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Cecília Meireles
6 de fevereiro de 2016 - 10:15, por Moacir Poconé
A coluna “Nossa Língua” de hoje traz uma das maiores poetisas (senão a maior) de nossa literatura. Cecília Meireles trouxe ao Modernismo brasileiro, em sua Segunda Fase, a musicalidade e o lirismo tão necessários ao texto poético. Além disso, a fugacidade da vida, a metalinguagem e sua pesquisa histórica compõem a base de sua vasta obra, que conta ainda com incursões no universo infantil.
Dois dos seus maiores poemas são “Retrato” e “Motivo”, abaixo transcritos:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Por Moacir Poconé