Presidente da OAB Lagarto fala sobre polêmica do WhatsApp na Folha de São Paulo

4 de maio de 2016 - 11:29, por Marcos Peris

Na semana que vem, no dia 12 de maio, o juiz Marcel Maia Montalvão, que está na magistratura desde 2014, completa um ano de atuação na vara criminal de Lagarto, cidade de 102,3 mil habitantes no interior de Sergipe que está construindo seu primeiro shopping center e que viu a população –e a violência– escalarem nos últimos anos.

Montalvão ganhou a alcunha de inimigo número 1 do WhatsApp ao, em março, mandar prender um executivo do Facebook, e agora, ao determinar que 100 milhões de usuários do aplicativo ficassem impedidos de usá-lo. Tudo como forma de pressionar a empresa a liberar informações para investigações sobre uma quadrilha de tráfico de drogas.

Pode parecer uma medida extrema, de alguém que busca os holofotes, mas, segundo advogados, policiais e membros da administração pública com quem a Folha conversou, são traços de um juiz muito empenhado em combater o crime.

“Ele tem perfil bastante contundente, personalidade forte, não mede esforços quando o tema é investigação”, disse Eduardo Maia, presidente da seccional de Lagarto da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Isso talvez explique a obstinação de Montalvão em conseguir a qualquer custo os dados do WhatsApp a respeito da quadrilha de tráfico de drogas investigada pela Polícia Federal e que motivou o bloqueio ao aplicativo. “Ele gosta de produzir mais provas, de deixar processo bem robusto”, afirma Maia.

O combate ao tráfico de se tornou um tema premente em Lagarto, e isso explica um pouco da fama que o juiz obteve na cidade em seu ano de atuação por lá.

Nos últimos anos, segundo relato de moradores, mortes relacionadas a esse crime cresceram de forma espantosa na cidade, com a ocorrência de assassinatos, às vezes à luz do dia, relacionadas ao comércio de entorpecentes.

Em 2014, segundo dados preliminares do DataSUS, Lagarto teve uma taxa de 43 homicídios por 100 mil habitantes, índice 48% maior que a média nacional.

Por isso, a imagem de um magistrado “extremamente sério”, “temido”, o “primeiro a chegar e o último a sair”, alguns dos elogios ouvidos pela reportagem, cai bem –mas também o obriga a andar com escolta.

Antes de ganhar projeção nacional por causa do app, Montalvão era conhecido principalmente por combates a crimes locais. No ano passado, mandou prender um ex-deputado acusado de desvio de recursos na Assembleia Legislativa do Estado.

Apesar da fama de durão, no trato pessoal, dizem advogados, trata igualmente “do presidente da República ao vendedor de picolé”.

Em audiências, ele costuma dar lições de vida a meninos infratores, dizendo que o crime não compensa. “Pense na sua mãe, no seu pai, busque trabalho”, costuma dizer ele, segundo relato de um outro advogado.

Ele usa sua história pessoal para tentar mudar o rumo dos garotos. “O juiz da vara criminal da cidade de Lagarto, que fala agora à população, com muito prazer e muita honra, é um filho de um engraxate”, disse ele em uma de suas únicas entrevistas, ao jornalista Adailson Santos, da Progresso AM, em 2015. (Felipe Maia / Folha)

Juiz Marcel Maia Montalvão

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