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Mharcyio :“Dinheiro é bom, mas é em segundo plano. O importante é a felicidade.”
24 de abril de 2016 - 03:17, por Alexandre Fontes
A entrevista da semana é com o jovem artista e presidente do Lagarto Futsal Clube, Mharcyio Cruz de apenas 27 anos de idade. Apaixonado pela cultura e pelo esporte, o entrevistado nos contou um pouco da sua história, dos seus anseios, das suas alegrias, além das expectativas em relação ao time esmeraldino que disputará nas quadras a Taça Governador do Estado.
Mharcyio é um artista de rua que teve participação no programa Criança Esperança. Ele reconhece as dificuldades da vida artística cultural, e mesmo com alguns conselhos e críticas que o coloca para baixo, ele permanece com a mesma alegria o foco de sempre. Acompanhe na íntegra:
Lagarto Notícias: Quem é Mharcyio Cruz?
Mharcyio Cruz: Mharcyio é uma mistura de cultura e esporte. É uma pessoa que sempre tenta levar alegria tanto para os torcedores, como para os ouvintes da área esportiva e o público do teatro, culturalmente falando. Sou uma pessoa que sempre tenta ajudar o próximo.
LN: Atualmente você cursa teatro na UFS. Então o que te motivou a seguir a área artística?
Mharcyio Cruz: Desde de criança eu já participava do teatro, isso na escola. Tanto que os colegas e os professores sempre incentivavam e depois de uma oficina – oferecida pela Companhia de Teatro Cobras e Lagartos -, onde eu recebi o convite para fazê-la, eu pude gostar ainda mais do teatro e também tinha o Gilmar que sempre incentivava as pessoas, e através do incentivo dele e do pessoal do Cobras e Lagartos decidi fazer licenciatura em teatro na UFS.
LN: Desde quando você participa do Cobras & Lagartos?
Mharcyio Cruz: Desde 2009 e a minha primeira apresentação com a companhia foi na cidade de Simão Dias.
LN: No início dessa jornada, teve alguém que te disse: “Não faz isso, isso não dá dinheiro”?
Mharcyio Cruz: Com certeza. Isso é o que o artista recebe na cara quando diz que passou num vestibular de teatro e eles só falam: “parabéns!”, nem o sorriso abrem. Mas se falar que passou em medicina, tem até fogos na hora. E o ator é isso, é aquela pessoa que sempre anda com pessoas ao lado que querem te derrubar porque não tem futuro, mas ai vai de cada pessoa.
LN: Seus pais também reagiram dessa maneira?
Mharcyio Cruz: Não, meus pais sempre me apoiaram em tudo que eu fiz, principalmente, na questão do teatro. O que eu digo mais são os amigos que dizem que não tem futuro financeiramente, mas eu acho que a gente não pode agir e seguir nossa vida através somente do dinheiro, tem ser através do bem estar. Se você se sente bem fazendo aquilo, vá em frente! Porque você pode ser um doutor quebrado.
LN: Quais os trabalhos artísticos que você já desenvolveu em Lagarto?
Mharcyio Cruz: Em Lagarto nenhum. Tentei trazer algumas coisas para Lagarto, mas infelizmente pessoas não acreditaram no projeto e não deram continuidade, isso na área cultural. Na área esportiva, trouxe o projeto – com muita dificuldade – “Fiz uma cidade feliz”, no qual eu trouxe todos os atletas campeões de 1998 pelo Atlético Clube Lagartense.
LN: Então podemos dizer que esse foi o único e mais especial projeto que desenvolveu aqui?
Mharcyio Cruz: Sim porque como eu trabalho fora, acabei desenvolvendo alguns projetos na cidade de Macambira, agora estou na cidade de São Domingos também desenvolvendo alguns projetos. Em Macambira, desenvolvi projetos através do Criança Esperança, já que trabalhava como professor pelo programa.
LN: Qual foi o projeto que você desenvolveu fora de Lagarto que mais te marcou?
Cruz: Foi o projeto do Criança Esperança.
LN: Por quê?
Mharcyio Cruz: Porque além do nome que pesa, muitas pessoas não acreditam que o Criança Esperança vá até o público humilde que está necessitando, e em Macambira eu vi isso, eu senti isso. A questão do dinheiro que chega a quem realmente precisa, a cultura que muitas das vezes está esquecida, principalmente, em nosso estado. E a cultura, através do teatro, chegou a locais de difícil acesso, além das crianças que saíram das ruas e passaram a ter um local para passar todo o dia.
LN: Voltando para Lagarto, como você observa o atual cenário pelo qual passa a cultura no município?
Mharcyio Cruz: Sofrido. O cenário cultural de Lagarto é de dar dó, de se a gente realmente querer parar para analisar, as lágrimas escorrem pelo rosto porque eu vi a entrevista do Palhaço Pilambeta, semana passada, e amigos nossos que só vivem da cultura estão saindo de cena porque não tem condições de sobreviverem somente com a cultura. Tenho amigos que estão indo para Aracaju porque na capital eles conseguem arranjar algum emprego, mas aqui em Lagarto para viver de cultura, o artista sofre.
LN: Muitos artistas dizem que falta incentivo, você também compartilha dessa ideia?
Mharcyio Cruz: Não digo que falta incentivo, incentivo até que tem. Acho que falta interesse também da pessoa procurar esses incentivos porque os governos federal e estadual lançam editais que se a gente se inscrever e conseguir, poderemos ter um faturamento muito bom rodando o Brasil, inclusive o Cobras & Lagartos iria ser contemplado para percorrer o nordeste. Além disso tem os editais das empresas privadas, acho que falta continuidade porque esses editais são de temporada e para sobreviver com uma temporada é complicado. Por isso, acho que falta incentivo de longo prazo porque de curto tem sim, tem as semanas culturais, e outros festivais em Sergipe, inclusive agora está acontecendo o Festival de Artes Cénicas de Sergipe.
LN: Tem algum projeto sendo desenvolvido?
Mharcyio Cruz: Há curto prazo não, mas a longo sim. Estamos querendo rodar essa mesma peça que iria percorrer o nordeste, estamos querendo rodar pelo menos no estado de Sergipe que é o ‘Descortinando Sergipe’. Já nos apresentamos em cerca de uns 10 municípios sergipanos, mas o nosso objetivo é apresentar esse espetáculo em todos os municípios do estado e vamos buscar incentivos públicos e privados para isso.
LN: Então esses incentivos servirão para cobrir o prejuízo causado por aquele projeto que iria percorrer o nordeste brasileiro?
Mharcyio Cruz: Com certeza.
LN: Do que trata a peça ‘Descortinando Sergipe’?
Mharcyio Cruz: O Descortinando Sergipe trata da história de dois personagens da cultura sergipana: Seu Mateus e dona Dilza. Esses personagens contam os principais pontos turísticos do estado, falam de muitas cidades como Aracaju, Lagarto com o grupo folclórico dos Parafusos que é o único do Brasil, fala também da tradicionalíssima Maniçoba, além de outras cidades e pontos turísticos como a Serra de Itabaiana, o Parque dos Falcões, temos folguedos onde a gente canta e dança. E no final ainda tem Lampião e Maria Bonita para nos ajudar com uma música bem bacana, bem divertida.
LN: O Cobras & Lagartos tem alguma apresentação marcada para apresentar em Lagarto ainda em 2016?
Mharcyio Cruz: Ainda não temos nada marcado para esse ano. Porque o Cobras & Lagartos está passando por uma mudança de diretoria, está tendo reuniões e reuniões para que a gente possa dar continuidade durante o ano todo.
LN: Como é que você espera que seja a sua vida depois do curso de teatro, vai dar para viver dessa arte?
Mharcyio Cruz: Creio que sim porque eu curso licenciatura em teatro e quem faz isso pode dar aulas de artes. E recentemente foi aprovado no Congresso Nacional que toda escola estadual tem de ter professor de teatro ou de dança e isso futuramente é uma boa. É um curso meio chatinho, mas dá para levar.
LN: Agora vamos falar um pouco do esporte. Você que além de ator é presidente do Lagarto Futsal Clube, então qual a sua expectativa para o time na temporada deste ano?
Mharcyio Cruz: Já estamos muito felizes em ser sede de uma competição que não acontecia há dois ou três anos e que início na próxima sexta-feira. A Expectativa é das melhores, a equipe está contratando bons jogadores para a temporada e o que eu espero como torcedor é a garra dos atletas dentro da quadra, como presidente espero que a torcida possa comparecer para fazermos a junção de torcedor com jogador para criarmos uma força a mais dentro da quadra.
LN: Antes de prosseguirmos, o que te fez querer ser o presidente do Lagarto FC?
Mharcyio Cruz: Foi o amor ao esporte. São duas coisas que amo: a arte e o esporte, e como Lagarto é uma cidade que não pode ficar sem futsal até pelo que já representou sendo campeão do nordeste e sergipano, e tirar isso de uma sexta-feira à noite do torcedor lagartense é meio complicado. E nós assumimos esse compromisso de não deixar o Lagarto se acabar nem que seja só com os jogadores daqui, não importa. O importante é participar, Lagarto não pode ficar sem futsal e o futsal não pode ficar sem Lagarto.
LN: Diante desta crise financeira que o país está vivendo o time tem encontrado dificuldades para fechar a sua folha de pagamento e/ou para conseguir patrocinadores?
Mharcyio Cruz: Com certeza.
LN: E como a diretoria está lidando com esta situação?
Mharcyio Cruz: Fazendo milagres. Graças a deus tem empresas que nunca abandonaram o Lagarto como o Maratá, a Onza, a Prefeitura Municipal de Lagarto que está pagando a sede e também o deputado Valmir Monteiro que sempre nos ajuda. Mas para fazer um time ainda melhor é complicado porque não adianta colocar o pé onde não alcança. Então temos que deixar até onde a mão alcança para fazermos um time competitivo e barato, o que é muito difícil.
LN: A maioria dos jogadores é de Lagarto?
Mharcyio Cruz: Temos cinco jogadores lagartenses e o restante é de fora. Temos de Aracaju, temos três de Minas Gerais pra gente poder fazer uma boa apresentação nesses três jogos que serão aqui em Lagarto.
LN: Pelo que você vem observando desses atletas, em sua opinião, qual será o maior nome do time esse ano?
Mharcyio Cruz: Creio que um dos maiores nomes é Neto Negão que já foi campeão da TV Sergipe e diversas outras competições, Toni que já foi da seleção brasileira universitária, e temos o Tomas, um jogador de 20 anos e que foi eleito o melhor jogador do ano passado.
LN: Quais são os objetivos do time nesta competição?
Mharcyio Cruz: Um dos nossos objetivos é passar de fase porque passando de fase, já é o mata-mata e tudo pode acontecer.
LN: Partindo pro homem por trás do presidente e ator. Qual a sua maior alegria?
Mharcyio Cruz: Minha maior alegria é a família, meus pais, meus filhos, inclusive tenho um que completa ano no dia do aniversário de Lagarto.
LN: E sua tristeza?
Mharcyio Cruz: Tristeza é saber que estou fazendo um trabalho que leva alegria para as pessoas e de repente vem umas críticas que te deixam para baixo. Além disso, fico triste em saber que uma cidade com mais de 100 mil habitantes não tem um espaço para apresentações culturais e nem um espaço para a prática de esportes profissionais. Temos um estádio fechado e um ginásio em condições precárias, principalmente o piso.
LN: Como surgiu esse amor pela cultura e pelo esporte?
Mharcyio Cruz: O esporte foi através de meu pai, Mateus da Verdura um grande desportista lagartense. Então desde cedo fui apresentado ao esporte. E artístico queria eu ser contemplado, mas eu acho que o dom, a arte de apresentar já vem de dentro, isso é dom.
LN: Como foi a sua primeira apresentação artística?
Mharcyio Cruz: A minha primeira apresentação em teatro em si – porque eu sou artista de rua – não tinha ninguém. Abriu as cortinas e só tinha duas pessoas que era o pessoal da iluminação, mas nos apresentamos do mesmo jeito como se fosse para milhares de pessoas e já nos apresentamos para grandes públicos.
LN: Qual a avaliação que você faz do atual cenário político vivido pelo Brasil? Impeachment é a solução?
Mharcyio Cruz: Não, creio eu que o impeachment não é a solução. A solução, já que querem uma tal mudança, seria novas eleições porque o que se ver é um sujo falando do mal lavado. Então o certo seria uma nova eleição.
LN: Como você espera que seja o possível governo Temer?
Mharcyio Cruz: Fico com medo. Medo por se tratar de pessoas que judicialmente já está comprovado que eles não são tão honestos. Então é preocupante, sabemos que o impeachment é mais partidário e político. É preocupante, principalmente, para o nordeste porque eu acho que o PT foi um dos melhores governantes para o nordeste e, principalmente, para Lagarto.
LN: Qual a mensagem que gostaria de deixar para o povo de Lagarto?
Mharcyio Cruz: Que as pessoas acreditem nos seus sonhos e partam pra luta porque se ficar em casa não vai ter sonho que se realize, quanto mais sair da mente. E correr atrás dos nossos objetivos seja ele qual for. E que ajude o futsal.
Tem outra mensagem que quero deixar também é que quando ver um artista de rua, que parasse para assistir, não custa nada, porque ali com certeza ele está se dedicando ao máximo para fazer uma ótima apresentação para as pessoas que nem conhece, ali podem estar passando parentes e amigos, e é gratificante depois de uma apresentação receber elogios, vale mais do que qualquer dinheiro. Dinheiro é bom, mas é em segundo plano, o importante é a felicidade.