziu, eu sou altamente favorável a esses projetos e sou favorável que ele reduza bastante o número de Ministério porque lá possui pessoas altamente capacitadas para assumir qualquer cargo e ele pode congregar 3 4 secretárias numa só e entregar a alguém capacitado, que seja honesto, que seja inovador, isso é importante. Cargo comissionado reduzia em 50% porque esse país possui 183 mil cargos comissionados, eu reduzia para 50 mil e um fazia o trabalho de 10.
LN: O que o senhor acha da atuação dos deputados federais da bancada sergipana?
Cabo Zé: Acho que deveria ser uma bancada mais atuante, é uma bancada que tem pessoas nobres, honestas, mas que deveria ser mais atuante porque o dinheiro que nós precisamos está lá e quando o deputado é atuante, ele tira.
LN: Qual a sua expectativa pro governo Michel Temer?
Cabo Zé: Que ele cumpra o que está anunciando, reduzindo o número de Ministérios, prosseguir com os projetos sociais e ser mais objetivo com o povo porque ele vai pegar um país completamente desqualificado e quando o empresário se recua de investir no Brasil é porque a situação não é boa, por isso ele tem que ser objetivo. Então se ele pensa que porque assumiu vai conglomerar esse pessoal todo aqui, ele vai perder tempo. Ele primeiro vai ter que angariar a credibilidade do país para depois começar a trazer indústria pro Brasil. E pedir a Deus que o povo se contente com o que estar.
LN: Falando um pouco mais do homem Cabo Zé, qual que é a sua maior alegria?
Cabo Zé: Minha maior alegria foi quando eu assumi a prefeitura de minha cidade porque eu fui imbuído de trabalhar em benefício do meu povo. Eu, quando assumi a prefeitura, fiz questão de mostrar o meu patrimônio e fiz questão de mostrar quando saí. Meus filhos não enriqueceram com política, eu não enriqueci, enquanto outros estão tudo rico por ai.
LN: E sua maior tristeza?
Cabo Zé: Minha maior tristeza foi quando eu fui caluniado. Eu tenho certeza que fiz uma boa administração voltada para os mais pobres e o conselheiro do Tribunal de Contas me apenou, ai eu fiquei proibido de disputar cargos públicos em defesa da minha cidade, mas continuei na rádio ajudando meu povo.
LN: Para você, qual é a importância da família?
Cabo Zé: A congregação, a união em que os que podem mais, ajudem os que podem menos. Lamentavelmente quando não acontece isso, a família começa a se separar.
LN: Qual o conselho que o senhor deixaria para os atuais políticos e para os que estão chegando?
Cabo Zé: Acredito que novos nomes devem aparecer, mas que seja ligado a experiência. Na campanha da Gustinho eu disse pra ele bater em Lila e em Valmir porque Valmir estava batendo nele e no prefeito. Então ele não quis ouvir a voz da experiência e teve somente 5 mil votos num eleitorado de 66 mil eleitores e com o trabalho que ele fez aqui. Isso foi uma aberração.
LN: Então o conselho é se aliar a experiência para os atuais e os que estão chegando?
Cabo Zé: Exatamente. E a experiência se juntar aos jovens porque eu não faço hoje o que eu fazia com 18 anos.
LN: Qual a mensagem que o senhor gostaria de deixar para o povo de Lagarto?
Cabo Zé: Espero que o povo de Lagarto saiba realmente escolher os seus candidatos, seja pobre, seja rico, seja preto, seja branco, mas que seja um homem honesto e um homem que pense no futuro [lágrimas].